terça-feira, 2 de março de 2021

A África do Sul chamou de Apartheid; os EUA, de Segregação racial. Como chamaremos a nossa desigualdade institucionalizada?

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Foto: Mauro Pimentel/AFP via Getty Images



TEM UM REGIME EM VIGOR NO BRASIL que nem nome tem, de tão invisível. Ele é secreto. Você pode ler a Constituição da primeira à última página sem encontrar uma só menção a ele. Lá no livro, o Brasil é uma república democrática, um estado de direito, livre, justo, solidário. Logo na primeira página está escrito que “todos os brasileiros são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Bonito isso.

O problema é que não é verdade, e isso fica evidente num momento de crise profunda como esta que estamos vivendo. Uns brasileiros são diferentes dos outros, perante a lei e perante o estado. Num Brasil valem certos direitos, leis, regras e protocolos, no outro valem outros; num há um tipo de infraestrutura, no outro quase não há; num o estado age de uma forma, no outro age de outra. Nesse regime que vigora no Brasil, uns brasileiros valem mais que outros, e o estado atua todos os dias ampliando essa diferença, redistribuindo riqueza dos pobres para os ricos, negando direitos a uns enquanto outros acumulam privilégios. Vigoram no Brasil dois regimes jurídicos simultâneos: são duas sociedades distintas, dois países no território de um só.

Esse regime não tem nome porque ele é absolutamente naturalizado. Estamos imersos nele, como no ar que respiramos. A sensação que dá é que sempre foi assim e, portanto, sempre será: nem é um regime, é a realidade imutável do mundo.

Minha opinião é que o Brasil só terá um futuro digno se for capaz de enxergar esse regime, a ponto de poder nomeá-lo, descrevê-lo e aboli-lo. E, nesse sentido, talvez estejamos diante de uma oportunidade histórica. Afinal, a contradição entre o Brasil sonhado na Constituição de 1988 e a brutalidade injusta desse país real que naturalizamos sem enxergar foi o que nos trouxe a este fundo de poço onde estamos hoje. O grupo que está no poder escancara essa contradição, ao rasgar a Constituição e agir de maneira abertamente brutal. Ao fazer isso, talvez eles tornem visível esse regime secreto.

As políticas públicas do regime

Apesar do que diz a Constituição, grande parte do estado brasileiro está construída de maneira a garantir que os brasileiros não sejam todos iguais perante a lei. Ou seja, o estado está constituído de maneira inconstitucional.

Isso é visível para quem caminha pelo país. Basta olhar de relance para qualquer paisagem urbana. Muito rapidamente vai ficar evidente que, em alguns lugares, o estado provê infraestrutura de qualidade razoável – ruas asfaltadas, calçadas iluminadas, esgoto tratado, lixo recolhido, serviços públicos. Mas, na maior parte do território, não tem nada disso. O esgoto escorre a céu aberto, o lixo se acumula no espaço público, não há nenhuma calçada, nenhuma segurança, nenhum conforto, nenhum cuidado.

Enquanto um pedaço do Brasil se acostumou a policiais educados, o outro lida com agentes que agridem, abusam e atiram antes de perguntar.

Nestas partes do país, o único serviço público à vista é o policiamento ostensivo – camburões passando pelas ruas com rifles para fora da janela. Se ainda resta alguma dúvida sobre a existência desse regime duplo que divide o Brasil em duas humanidades, basta se deter sobre as políticas de segurança pública para acabar com as ilusões. Até comandantes de forças policiais reconhecem que o protocolo da polícia nas áreas ricas das cidades é diferente daquele das áreas pobres, em flagrante contradição com a Constituição. Enquanto um pedaço do Brasil acostumou-se a policiais educados e, às vezes, até subservientes, o outro lida com agentes que agridem, abusam e atiram antes de perguntar. O Brasil é o país onde a polícia mais mata no mundo – e 75% de quem ela mata são negros.

Essa cultura dupla da polícia emerge de uma instituição moldada para tratar a população de maneira desigual. Prova disso é a existência no Brasil de uma política que não existe em nenhum país civilizado do mundo: o duplo ingresso. Há dentro da polícia dois tipos de ser humano, que não se misturam. Por um lado, há a massa pobre dos soldados e investigadores, que ingressam por um processo seletivo; por outro, há a minoria de oficiais e delegados, que entram por outro.

No Brasil, os pobres nunca são promovidos a oficiais ou delegados, por melhores policiais que sejam. E os ricos já ingressam mandando, apesar de recém-formados, num escárnio à ideia de meritocracia. Policiais subalternos não podem nem olhar nos olhos dos seus superiores. Eles são formados naturalizando o abuso – não admira que se tornem abusadores.

A polícia é um exemplo extremo do quanto esse regime que separa as pessoas está entranhado na estrutura do estado brasileiro, mas está longe de ser o único. Fala-se muito do quanto o estado brasileiro é caro e ineficaz. O que é menos comentado é o quanto ele é desigual – e é essa desigualdade que faz com que ele seja caro e ineficaz.

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Policiais patrulham a área na Cidade de Deus, Rio, após uma chacina com sete vítimas, em 2016.

 

Yasuyoshi Chiba/AFP via Getty Images

Serviços públicos voltados para o cuidado da população, como saúde e educação, são cronicamente subfinanciados, e os profissionais dessas áreas são desvalorizados. O professor brasileiro é o mais desvalorizado do mundo, segundo uma pesquisa da Varkey Foundation feita em 35 países de todas as regiões globais.

