domingo, 7 de setembro de 2014

Conversas freudianas e nostálgicas


Por Paulo Rezende.
Freud viveu tempos de muitas contestações. Não ficou ausente das polêmicas. Procurou, com suas observações, redefinir valores. Outros conhecimentos sobre o fazer humano que abalaram tradições. O século XIX foi inquieto. Marx e Darwin contribuíram também para questionar verdades e modificar concepções de mundo. Não podemos esquecer Nietzsche e tantos outros que propuseram novos olhares e novos sentimentos. Freud, portanto, não estava isolado, tinha seus diálogos e gostava de aprofundar suas reflexões que dissolviam preconceitos e crenças.
Foi adiante. O século XX trouxe as guerras mundiais e os totalitarismos. A pulsão de morte se espalhava com ajuda de técnicas e violências frequentes. As utopias não conseguiram, de forma radical, assanhar os sonhos. As guerras e os autoritarismos firmaram desconfianças. Depois de tantas descobertas, a sociedade ainda disputava riquezas, concentrava privilégios, provocava ressentimentos. Freud assinalou todos esses contrapontos na sua obra. Não ficou alheio, frustrou-se e morreu depois de redefinir alternativas que havia pensado.
As opressões não abandonaram a história. A tecnologia produziu sofisticações que levaram a bombas que banalizaram as violências e inibiram os afetos. Nos tempos atuais, a indústria armamentista tornou-se uma fonte de lucros indiscutível. Os conflitos existem, muitas vezes, estimulados pelas potências seduzidas pelo constante aumento de poder. A frágil democracia treme. Existem milhões de refugiados, as religiões justificam inimizades, os labirintos crescem e ganham arquiteturas caóticas.
Freud viveu um tempo de adversidades. Mas haveria momentos de silêncios e de encantos? Tudo não está contaminado pelas disputas e fortalecendo os cinismos? As teorias anunciadas por Freud não estão tão distantes da contemporaneidade. A felicidade é um equilíbrio instável.  Apresenta-se como uma mercadoria de valor incomensurável. Há ambições fabricadas. na pressa do consumo. que se refazem facilmente. O mal estar não se perdeu, as incertezas dialogam com as incompletudes, mas há quem manipule paraísos no meio de ingenuidades cotidianas.
Nem tudo simboliza o descontrole e o desgoverno. A história não é linear, possui idas e vindas, desenha formas desiguais,  não foge dos escorregões e das verdades efêmeras. A aldeias global, hoje, testemunha confusões convivendo com promessas salvadoras. As fronteiras que diferenciam a verdade de mentira são espelhos com imagens distorcidas. Freud não se ausentou das questões básicas. Houve a afirmação de outras relações sociais, porém as carências não foram superadas pelas acrobacias das soluções químicas e monetárias..
Estender o afeto numa sociedade que estimula a competição é observar que as euforias têm preços e são pagas, muitas vezes, com os juros mágicos do cartão de crédito. A nostalgia do paraíso perdido não se foi. O discurso da culpa não cede seu lugar no profano e no sagrado. Existem explicações que tentam desvendar mistérios. Há quem se conforme e aposte no brilho das vitrines. O passado é apagado por novidades descartáveis. Há quem se segure no imediato, pouco ligando para os desamparos que se multiplicam. Ficam as dúvidas viajando nos seus tapetes mágicos.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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