domingo, 22 de setembro de 2013

A fluidez da memória: perdas e encontros

Por Antônio Rezende.
A memória nos acompanha. Nada mais saudável para agitar a vida.  A memória tem seus balanços. Nunca foi estática. Atiça esquecimentos e lembranças. Ela traz sensações diferentes, nos tira de sufocos, anuncia as repetições constantes. Não há como deixar de consultá-la. É  preciso, contudo, não guardá-la com uma pedra preciosa intocável. Ela ganha significados, perde outros. É a vida que entrelaça tanta coisa que confunde e anima dúvidas. Nossa contemporaneidade tem suas singularidades. Pense alguém no início do século XX no meio das invenções da época. Que fantasia imaginava e como se comportaria no aqui e no agora?
Os percursos se abrem e as metáforas se multiplicam. As curvas nos mostram que é difícil cultivar determinismos. A velocidade cultiva novidades. A memória possui suas agonias. Há hierarquias que movem manifestações políticas. Portanto, a homogeneidade está longe, pois os excessos e desigualdades não abandonam o mundo. Se tudo busca as figuras do efêmero, as fragilidades se expandem. Nem sempre compreendemos a razão dos descartáveis ou a pressa em definir questões fundamentais. A perplexidade existe diante das muitas ambiguidades que não cessam seus movimentos.
Há insatisfações visíveis. Elas crescem, mas não sabem seus rumos. Já se reclamou dos estragos tecnológicos. Já se denunciou as mesmices da burocracia. Não se necessita ir muito longe. Lembre-se do movimento hippie, das rebeliões de 1968, dos escritos de Marcuse e Adorno. Voltam temas, voltam agressividades, voltam carências. Será que elas nunca desapareceram? A memória não nega suas respostas. Está tudo contaminado por desacertos que atingem a possibilidade de sonhar. Eles ousam destruir as histórias, desprezar passados.
Equilibrar-se é sempre um desafio. Os escorregões acontecem sem cerimônias. Freud nos alerta que o inconsciente surpreende. A sociedade negocia constantemente mudanças materiais, porém não cuida do afetivo. Gosta das trocas, dos objetos, da fumaça dos automóveis, dos dias de intensa badalação comercial. Isso não é incomum. Na corrida da vida, há espaços para sentimentos e sutilezas. Quem consegue dimensionar o tempo da saudade ou envolvê-las em datas previsíveis?
No entanto, as fragmentações não trazem, fatalmente, pessimismo. Não estamos adormecidos. Há inquietudes. Algumas estão soltas. Pior seria um mundo cercado de apatias. As invenções recentes exigem sociabilidades que assanham criatividades. Por onde anda o romantismo? O que revoluciona? Como falar linguagens que aproximem? Qual o tamanho dos desencantos para quem acreditou em utopias e se desfez de  orações diárias? Há medidas para o vaivém humano?As perguntas, de hoje, apresentam uma complexidade que atormenta. Elas são muitas.
Se a dominação trouxe técnicas inesperadas, trouxe também desajustes frequentes. Não há tempo para o sossego, para decifrar desmantelos? Os caminho da história é feito, muitas vezes, sem nenhuma reflexão. Não é à toa que as insatisfações tumultuam, porque os rumos se dispersam e os interesses não se harmonizam. A memória está presente, não custa consultá-la. Não haverá mundo sem fragilidades, mas seus acúmulos é sempre uma ameaça. A velocidade não significa eficiência. Há objetividades fraturadas e traiçoeiras que sacrificam memórias. Há sonhos que não devem cair em abismo, porém soltar pássaros e desejos.

Professor Edgar Bom Jardim - PE
http://www.astuciadeulisses.com.br/

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