O SUS, um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, tem um orçamento incrivelmente pequeno, incomparável com qualquer país que tenha sistema semelhante. Não bastasse, um terço do orçamento da saúde pública é usado para financiar saúde privada. Planos de saúde e hospitais de elite como o Einstein e o Sírio-Libanês recebem bilhões em isenções fiscais.

No outro extremo, as partes do estado responsáveis por manter o regime dos dois brasis são tratadas como uma aristocracia, como mostra em detalhes este ótimo estudo “Aristocracia judicial brasileira: privilégios, habitus e cumplicidade estrutural” (fonte dos dados sobre salário dos parágrafos abaixo). A elite do serviço público brasileiro – juízes, promotores, procuradores, deputados, senadores, gente que escreve as leis e que as aplica – tem uma vida de luxos garantida até a morte, e depois dela, com pensões gordas para os descendentes. O sistema de Justiça e o sistema político do Brasil estão entre os mais caros do mundo, apesar da baixa qualidade de seu trabalho: e é lógico que a qualidade é baixa, já que aristocracias não têm empatia com a população.

A situação é tão absurda que beira à caricatura. Na França, um juiz iniciante ganha um salário semelhante à média salarial nacional. Nos Estados Unidos, onde há muito mais desigualdade, o salário de um juiz em começo de carreira vale três vezes mais do que o salário médio do país. Bom, no Brasil um juiz já começa ganhando 12 vezes mais que um mero mortal. Um juiz brasileiro ganha bem mais do que um juiz francês ou português, que pagam suas contas em euro.

E aí, por cima disso, ele recebe dezenas de pequenos privilégios, os chamados penduricalhos – presentes dados por eles próprios com dinheiro do estado, para que eles não tenham nunca nenhuma preocupação financeira. Auxílio-saúde, auxílio-livro, auxílio-educação, auxílio-creche, auxílio-terno – há mais de 30 desses, dependendo do estado. Curioso é que eles ganham dinheiro público para pagar escolas e creches privadas, ao mesmo tempo em que o estado subfinancia as escolas e as creches públicas, numa clara demonstração de que este país não entende a diferença entre direito e privilégio.

Por anos, por decisão de um juiz, todos os juízes do Brasil receberam todo mês um auxílio-moradia de R$ 4.377 – o dobro do rendimento médio total de um brasileiro. Eles ganhavam isso mesmo que tivessem casa própria na cidade onde trabalham. A situação era tão flagrantemente absurda que gerou incômodo. Aí, em 2018, durante o governo Temer, o Supremo negociou o fim do auxílio-moradia. Juízes que não tivessem gastos com moradia para trabalhar deixaram de fazer jus ao benefício, em respeito à lei. Em troca, todos os juízes ganharam um aumento de 16% no salário, em pleno aperto fiscal. E a casta dos juízes, que já ganhava 23 vezes mais que um brasileiro médio, passou a ganhar mais ainda. É assim que, no regime em vigor no Brasil, privilégios vão sendo transformados em direitos, institucionalizados.

Um levantamento recente coordenado pela pesquisadora Luciana Zaffalon joga luz sobre o mecanismo que faz com que esses privilégios aumentem cada vez mais. O estudo mostra como, na elaboração do orçamento do Estado, o governo paulista reserva cheques em branco de bilhões de reais – os chamados créditos adicionais –, que depois são distribuídos a portas fechadas, sem nenhuma participação social. Para 2021, ano de crise profunda, o governo vai dispor de quase 42 bilhões de reais – 17% de seu orçamento total. Os membros do Judiciário, que têm a obrigação de fiscalizar o Executivo, receberão 1,5 bilhão de reais. Isso é mais que todo o orçamento para financiar pesquisa científica, via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a Fapesp.

Enquanto isso, para a maior parte do país, não há direito algum, nem aqueles explicitamente garantidos na Constituição: saúde, educação, transporte, lazer, segurança. O salário mínimo é de R$ 1.045, e é quase impossível sobreviver com isso num mercado distorcido por milhares de milionários ganhando do estado mais que um juiz europeu.

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Bolsonaro, Guedes, Toffoli e Maia na posse da nova presidente do TST, Maria Cristina Peduzzi. A casta dos juízes no Brasil ganha 23 vezes mais que um brasileiro médio e nunca sofre com o aperto nas contas do governo.

 

Foto: Andressa Anholete/Getty Images

Como abolir um regime injusto

Nada disso faz sentido, tudo isso é nocivo para o país. Os brasileiros beneficiados por esse regime tendem a acreditar, alguns até sinceramente, que é direito deles que seja assim. Afinal, sempre foi, desde que se montou aqui a maior operação de todos os tempos de sequestro e tráfico de gente, a escravidão, que deu origem a um país com poucos cidadãos e muitos não cidadãos. Mas não. Por mais que haja uma longa história de decisões judiciais confirmando o regime de separação entre os brasis, elas são inconstitucionais. Estão em conflito com a garantia inequívoca: “iguais perante a lei”.

No mínimo, isso significa que o estado tem a obrigação de oferecer os mesmos serviços e garantias a todos e que seus servidores precisam estar no mesmo regime: dentro de uma mesma lógica de remuneração, de benefícios, respondendo a uma mesma Justiça.

