quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Por que o legado de Chico Mendes continua atual, 33 anos depois de sua morte




Mary Allegretti posa abraçada a Chico Mendes

CRÉDITO,ARQUIVO PESSOAL/MARY ALLEGRETTI

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Antropóloga Mary Allegretti conheceu Chico Mendes 1981

Nunca um tiro de espingarda ecoou tão longe e continua lembrado por tanto tempo. O que matou o seringueiro Chico Mendes, na boca da noite do dia 22 de dezembro de 1988, quando ele se preparava para tomar banho nos fundos de sua casa em Xapuri, uma pequena cidade na floresta amazônica no Acre, reverberou pelo planeta inteiro.

Quase instantaneamente, virou manchete nos principais jornais e destaque no noticiários da TVs de todo mundo.

Morto uma semana depois de seu aniversário de 44 anos, ocorrido no dia 15 - teria completado 77 anos neste ano -, Chico Mendes era um dos pioneiros da defesa da preservação da floresta amazônica e deixou um legado político e ambientalista que ainda perdura.

"Ele colocou a Amazônia no centro do debate e chamou atenção do mundo para sua preservação", diz o hoje advogado e membro do Comitê Chico Mendes, uma organização não governamental ambientalista, Gomercindo Rodrigues, o Guma, que o conheceu em 1984, se tornou seu amigo e foi uma das últimas pessoas fora da família a ver o seringueiro com vida, poucos minutos antes de seu assassinato.

De acordo com outra amiga de Chico Mendes, a antropóloga Mary Allegretti, que o conheceu em 1981, quando era professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e fazia pesquisa para seu doutorado, como continuidade da que havia realizado para o mestrado em seringais do Acre, ele antecipou a relação entre sociedade e meio ambiente ao mostrar que as pessoas protegem este quando dependem dele para viver.


"Se no passado, essa constatação era aplicada às populações tradicionais que viviam desses recursos, hoje as mudanças climáticas estão mostrando que toda a humanidade depende da natureza para sobreviver", diz.

"Sua causa continua muito atual e necessária."


Para o biólogo e doutor em Ecologia Paulo Brack, do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro da coordenação do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), o seringueiro do Acre teve um papel fundamental em dar maior visibilidade às causas comuns ambientais com a temática social, em especial das comunidades locais que sofrem das mesmas causas de um modelo econômico em grande parte degradador dos recursos naturais.

"Ele foi um exemplo de esforço pela unidade nas lutas comunitárias de grupos sociais, que desejam manter seus modos de vida digna, um bem viver talvez utópico, em maior harmonia com a natureza, desapegados da loucura pela acumulação reinante", explica.

Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, nasceu em um seringal chamado Porto Rico, no município de Xapuri, pertinho da fronteira do Acre com a Bolívia, a 68 km da cidade mais próxima daquele país, Cobija.

Filho de seringueiro, seringueiro é - pelo era menos naquela época. Ele passou sua infância e juventude ao lado do pai colhendo látex da Hevea brasiliensis, o nome científico da seringueira.

Embrenhado na mata, sem escola num raio de quilômetros, Chico foi analfabeto até os 16 anos. O encontro que viria a mudar isso e a história posterior da sua vida ocorreu em 1956, quando ele tinha 12 anos.

Foi aí que ele conheceu o refugiado político Euclides Fernandes Távora, que havia participado, junto com o líder comunista Luís Carlos Prestes do chamado levante comunista em 1935, uma tentativa de golpe contra o governo do presidente Getúlio Vargas.

Fugindo da polícia, Távora se refugiou na floresta no Acre, justamente na região em que Chico vivia. O contato e a amizade com o ativista lhe abriram as portas do conhecimento, que, posteriormente, o levou à militância política e ambiental. Távora o alfabetizou e passou a ele ideias sobre o comunismo e noções sobre a história e a realidade social do Brasil.

Chico Mendes

CRÉDITO,REPRODUÇÃO

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Chico Mendes foi morto em 22 de dezembro de 1988

Depois disso, mais instruído que seus companheiros seringueiros, Chico Mendes passou a pensar e se questionar sobre os problemas da sua região e, principalmente, de seu trabalho, baseado na extração da borracha, uma atividade econômica que historicamente sempre havia gerado conflitos e miséria na Amazônia.

Ela era alicerçada no chamado "aviamento", isto é, na troca do látex coletado pelos seringueiros por produtos e mercadorias industriais. Era uma relação desigual, na qual os extrativistas sempre ficavam devendo.

Foi nesse contexto que começaram a serem criados os primeiros sindicatos de seringueiros no Acre, história na qual Chico esteve envolvido desde o começo.

