terça-feira, 30 de maio de 2017

Marina Silva: PT, PSDB e PMDB se uniram para desmoralizar Lava Jato


Líder da Rede vê ação orquestrada contra a Lava Jato
Leia a entrevista exclusiva de Marina ao Poder360
Marina Silva, pré-candidata da Rede à Presidência, durante entrevista ao Poder 360

29.maio.2017 (segunda-feira) - 5h59
atualizado: 29.maio.2017 (segunda-feira) - 7h28

Os 3 principais partidos políticos brasileiros passaram a agir em conjunto para desmoralizar a Lava Jato. Assim opina a porta-voz nacional da Rede Sustentabilidade, Marina Silva. Ela disse ainda não acreditar em abusos da parte dos investigadores e elogiou a ação de procuradores e juízes.
A presidenciável recebeu o Poder360 na tarde da última 6ª feira (26.mai.2017), na sede do partido comandado por ela, em Brasília.
É viável 1 “grande acordo nacional” para “estancar a sangria” e acabar com as investigações de corrupção? “Eles [os principais partidos] estão tentando”, diz Marina Silva.
“Exatamente aqueles que nunca se uniram em função de causas para o Brasil agora se unem em favor de detratar a Lava Jato. E de tomar medidas para enfraquecê-la”, diz ela. Ela cita o projeto contra o abuso de autoridade, aprovado no fim de abril no Senado, e o engavetamento das 10 medidas contra a corrupção.
Sem nominá-los, Marina critica políticos que estão tentando se colocar desde já como alternativas em caso de eleições antecipadas. E refuta a acusação de que ela desaparece fora dos períodos eleitorais. O comentário, segundo ela, é “estratégia autoritária” de seus adversários.
A líder da Rede diz porém que é legítimo apresentar-se já como pré-candidato para 2018. Ela própria é vista dessa forma pelo mundo político, embora tenha perdido fôlego nas últimas pesquisas.
Em pouco mais de 20 minutos, a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente voltou a defender a cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e a convocação de eleições diretas antecipadas e criticou a gestão ambiental de Michel Temer (“está aprofundando os retrocessos” da época de Dilma Rousseff).
Marina Silva também comentou figuras em evidência no Brasil atual. Joesley Batista é “campeão nacional da corrupção”; Lula “trocou 1 projeto de país por 1 projeto de poder” e João Doria é “o porta-voz da ambiguidade política”.
Assista aos vídeos da entrevista e leia os principais trechos:
Poder360 – Michel Temer deveria renunciar?
Marina Silva – Naquela oportunidade [em dezembro de 2016] era a chance que ele tinha de prestar um serviço ao Brasil. E obviamente que isso dependia da sua consciência (…).
Mas diante da crise que nós temos, e do aprofundamento da crise depois da delação de Joesley Batista, e da manifestação dele de que não iria renunciar, eu acho que consciência é um produto escasso. Então o melhor caminho é aquele que eu sempre defendi, desde 2015: a cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE.
A legislação diz que, em caso de cassação da chapa, a menos que seja a 6 meses do pleito, é possível uma nova eleição. E tanto é possível que está sendo aplicada para os governadores, no caso do governador [cassado] do Amazonas [José Melo, do Pros].
Se houver eleições diretas agora, você será candidata? E no caso de eleições indiretas?
Esse é um momento no qual eu acho que é um desserviço falar em candidatura. Antes de a gente ter a decisão de que haverá novas eleições. Aliás, esse movimento por eleição direta deveria ser um movimento da sociedade, evitando o protagonismo exacerbado de figuras que potencialmente possam vir a ser candidatas e dos partidos políticos.
Você acha que alguns políticos estão exagerando nesse papel de pré-candidato, neste momento?
Se for a pré-candidatura para 2018, é legítimo. [Há] os que já estão com as suas pré-candidaturas na rua, porque aí é o calendário normal das eleições. Eu me refiro a este momento agora, em que ainda não temos uma decisão do TSE (…). Se colocar como candidato antes que haja a decisão constitucional de que é possível haver eleição seria, como diz a minha avó, colocar o carro adiante dos bois.
Alguns críticos dizem que a senhora só reaparece na época da eleição. Como você responde?
