quarta-feira, 27 de março de 2013

Os desencontros políticos e a escassez de limites



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A seca toma conta de quase tudo. O calor manda no cotidiano. As chuvas não dão garantias de que teremos tempos sem sufoco. Não se resolve uma questão tão secular. Ela se repete como também tantas outras que invadem a educação e a saúde. Não entendo o que significa governar para quem  usufrui os privilégios maiores do poder. Observo que velhos discursos políticos não se cansam. Parece, às vezes, que estamos nos anos 1950, Fala-se, constantemente, em modernização. Por isso as desconfianças se avolumam. Os políticos mostram-se grandes profetas de fantasias pequenas e descompromissados com o coletivo.
Ninguém resolve as desigualdades e suas angústias de forma mágica. É preciso que se reforcem cuidados e se firme uma pedagogia que anime a solidariedade. Nada sinaliza que o pragmatismo se enfraquece, mesmo com toda crise globalizada. O capitalismo espalhou a disputa, celebra a competição e exalta os vencedores. Desde cedo se ensina a ganhar. Os registros do sucesso servem de argumentos para justificar qualquer malandragem. O sistema se abastece de disfarces. Renova-se num território escorregadio, desprezando afeto e testemunhando egocentrismos.
A história traz outras imagens. Fustiga a naturalização. Nem todos compactuam com a exploração. Ela é denunciada. No entanto, a rede conservadora é violenta. Cria abismos, domina os meios de comunicação, seduzem. Não deixa de fabricar verdades. Há quem cultive ingenuidades para fingir que a política não merece atenção. Estão descolados, pois cantam o triunfo e o individualismo dos seus projetos. A sociedade divide-se, não é novidade. O que amedronta é a continuidade dos desgovernos, os malabarismos da razão cínica. Os exemplos de descompassos nos cercam. A ordem é manter o poder, mas soltar promessas, atiçar inaugurações, projetar. O futuro é o tempo do fascínio, sempre jogada para lugares desconhecidos.
Não se vive sem narrativas. Elas transformam opiniões, desmancham ilusões,  desenha concepções de mundo. O famoso discurso do vencedor encontra espaços para estender seus tentáculos. Não se assuste, porém até as conversas e curtições  das redes sociais o corporativismo assanham vaidades.A comunicação com o outro requer compartilhamentos. Nem sempre eles se concretizam. O narcisismo é companheiro do estar no mundo capitalista. Uma expressão estranha para quem ache que tudo é resultado das negociações econômicas. A complexidade é profunda. A história se constrói na luta, no meio da diversidade, anulando e retomando rebeldia. Portanto, absoluto faz parte de crenças e desejo de eternidades improváveis.
A escassez de limites na política configura um cotidiano de perdas e ganhos sem fronteiras. Não vivemos sem referências. Há sempre um olhar para o passado. Os tempos se amparam e se multiplicam. Quem governa sabe disso. Não adormece nas vitrines de antigamente. Necessita de fabricar o novo, admitindo o descartável. A política desfaz éticas, legitima ambições. Quem inventou a democracia sente o desperdício frequente de seus princípios. O aperto de mão é a hipocrisia, muitas vezes, cumprindo seu ritual de cordialidade. O mundo fragmentado nos inquieta e nos pede respostas. Os limites nunca serão sacudidos em labirintos inacessíveis, desde que as maiorias fortaleçam  vozes e consagrem escolhas.
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