segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Intolerância e conflitos: As Cruzadas

A 21 de outubro de 1097 os primeiros contingentes de Cruzados chegaram ante as muralhas de Antioquia. 

O cronista Alberto de Aix descreve-os de seguinte maneira: 

“Os Cruzados vão em direção às muralhas de Antioquia no meio de esplendor dos escudos dourados, verdes, vermelhos e de outras corres; desfraldam suas bandeiras de ouro e de púrpura; montam os cavalos de guerra e vão revestidos de escudos e capacetes resplandecentes.”

Parece um fragmento de uma canção de gesta e, todavia, é só o relato de um cronista que em geral é muito preciso, o qual simplesmente transmite a sensação que certamente produziu aquele exército de cores resplandecentes, segundo o gosto da época.

A cidade para a qual se dirigem é também digna de uma canção de gesta. 

Antioquia, ao pé do Monte Silpius, banhada pelo Orontes, que a une ao mar, era praticamente inexpugnável, com sua muralha de 12 quilômetros de comprimento, eriçada por trezentos e sessenta torres. 

Quando chegaram, os Cruzados não imaginaram que permaneceriam junto à cidade por mais de um ano.

  Estevão II, conde de Blois e conde de Chartres
Estevão II, conde de Blois e conde de Chartres
De perto dessas muralhas o Conde Estevão de Blois, um dos principais barões, envia notícias à sua esposa, Adélia de Normandia, filha de Guilherme, o Conquistador.

“O Conde Estevão a Adélia, sua amada esposa, a seus queridos filhos e a todos os vassalos de sua linhagem, saúde e bênção.

“Podeis estar certos, meus muito queridos, de que a mensagem que envio para vos confortar deixa-me diante de Antioquia são e salvo; e, pela graça de Deus, com muita prosperidade. Agora, junto com todo o exército eleito por Cristo e por Ele dotado de grande valor, fazem vinte e três semanas que avançamos sem cessar rumo à Morada de Nosso Senhor Jesus.

“Podeis ter por certo, minha cara, que em ouro, prata e toda sorte de riquezas, tenho presentemente duas vezes mais do que aquilo que me foi entregue quando vos deixei, porque todos nossos Príncipes, com o consentimento do exército inteiro, e contra meus próprios desejos, me nomearam chefe, cabeça e guia da expedição.

“Sem dúvida ouvistes contar que depois de termos nos apoderado da cidade de Nicéia, livramos uma grande batalha contra os pérfidos turcos, e com a ajuda de Deus os vencemos.

“Conquistamos para o Senhor toda a Romênia e depois a Capadócia. Soubemos que um dos Príncipes dos turcos, Assam, habitava na Capadócia; dirigimos nossos passos até ele.

“Conquistamos pela força todos os seus castelos e obrigamo-lo a fugir a outro castelo, muito forte, edificado num penhasco muito alto.

“Entregamos as terras de Assam a um de nossos chefes e, para que as possa conservar, deixamos com ele muitos soldados de Cristo.

Batalha ante os muros de Antioquia, F.H. Schopin (1804-1880), Museu de Versailles
Batalha ante os muros de Antioquia, F.H. Schopin (1804-1880), Museu de Versailles
“Daí, seguindo sempre os malditos turcos, repelimo-los até o centro da Armênia, junto ao grande rio Eufrates. Deixando suas bagagens e bestas de carga à beira do rio, fugiram pela outra margem, até a Arábia.

“Entretanto, os mais audaciosos soldados turcos entraram na Síria e se apressaram, com marchas forçadas de noite e dia, para chegar antes de nós à real cidade de Antioquia. Todo o exército de Deus, quando soube disso, deu graças e louvou Deus Todo-Poderoso.

“Apressamo-nos radiantes em chegar à cidade de Antioquia, sitiamo-la e desde então temos tido com freqüência escaramuças com os turcos, e sete vezes combatemos com grande valentia, sob o mando de Cristo, a eles, aos habitantes de Antioquia e às inumeráveis tropas que vieram em seu socorro.

“E nas sete batalhas com a ajuda do Senhor Deus, vencemos e causamos a morte a um grande número de inimigos.

