No modelo tradicional de ensino, via de regra, a interação do professor com os alunos é do tipo iniciação-resposta-avaliação: o docente direciona uma pergunta a um aluno em particular e posteriormente avalia sua resposta. Um exemplo seria:
- Professor: João, qual é a raiz quadrada de 4?
- João: 3.
- Professor: Quaaaanto?
Esse tipo de interação não promoveria aprendizado por duas razões: a primeira delas é que o diálogo entre professor e aluno não foi motivado por um questionamento genuíno do estudante. A neurociência argumenta que um requisito para o aprendizado efetivo é: aprendemos o que queremos aprender. A pergunta dirigida ao aluno apenas verifica seu conhecimento, mas não inicia uma cadeia autêntica de raciocínio. Perguntas desse tipo são genuínas quando o propósito é avaliar o conteúdo, mas não quando se pretende gerar conhecimento.- João: 3.
- Professor: Quaaaanto?
Estudos recentes sobre modelos de aprendizagem ativa investigam quais são as condições que levam a diálogos significativos na sala de aula. Perguntas realizadas pelos próprios estudantes ou questões levantadas pelos professores a partir de dúvidas ou ideias geradas pelos alunos têm potencial para elevar o aprendizado. A diferença para o exemplo dado anteriormente seria:
- João: professor, a raiz quadrada de 4 é 3?
- Professor: vamos pensar juntos. Quanto é 3 vezes 3?
- João: 9.
- Professor: e qual é o número que, multiplicado por ele mesmo, resulta em 4?
- João: 2. Ah, então a raiz quadrada de 4 é 2 e a raiz quadrada de 9 é 3.
- Professor: vamos pensar juntos. Quanto é 3 vezes 3?
- João: 9.
- Professor: e qual é o número que, multiplicado por ele mesmo, resulta em 4?
- João: 2. Ah, então a raiz quadrada de 4 é 2 e a raiz quadrada de 9 é 3.
Nesse caso, a dúvida do aluno não é respondida prontamente. Ao contrário, a estratégia do professor é “jogar o dado novamente” para conduzir o estudante à conclusão por si só, após raciocínio e reflexão. Embora o exemplo possa parecer simplista e demasiado caricato, ele ilustra uma estratégia de facilitação do aprendizado, chamada de tossing back. Na prática, o caminho percorrido pelo aluno para chegar às respostas corretas pode ser mais longo e exigir que o professor empregue outras técnicas. Apresento abaixo algumas estratégias de facilitação sugeridas por Hmelo-Silver e Barrows (2006) e Zhang et. al. (2010):
- Solicitar ideias para iniciar ou redirecionar a discussão.
- Usar perguntas abertas e meta-cognitivas, que levem os alunos a construir modelos ou mecanismos causais.
- Responder perguntas com outras perguntas, para favorecer raciocínio e reflexão e conexão do novo conhecimento com o já acumulado.
- Estimular que os alunos forneçam explicações detalhadas para afirmações que eles fazem sobre um determinado assunto.
- Pedir que os alunos esclareçam suas ideias quando eles fazem perguntas.
- Legitimar boas ideias trazidas por alunos de baixo rendimento.
- Pedir que os alunos resumam oralmente o que aprenderam na aula.
- Solicitar que pensem sobre os problemas ou questões em pauta, gerando hipóteses alternativas ou modificando elementos.
- Verificar o consenso sobre as ideias apresentadas ao final da discussão e aproveitar lacunas de entendimento para esclarecer conceitos ou conteúdo.
- Encorajar a representação visual das ideias apresentadas (uso do quadro pelos alunos, por exemplo).
- Encorajar e favorecer a contribuição entre os alunos nas explicações dos conceitos e conteúdo.
- Envolver os estudantes que participam pouco e criar um ambiente que os alunos reconheçam como um espaço de aprendizagem e se sintam à vontade para expor suas ideias, mesmo que equivocadas.
Todas essas estratégias trazem uma série de benefícios: engajam o aluno em discussões mais eficazes; permitem a colaboração e o aprendizado entre os pares; estimulam o estudo frequente e contínuo; motivam os estudantes; facilitam a identificação das restrições e necessidades de aprendizagem e das tarefas a serem cumpridas; permitem que o aluno monitore seu progresso etc.
Essas técnicas de facilitação tiram o estudante do papel de mero espectador e o colocam no centro do seu processo de aprendizado
Priscilla Albuquerque Tavares é doutora em Economia pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Mestre e Bacharel em Economia pela Universidade de São Paulo (USP). É professora da Escola de Economia de São Paulo, da FGV, pesquisadora na área de Economia da Educação e autora de diversos artigos que avaliam impactos de políticas educacionais no Brasil
Nova Escola.
Professor Edgar Bom Jardim - PE
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