terça-feira, 5 de agosto de 2014

O jogo da política e os tempos históricos: 1789 e 1968


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As polêmicas não se encerram e constituem companhias da sociedade. Na modernidade, eles persistem com insistências. A população cresceu, assustadoramente, há uma diversidade de culturas e conflitos, estamos muito distantes de formular teorias que se aproximem e façam cessar as divergências. A fragmentação ganha espaço, não só nos debates acadêmicos, mas também nas conversas cotidianas. Existe o mundo das vitrines, das aparências, das ilusões. A luta política não se vai, dialoga com o passado, ideias retornam, estratégias se redefinem.
Quem se lembra de 1968 e compara com 1789 percebe as diferenças. O discurso da ruptura era comum, contudo os caminhos seguidos apontavam outras relações. 1789 ficou como uma marca fundamental de consolidação da burguesia. Os ares iluministas se difundiam. Era uma revolução que se colocava contra tradições e ordens feudais. Com o fluir do tempo, frustrações aconteceram e as mudanças não chegaram a se radicalizar. Napoleão expandiu o militarismo e desnorteou quem pensava com início de práticas democráticas.
Os vestígios de 1789 garantem a permanência de memórias. Há sempre celebrações, saudosismos. Há desconstruções, reinterpretações. Discutir a modernidade sem se remeter a chamada Revolução Francesa é esvaziar os sinais da constituição do liberalismo. Monta-se uma nova forma de organizar o social. Hoje, coloca-se em suspeita o termo revolução. A época é outra. O capitalismo ampliou seus tentáculos, sofreu oposições, mas derrubou seus adversários e exalta feitos da globalização.
O que surge como mudança busca, depois, se conservar. Essas idas e vindas da história provocam perplexidades. Quando as desconhecemos perdemos de vista as continuidades. Elas são importantes. 1968 trouxe muitas leituras dos passado. Renegava a burocracia, o stalinismo, a sociedade do espetáculo. Denunciava comportamentos das esquerdas do seu tempo. Tinha o movimento estudantil ocupando universidades e ideias anarquistas inspirando seus lideres. A burguesia é a grande inimiga.
1968 não teve a duração, nem a penetração de 1789. Não custa alertar que a história não acontece num ano. Ela possui surpresas, desfaz expectativas. As datas, apenas, expressam sínteses. Quem compreende a Revolução Francesa desprezando os regimes monárquicos absolutistas e os excessos de arrogância da nobreza? Quem compreende 1968 sem analisar o consumismo e as sofisticadas opressões de uma sociedade de massas? Ambas apontam insatisfações, querem reviver sonhos ou inventam sonhos para sair do sufoco. Extravasam protestos contra permanências incômodas.As manifestações de rebeldia atuias não vivem do aqui e do agora. Os socialismos, os liberalismos, os anarquismos visitam e influenciam os mais diversos grupos.
Ninguém gosta de se pronunciar, hoje, ligado às tradições. Há um apego ao novo com sentidos pouco claro. As ardências revolucionárias confundem-se ou não são abandonadas por discursos reformistas. Os disfarces são muitos e a complexidade é tema de teóricos. A história segue polemizando seus embates,  sem deixar de lado as inquietações. A rebeldia não se cala. ela movimenta os desejos mais audazes. O futuro precisa ser inventado. Se vamos sair para viver harmonias e encontros, não sabemos e nem podemos adivinhar.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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