quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Câmara salva Temer

Temer e Darcísio Perondi
Temer contou com o apoio de sua tropa de choque, integrada pelo deputado Darcísio Perondi


Em uma sessão marcada por votos constrangidos e negociação de emendas à luz do dia no plenário, Michel Temer obteve apoio suficiente para barrar o avanço da denúncia por corrupção passiva apresentada pela Procuradoria-Geral da República.
Até o momento, 172 deputados se ausentaram, se abstiveram ou votaram em favor do relatório da Comissão de Constituição e Justiça que recomendou o arquivamento das acusações contra o atual presidente.
Com o placar parcial que assegura a vitória do Planalto, o Supremo Tribunal Federal não está autorizado a analisar a denúncia, o que impede Temer de se tornar réu e, consequentemente, de ser afastado do cargo por até 180 dias.
Primeiro na linha de sucessão caso o peemedebista fosse afastado, Rodrigo Maia, presidente da Câmara, não demonstrou estar disposto a trair o atual presidente, ao contrário da postura adotada por Temer em relação à Dilma Rousseff. Na sessão, Maia beneficiou o peemedebista ao dar agilidade à votação e barrar requerimentos da oposição pelo adiamento da deliberação.
À parte aqueles que condenaram a "esquerda comunista" no microfone, os deputados que votaram "sim", ou seja, contra o avanço da denúncia, demonstravam constrangimento de barrar as acusações. Em lugar de Deus e da família, pilares dos discursos dos parlamentares que votaram em favor do impeachment de Dilma, os deputados favoráveis a Temer evocaram a estabilidade econômica como principal motivo para suas escolhas.
O PSDB e o PSB, partidos da base governista, orientaram suas bancadas pelo avanço da denúncia contra Temer, embora a primeira legenda, que conta com quatro ministros no governo, tenha deixado seus parlamentares livres para escolherem seu voto. No caso do PSB, ocorreu uma curiosidade: a deputada Tereza Cristina (PSB-MG) orientou a bancada do seu partido a votar contra Temer, mas declarou voto favorável ao peemedebista.
A pressão popular e de movimentos sociais pela saída de Temer foi frustrante. Após o início da votação nominal, alguns manifestantes foram ao Congresso protestar contra o peemedebista, mas a adesão do ato foi baixa. Em São Paulo, houve também concentração de alguns manifestantes em frente ao escritório da Presidência, na Avenida Paulista.
Com a votação favorável, Temer escapa por ora da acusação de corrupção passiva da PGR, que só poderá ser analisada pelo STF após o fim do mandato do peemedebista. Em nome da estabilidade atual, muitos deputados utilizaram este argumento para votar contra o avanço da acusação
O atual presidente foi denunciado por corrupção passiva com base nas delações da JBS. Nas 60 páginas da apresentada ao STF contra TemerJanot busca conectar dois conjuntos de fatos para provar a culpa do presidente.
O primeiro envolve a negociação da propina semanal feita entre representantes do grupo J&F, de Joesley Batista, e Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). O segundo conjunto compõe o estreito relacionamento entre Loures e Temer. Para Janot, há evidências de que, ao pedir e receber propina, Loures estava atuando em nome de Temer. 
Apesar da vitória na sessão desta quarta-feira 2, Temer continua na mira da PGR. Temer deve ser alvo de um nova denúncia de Rodrigo Janot, procurador-geral da República, por acusação de obstrução da Justiça.
Bate-boca e empurra-empurra
Wladimir Costa
Deputado que tatuou Temer defendeu seu ídolo com pixulecos
Bate-boca e agressões não faltaram na sessão desta quarta 2. Antes da votação nominal, um conflito quase chegou as vias de fato. Enquanto o deputado Paulo Pimenta (PT) discursava, ele foi chamado por aliados de Temer de "babaca". Em seguida, deputado Wladimir Costa (SD-PA), com dois "pixulecos" na mão, começou a provocar colegas da oposição. A confusão foi generalizada e houve empurra-empurra. "Esse desqualificado que representa a escória do golpismo', disse Pimenta a Costa.
Deputados atiram bonecos infláveis uns nos outros enquanto o presidente da Casa, Rodrigo Maia, pedia: "Pode mostrar, mas não podem jogar". Após a confusão generalizada, vários focos de empurra-empurra se seguiram no plenário. O deputado Bohn Gass (PT-RS) chegou a cair em meio ao conflito. 
Negociações e emendas em troca de votos
Desde que foi alvo da denúncia, Temer abriu o cofre para salvar o pescoço. Apenas em emendas parlamentares, o Planalto empenhou 4,1 bilhões de reais neste ano, sendo 2,1 bilhões apenas em julho, segundo um levantamento da ONG Contas Abertas.
Durante a sessão, a negociação de emendas do governo com deputados que podem votar favoravelmente a Temer seguiu a todo vapor. O ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, licenciado do cargo para votar contra a denúncia contra o presidente Michel Temer, negociou emendas em plena votação. O deputado Henrique Fontana, do PT, denunciou a prática em sua fala no plenário.
Às vésperas da sessão, Temer não poupou esforços para garantir votos favoráveis. Na terça-feira 1º, ele encontrou-se com dezenas de parlamentares em um jantar oferecido pelo vice-presidente da Câmara, deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG). Antes do encontro, prometeu refinanciar dívidas públicas de representantes do agronegócio em uma reunião com integrantes da bancada ruralista.
Abertura da sessão
Às 8h47, a Câmara atingiu o quórum necessário para a abertura da análise da denúncia: 52 deputados. Cerca de 20 minutos depois, Rodrigo Maia, presidente da Casa, chegou ao local e declarou aberta a sessão. A oposição entrou junto no plenário gritando "Fora, Temer" e ostentando cartazes com críticas ao "apoio comprado" do atual presidente e à sua impopularidade.
A primeira deliberação do dia foi relacionada à continuidade ou não dos debates. Com mais de 257 parlamentares presentes, a Câmara aprovou um requerimento que encerrou a discussão, o que deu maior celeridade para o início da votação nominal.
Bem-sucedida, a estratégia da base aliada era de dar o máximo de celeridade ao processo, com o objetivo de limitar a cobertura da mídia, em especial da TV Globo. Parlamentares de oposição reconheceram que erraram ao dar quórum para o início da sessão. Antes da reabertura da sessão ás 14h, já havia mais de 342 parlamentares no plenário.
A oposição tentou emplacar requerimentos que adiassem a sessão, mas foi derrotada em votação relâmpago feita por Maia. Os deputados contrários a Temer chegaram a entrar com um pedido no STF pelo anulamento da sessão desta quarta-feira 2, com a justificativa de que não foram ouvidos no plenário, mas não tiveram sucesso.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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