Não imagine que a história possui uma travessia sem oportunismo ou longe de qualquer inquietude. Não somos neutros e a realidade nos toca.A política invade a sociedade com as suas seduções e o tempo rege as nossas escolhas. Não é fácil traçar caminhos, pois as pressões nos empurram para lugares estranhos. Portanto, é preciso olhar o passado, compreender seu diálogo com o presente, definir as semelhanças, observar que as incertezas flutuam em cada época. A memória é seletiva. Não há recordações absolutas, muitos acontecimentos se perdem e as manipulações protegem interpretações de genocídios.
Há uma luta cotidiana. A história não vive sem contradições, embora as visões do paraíso sempre apareçam. As idas e as vindas dos tempos acenam com permanências. Não há cronologias fixas que legitimem progressos. As ciências buscam saberes que não são ingênuos. Ajudam a consagrar poderes.Quem pensou que haveria o fim das religiões, depois das especulações iluministas, deixou-se levar por profecias enganosas. Nem as grande revoluções conseguiram colocar no lixo as escravidões e as desigualdades.Elas se globalizaram, quebram possibilidades de socialização.
As colonizações continuam com seus disfarces. Espiona-se, grava-se, desmonta-se. A memória mora em máquinas e há perigos de termos um futuro de inteligências artificiais opressoras. Inventamos e perdemos o controle sobre as possibilidades de ajustar nossos desejos e conviver com sociedades com sossegos e solidariedades.A ciências se articulou com as ambições do capital. Há reações, mas muita grana circula, faz calar instituições, multiplica negócios, privilegia minorias, implanta perversidades, promove discursos, aparentemente, inocentes.
Não é sem razão que os esquecimentos são estimulados. As experiências ganham histórias que confundem os mais críticos. Joga-se tudo para um presentismo cego e dominador. A exaltação da eficiência não é lugar comum.Serve aos senhores que danificam as igualdades auxiliados por assessorias especializadas. Há quem se esconda, risque suas memórias e invista num individualismo pantanoso. As emoções entram no mercado de consumo. Formula-se um calendário de mentiras para celebrar datas vazias e se desfazer de memórias rebeldes. A sociedade administrada engana e nos coloca diante de imagens que, apenas, obscurecem a criatividade e consolidam a mesquinhez. Não surgem revoluções, nem metamorfoses.
Professor Edgar Bom Jardim - PE
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