É isso que os brasileiros querem: eles invariavelmente apoiam iniciativas para acabar com os privilégios no país e votam em candidatos que prometem fazê-lo. Só que o Brasil de cima, aquele que detém os privilégios, tem também o poder para evitar que eles acabem.

Depois de identificar o alvo, podemos traçar o rumo para angariar apoios, à direita e à esquerda.

Quantas vezes não vimos projetos sendo vendidos como se fossem livrar o estado brasileiro do peso dos privilegiados e, depois de aprovados, acabarem reforçando-os? A última foi a reforma previdenciária de Bolsonaro, que alardeou ao Brasil o fim dos privilégios, mas acabou deixando de fora justamente os mais privilegiados, os militares, responsáveis pelo maior de todos os buracos na Previdência, os mais deficitários dos beneficiários

O regime que divide o Brasil em dois não vai acabar assim, com mudanças incrementais e pontuais, negociadas num ambiente distorcido, que acabam eternizando os privilégios disfarçados de direitos, defendidos por quem tem poder. Estamos tentando fazer isso desde 1988, com resultados pífios.

O único jeito de abolir um regime que distorce a sociedade toda é a partir de um consenso social. Precisamos enxergar esse regime em toda a sua extensão: os mecanismos que o mantêm funcionando, as instituições que o sustentam, as regras que o eternizam. E aí precisamos dar um nome para esse regime. Porque ele é tão concreto, brutal e institucionalizado quanto outros regimes que tiveram ou têm nome – o Apartheid da África do Sul, a Segregação dos Estados Unidos, o sistema de castas da Índia –, apenas mais secreto. Como chamaremos o nosso? A divisão do Brasil?

Depois de identificar o alvo, podemos traçar o rumo para angariar apoios, à direita e à esquerda, no Brasil e no mundo, para um dia abolir a Divisão – e unificar o Brasil. A dificuldade é que, para que isso aconteça, será necessário cancelar certos privilégios que hoje nossa sociedade considera direitos e, portanto, intocáveis. Só assim se derruba um regime. Na abolição da escravidão, em 1888, foi necessário cancelar direitos de brasileiros – os direitos de propriedade sobre seres humanos, o que fazia sentido uma vez que se decidiu que não era mais possível ser proprietário de um ser humano.

Algo parecido precisa acontecer de novo. Se não acontecer, o que teremos é uma sociedade cujas partes terão cada vez menos empatia uma pela outra, em que, portanto, a vida nunca valerá nada e isto não chegará a ser um país.

https://theintercept.com/
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Paulo Câmara visita fábrica da Sputnik V no Brasil


O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, participou, nesta terça-feira (2), da reunião para negociação da compra direta pelos estados da vacina Sputnik V, que será produzida pela União Química, no Brasil.

Realizada no Distrito Federal, a reunião, que teve a presença de outros gestores do Fórum dos Governadores do Brasil, contou com uma visita à fábrica que irá produzir o imunizante. 

“A documentação da Sputnik V foi entregue à Anvisa e, havendo autorização, já deveremos ter, a partir do mês de abril, a fabricação desse imunizante no Brasil. Isso vai nos ajudar a acelerar o processo de vacinação da nossa população, juntamente com a produção dos laboratórios Butantan e Fiocruz, para termos mais opções de vacinas. Até porque, a quantidade de vacinas, hoje, ainda está bem aquém do necessário para garantirmos uma cobertura satisfatória para a população brasileira”, afirmou Paulo Câmara. 


Caso o Governo Federal não cumpra com a demanda do País com relação às vacinas contra a Covid-19, governadores e prefeitos foram autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a adquirir o imunizante de forma independente. 

O imunizante desenvolvido na Rússia foi um dos primeiros registrados no mundo, ainda em agosto de 2020, e já começou a ser aplicado na Argentina, país vizinho ao Brasil, com sucesso.

De acordo com a União Química, a Rússia dispõe de 10 milhões de doses da vacina para enviar ao Brasil assim que obtiver a aprovação na Anvisa, que ainda não ofereceu uma previsão de data para a conclusão desse processo. Ainda segundo a empresa, até dezembro, a Rússia terá condições de produzir e enviar ao Brasil outras 150 milhões de doses.   

A vistoria da Anvisa, que será realizada diretamente na fábrica da União Química, parceira brasileira do Instituto Gamaleya, da Rússia, está marcada para a próxima semana - entre 8 e 12 de março. 

Veto de Bolsonaro
Na visita, Paulo Câmara também externou sua preocupação com vetos do presidente Jair Bolsonaro com relação a trechos da Medida Provisória das Vacinas. O presidente vetou a Medida Provisória que dava prazo de cinco dias para a Anvisa aprovar o uso emergencial de vacinas.

“Se os organismos internacionais, que têm tanto critério na liberação de vacinas em outros países, estão liberando o uso, por que não haver um procedimento mais célere também no âmbito da Anvisa? Precisamos agilizar o plano de vacinação, com toda a segurança necessária, mas, infelizmente, o Foverno Federal tem barrado iniciativas legislativas que são fruto de muita discussão no Congresso Nacional”, comentou Paulo Câmara.