Já em 1975, ele passou a integrar a diretoria do Sindicato de Trabalhadores Rurais (STR) de Brasiléia, o primeiro criado no Acre, e que era presidido por Wilson Pinheiro.

Um ano depois, esse sindicato criou a estratégia dos chamados "empates" das derrubadas, nos quais os seringueiros desmontavam os acampamentos e paravam as motosserras dos peões dos fazendeiros encarregadas de derrubar floresta.

Como era de se esperar, essas ações desagradaram os proprietários dos seringais. Por causa de sua atuação à frente do sindicato, Pinheiro foi assassinado em 21 de julho de 1980.

Sua liderança não ficou vaga por muito tempo, no entanto. Em 1983, Chico Mendes foi eleito presidente do STR de Xapuri e continuou e intensificou a luta pelos direitos dos seringueiros, além da luta em defesa da floresta e contra a ditadura.

Daí então até seu assassinato, sua atuação e seu prestígio, principalmente no exterior, só cresceram.

A antropóloga Mary lembra que atuação política institucional de Chico havia começado um pouco antes.

"Em 1981, quando o conheci, ele já era vereador [exerceu o cargo de 1977 a 1982, na Câmara Municipal de Xapuri]", conta.

"O Acre vivia um momento crítico de venda de antigos seringais para empresas do sul do Brasil, que passaram a desmatar a floresta e expulsar os seringueiros. Chico liderava o movimento dos empates - impedir as derrubadas e defender o meio de vida dos seringueiros, baseado na coleta de borracha e de castanha."

Hoje, ela diz que ficou "muito impressionada" com o trabalho que ele fazia e com o movimento dos empates, tanto que resolveu ajudá-los.

"Chico queria organizar escolas e cooperativas para tirar os seringueiros do analfabetismo e eu ajudei a implantar o Projeto Seringueiro de Educação, abrindo as primeiras escolas na floresta", relembra.

"Ficamos muito amigos em consequência desse projeto."

Uma das consequências disso foi que, em 1985, os dois organizaram juntos o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, em Brasília, no qual surgiu a ideia da reforma agrária do seringais - a proteção da floresta sem a divisão de lotes para as famílias, mas como uma grande reserva ambiental.

"Em 1986, criei o Instituto de Estudos Amazônicos (IEA), em Curitiba", conta Mary.

"Reuni advogados e várias lideranças dos seringueiros e formulamos a proposta de Reserva Extrativista, unidade de conservação de uso sustentável e ajudamos a criar as primeiras unidades. Eu e Chico mantivemos parceria política e amizade até 1988, quando ele foi assassinado. O IEA continua apoiando o movimento dos seringueiros em toda a Amazônia."

Filha e neta de Chico Mendes posam abraçadas

CRÉDITO,ANDRÉ D'ELIA

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Angélica e Ângela Mendes, neta e filha do seringueiro

O dia daquele ano em que Chico foi morto não sai da memória de Guma.

"Eu estive com ele minutos antes do tiro fatal", conta.

"Ele tinha estado viajando até o dia anterior, participando de um encontro de seringueiros em Sena Madureira [a 144 km de Rio Branco e a 333 de Xapuri], trabalhando na organização regional do Conselho Nacional de Seringueiros. Ele voltou para Rio Branco e por aqui ficou resolvendo a burocracia para liberação de um caminhão que havia sido concedido mediante o empréstimo BNDES para o Conselho Nacional de Seringueiros para ser repassado a cooperativa de Xapuri."

De acordo com Guma, Chico chegou a Xapuri, no dia 21, com o caminhão novo.

"As pessoas estavam admiradas", lembra.

"Mas nem todas positivamente. Havia muito preconceito, de boa parte da cidade, contra o Chico, especialmente por causa das disputas políticas. Ele era um militante político e isso dava uma certa divisão na cidade. Quando ele chegou, eu estava muito preocupado, porque já fazia dias que eu não via os pistoleiros."

Aqui Guma contextualiza sua preocupação. Ele conta que, de maio a dezembro daquele ano de 1988, todos os dias, em frente ao sindicato, dois pistoleiros ficavam postados o dia inteiro.

"Eles ficavam por ali, sentados na praça, na sombra de uma árvore que tinha em frente", explica.

"Além disso, havia sempre dois pistoleiros também em frente ao local onde eu morava, em Xapuri, que ficava a cerca de 200 metros do sindicato, numa outra rua. E de repente eles tinham sumido."

Quando Chico Mendes chegou à cidade, perguntou a Guma como estava a situação. Ele respondeu que estava muito preocupado.

"Eu realmente estava angustiado, coração apertado, e falei para ele que estava muito preocupado, porque eu não estava vendo os pistoleiros", conta.

