A festa é sempre uma pausa Pode aliviar lembranças pesadas e sacudir o coração para visitar a alegria. A celebração da multidão em busca do paraíso causa arrepios. Tudo passa rápido, mas a embriaguez não escapa da ressaca e a rebeldia surge com humor inusitado. O mundo gira, o salário chora, mas não há como se desfazer das máscaras. Não é difícil desenhar um sorriso sem negar que outros dias travarão sonhos. A complexidade da vida cabe nas latitudes do corpo. É uma travessia que segue pelas estradas. Não a imagine sem curvas. Assim a festa aparece porém seus arranhões escondem certas marcas inesquecíveis. Não é ingênua, se escancara.
Não adianta simular. As multidões se soltam, esquecem que na esquina há fantasmas. Enquanto o ritmo balança, a solidão não se congela. É preciso que as ilusões se misturem e que o exílio seja metáfora colorida. Deixe os enganos desabrocharem, pois as verdades fecham caminhos e apagam futuros. As festas não se vão para que o cansaço não se torne absoluto. O desemparo persiste no meio do som, mas traz alguma traço de algo que voa e desaparece. Portanto, as estranhezas são íntimas, o outro merece cuidado, embora os inimigos surjam no final de sonho que se abala com os ataques dos desprezos. Sobram questões mesmo no meio da folia.
Muitos se aproveitam das festas para fugir do poder. Agarram-se nos camarotes para ver a massa no seu delírio fugaz. A cultura é produção de significados. Se as ruas se enchem de suor e cerveja, há quem prefira sabores estrangeiros e se agradem com espaços escuros. Uns se arriscam, outros querem proteção. Tudo é uma aventura com limites acrobáticos. Não faltam surpresas, as brincadeiras disfarçam violências e os preconceitos e as ironias se mostram nas nas cores. Tudo tem um preço. É a celebração da desigualdade com vestimentas de delírios. Luxo e lixo sem fronteiras e com acasos.
Se o ponto final anuncia que o desmantelo é o mesmo e o desamor não se foi do mundo, não precisa bordar um pano como se arquiteta um labirinto. Impaciente-se, mas não se anule.Os seres humanos não conseguem segurar as utopias e trazê-las para o mundo cotidiano. Na sociedade do consumo, o efêmero possui moradia fixa. Não se desespere. A festa está envolvida por calendários. Não vai para o inferno, apenas tira férias e espalha epidemias. Os refúgios suavizam as saudades. Um dia, seu exílio adormece. Quem canta seus males espanta sem observar o eterno retorno que cerca a história.
A astúcia de UlissesProfessor Edgar Bom Jardim - PE
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