Arthur Lira
Ainda em Brasília, Paulo Câmara participou de videoconferência do Fórum dos Governadores do Brasil com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, para discutir estreitamento de relações entre os Estados e o Legislativo Federal no enfrentamento da pandemia e na celeridade do processo de imunização.

Lira se colocou à disposição dos governadores para fazer avançar essas pautas de interesse maior no Congresso Nacional. “Nós também solicitamos ao presidente da Câmara agilidade na implantação do novo auxílio emergencial e de outras pautas federativas que possam ajudar nesse ambiente que estamos enfrentando de pandemia e, ao mesmo tempo, de desemprego e recessão econômica”, completou Paulo Câmara.
Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Vacinas contra covid-19 reduzem hospitalizações em 80%, diz agência do governo britânico



People queuing outside a vaccination centre in Folkestone, Kent

Uma única dose da vacina Oxford-AstraZeneca ou da Pfizer-BioNTech reduz em mais de 80% as chances de hospitalização por covid-19 de idosos com 80 anos ou mais, apontam dados apresentados nesta segunda (1/3) pela Public Health England (PHE), agência do Departamento de Saúde do Reino Unido.

Conforme os dados publicados no site do governo, a proteção superior a 80% foi observada de três a quatro semanas após a aplicação da primeira dose de ambos os imunizantes. Apesar do bom resultado, cientistas defendem que a administração da segunda dose é desejável para garantir proteção mais perto de 100% possível.

O estudo de efetividade foi feito com adultos acima de 70 anos e ainda não foi publicado em uma revista científica, onde é preciso passar pela chamada revisão dos pares, uma avaliação do conteúdo por cientistas independentes.

No Brasil, apesar da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ter aprovado definitivamente o registro da vacina da Pfizer-BioNTech, ainda não há um contrato fechado de compras deste imunizante pelo governo federal. A vacina Oxford-AstraZeneca, por sua vez, já teve lotes adquiridos e está sendo produzida em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz.

Na semana passada, autoridades de saúde da Escócia divulgaram dados semelhantes aos da Public Health England, classificando os resultados como "espetaculares".


Profissional de saúde paramentado vacina homem
Legenda da foto,

Ministro da Saúde afirmou que vacinas 'podem explicar por que internações UTIs entre pessoas com mais de 80 anos caíram significativamente'

Para o ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, os resultados divulgados pela agência são "muito fortes".

"Eles podem explicar por que o número de internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) entre pessoas com mais de 80 anos no Reino Unido caíram significativamente nas últimas semanas."

Mary Ramsay, chefe de imunizações da Public Health England, ratificou que há evidências crescentes de que as vacinas estão conseguindo reduzir infecções e salvar vidas.

"Embora ainda haja muito mais dados a acompanhar, o que vamos é encorajador e nos deixa cada vez mais confiantes de que as vacinas estão fazendo uma diferença concreta."

  • Nick Triggle e Michelle Roberts
  • BBC News
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Titino Brito morre em decorrência da Covid-19


Titino de Brito

O artesão Ailton Ferreira de Brito, conhecido como Titino, da cidade de Tracunhaém, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, faleceu neste sábado (20), vítima da Covid-19. 

Ele tinha 57 anos e estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Referência à Covid-19 de Boa Viagem (antigo Alfa), na Zona Sul do Recife. Ele deixa esposa e filhas. 

Titino trabalhava com cerâmica e costumava participar de diversos eventos de artesanato do Estado. Nas redes sociais, outros profissionais do município, tradicionalmente conhecido pela beleza do artesanato em barro e cerâmica, lamentaram a partida dele. A prefeitura local decretou dois dias de luto. 

O corpo de Titino Brito será sepultado no Cemitério Municipal Nossa Senhora de Pietá, em Tracunhaém, seguindo os protocolos sanitários de prevenção à Covid-19. 

Folha de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Os benefícios do consumo regular de mamão



O mamão é uma das frutas mais consumidas pelos brasileiros. Disponível ao longo de todo o ano, ganha destaque na feira nos meses de fevereiro e março. Há registros de mais de 50 variedades do fruto, sendo as mais famosas no País as do tipo formosa e papaia. Reconhecida como uma aliada do sistema digestivo, a fruta possui benefícios que vão muito além da flora intestinal. As propriedades podem auxiliar a saúde da pele, com ação antienvelhecimento, e até mesmo diminuir a incidência de células cancerígenas.

“De fato, a característica mais conhecida do mamão é sua proprieda­de digestiva, sendo essa atribuí­da a presença da papaína, enzima presente em maior quantida­de quando a fruta esta verde. Contu­do, sua composição nutricional atribui mais benefícios à fruta, como atividade antioxidante, propriedade anti-inflamatória, proprie­dade anticancerígena, efeito imunomodulador, regulação da pressão arterial e redução do estres­se oxidativo”, elenca a nutricio­nista Erivânia Fontes.

Ainda segundo a profissional, além da papaína, o fruto também possui outras substâncias que intensificam as vantagens proporcionadas pelo alimento: “Por possuir licopeno, que é um pigmento natural, e vitamina C, ele consegue retardar o envelhecimento, pois esses compostos reduzem o estresse oxidativo, que está intimamente ligado ao envelhecimento precoce. A presença do licopeno também atribui ao mamão propriedade anticancerígena, prevenindo, principalmente, o câncer de próstata”.

