Lembro-me do primeiro programa televisivo eleitoral do ano que Lula conseguiu sua vitória esperada. Estava atento, com meu filho mais novo, observando os detalhes. Notei a sofisticação das imagens e uma produção com requintes. Comentei e me senti perplexo. Parecia que o caminho estava se abrindo para uma outra época, mas há sempre dúvidas no ar. Governar no Brasil tem amplos cercos e significados. Não se pode jogar fora as alianças, mesmo que sejam perigosas. É preciso ter cuidado, pois as instabilidades são muitas e a desigualdade social persistente.As armadilhas são espertas e os punhais afiados.
Lula se organizou, escolheu seu ministério e enfrentou polêmicas que sacudiram até mesmo o PT. Lançou políticas que mostravam compromissos com a maioria e tornou-se um líder, com carisma indiscutível. Viajou, cultivou as relações diplomáticas. As disputas continuaram e as denúncias também. Não foi fácil, porém superou a travessia e voltou à presidência. Procurou fundar uma política econômica que se desviava da crise, porém que tinha suas instabilidades. Houve euforias. Lula saiu do seu último mandato consagrado.
A história não é sossego. A sociedade dança o ritmo da dissonância. Estamos no mundo capitalista, com individualismos crescentes. Como vivê-lo sem exploração, sem propaganda, sem aliciamentos? Dilma , sua sucessora, não reafirmou as promessas. Deu tropeços, se reelegeu com uma situação de tensão crescente. Há acusações fortes, muita gente presa e a imprensa solta notícias que movimentam expectativas indefinidas. A atmosfera pesada deixa o país tonto. Não faltam críticos. Sobram medos. A confusão se estica de forma veloz. A escolha é um desafio incessante. A luta se acirra. Tudo se transforma em objeto de negação. A balança da justiça se incomoda com os desequilíbrios. Levita. Busca medidas. Fragmenta.Disfarça. Esconde-se.
Sinto-me no meio de comportamentos esquisitos, de opiniões de uma diversidade infinita, de nostalgias por políticas envelhecidas. Há redes que se formam, pedidos de retorno dos militares, a raiva se juntando com os preconceitos. Muito espetáculo, pouca clareza. As imagens não desmentem que a gravidade aumenta. Quem efetivamente arquiteta tanto drama? Por que as leis sofrem tantas interpretações? O quadro cínico da política se amplia e as construções ameaçam ter a forma de ruínas. A modernidade parece cometer um suicídio inesperado, ajudada por ações que assustam alguns e recebem aplausos de outros.As quebras dos governos são dolorosas, reconfiguram incertezas ansiosas e anônimas.
A crise atual não é localizada. Contemple o resto do mundo, sem perder de vista suas contradições. E os migrantes, o terrorismo, os valores, as guerras ? Será que uma maldição ou um feiticeiro assombra as possíveis esperanças? Os tempos se entrelaçam e pedem leituras diferentes. Não pense que a história é apenas renovação. Há repetições, há adeptos de práticas autoritárias, há vítimas e inocentes. Os labirintos possuem espelhos. Não os negue. Não brinque com a coragem, nem acene com a bandeira do quanto pior, melhor. No mundo das imagens, as reflexões ficam curtas. A história não tem sentido determinado. A soberania do discurso torto leva o abismo para o meio da sociedade. Sufoca e tiraniza.
Fonte: .astuciadeulisses
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