Michel Temer e o MDB lançaram nesta terça-feira 22 a pré-candidatura presidencial de Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda. Nos discursos da dupla e no documento que é uma espécie de rascunho da plataforma eleitoral de Meirelles, desenha-se uma campanha baseada na ideia de que é preciso manter a atual política econômica para o País seguir progredindo, em vez de regredir.
.
Convencer o eleitorado de que o rumo está certo será um baita desafio para os emedebistas. Há muita gente com motivo para achar que a vida piorou depois da política econômica de Meirelles.
Nos dois anos do governo Temer, o Brasil ganhou 2,3 milhões de desempregados. Eram 11,4 milhões em maio de 2016, agora são 13,7 milhões, segundo o IBGE. O número de cidadãos que desistiu de procurar trabalho, por achar inútil, o chamado desalento, também subiu. De 3,2 milhões no segundo trimestre de 2016 passou a 4,6 milhões no primeiro de 2018, 1,4 milhões a mais.
Os próximos seis meses, tempo restante para o fim do mandato de Temer, não reservam algo lá muito melhor, na percepção dos eleitores. Na última pesquisa CNT/MDA, de 14 de maio, os que acham que a situação do emprego no País vai melhorar caíram para 21% (eram 28% em março). Para 43%, ficará como está (eram 37% em março). Para 31%, vai piorar (índice igual ao de antes).
Leia também: Henrique Meirelles à sombra de Temer?
Entre os brasileiros que conseguiram ter alguma fonte de renda trabalhando em 2017, entrou menos dinheiro no bolso do que em 2016. De um ano a outro, o rendimento médio caiu de 2,223 mil para 2,178 mil mensais, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE.
Com base nessa PNAD Contínua, uma consultoria do “mercado”, a LCA, calculou que 1,5 milhão de brasileiros voltaram para a pobreza extrema de 2016 para 2017. Os miseráveis somavam 14,8 milhões no fim do ano passado, graças, segundo a consultoria, a um crescimento econômico modesto, de 1%, e da geração de empregos precários, sem carteira assinada.
O número de trabalhadores com carteira assinada no fim de primeiro trimestre de 2018 foi o mais baixo registrado nas estatísticas do IBGE. Um total de 32,9 milhões, 493 mil a menos do que no mesmo período de 2017.
Ao filiar-se ao MDB em 3 de abril, Meirelles reconhecia que o mundo real, o da vida dos cidadãos, era um problema para sua ambição eleitoral. “A sensação de bem-estar social ainda não está estabelecida na sociedade”, afirmava.
Naquele mesmo dia, o senador Renan Calheiros dizia à reportagem não entender a entrada do ex-ministro no partido. “Ele não acrescenta nada ao MDB, aprofundou a recessão e o desemprego.”
Não à toa, outro senador do partido, Roberto Requião, mandou, em 16 de maio, um email a 30 mil delegados emedebistas com a proposta de ser ele o candidato a presidente. Na economia, Requião pensa o contrário de Meirelles.
Com esse movimento, diz um interlocutor de Requião, o senador quer tentar matar a candidatura de Meirelles na sigla e afastar o MDB de uma eventual união com Geraldo Alckmin, do PSDB. Se possível, obter até, quem sabe, uma aproximação com o PT, de quem Requião toparia ser vice.
Contra esse plano, que Calheiros apoia e algumas lideranças nordestinas do MDB também, Temer ameaçou: divergências serão resolvidas na Convenção Nacional do partido que oficializará uma posição sobre a eleição presidencial. Quem não apoiar Meirelles na eleição, que saia do partido.
E por que, apesar da vida real do eleitorado e das resistências de setores do MDB, Meirelles acredita ter chances? Pesquisas qualitativas, comentou ele ao lançar sua pré-candidatura.
Segundo o ex-ministro, entrevistados que não o conhecem reagem bem quando apresentados a seu CV. Nesta apresentação, Meirelles lembra que trabalhou no governo Lula, do qual foi presidente do Banco Central.
No discurso desta terça-feira 22, ele disse que “desde 2003, o País mudou”, alusão ao início da gestão do petista. É bem provável que, se sua candidatura emplacar, Meirelles leve para a campanha na TV imagens dele ao lado de Lula.
Entre os pré-candidatos da direita ou da centro-direita, Meirelles é quem tem a menor rejeição, conforme a pesquisa CNT/MDA. Seu índice era de 48%. Temer, que parece enfim ter abandonado o sonho da reeleição, tinha 87%. Marina Silva (Rede), 56%. Alckmin e Rodrigo Maia (DEM), 55%. Jair Bolsonaro (PSL) 52%.
Abaixo dos 50%, como Meirelles, só os presidenciáveis de esquerda ou centro-esquerda, o que sugere uma eleição a ser realizada com um sentimento de “mudança” por parte do eleitorado. Lula, Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) tinham 46%.
Na ausência de um candidato presidencial do tipo outsider, como Joaquim Barbosa, do PSB, ou o apresentador global Luciano Huck, Meirelles tentará posar como alguém suprapartidário, capaz de servir tanto ao governo do PT quanto ao de Temer.
Como a disputa parece embolada e provavelmente irão para o segundo turno candidatos com baixa votação no primeiro, algo entre 15% e 20%, será que golpe de marketing dará certo?
Com informação de Carta Capital
Foto: O Globo
Professor Edgar Bom Jardim - PE
0 >-->Escreva seu comentários >-->:
Postar um comentário
Amigos (as) poste seus comentarios no Blog