Especialista em Nutrição Clínica, com ênfase em metabolismo e terapia nutricional, Erivânia também esclarece que os nutrientes podem variar de um tipo de mamão para outro. “No Brasil, os mais consumidos são o formosa e o papaia. A principal diferença entre eles está na quantidade de fibras, potássio e licopeno. O formosa apresenta maior quantidade desses compostos, conforme a Taco, Tabela Brasileira de Composição Nutricional”, comentou.

A semente da fruta, aliás, também possui propriedades importan­tes: “Uma característica adicional do mamão é a de combater vermes, ele é um vermífugo natural. Para obter esse benefício, deve-se evitar o desperdício de suas sementes, pois são elas que promovem essa propriedade”. Já a nutricionista Mônica Almeida, especialista em Alimentação Coletiva, desta­ca outra enzima presente nesse alimento, a quimiopapaína, que tam­bém auxilia na digestão. Além disso, ressalta, a atuação de minerais benéficos ao organismo. “Os minerais que têm maior concentração no mamão são o cálcio, o fósforo e o ferro. O cálcio está associado à saúde óssea e o fósforo à saúde do nosso coração”, explicou.

Rico em fibras, o fruto também auxilia o controle glicêmico. “Uma fatia pequena de mais ou menos 100g fornece 3g de fibra. E o mamão possui a fibra pectina, que ajuda a reduzir a absorção de gordura, auxiliando na normatização das taxas do colesterol”, conta a nutricionista.

Para Mônica Almeida, o sistema imunológico das pessoas que consomem esse item com frequência também será fortalecido porque ele é rico em vitaminas A, C e do complexo B. “Essa é uma fruta encontrada praticamente o ano todo, tem o custo bem acessível e é uma das mais consumidas pelos brasileiros. Têm vários tipos de nutrientes na sua composição, então vai trazer para o organismo vários benefícios”, comentou. 

No entanto, como frisa Mônica,  a ingestãoadeve ser feito sem exageros. “Como qualquer outro alimen­to, o mamão deve ser consumi­do sem excesso. Se a pessoa consumir em grande quantidade, ele vai possuir um efeito muito laxante, provo­cando desarranjo intestinal”. A nutricionista Erivânia Fontes também acende o alerta: “Pessoas que possuem o trânsito intestinal muito rápido devem ter cui­dado na quan­tidade consumida, pois isso po­de levar ao aparecimen­to de qua­dros diarreicos”, frisou.

Com Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Manter Daniel Silveira preso é freio a radicalismo bolsonarista, afirmam analistas


Daniel Silveira aparece falando no telão da Câmara
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Deputado federal Daniel Silveira aparece falando no telão da Câmara durante sessão em que colegas decidiram mantê-lo preso

A manutenção da prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ) pela Câmara dos Deputados nesta sexta-feira (19) terá o efeito de conter ataques à democracia, avaliam analistas políticos ouvidos pela BBC News Brasil.

O parlamentar foi preso por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) após divulgar um vídeo com exaltações à ditadura militar (1964-1985) e fortes críticas e ameaças a ministros da Corte.

Sua gravação repete discursos antidemocráticos que têm reverberado entre autoridades nos últimos anos, como a defesa do fechamento do STF e a exaltação do AI-5 (ato institucional de 1968 que aprofundou o autoritarismo da ditadura), sem que tenham gerado punições tão graves — o próprio presidente Jair Bolsonaro quando era deputado federal exaltou em 2016 um dos principais torturadores do regime militar, Carlos Ustra, durante votação do impeachment de Dilma Rousseff, mas o processo aberto contra ele por isso foi depois arquivado no Conselho de Ética da Câmara.

Já Silveira deve enfrentar um processo criminal no STF e uma representação no Conselho de Ética da Câmara, correndo o risco de perder seu mandato.

O parlamentar não recebeu nos últimos dias uma palavra sequer de apoio de Bolsonaro, que preferiu não se desgastar com os demais Poderes para defender o parlamentar de sua base.

Para o cientista político Antonio Lavareda, presidente do conselho científico do Instituto de Pesquisas Sociais Políticas e Econômicas (Ipespe), o abandono do deputado bolsonarista pelo presidente e a confirmação de sua prisão na Câmara refletem o novo momento do governo de aliança com o Centrão no Congresso, em que o Palácio do Planalto "busca governabilidade, não ruptura".

"Esse episódio (a prisão de Silveira) vai ter um importante efeito dissuasório sobre esses remanescentes do bolsonarismo radical antissistema. Esse bolsonarismo que se tornou obsoleto a partir da aliança com o Centrão", analisa.

"As pessoas (parlamentares com discurso radical) vão olhar a prisão de Silveira e vão pensar: 'primeiro, se eu exagerar, não vou ter o respaldo do Congresso, dos meus pares, e, segundo, não vou ter o apoio sequer do meu líder, o presidente'. É um efeito dissuasório poderoso", reforça Lavareda.

Três manifestantes em rua segurando cartaz em formato de coração dizendo 'Bolsonaro' e outro 'O STF precisa ser destituído'
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STF é alvo recorrente de manifestações bolsonaristas

Eleito presidente da Câmara no início de fevereiro com forte apoio do Palácio do Planalto, o líder do Centrão Arthur Lira (PP-AL) disse nesta sexta-feira que o episódio envolvendo Silveira é um "ponto de inflexão".