“Nas mesmas batalhas, também é verdade, e nos numerosos ataques que realizamos contra a cidade, muitos de nossos irmãos foram mortos e suas almas arrebatadas aos gozos do Paraíso...

Batalha diante das muralhas de Antioquia
Batalha diante das muralhas de Antioquia
“Diante da cidade, durante todo o inverno, aguentamos por Cristo Nosso Senhor um frio excessivo e chuvas torrenciais.

“O que alguns dizem sobre o calor do sol, impossível de se suportar na Síria, não é verdade, porque o inverno daqui assemelha-se muito a nosso inverno do Ocidente....

“Enquanto no dia da Páscoa meu Capelão Alexandre escrevia a toda pressa esta carta, uma parcela de nossos homens que espreitava os turcos livrou com eles uma batalha vitoriosa e prenderam sessenta cavalos, que trouxeram ao exército.

“Escrevo-vos umas quantas coisas entre tantas que temos feito; e, dado que não sou capaz de dizer-vos tudo o que penso, recomendo-vos que andeis bem, que veleis com cuidado minhas terras e cumprais vosso dever para com vossos filhos e vassalos. Tornareis a ver-me quando puder voltar e estar convosco. Adeus”.

(Fonte: Régine Pernoud, “Las Cruzadas”, col. Los Libros del Mirasol, Compañia General Fabril Editora S.A. - Buenos Aires, 1964, pp. 56 a 58)

Batalha das Navas de Telosa: A expulsão do Islã

Em 1212, a onda invasora dos muçulmanos almoades, seita fanática de tipo fundamentalista, ameaçava tomar conta da Península Ibérica.

O Papa Inocêncio III convocou, então, uma Cruzada para deter o perigo, que ameaçava toda a Europa.

Para liderar as forças católicas foi escolhido o rei Afonso VIII de Castela, avô de São Fernando III. 

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Natal num castelo da França
Integravam a santa coligação Sancho VII, rei de Navarra; Pedro II, rei de Aragão; um exército enviado por Afonso II, rei de Portugal; cavaleiros do reino de Leão e das ordens militares de Santiago, Calatrava, Templários e Hospitalários, entre outras, além de um grande número de cavaleiros franceses. 

Entre os convocados estrangeiros figuravam também três bispos das cidades francesas de Narbonne, Bordeaux e Nantes.

O rei Sancho da Navarra quebrou o cerne dos fanáticos islâmicos
O rei Sancho da Navarra quebrou o cerne dos fanáticos islâmicos
Afonso de Castela obteve a declaração papal de cruzada que facilitou a ajuda das Ordens Militares e impediu, sob pena de excomunhão, que os muçulmanos obtivessem ajuda de cristãos interesseiros que porventura tentassem se apropriar de bens dos que haviam partido ao combate.

Nessa batalha os dois lados empenharam todo o seu poderio militar e o melhor de suas forças. 

O rei Afonso foi o grande articulador da aliança vencedora e teve o arguto senso de oportunidade para escolher o momento da batalha, que preparou com quase dez anos de antecedência.

Sabia que a mesma selaria o destino da península.

O exército mouro, segundo as crônicas da época, chegava a ter 300.000 ou 400.000 homens comandados pelo califa Muhammad Al-Nasir (Miramamolín para os cristãos). 

Por sua vez, os católicos eram 70.000 e constituíam um dos maiores já reunidos na península sob o signo da Cruz.

Nunca lutaram dois exércitos tão grandes na longa guerra da Reconquista
Nunca lutaram dois exércitos tão grandes na longa guerra da Reconquista
Registrado nas crônicas da época simplesmente como “A Batalha”, o enfrentamento aconteceu perto de Navas de Tolosa, na Espanha. 

A derrota esmagadora infligida naquela data pelos aliados castelhanos, navarros, aragoneses e portugueses aos sarracenos contribuiu decisivamente para a queda do domínio muçulmano na Península Ibérica.

A batalha foi antecedida por escaramuças e um jogo de estratégias que começaram em 13 de julho de 1212. Ambos os lados buscavam a melhor posição e o melhor terreno para a luta. 

