Quem não inventa palavras não segura a linguagem.Fugir da mesmice é ousadia, mas é o desafio maior da acrobacia inesperada. O inventor fertiliza os territórios da cultura, traz possibilidade de não sossegar a mediocridade e de invadir labirintos míticos e indispensáveis. Há palavras que permanecem, porém pedem outros significados e outras práticas. A história é construída soltando pássaros, apesar dos mecanismos de controle existentes. Nada mais rebelde do que o voo de uma palavra nas asas de um pássaro vermelho. É assim que se institui a poesia como lugar fundamental da existência.
A navegação da cultura atrai movimentos de sombras e luzes. É preciso que haja nomeações. O amor romântico não é o amor proclamado na sociedade do consumo. As palavras viajam com seus conteúdos. Respondem às relações que transitam por cada época. Se o amor promete paraísos, a apatia ameaça fixar covardias medonhas e as guerras arquitetam a destruição e a inutilidade da conversa. Não há gramáticas, nem regras que aprisionem o inventor de palavras, O poeta escapuliu dos poderes dos deuses mais ambiciosos. Está para além da criatura.
O amor lembra o toque. Não é a fatalidade de corpos que não se largam e medem-se no cansaço das respirações.Somos porque os outros nos atraem e nos incomodam. O amor é uma forma de proximidade. Está presente em amplos ensaios de salvação do mundo. Todos se dizem capazes da amar, mas não conhecem a cartografia da palavra amor. É fácil fotografar o encanto quando cabe, apenas, na câmara de um celular. Se o encanto correr atrás de Sísifo, segurar as pedras e alcançar a altura que desnorteia Zeus e configurar outras cronologias? Há horizonte para quem transcendeu no sétimo dia? A dúvida é mais sábia que a certeza.
O amor tem sua geografia, seus acidentes, seus vulcões, suas esquinas misteriosas.Toda palavra dialoga com sentimentos. Talvez, tudo isso tenha caído num fragmento desmontado. O toque virou o impulso, a fatalidade desengana os refugiados, o amor se transformou num limite superficial da paixão. Se sociedade celebra a constante troca de mercadorias e se alicerça em contar as datas de inauguração dos monumentos, quase não sobra espaço para que a palavra desande e abrace o incomum. Agonio-me quando perco minha magia para nomear. Parece que um espelho me cerca com imagens de grandes eventos e vitrines disfarçadas em calendários festivos.Há um esgotar-se na multidão das coisas desinauguradas pela distância do amor.O futuro fica na solidão dos olhos que não tocam. O amor se descontempla para evitar a poeira das ruínas.
A astúcia de Ulisses
0 >-->Escreva seu comentários >-->:
Postar um comentário
Amigos (as) poste seus comentarios no Blog