"O Chico respondeu que no dia seguinte daria uma olhada na situação. Então, no outro dia, 22 de dezembro, já final da tarde, por volta das 18h, eu cheguei na casa dele e o encontrei jogando dominó, um dos seus hobbies, com dois dos policiais que estavam fazendo a segurança dele."

Chico o convidou para participar do jogo, mas Guma preferiu ficar de fora, porque continuava angustiado e preocupado.

Nesse ponto, a segunda mulher do seringueiro, Ilzamar, disse a ele que queria servir o jantar, porque iria começar a novela.

"Era uma quinta-feira, dia do penúltimo capítulo de Vale Tudo, cujo grande mistério era quem havia matado Odete Roitman", lembra o amigo.

"O Chico me convidou para jantar, mas eu recusei, dizendo que continuava preocupado. Ele me falou que também não tinha visto os pistoleiros e que isso era realmente estranho."

Guma disse que daria uma volta pela cidade e Chico reiterou o convite para jantar.

"Ele falou: 'Então, vai, enquanto vou tomar um banho, e volta para jantar'", relembra.

"Com minha moto de 125 cilindradas, andei por todos os pontos, onde os pistoleiros sempre estavam, inclusive numa chacarazinha na qual eles faziam umas festas privês. Não encontrei nada, tudo vazio, tudo às moscas e em silêncio. Eu não sei em que ponto eu estava da cidade quando deram o tiro. Quando fui chegando com a moto, a mulher dele saiu gritando: 'Ô Guma, atiraram no Chico'."

Enquanto socorriam o seringueiro e o levavam ao hospital "num caminhãozinho", Guma foi em casa se armar.

"Peguei um revólver que eu tinha, carreguei, peguei mais duas carga de bala, coloquei numa bolsa a tiracolo e fui até o hospital, mas não me deixaram entrar", conta.

"Então comecei a telefonar paras pessoas, para avisar. Liguei para Rio Branco, Brasília, Rio de Janeiro, para Mary (Allegretti) em Curitiba, enfim, para os amigos, os avisando."

Guma voltou então ao hospital e, desta vez, o deixaram entrar, embora estivesse de bermuda, motivo pelo qual havia sido impedido da primeira vez.

"Quando eu passei do hall de entrada do hospital, numa sala ao lado vi uma maca", recorda.

"O Chico estava nela, estendido só de short - ele ia tomar banho - com o lado direito do peito todo perfurado de chumbo."

O estrago no peito do seringueiro foi feito por um tiro de uma espingarda calibre 20, com cartucho carregado com grânulos de chumbo que se espalham, disparado por Darci Alves, a mando do seu pai, o grileiro de terras Darly Alves, então conhecido por casos de violência em vário lugares do Brasil.

A repercussão mundial foi tamanha que, pela primeira vez, um assassinato em conflito agrário no norte do país foi a julgamento e acabou em condenação dos acusados.

Imagem aérea sobre área da floresta amazônica

CRÉDITO,GETTY IMAGES

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Luta pela preservação da floresta é fundamental para pessoas ligadas a Chico

Em 1990, os dois foram condenados a 19 anos de prisão, fato inédito na época.

Em 1993, Darci e Darly fugiram, mas foram recapturados em 1996. Por causa de problemas de saúde, três anos depois o pai conseguiu o direito de cumprir a pena em prisão domiciliar. No mesmo ano de 1999, o filho passou ao regime semiaberto, em Xapuri. Ao final da pena, ele se mudou para Brasília e se tornou pastor evangélico.

A grande repercussão de seu assassinato tem explicações.

"Chico Mendes tinha uma formação política consistente sem ser radical e articulava apoio à luta dos seringueiros com a Igreja, os partidos políticos, a universidade, a imprensa", explica Mary.

"Tinha um pensamento claro a respeito da importância e do valor da floresta e lutava para defender que a floresta em pé valia mais do que derrubada - foi ele quem primeiro expressou essa ideia que hoje todos reconhecem como verdadeira."

Por isso, ele era muito atacado no Acre, principalmente depois que suas ideias passaram a ser conhecidas e respeitadas em nível internacional.

"No 1º Encontro em Brasília, ele conheceu um diretor de documentários baseado em Londres, Adrian Cowell, que passou a filmar seu trabalho e o recomendou para dois prêmios importantes. Por isso ele ficou conhecido no mundo inteiro antes de ser conhecido no Brasil. Razão pela qual sua morte teve tanta repercussão internacional."