"Sou ferrenhamente defensor da inviolabilidade do exercício da atividade parlamentar. Mas, acima de todas as inviolabilidades, está a inviolabilidade da Democracia. Nenhuma inviolabilidade pode ser usada para violar a mais sagrada das inviolabilidades, a do regime democrático", discursou Lira na abertura da sessão que manteve a prisão.

"Esse episódio servirá também como um ponto de inflexão para o modo de comportamento e de convivência internos, que trarão de volta maior urbanidade, respeito e empoderamento do Conselho de Ética para que o ambiente da democracia nunca se contamine a ponto de se tornar tóxico", disse ainda o presidente da Câmara, em outro trecho de seu discurso.

Já Silveira, que teve direito a falar por transmissão online, adotou um tom bem mais comedido do que o habitual ao tentar convencer seus pares a derrubar a prisão. Ele se disse arrependido pela gravação e atribuiu sua fala a "um momento de emoção" e "muita raiva".

"Já disse desculpas ao povo brasileiro, pedi (desculpas) a todo Parlamento. Me equivoquei, me arrependi, portanto jamais gostaria de fazê-lo dessa maneira novamente. Serviu de amadurecimento", disse ainda.

'Manutenção da prisão é primeiro passo contra ameaças democráticas'

Bolsonaro discursa em ato em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília.
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Presidente Jair Bolsonaro discursou no ano passado em ato que pediu fechamento do Congresso e do STF

O cientista político e sócio da Tendências Rafael Cortez também vê na manutenção da prisão de Silveira um novo momento do governo Bolsonaro, menos conflituoso com os demais Poderes, a partir da aliança com o Centrão.

Ele ressalta que o momento é de queda da popularidade do presidente, em meio a problemas como falta de vacinas para conter a pandemia e a continuidade da crise econômica.

"Esse ambiente polarizado dificulta a construção de acordos. E se tem uma característica do chamado Centrão é a vocação para acordos. Até por conta da maleabilidade política dessas siglas, não são legendas que têm uma reputação consolidada junto ao eleitorado", nota Cortez.

"O próprio Arthur Lira quando publicamente se colocou como um nome do Centrão (para presidir a Câmara) fez a defesa dessa maleabilidade, dessa capacidade de adaptação desse grupo político para minimizar conflitos. E para quem opera com consensos, esse comportamento de atores associados à nova política (como Silveira), que é de ruptura institucional, ele se choca com o modus operandi desses atores políticos (do Centrão)", acrescenta.

Cortez considera a prisão de Silveira é "um primeiro passo importante" na contenção de discursos autoritários no país. Para ele, no entanto, não é algo suficiente para conter uma série de movimentos que estão fragilizando a democracia brasileira.

Nesse sentido, ele destaca a redução da confiabilidade no sistema eleitoral, que pode abrir espaços para questionamentos infundados do resultado da eleição de 2022 — algo que tem sido alimentado por falas do próprio presidente Bolsonaro, que, sem apresentar provas, diz que a urna eletrônica pode ser fraudada.

Outros pontos que despertam preocupação, segundo Cortez, é o aumento do acesso a armas promovido pelo governo Bolsonaro, assim como manifestações vindas de integrantes das Forças Armadas pressionando o Supremo Tribunal Federal, como ocorreu no julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2018.

"A prisão de um deputado, nas condições que foram desenhadas, referendada de forma unânime na Corte Suprema e respeitada pelos pares (mantida na Câmara), é por si só um sinal de contraposição a um discurso que corrói o jogo democrático", afirma.

"O problema é que não pode ser só uma decisão isolada. Tem que de fato ter um sistema de redução do risco, inclusive para evitar questionamentos do resultado eleitoral em 2022", defende.

  • Mariana Schreiber - @marischreiber
  • Da BBC News Brasil em Brasília

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Maestro Forró & OPBH realizam ‘Live na Laje’, especial de pós Carnaval no domingo



Apresentação será da sede da orquestra, na Bomba do Hemetério.

O Maestro Forró e a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério (OPBH) promovem live de pós Carnaval neste domingo (21) às 17h. Intitulada ‘Live Na Laje’, a transmissão acontecerá diretamente da sede da orquestra e poderá ser acompanhada pelo YouTube.

Durante o evento, Forró recebe convidados especiais como o músico Cannibal, da Banda Devotos, além do maestro e bandolinista Marco César e a cantora Valéria Moraes, ambos  integrantes  do Coral Edgard Moraes.

O show contará com um repertório diversificado, que inclui canções dos álbuns de carreira da OPBH: ‘Jorrando Cultura’ e ‘#CabeçaNoMundo’. Este último trabalho, aliás, ganhou o Prêmio da Música Brasileira em 2013, na categoria regional.


“Nesse momento a gente não podia deixar de preparar uma live com muito amor para nossa comunidade, berço cultural, onde nascemos”, disse Forró. Ele também lembrou que os moradores do bairro sempre acompanharam as apresentações: “Quando nem sonhávamos com pandemia, nos ensaios na nossa laje já recebemos diversas estrelas nacionais e internacionais, e como a Bomba do Hemetério é uma comunidade rodeada de morros e altos, as pessoas ficavam nas suas casas de camarote cantando e dançando”, recordou.

