Depois do flagrante, ela foi detida, mas conseguiu habeas corpus.
Coordenador do serviço lucrava com irregularidade, diz prefeitura.
Um vídeo ao qual o Jornal Nacional teve acesso mostra o momento em que uma médica do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), de Ferraz de Vasconcelos, na Região Metropolitana de São Paulo, foi flagrada usando dedos de silicone para marcar ponto para os colegas no domingo (10).
Thauane Nunes Ferreira, de 29 anos, foi detida depois de ter sido flagrada fraudando o controle de horário dos funcionários. Ela vai responder em liberdade por falsificação de documento público porque conseguiu um habeas corpus.
Nas imagens, ela repete a mesma operação várias vezes: coloca o dedo de silicone no equipamento que controla o horário dos funcionários e depois espera a impressão do comprovante. A médica teria repetido a operação para três colegas. Entre a marcação de um e outro, ela olhava para os lados e parecia estar preocupada.
De acordo com o boletim de ocorrência, as imagens foram feitas pela Guarda Municipal de Ferraz de Vasconcelos, com o consentimento do Ministério Público, depois de uma denúncia.
Segundo o advogado da médica, Celestino Gomes Antunes, ela era coagida a fazer a marcação de ponto de colegas. Thauane vai responder por falsificação de documento público, segundo a polícia. De acordo com o boletim de ocorrência, ela "confessou que fazia os registros em nome de médicos a mando do diretor Jorge Cury".
Recusa
Um médico que preferiu não se identificar disse que realmente havia uma pressão para que os funcionários agissem contra a lei e, por isso, pediu demissão há dois anos. “Tinha que ser do jeito deles, se você quisesse trabalhar lá. Se não aceitasse as regras, você era colocado para fora. Ele (Cury) sempre arrumava um jeito de expulsar aquela pessoa do serviço”, denunciou.
Um médico que preferiu não se identificar disse que realmente havia uma pressão para que os funcionários agissem contra a lei e, por isso, pediu demissão há dois anos. “Tinha que ser do jeito deles, se você quisesse trabalhar lá. Se não aceitasse as regras, você era colocado para fora. Ele (Cury) sempre arrumava um jeito de expulsar aquela pessoa do serviço”, denunciou.
O secretário municipal de Segurança, Carlos César Alves, disse que os médicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) tinham que repassar o valor ganho pelos plantões não trabalhados ao coordenador da unidade, Jorge Cury. A vantagem dos profissionais seria a flexibilização da agenda para poder trabalhar em outros locais. “Cada médico que participava do esquema pagava R$ 1,2 mil por turno de 24 horas aos fins de semana para o Jorge Cury”. Alves ainda afirmou que o pagamento era feito por transferência bancária. O G1 não conseguiu falar com Jorge Cury nesta segunda-feira, mas no domingo (10) ele negou envolvimento nas irregularidades. “Isso é um absurdo! Sou funcionário da prefeitura há 25 anos. Eu nunca soube disso. Passo no Samu todo domingo e nunca faltava funcionário. Hoje que não fui aconteceu isso.”
Além de seis dedos de silicone, com a médica Thauane ainda foram apreendidos os comprovantes que foram emitidos. Um deles estava no nome da médica Aline Monteiro Cury, que segundo a prefeitura é filha do coordenador do Samu. “Em cerca de dez anos de trabalho não existe relatório de quadro médico assinado por ela, só registro de entrada e saída”, afirmou o secretário de Segurança. O G1 tenta localizar o telefone de Aline desde às 15h30, mas não conseguiu. Outros dois médicos também têm nomes nos comprovantes: Felipe Moraes e Rodrigo Gil de Castro Jorge. O G1 tenta falar com os dois nos celulares desde as 15h45 e não conseguiu contato.
A administração municipal anunciou em coletiva na tarde desta segunda-feira (11) a criação de uma Comissão de Processo Disciplinar para apurar as irregularidades no Samu e disse que oscinco funcionários foram afastados. Mas, segundo a prefeitura, 11 médicos devem estar envolvidos, além de enfermeiros e motoristas. O Conselho Regional de Medicina (CRM) informou nesta segunda-feira (11) que deve abrir uma sindicância para apurar as denúncias.
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A Polícia Civil disse que abriu dois inquéritos para apurar o caso: um específico para o flagrante envolvendo a médica e outro investiga o esquema. O Ministério Público também informou que vai investigar o caso.
O Ministério da Saúde disse que vai fazer uma auditoria a partir desta terça-feira (12) . Depois da análise de documentos, técnicos devem ir a Ferraz de Vasconcelos para avaliar o funcionamento do serviço, a carga horária dos profissionais e o controle do ponto eletrônico.
Funcionários fantasmas
O prefeito de Ferraz de Vasconcelos, Acir Filló, disse nesta segunda-feira que estima que existam cerca de 300 funcionários fantasmas no funcionalismo público municipal. “Temos um exército de fantasmas”, afirmou o chefe do Executivo.
O prefeito de Ferraz de Vasconcelos, Acir Filló, disse nesta segunda-feira que estima que existam cerca de 300 funcionários fantasmas no funcionalismo público municipal. “Temos um exército de fantasmas”, afirmou o chefe do Executivo.
De acordo com o secretário de Segurança, Carlos César Alves, a suspeita é de que os empregados fantasmas sejam das secretarias de Saúde, Educação e Segurança. “Nós vamos fazer diligências surpresas para saber se os funcionários que marcaram ponto estão trabalhando,” afirmou Alves.
O prefeito ainda disse que lamentava a postura dos profissionais. “Esse caso é uma grande decepção. Nossos equipamentos são modernos, mas mesmo assim conseguiram fazer a fraude. Vamos colocar câmeras para vigiar os relógios de ponto para não deixar que isso se repita", afirmou Filló.
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