Os dois prêmios a que Mary se refere são o Global 500, concedido a Chico em 1987 pela Organização das Nações Unidas (ONU) na Inglaterra, e a Medalha de Meio Ambiente da Better World Society, dada em 1988 nos Estados Unidos.

O documentário de Cowell, chamado Eu Quero Viver, foi lançado em 1987.

Com tudo isso, o seringueiro e sua luta passaram a ser conhecidos no mundo todo, o que atraiu jornalistas e pesquisadores para visitar os seringais, difundindo suas ideias pelo planeta.

Se para o mundo e para as questões ambientais Chico Mendes deixou um legado político, para família a herança foi de ensinamentos e de vontade de lutar pelas mesmas causas.

Pelo menos para a filha do primeiro casamento, com Eunice Feitosa Mendes, do qual nasceu a filha única do casal - ele teve mais dois filhos com Ilzamar -, Ângela, que soube que estava grávida de Angélica Francisca Mendes Mamede no dia da missa de sétimo dia do pai.

Para ela, receber a novidade naquele momento foi realmente muito estranho.

"De repente você perde um ente querido, está no maior sofrimento e então descobre que que vai nascer alguém", diz.

"O mundo é muito isso, cheio desses ciclos, que são naturais, mas nunca estamos preparados para perder ninguém. Ao mesmo tempo, a novidade de uma vida traz muita esperança, muita renovação."

Em relação a seu pai, com o qual só passou a conviver na adolescência, Ângela diz que ele tinha qualidades que ela admirava e procurou tomar para ela.

"Uma delas é o espírito de coletividade, de nunca fazer as coisas sozinho, porque elas ganham mais força quando são feitas de forma coletiva", explica.

"Sempre buscar apoio e parcerias, porque desde sempre a luta que se faz pela preservação do meio ambiente, pela defesa da natureza, precisa ser coletiva. Meu pai e seus companheiros já sabiam disso."

Ângela diz que Chico deixou para ela um legado de persistência, de luta, de pensar sempre no próximo e no bem comum.

"É isso assim, de ser uma pessoa que sabe ouvir, e, de uma certa forma, buscar soluções, tentar encontrá-las para possíveis problemas", acrescenta.

"Foram muitos os ensinamentos que ele nos legou, que ele deixou a mim. Eu sinto forte isso, essa coisa de fazer junto."

Para Ângela essas qualidades são imprescindíveis, porque a luta de hoje continua a mesma da época do seu pai.

"É a mesma luta pela conquista dos territórios e pela consolidação deles", explica.

"Apesar de mais de 30 anos depois já terem sido criadas quase uma centena de reservas extrativistas, muitas ainda não foram de fato consolidadas, ainda não têm seus instrumentos de gestão consolidados. Estamos avançando devagar nisso."

Sua filha, Angélica, neta do seringueiro, que é bióloga e doutora em Ecologia e atua como voluntária no Comitê Chico Mendes, diz que seu avô tinha uma frase que ela nunca esquece.

"Ele dizia que primeiro pensou que estivesse lutando para salvar uma seringueira, depois achou que estava lutando pela floresta amazônica e, por fim, ele percebeu que eu estava lutando pela humanidade", cita.

"Hoje mais do que nunca sabemos sabe que essa luta é global, que estamos falando de uma crise climática de todo o planeta, de uma emergência que estamos vivendo. Estamos vendo aí as consequências, como tornados, um monte de secas extremas, eventos de cheias, enfim, estamos vivendo uma desregulação do clima global muito grande. Por isso, a luta dele é muito atual."

  • Evanildo da Silveira
  • De Vera Cruz (RS) para BBC News Brasil
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Nay Souza, Clara Adelina e Douglas Bonfáh animam Feira Cultural de Natal no Museu de Bom Jardim



É Natal Na Feira Cultural do Museu de Bom Jardim. Venha participar com a gente desta alegria, traga sua família, sua alegria, sua paz. Venham saborear comidas deliciosas, aproveitar as promoções de natal na feira cultural de Bom Jardim. Venham prestigiar nossos talentos culturais. É hoje! Tem shows musicais, Papai Noel, visitação ao Museu e muitas novidades. Traga sua família. Tudo começa às 18 horas, na Rua da Palha, em frente ao Museu de Bom Jardim. Use máscara.  Divirta-se com alegria e segurança. Vamos agradecer e festejar a vida é tempo de esperança ,de paz e alegria.
Shows com Orquestra do Museu de Bom Jardim,  Nay Souza, Clara Adelina, e Douglas Bonfáh
Classificação Livre. Acesso gratuito.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Como o vírus ômicron atua e como podemos nos proteger dele?



Coronavírus

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Ômicron vem se espalhando por vários países do mundo a ritmo extremamente veloz

A ômicron chegou trazendo caos.