E essa atmosfera que ele também pretende levar ao show online. “Essa é a ideia, uma live transmitida para o planeta, através do nosso YouTube, porém partindo dessa comunidade arretada”, destacou o Maestro Forró.

Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

A briga da Austrália com o Facebook que provocou 'apagão' de notícias na rede social

Mulher à sombra olha para o logotipo do Facebook A queda de braço entre o Facebook e o governo da Austrália em relação ao projeto de lei que obriga plataformas digitais a pagar por conteúdo jornalístico ganhou os holofotes no mundo todo. No capítulo mais recente do impasse, o Facebook reagiu à proposta bloqueando o conteúdo do seu feed de notícias no país — e os australianos acordaram nesta quinta-feira (18/2) com os sites de notícias locais e globais indisponíveis na rede social. A decisão do Facebook foi vista como arrogante e decepcionante pelo primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, que disse que seu governo não se intimidará. A primeira lei do mundo desse tipo tem como objetivo resolver a questão da perda de receita de publicidade dos veículos de imprensa para empresas de tecnologia americanas, a princípio Google e Facebook. Se aprovada, a nova legislação pode ter consequências globais para as empresas de tecnologia e a forma como acessamos notícias online. Como chegamos até aqui? Não é de hoje que há preocupações sobre o domínio de mercado das empresas de tecnologia sobre as organizações jornalísticas. O Google é o mecanismo de busca dominante na Austrália e foi descrito pelo governo como um serviço quase essencial, com pouca concorrência de mercado. E as redes sociais são uma fonte importante de notícias. De acordo com o Relatório de Notícias Digitais 2020 do Instituto Reuters, 52% dos australianos questionados em uma pesquisa usaram as redes sociais como fonte de notícias. O Facebook aparece em primeiro lugar, seguido pelo YouTube e Facebook Messenger. Em 2018, um órgão regulador do governo australiano abriu uma investigação sobre o impacto do Google e do Facebook na concorrência com empresas jornalísticas e na publicidade. A investigação da Comissão Australiana de Concorrência e Consumidores (ACCC, na sigla em inglês) encontrou um desequilíbrio de poder entre as empresas de tecnologia e a imprensa. Diante disso, o órgão regulador recomendou a introdução de um código de conduta que, segundo ele, nivelaria a situação. Em julho do ano passado, o governo australiano apresentou um projeto de lei para fazer cumprir o código, o que gerou ameaças por parte do Facebook e do Google de retirar seus serviços do país. O que diz o projeto de lei? O projeto de lei pede às empresas de tecnologia que paguem pelo conteúdo, embora não defina quanto ele vale. A lei permitiria que as empresas de notícias negociassem em bloco com as companhias de tecnologia o conteúdo que aparece em seus feeds de notícias e resultados de pesquisa. Se as negociações fracassassem, a questão poderia ser arbitrada pela Autoridade Australiana de Comunicação e Mídia. Logos do Google e Facebook CRÉDITO,GETTY IMAGES Legenda da foto, Inicialmente Facebook e Google se opuseram fortemente à lei de pagamento por notícias proposta pelo governo australiano As penalidades podem chegar a 10 milhões de dólares australianos (cerca de R$ 42 milhões) por violação, ou 10% do faturamento local da empresa. O governo diz que o código se concentrará inicialmente no Google e no Facebook, mas pode ser expandido para outras empresas de tecnologia. Por que a Austrália está promovendo essa lei? O governo argumenta que as gigantes da tecnologia deveriam pagar às redações uma quantia "justa" por seu jornalismo. Além disso, afirma que o apoio financeiro é necessário para a indústria de notícias australiana, uma vez que o fortalecimento da imprensa é vital para a democracia. As empresas jornalísticas, incluindo a News Corp Australia, que faz parte do conglomerado de mídia do magnata Rupert Murdoch, têm feito um forte lobby para que o governo obrigue a colocar as empresas de tecnologia na mesa de negociações em meio a um declínio de longo prazo na receita de publicidade. Mas a rede social comandada por Mark Zuckerberg argumenta que "a troca de valor entre o Facebook e os editores é a favor dos editores", de acordo com William Easton, gerente da plataforma para a Austrália e Nova Zelândia, e que gera centenas de milhões de dólares de receita para a imprensa. "Os editores optam por postar notícias no Facebook, já que isso permite a eles vender mais assinaturas, aumentar sua audiência e aumentar a receita de publicidade", acrescenta. Mas o órgão de fiscalização da concorrência da Austrália — citado pela agência de notícias AFP — diz que para cada US$ 100 gastos em publicidade online, o Google capta US$ 53, o Facebook leva US$ 28 e o resto é dividido entre os demais, tirando receita dos meios de comunicação. Enquanto isso, as receitas do Google aumentaram acentuadamente no mesmo período, chegando a mais de US$ 160 bilhões globalmente em 2019. A reação do Facebook Em repúdio à proposta, o Facebook anunciou que impediria os usuários australianos de compartilhar ou ver notícias. De acordo com a gigante da rede social, o projeto de lei "fundamentalmente interpreta mal a relação entre nossa plataforma e os editores". Logo do Facebook CRÉDITO,REUTERS Legenda da foto, Facebook diz que tomou a decisão 'com pesar no coração' O Facebook afirma ainda que a legislação deixou