terça-feira, 25 de dezembro de 2018

A pressa digita as aflições nos celulares

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É comum o apego pelos celulares. Eles resolvem questões, são mágicos, provocam delírios. As crianças se divertem e manipulam suas fantasias. Não se pode destruir os sentidos de renovação. Quebra galhos imensos, torna idiotas gênios, ajuda a ganhar eleições e buscar amores perdidos. Quem não gosta de uma máquina tão astuciosa? E o outro lado não existe? O culto à velocidades, as informações abreviadas, o lúdico difundindo máquinas de guerra. Afetam também a postura corporal, inibem as escutas e apressam a vontade de consumir. Uma invenção que tumultua sentimentos e agita relações de poder esquizofrênicas.
Já observei pessoas se comunicando, numa mesma sala de aula pelo zap, com uma concentração imensa. Senti-me invisível. Talvez, seja o combate à solidão. As mãos são inquietas, tocam o celular com um erotismo instituinte. Haja fantasias, divagações, isolamentos, desamparos. Ninguém se escuta com entusiasmo, mas não abandona a tecla de celular. Aparecem repentinos rostos risonhos ou tristezas inesperada. A cabeça baixa é simbólica. Trata-se de um novo altar de uma arquitetura profana. Não entendo bem como a máquina funciona e acho que ela multiplica ansiedades. Segue sendo idolatradas. Fetiche.
Há consultórios de psicanalistas que recebem e tratam de pessoas ligadas nos manejos constantes de celulares. Não é exagero. Cria-se uma epidemia. As operadoras desenham modelos, inventam recursos sedutores e gastam uma grana em anúncios mirabolantes. Já perguntou aos próximos consumidores  se eles renegam a tecnologia atual? E a pergunta lhe trouxe aflições e agradou as suas neuras? Sair de casa sem um celular virou uma condenação. Que fazer? Como descobrir o roteiro dos restaurantes? Será que haverá algum encontro nos cafés? Como ver meu horóscopo? E a hora de tomar os remédios?
O desamparo registra manias trazidas pela pós-modernidade. Há sempre as doenças da moda. Muitos procuram justificar suas práticas, defendem suas intimidades, porém se anulam quando a conversa rola diretamente. Até na cama os casais esquecem seus desejos e computam suas últimas chamadas, No sonho, também não deixa de lado a velocidade que o atormenta.  Dormir sem o celular ao lado traz agonias para muitos Vida programada, tarja preta no bolso, negócios urgentes. É preciso cuidar bem de objetos tão arrasadores. É uma companhia. As notícias estão chegando e o sangue escorre pelas teclas. Uma questão de saúde pública assume lugar inesperado. Mais uma doença social e o delírio se ampliando.

Por Paulo Rezende

Professor Edgar Bom Jardim - PE

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