Em tempos de fadiga pandêmica generalizada, no entanto, é essencial lembrar que espalhar o pânico não funciona. Verificamos isso com as mudanças climáticas: mensagens catastróficas acabam soando entediantes e fazem com que muitas pessoas se desconectem do problema, como na história infantil de Pedro e o Lobo.

Mais uma vez, com a ômicron, é tempo de rigor, transparência (dizer o que se sabe e o que não se sabe) e, sobretudo, propor soluções.

A ômicron é mais transmissível?

Desde que foi detectada há algumas semanas, a variante está se alastrando rapidamente em muitos países. Parece que seu crescimento está disparado, é exponencial e que em poucas semanas substituirá a variante Delta, até agora dominante.

No entanto, embora ainda seja muito cedo para dizer, alguns dados sugerem que essa alta incidência não está levando a uma maior mortalidade.


Sobre isso, ainda existem dados conflitantes e é difícil saber o que vai acontecer. O nível de incerteza permanece muito alto. É verdade que hospitalizações, admissões em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e óbitos ocorrem com defasagem de algumas semanas.

O problema é que uma variante muito mais transmissível, mesmo que menos virulenta, não significa necessariamente que cause menos mortes: se crescer a uma velocidade tão alta, se houver muitos casos em muito pouco tempo, pode haver mais mortes.

Uma sexta onda intensa e rápida em número de casos vai gerar um colapso no sistema de saúde, algo que, como já vimos, tem consequências muito graves.

As agências internacionais de saúde classificam a situação como de risco muito alto. Por esse motivo, alguns dizem que "é preciso se preparar para o pior".

Não sabemos se é mais grave ou mais branda

Embora o número de hospitalizações permaneça baixo, não há evidências de que a ômicron seja menos virulenta do que a variante Delta.


Em comparação com outras variantes, os resultados preliminares sugerem que a ômicron se multiplica 70 vezes mais rápido nos brônquios humanos, o que poderia explicar por que essa variante pode ser transmitida mais rapidamente.

No entanto, o mesmo estudo mostra que a infecção por ômicron no pulmão é significativamente menor do que com a SARS-CoV-2 original. Isso talvez explique por que produz uma gravidade menor da doença.

Outros trabalhos preliminares apontam que o soro de indivíduos vacinados neutralizou a variante ômicron em um nível muito mais baixo do que qualquer outra variante.

No mesmo trabalho, contudo, cientistas também sinalizam que os soros de indivíduos superimunes (aqueles que foram infectados e vacinados ou que foram vacinados e foram posteriormente infectados) foram capazes de neutralizar a nova variante.

Os anticorpos previnem a infecção, portanto, esse escape parcial da resposta imune (anticorpos) também pode influenciar sua maior transmissibilidade.

Contra a ômicron, ou contra qualquer outra variante ainda mais perigosa, o que temos que fazer é lembrar o que já sabemos e fazer: vacinas, máscaras, ventilação, distância, testes de antígenos, autocontenção, reforço sanitário.

Mulher sendo vacinada

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Surgimento de novas variante não significa que vacinas não funcionam

As vacinas funcionam, claro que funcionam

Com a incidência atual, se essa sexta onda nos atingisse e não estivéssemos vacinados, seria uma verdadeira carnificina.

Já constatamos isso com a quinta onda, em que o número de casos aumentou (devido à variante Delta, mais transmissível e que acabou se tornando dominante), mas não se refletiu no aumento de óbitos como nas ondas anteriores.

A diferença é que a maioria dos idosos mais vulneráveis​​já foi vacinada. Com um certo otimismo, algo semelhante vai acontecer agora. Em três ou quatro semanas saberemos.

Com a tremenda transmissibilidade da ômicron, é provável que muitos de nós sejamos infectados. Se formos infectados, o melhor é que o vírus nos pegue vacinados.

Pessoas sem proteção (sem vacina ou sem infecção anterior) correm maior risco. As vacinas não são armaduras de aço impenetráveis, podemos nos infectar e infectar outras pessoas, embora com menor probabilidade.

Mas isso não significa que as vacinas não estejam funcionando. Essas vacinas estão prevenindo casos graves da doença, reduzindo as internações hospitalares e em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e reduzindo a mortalidade.

Esse era o seu objetivo. É por isso que devemos ser vacinados, não apenas para nos proteger, mas para proteger os outros.

As vacinas induzem uma resposta imunológica poderosa. A imunidade é muito mais do que anticorpos.

Os anticorpos previnem infecções e a imunidade celular previne doenças graves e mortalidade. Mas ambos são necessários.

