A cidade aumenta seu espaço de importância política. É a nossa grande moradia. Não se organiza, nos pontos mais cruciais, e se perde nas especulações. Seus territórios valem contabilidades secretas e negociações que concentram riquezas. A cidade se torna mercadoria valiosa, vitrine de coisas ambicionadas para multiplicar a centralização e inibir a solidariedade. Caminhamos pelas ruas sem observar, muitas vezes, que a pressa derruba reflexões e fecha a porta do diálogo. Nem perguntamos pelas paisagem e suas formas. Desapegar é verbo sinuoso, pois atiça os pertencimentos.
Dizem que ela virou um conjunto de monumentos. Vejo concretos armados, esquinas perigosas, olhares desconfiados. Mas também o invisível ou aquilo que é apenas aprisionado pelos donos dos monopólios. O acordo de políticos com financiamentos de campanha não é novidade. Está presente nas páginas dos jornais e nos debates do Congresso Nacional. O espetáculo das novidades negativas desmancham memórias. Parece que tudo está contaminado e ameaça explodir. No entanto, as remarcações prometem mudanças e máscaras sedutoras. O dinheiro de plástico tem vida longa.
Ocupar a cidade, para que ela não se restrinja aos desmantelos da especulação imobiliária é movimentar críticas e colocar as contradições sem subterfúgios.Como firmar posições e diluir as ordens de quem foi eleito com sombras definidas é um desafio.Onde o negócio se espalha, com cinismo, a ética se quebra. Os discursos justificam tudo, querem perdão, distorcem, porém conseguem convencer os dominados entregues à festa do capital. As notícias não são neutras, possuem fontes e esconderijos.
Há estratégias montadas para assegurar as vantagens da minoria com sofisticação. Nada é feito à toa, com inocência. O modo de produzir é individualista e repartido com os mandamentos da desigualdade. As moradias exibem o luxo e o lixo. Os incômodos desfilam fazendo vítimas. Há entrelaçamentos. A solidão traz o consumo de drogas e desespero diante da aridez que dispensa o sonho. A palavra droga envolve muitos significados e anseios.O abismo é um sinal, uma armadilha, uma metáfora, faz parte do dicionário da crise.
Italo Calvino escreveu As Cidades Invisíveis como um belo anúncio que as possibilidades são infinitas. Cada afirmação possui um silêncio e um ruído. É preciso ter cuidado com a moda e não esquecer que ela esvazia aprofundamentos e fortalece arrogâncias. As certezas são mínimas. Calvino mostra que não vemos alguma sutilezas do cotidiano, lembra o afeto, os registros que identificam linguagens e agonias. Ocupar a cidade é sobretudo sentir o outro e não negar as diferenças. As verdades merecem suspeitas e a invenção de lugares. A síntese é sempre ornamentada pelo engano.
Fonte:www.astuciadeulissesProfessor Edgar Bom Jardim - PE
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