Por fim, os árabes ficaram mais bem posicionados, sobre uma colina, enquanto os cristãos teriam que avançar “morro acima”.

O embate final aconteceu em 16 de julho.

As forças de Castela, que formavam o maior contingente, agiram no centro, apoiadas nos flancos pelos reis cristãos de Navarra (Sancho) e de Aragão (Pedro). 

O heroísmo de Diego López II de Haro e seu filho
empolgou os católicos
O rei de Portugal e os cavaleiros franceses – com exceção de um pequeno número – não chegaram a participar. 

O rei Afonso simulou uma força de infantaria central fraca para atrair o inimigo, que caiu na armadilha.

Em seguida deslanchou uma carga de cavalaria pesada, que foi decisiva para a vitória cristã.

Porém, o combate teve um momento angustiante, quando as tropas almoades conseguiram rodear e isolar o centro do exército castelhano. 

Muitos então fugiram, mas não o capitão vascaíno Diego López II de Haro e seu filho, que aguentaram heroicamente na posição junto ao capitão castelhano Núñez de Lara e às Ordens Militares.

A resistência desse punhado de heróis encheu de brios a reis e cavaleiros cristãos, que se jogaram no auxílio deles com o resto de suas tropas.

Os reis avançaram numa carga irrefreável contra os flancos do exército mouro. 

Por sua vez, com duzentos cavaleiros, o rei Sancho VII de Navarra atacou diretamente o acampamento do califa Al-Nasir. 

O rei Sancho de Navarra quebrando a elite maometana  tirou dos infiéis a vontade de resistir
O rei Sancho de Navarra quebrando a elite maometana
tirou dos infiéis a vontade de resistir
E perfurou as últimas defesas islâmicas formadas pelosim-esebelen, tropa de elite árabe que se enterrava no chão ou se afixava com correntes ao local para mostrar que não fugiria.

O acampamento estava rodeado de correntes defensivas, que os navarros foram os primeiros em quebrar.

Crê-se que foi por esse feito que as correntes entraram simbolicamente no brasão do reino de Navarra.

A guarda pessoal do califa sucumbiu sem arredar, mas assim que percebeu a batalha perdida, o próprio An-Nasir procurou a salvação na fuga, passando pusilanimidade a seus seguidores. 

Sabedor por experiências anteriores de que os derrotados se reorganizariam para novos embates, o rei Afonso ordenou que aos muçulmanos, que batiam em retirada desorganizada, fosse dado um trato inclemente. 

A crônica chega a afirmar que foram mortos na escapada tantos muçulmanos quantos o foram durante a batalha.

A precipitada fuga de An-Nasir deixou um incalculável botim de guerra.

A peça mais preciosa é a bandeira, ou pendão de Las Navas, hoje conservado no Mosteiro de Santa Maria la Real de Las Huelgas, na cidade de Burgos.

Pendão islámico ganho na Batalha.
Mosteiro de Las Huelgas, Burgos
Muitos outros troféus da batalha se encontram hoje na igreja de São Miguel Arcanjo de Vilches. 

Eles incluem a Cruz do Arcebispo D. Rodrigo, uma bandeira e uma lança dos fanáticos que custodiavam a Miramamolín, e a casula com que o senhor arcebispo oficiou missa no dia do colossal enfrentamento guerreiro para implorar a vitória das armas cristãs.

Os árabes da Península Ibérica nunca mais se recuperaram dessa derrota.

A partir daquele momento, o rei Afonso os manteve em situação de desvantagem permanente. 

A batalha deu início à superioridade militar, econômica e política dos reinos católicos e demarcou definitivamente o início da decadência da civilização árabe na Península Ibérica.

A obra do rei Afonso foi completada brilhantemente pelo seu neto São Fernando III de Castela, que conquistou as grandes capitais árabes da Andaluzia. 

Além disso, submeteu à vassalagem o emir de Granada, cidade onde ficou o último quisto muçulmano na Europa, até ser definitivamente expulso pelos Reis Católicos em 1492.
De: ascruzadas
www.professoredgar.com

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