Por isso, as pessoas mais vulneráveis ​​precisam de anticorpos e imunidade celular, pois só a infecção pode levá-las ao hospital.

Em pessoas mais velhas, seu sistema imunológico também envelhece (imunosenescência) e eles respondem pior aos estímulos da vacina.

Também pode acontecer que a resposta do anticorpo diminua com o tempo. Portanto, uma dose de reforço pode ser recomendada, as famosas terceiras doses.

Como já dissemos, parece que a capacidade de neutralização dos anticorpos induzida pelas vacinas pode ser diminuída com a ômicron. Outros estudos sugerem, no entanto, que a resposta celular poderia de fato controlar a nova variante.

No entanto, vários estudos com diferentes vacinas (AstraZeneca, Johnson & Johnson, Modena, Novavax, Pfizer e Valneva) sugerem que uma dose de reforço reduz a covid-19 grave em qualquer faixa etária e aumenta a atividade neutralizante contra a ômicron de uma forma muito significativa.

Não há dúvida de que a melhor forma de proteção contra o SARS-CoV-2, independentemente da variante, é a vacinação. A prioridade deve ser:

1) Convencer aqueles que ainda não foram vacinados a se vacinar.

2) Vacinar com uma terceira dose de reforço nas pessoas mais vulneráveis ​​(idosos, com patologias prévias, etc.).

Além disso, não se deve esquecer que estamos vivendo uma pandemia e o que acontece na África do Sul, Peru ou Índia nos influencia, por isso as vacinas devem ser fornecidas nos países onde as taxas de vacinação ainda são muito baixas.

Criança sendo vacinada

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Alguns argumentam que vacinar crianças para proteger idosos não faz sentido, mas vacinas sempre tiveram componente social: nos protegem e protegem os outros

Vacinamos crianças menores de 12 anos?

Estamos em uma situação extraordinária. Embora os casos de covid-19 grave sejam muito raros em menores, isso não significa que não tenham ocorrido casos graves e até mesmo mortes.

Os ensaios clínicos demonstraram que as vacinas para crianças entre 5 e 12 anos são seguras e eficazes.

Além disso, mais de 5 milhões de crianças foram vacinadas nos Estados Unidos e nenhum caso secundário grave foi relatado.

Embora do ponto de vista individual se possa duvidar da necessidade de vacinação infantil, a vacinação de menores pode ter outros efeitos benéficos, não apenas preventivos, mas até terapêuticos: pode ajudar a reduzir a incidência da doença, melhorar a situação das crianças, escolas e diminuir estresse psicoemocional a que também estão sujeitos os menores e suas famílias.

Alguns argumentam que vacinar crianças para proteger os idosos é uma aberração, mas as vacinas sempre tiveram um componente social: nos protegem e protegem os outros.

Insisto, a situação neste momento não é normal, estamos vivendo em uma pandemia.

Sobre esse ponto, deve-se lembrar que em muitos países a vacinação não é obrigatória.

Vacinar crianças é uma decisão que os pais devem autorizar conscienciosamente. Se tiver dúvidas, procure seu pediatra. Mas precisamos respeitar a decisão deles e não discriminar ninguém.

Essa sexta onda não é culpa dos não vacinados. Os não vacinados estão em maior risco, mas não são culpados pelo aumento da incidência do vírus.

Se as vacinas não impedem a circulação do vírus, o que fazemos?

Agora é um bom momento para lembrar a metáfora do queijo suíço.

Não temos uma parede de aço impenetrável bloqueando o vírus, nem mesmo com as vacinas. As vacinas não são a única solução, são parte da solução.

Nenhuma medida isolada é perfeita para prevenir a propagação do vírus (cada camada de queijo tem buracos). Mas uma sobreposição de medidas compensa as falhas individuais e reduz significativamente o risco.

Lembre-se de que o vírus é transmitido por aerossóis, como se fosse fumaça de cigarro.

Vamos imaginar uma pessoa perto de nós fumando. Assim como a fumaça do tabaco se move ao nosso redor e acabamos respirando-a, o vírus também se moverá se tivermos uma pessoa infectada ao nosso lado.

Portanto, um local fechado, mal ventilado, com muita gente, pessoas conversando muito e sem máscara, é o melhor lugar para se infectar. As máscaras provaram ser uma medida muito eficaz para prevenir o contágio.

Pessoas de máscara

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Máscaras ainda são essenciais para impedir propagação do vírus

As máscaras são necessárias em ambientes internos e externos se não houver distância de segurança. Do lado de fora e com uma distância de segurança, a máscara não é necessária.

O risco de infecção em ambientes externos é muito menor do que em ambientes fechados. Essa é uma das razões pelas quais há mais infecções de patógenos respiratórios no inverno, porque passamos mais tempo juntos dentro de casa.

