Veículos, de forma desonesta, tentam comparar Lula e Bolsonaro, como se fossem faces da mesma moeda.
Esta é a questão com os grandes momentos de crises nacionais, que algumas figuras públicas se engrandecem, ganham maiores proporções, e outras figuras se apequenam, ficam minúsculas, como apagadas, desvanecidas. Neste caso, aquelas de Fernando Henrique Cardoso e, sem dúvida, para mim, Ciro Gomes, que não tiveram a mínima dignidade de postar nas suas redes sociais uma mensagem de alegria no dia da soltura do ex-presidente. Gestos mesquinhos que não passam despercebidos aos olhos da História.
Segundos depois da primeira aparição em liberdade de Lula em Curitiba, começou por parte da mídia um dos discursos mais miseráveis, tacanhos e desonestos dos últimos tempos: ressuscitaram a tal polarização, colocando Bolsonaro e Lula no mesmo patamar, numa comparação simétrica, numa situação de igualdade. Por favor…
Bolsonaro e seus filhos afirmam metralhar “petralhas”, exaltam a memória do monstro Carlos Brilhante Ustra, insinuam fechar o Supremo Tribunal Federal e defendem um novo AI-5. Lula mira o emprego, a pobreza, a educação, o povo. Gostemos ou não do ex-presidente, devemos reconhecer que o antipetismo promovido pela mídia é covarde e mentiroso.
Tampouco deixo de me surpreender com o efeito que Lula provoca em muitos. E aqui vem outra grande crítica, desta vez à parte de grupos progressistas que não são lulistas ou petistas. Acho desagradável quando vejo supostos progressistas a tratar os apoiadores que estavam em São Bernardo ou aquele que estiveram com Lula em outras ocasiões como gado, imbecis que seguem cegamente o líder, como se professassem uma fé e não uma opção política.
O carisma de Lula encanta, seduz e às vezes cega. A personalidade dele é enorme e muitas vezes pode ser confundida com certo salvacionismo, mas basta de pensar que o povo é idiota. Quem estava em São Bernardo, que acompanha Lula, gosta dele por um motivo.
Podemos ter muitas críticas ao partido e a Lula, e temos, mas é um dado inegável que praticamente todos melhoraram de vida durante os governos petistas. Até os bolsonaristas mais radicais que entrevisto para as minhas pesquisas reconhecem isso, alguns envergonhados, inclusive, mas o reconhecem. Então basta de tratar aqueles como estúpidos, como se sempre fossem passíveis de ser enganados, iludidos. Basta de tratá-los como se não tivessem um conhecimento próprio que na maioria das vezes não vem da academia ou da teoria, mas da vida, da biografia.
Em uma de minhas viagens ao Ceará, lembro-me de uma senhora que me disse: “Como não vou amar Lula se ele me deu um sorriso pela primeira vez (referia-se ao programa Brasil Sorridente)”. Outra senhora, vizinha, me contava, toda orgulhosa, como o sertão cearense tinha mudado depois de Lula e como ela mesma tinha conseguido montar seu próprio negócio: “Agora eu tenho alguma coisa, ainda é pouco, mas, para quem não tinha nada, é muito”.
Quantas vezes escutei de pessoas da periferia que Lula foi o primeiro a tratá-las com dignidade. Em uma das minhas últimas entrevistas, aliás, um senhor da Zona Leste de São Paulo emocionou-se ao falar de Lula e me disse que ele tinha sido o único a tratar os pobres com dignidade num país em que todos os esculacham. Quantos alunos eu mesma formei e que, se não fossem as cotas, nem sequer poderiam sonhar em entrar na universidade.
Quantas empobrecidos votaram em Bolsonaro pela decepção com a corrupção petista e que agora estão decepcionadas com o governo confessaram-me que poderiam votar em Lula de novo, pois nele poderiam voltar a confiar. Esse mesmo povo agora perde tudo com Bolsonaro: desempregado, precarizado, sem perspectiva de presente ou de futuro.
Lula, é evidente, representa esperança para muitos deles. Falta empatia, pois há muitos que se declaram de esquerda. Falta humanidade para entender o País. Aos líderes ressentidos com Lula e com sua força, aconselho: tentem vocês representar a mesma esperança que Lula representa. Conseguem?
De Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE
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