Eu entendo isso muito mais como uma estratégia autoritária por parte de alguns. Como eu não faço parte de um dos campos que promovem a polarização, e tenho um posicionamento independente, as pessoas não conseguem imaginar que possa existir uma outra fala, ou que possa existir um outro lugar. Então, se você não é contra o Temer e à favor da Dilma, ou vice-versa, você não existe.
E obviamente que tem um outro equívoco (…). Durante o processo eleitoral você tem, por obrigação legal, um espaço em que você aparece todo dia praticamente [o horário eleitoral]. Aparece nos jornais, que têm que fazer uma cobertura minimamente equânime. Na exposição da grande mídia. Quando passa o período eleitoral você não terá mais esse espaço.
Ganha força no meio político e jurídico a avaliação de que a Lava Jato está cometendo abusos e arbitrariedades. Você concorda?
Não concordo. Acho que a operação Lava Jato está fazendo um grande trabalho para o Brasil. Eles estão fazendo, nesses poucos anos, aquilo que levaríamos um século para conseguir.  Estão [a Lava Jato] fazendo um trabalho de grande relevância para o país e sofrem hoje a oposição dos principais partidos da polarização, que estão sendo investigados. PT, PSDB, PMDB e seus satélites. Exatamente aqueles que nunca se uniram em função de causas para o Brasil agora se unem em favor de detratar a Lava Jato. E de tomar medidas para enfraquecê-la.
É o caso da proposta do senador Renan [Calheiros, do PMDB-AL], em relação ao abuso de autoridade, o projeto de anistia para o caixa 2. E também a desconstituição das 10 medidas que foram apresentadas pelo Ministério Público.
A sra. acha que é possível esse desmonte da Lava Jato?
Eles [PT, PSDB, PMDB] estão tentando. A possibilidade de que a imprensa vá colocando os fatos sobre o que está acontecendo tem ajudado a sustentar. Mas o que está sustentando a Lava Jato é a capacidade técnica que os juízes e os procuradores e os investigadores têm. E obviamente que o expediente da delação premiada tem dado uma contribuição para que se tenha as pistas para a investigação. O apoio da sociedade para que o Brasil seja passado a limpo é imprescindível. Isso não é apoio ao juiz. O juiz é apenas um juiz, ele vai ter que se ater aos autos, não importa quem seja [o réu].
O Inpe estima que o desmatamento na Amazônia cresceu 29% em 2016, em relação ao ano anterior. O que deu errado?
O que está acontecendo é que nós temos o maior retrocesso da história do nosso país na agenda ambiental. Isso começou com o governo da presidente Dilma [Rousseff, do PT]. Agora estão sendo aprofundados os retrocessos que ela já vinha praticando. E [há] as consequências da mudança do Código Florestal.
E ainda temos os outros retrocessos que estão em curso. Em relação à mineração, do licenciamento ambiental, que agora querem que seja um licenciamento expedito [mais rápido]. E o feito inédito de um governo que não cria uma unidade de conservação [reserva ambiental] e ainda reduz as que já existiam, como foi agora o caso da Floresta Nacional do Jamanxim [no Pará] e mais uma floresta no Paraná. Foram reduzidos 600 mil hectares de floresta nacional por esse governo.
Em balanço, a sra. acha que Temer consegue ser ainda pior que Dilma, ou fica empatado?
Eles são faces da mesma moeda. Ele está aprofundando os retrocessos que já vinham acontecendo. E tendo no Ministério da Justiça um ministro [o então ministro Osmar Serraglio] que advoga a causa de um setor em prejuízo do trabalho de mediação que deveria fazer em benefício de todos, inclusive dos índios.
Gostaria que você compartilhasse suas impressões sobre algumas figuras que estão em evidência neste momento.  
Joesley Batista:Provou ser um dos campeões nacionais da corrupção.
Sérgio Moro:Um homem que tem colocado o seu compromisso e competência a serviço da Justiça.
Cármen Lúcia:Deu uma grande contribuição quando decidiu homologar a delação feita pela Odebrecht.
Deltan Dallagnol:Um servidor a serviço da Justiça.
Lula:Trocou o projeto de país por 1 projeto de poder.
João Dória:Tem se colocado como o porta-voz da ambiguidade política.
Jair Bolsonaro:Tem se colocado como um remanescente do autoritarismo.
Ciro Gomes:É o pré-candidato do PDT.
Sérgio Lima/PODER 360 - 26.mai.2017
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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