Não faz sentido, portanto, fechar os parques como foi feito em outros momentos da pandemia. Qualquer atividade, melhor fora do que dentro.

Sair na rua com a máscara e tirar ao entrar em um espaço fechado é como sair com o capacete na rua e tirar ao andar de motocicleta.

O que faz mais sentido é promover a instalação de medidores de CO₂ internos.

Uma forma de medir a qualidade do ar que respiramos é medir a concentração de CO₂ que expelimos quando respiramos. Quanto maior a concentração de CO₂, maior será a quantidade de ar já respirada por outra pessoa.

Como não podemos ver o vírus e não podemos medir sua concentração no ar, a medição de CO₂ é um bom indicador. Estamos em uma pandemia há mais de 20 meses, por que os medidores de CO₂ não foram instalados em locais públicos fechados?

Para melhorar a qualidade do ar, a ventilação cruzada ainda é essencial.

Se isso não for possível, um sistema de filtragem pode ser usado. Por que os sistemas de filtragem de ar não foram instalados em locais públicos fechados?

Fazemos um teste de antígeno?

Os testes de antígeno já estão disponíveis há vários meses. Bem usados, permitem detectar casos em sua fase mais contagiosa.

Se o teste for positivo, você deve se isolar e ficar em casa.

Se for negativo, não relaxe. Pode não haver carga viral suficiente ainda. O melhor seria repetir nos dias seguintes. No caso de uma celebração, o melhor é fazê-lo um pouco antes do evento.

Esse tipo de teste pode ser muito útil em situações como a atual, em que já existe um colapso do sistema de saúde. Por que ainda não são vendidos fora das farmácias, como em outros países?

Se for conveniente repetir o teste, por que não são mais baratos ou até mesmo distribuídos gratuitamente para a população, como em outros países?

Mas também há boas notícias, embora muito preliminares.

Por exemplo, o medicamento oral Paxlovid foi quase 90% eficaz na prevenção da hospitalização e morte por covid-19 em um estudo com mais de 2,2 mil pacientes de alto risco. A eficácia sobe para 94% em pessoas com mais de 65 anos de idade.

Fortalecer o sistema de saúde não é responsabilidade do cidadão

Esta época do ano no hemisfério norte é a estação do muco, resfriados, bronquite, pneumonia, gripe... e coronavírus.

As estatísticas de mortalidade ao longo do ano (antes da pandemia) mostram que sempre morrem mais pessoas no inverno do que no verão, há centenas de vírus e bactérias que se transmitem pelo ar e causam esses tipos de problemas respiratórios.

Prevê-se, portanto, que a cada ano haja um pico de incidência e que o sistema de saúde sofra alguma tensão e acúmulo de pacientes.

Neste inverno, em meio a uma pandemia, o colapso do sistema era mais do que previsível. A grande maioria dos cidadãos foi obediente: cumprimos nossas obrigações e nos vacinamos.

De quem é a responsabilidade de o sistema de saúde estar agora sendo bastante demandado? Obviamente do vírus, mas estamos em uma pandemia há mais de 20 meses.

Existem responsabilidades pessoais: vacinar-se, usar máscaras, distância física, evitar contágio, evitar espaços lotados, isolar-se em caso de sintomas, informar o serviço de saúde em caso de contágio, cumprir quarentenas...

E as dos gestores públicos: reforçando a equipe de rastreadores, médicos/enfermeiros, atenção primária e emergências, laboratórios de diagnóstico, leitos de UTI, provendo CO₂ medidores, sistemas de ventilação e filtração, provendo e/ou facilitando o acesso aos testes de antígenos, adequando os sistemas legais, coordenação, comunicação eficaz...

Toda essa combinação de medidas e responsabilidades nos ajudará a controlar melhor a pandemia, independentemente da variante do momento.

A situação é muito delicada. Vamos ser responsáveis e cuidar de nós mesmos.

*Ignacio López-Goñi é Professor de Microbiologia da Universidade de Navarra, Espanha.

Este artigo foi publicado originalmente no site The Conversation sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original.

  • Ignacio López-Goñi
  • The Conversation*

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Janjão realiza Feira natalina - "Natal de Todos Nós"



O prefeito do Município do Bom Jardim - PE, realizou no Pátio de eventos João Salvino Barbosa, na noite de 17 de dezembro 2021, o "Natal de Todos Nós", ações do projeto Transformando Vidas das secretaria municipais. O público compareceu, houve apresentação musical do Coral Infantil Bráulio de Castro, apresentação de balé de crianças( Flores do Sol) dos Distritos de Umari, Bizarra e Tamboatá,  show musical de Kelson Souza e Geová Gomes, apresentação da Orquestra do Grêmio Lítero Musical Bonjardinense e do grupo de idosos. A prefeitura locou barracas para lotar o grupo do artesanato local. Na noite seguinte, o show musical é com Ginaldo Xavier.







