terça-feira, 5 de julho de 2016

A berlinda: violência, namorados Cunha

Por Antônio Rezende.
O constrangimento fere os desejos alegres do cotidiano. Escrever sobre os poemas que podem visitar o mundo traz leveza. A vida está muito embaralhada, todos sacudindo raivas, decepcionados com as falências dos paraísos. Não faltam enganos, vontade de ir embora, descrença generalizada. Mas há lutas, grupos resistentes, críticas renovadoras. A divisão é complexa. Desconhecemos detalhes e vemos amigos entranhados em ambições.assustadoras. A história nunca ficou livre das ambiguidades, erraram os que acreditaram num progresso sem limites. As contradições pulam, não se afastam do dia a dia, possuem fome e sede incomensuráveis, expulsam os mais ingênuos.
Retorno às violências com um sabor amargo. O azul do céu é belo, ouço ruídos, cantar de passarinhos. O comércio celebrou o exótico dia dos namorados, quando a solidão forma pelotão e santo Antõnio ganha adeptos inesperados. Festa do capitalismo, declarações cobertas de mentiras, beijos soltos, corpos animados para o sexo premiado. O amor não cabe em um único dia, porém há pressas e amizades com as mercadorias. Cada um escolhe seu presente e suas juras. A sociedade recebe rituais. As ruas se enchem de alegrias encomendadas. É dia da máscara trabalhar e animar os fingimentos. Acelerações desmedidas, desamparos anônimos, batons vermelhos, flores artificiais, pacotes coloridos, tudo reunido numa síntese plural e articulada.
Desculpe, sai do enredo. Há algo que me preocupa fortemente. Tento disfarçar, desviar o assunto, refazer balanços, no entanto a violência é um ameaço onipresente. Fala-se em crime organizado. Há contabilidades, assassinatos medonhos. Não há limites. Os preconceitos fornecem justificativas. A pedofilia, o estrupo, a homofobia, o racismo, tudo promovendo armadilhas, distribuindo ódios. As ideias iluministas sucumbiram, tropeçaram, se esconderam no fundo do abismo. É difícil respirar, numa atmosfera que se envolve com a energia negativa.Há quem não observe que a pedagogia da violência ganha espaço dentro da própria família. E as discussões no Congresso Nacional, a competição para ser eficiente e não cair no desemprego?
A violência não vem , apenas, do tiro da metralhadoras, das atitudes da polícia, da miséria urbana, dos assassinatos em boates, do comércio de drogas. Existe nas diversões, nos cinismos voluntários. Há sempre, porém, a possibilidade de  caminharmos  juntos e construirmos outras convivências. Não se trata de exceções. As manchetes alucinam, criam-se torcidas com memórias fascistas.Tantas tecnologias, escolas, filosofias, diálogos… Quem inventou o mundo descuidou-se do afago, do sossego. A guerra é um hábito? Os mistérios nos rondam, nós,arrogantes, perdemos a meiguice. Anulamos o sonho e consumamos o individualismo.
Quem pretende salvar o mundo rola pedras e fecha os olhos. “Narciso acho feio o que não é espelho.” É isso e muito mais.Quem se sacode como dono do poder não possui garantias de eternidade.Os tropeços existem, as quedas acontecem, as punições surgem. A história é complicada, porque não é linear. Cunha achou que tinha o mundo nas suas ações. Foi agressivo, partidário do autoritarismo. Globalizou-se. Chegou seu dia de sofrer uma decepção que, talvez, nem cogitasse. A sociedade está atordoada. Falta um cais amplo para receber as embarcações. As navegações são descobertas contínuas e inusitadas. Desistir não é preciso.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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