Fotos professor Edgar.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 11 de dezembro de 2021

Museu de Bom Jardim presente na 21ª Fenearte


A cada edição da Fenearte, o professor  Edgar Santos, visita, observa, faz contatos, encomendas e compras para o acervo do Museu de Bom Jardim. 



Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Paulo Câmara destaca visita aos municípios de Machados e Bom Jardim




Ontem foi dia de juntar parte da nossa equipe para dar sequência aos anúncios de investimentos do Plano Retomada. A primeira parada foi na cidade de Machados, onde entregamos a obra de restauração do acesso ao município e autorizamos novas ações de implantação da PE-084 e da PE-086, que vai até Orobó. Lá, também liberamos recursos para recuperação do reservatório elevado de água e para construção de quadra coberta na EREM Severino de Andrade Guerra. Em seguida, fomos até Bom Jardim firmar convênio para instalação do Parque Ecológico Pedra do Navio. Além disso, anunciamos verbas para manutenção do CRAS, a implementação da cozinha comunitária, do Programa Mãe Coruja e da Central de Oportunidades. Vamos ampliar o abastecimento de água e, na educação, reformaremos a EREM Justulino Ferreira Gomes, além da licitação para construção de quadra coberta na EREM Dr. Mota Silveira. Na infraestrutura, serão pavimentadas ruas e a estrada vicinal que liga a cidade à Tamboatá. Encerramos nossa agenda com a entrega de documentos de CRLVs a proprietários de motos beneficiados pelo decreto de Anistia do IPVA e outras taxas. São intervenções que somam mais de R$ 57 milhões, contemplando diversas áreas para o desenvolvimento dessa região. 📸Hélia Scheppa

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Surto de lesões na pele pode ter sido provocado por cerdas de mariposas






O contato com cerdas de um tipo específico de mariposa está sendo considerado pela Secretaria Executiva de Vigilância em Saúde do Recife como a principal hipótese para o surto de lesões na pele em Pernambuco.

A semelhança dos casos com outros surtos ocorridos no Brasil nessa mesma época do ano, e a proximidade da Mata Atlântica com os municípios que possuem notificações do tipo levam os estudos a considerarem que mariposas da espécie hylesia estejam provocando as lesões.

Segundo a secretária executiva de Vigilância em Saúde do Recife, Marcella Abath, quando voam próximo a lugares luminosos ou lâmpadas, as mariposas liberam cerdas.

“Essas cerdas formam uma espécie de nuvem que fica no ar ou caem na superfície. Se a pele tiver contato direto ou por meio de uma roupa que esteja com essas cerdas, pode haver reação alérgica e coçar bastante, causando as lesões”, afirmou a secretária, informando que mesmo diante da forte hipotese da mariposa, o estudo ainda não está concluído.
 


“A investigação da causa pela escabiose está em andamento, mas por ela ser contagiosa e não encontramos a presença de ácaros, essa hipótese está sendo enfraquecida”.

A secretária também informou que a investigação da água não apontou nada que pudesse provocar as lesões. “Além disso, não termos uma fonte única de abastecimento nos dois bairros com maior incidência, que são Dois Irmãos e Guabiraba [ambos localizados na Zona Norte do Recife]. A hipótese das arboviroses também foi enfraquecida porque o quadro clínico não aponta para dengue nem chikungunya”, afirmou Marcella.

O Recife é o município com maior números de casos registrados até o momento, contabilizando 335 notificações, segundo informou a secretária executiva de Vigilância em Saúde do Recife.

SBD
Embora o município ainda trate a relação das lesões com as mariposas como possibilidade, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) se refere ao caso como um mistério desvendado.

De acordo com a entidade, a dermatologista Cláudia Ferraz conduziu uma pesquisa sobre a história epidemiológica e descreveu adequadamente as lesões, o que levou a suspeitar da provável etiologia.

Por sua vez, o também dermatologista Vidal Haddad Junior, que havia testemunhado e publicado outros surtos, esclareceu a etiologia da erupção. O relatório de ambos atesta 

A SBD enaltece que o trabalho da dupla permitiu descartar várias hipóteses levantadas para explicar a origem do surto, como intoxicação por ivermectina, escabiose (sarna), picadas de insetos, entre outras que, segundo a entidade, não tinham comprovação técnica ou científica.

Professor Edgar Bom Jardim - PE