a empresa "diante de uma escolha difícil: tentar cumprir uma lei que ignora a realidade dessa relação ou parar de permitir conteúdo noticioso em nossos serviços na Austrália". "Com pesar no coração, estamos escolhendo a última", acrescentou. A proibição foi imposta com efeito imediato, e os usuários da rede social na Austrália acordaram sem conseguir acessar notícias na plataforma. Pessoas fora do país também não conseguem ler ou acessar nenhuma publicação de notícias australianas. Várias páginas de saúde e emergência do governo também chegaram a ser bloqueadas. Posteriormente, o Facebook afirmou que foi um erro — e muitas dessas páginas estão no ar novamente. Repercussão do bloqueio Em comunicado publicado no Facebook, o premier australiano, Scott Morrison, disse que grandes empresas de tecnologia podem estar mudando o mundo, mas isso não significa que devam administrá-lo. "As ações do Facebook para "desfazer a amizade" (unfriend) com a Austrália hoje, cortando serviços de informação essenciais sobre saúde e serviços de emergência, foram tão arrogantes quanto decepcionantes", escreveu. "Estou em contato regular com líderes de outras nações sobre essas questões. Simplesmente não seremos intimidados." Morrison fez um apelo ao Facebook para trabalhar de forma construtiva com o governo, "como o Google demonstrou recentemente de boa fé". O secretário do Tesouro do país, Josh Frydenberg, disse que a proibição de informações noticiosas teve um "enorme impacto na comunidade". Cerca de 17 milhões de australianos visitam a rede social todos os meses. Outras autoridades foram menos diplomáticas. O primeiro-ministro da Austrália Ocidental, Mark McGowan, acusou a empresa de "se comportar como um ditador norte-coreano". Outros sugeriram que o vácuo de notícias poderia ser preenchido por desinformação e teorias da conspiração. Em um tuíte, a editora Lisa Davies do jornal Sydney Morning Herald descreveu a reação do Facebook como uma "birra". Já a diretora da organização Human Rights Watch na Austrália afirmou que o Facebook está censurando o fluxo de informações no país — o que classificou como uma "reviravolta perigosa nos acontecimentos". "Cortar o acesso a informações vitais para um país inteiro na calada da noite é inconcebível", declarou Elaine Pearson. Enquanto isso, muitos cidadãos australianos estão irritados com a perda repentina de acesso a fontes confiáveis ​​e autorizadas de notícias. "Parece obviamente muito restritivo em relação ao que o Facebook permitirá que as pessoas façam no futuro, não apenas na Austrália, mas em todo o mundo", disse Peter Firth, que está em Sydney, à BBC. Amelia Marshall afirmou, por sua vez, que não conseguia acreditar na decisão da empresa "no meio de uma pandemia". "Tomei a decisão de excluir permanentemente minha conta do Facebook", acrescentou. Como o Google reagiu ao projeto de lei? O Google ameaçou inicialmente retirar seu mecanismo de busca da Austrália se a lei proposta for aprovada. Mas agora disse que concordava em pagar à News Corp de Murdoch pelo conteúdo de sites de notícias do seu conglomerado de mídia. Página de pesquisa do Google exibida em smartphone CRÉDITO,REUTERS Legenda da foto, Google acabou fechando acordo para remunerar conteúdo jornalístico na Austrália A News Corp afirmou, por sua vez, que compartilhará suas notícias em troca de "pagamentos significativos". Como parte do acordo de três anos, a News Corp anunciou que o grupo e o Google iriam desenvolver uma plataforma de assinaturas, dividir a receita de publicidade e investir em videojornalismo no YouTube. O Google também anunciou acordos com várias outras empresas de mídia australianas, incluindo um pagamento anual de 30 milhões de dólares australianos à Nine Entertainment. Não está claro que atitude o Google pretende tomar se a proposta de lei for aprovada. A lei australiana pode abrir um precedente global? Alguns políticos australianos e especialistas em mídia acreditam que sim. "Isso vai se espalhar pelo mundo todo. Vocês vão sair de todos os mercados, vão?", disse o senador australiano Rex Patrick ao Google. Diferentemente do Google e do Facebook, a Microsoft deu logo seu apoio ao projeto de lei. "O código tenta razoavelmente resolver o desequilíbrio do poder de barganha entre as plataformas digitais e as empresas de notícias australianas", declarou a companhia de software em fevereiro. Há também uma disputa diferente — mas semelhante — acontecendo na Europa. Uma nova regra polêmica da União Europeia sobre direitos autorais diz que os mecanismos de busca e agregadores de notícias deveriam pagar aos sites de notícias pelos links. Na França, editores fecharam recentemente um acordo com o Google sobre como isso deve funcionar. Mas apenas alguns desses acordos foram assinados com jornais franceses importantes ​​— o que torna muito diferente dos mais rígidos e abrangentes planos australianos. E tem havido outros pontos de tensão entre alguns países e grandes empresas de tecnologia, em que governos ou blocos como a União Europeia têm analisado a regulamentação das empresas em questão. A União Europeia está tentando combater o conteúdo ilegal e prejudicial em plataformas digitais e controlar o uso de dados dos usuários; enquanto nos EUA, representantes das gigantes de tecnologia foram ouvidos em audiência no Congresso no ano passado sobre sua posição dominante no mercado. Próximos passos O projeto de lei tem amplo apoio político e foi aprovado na quarta-feira (17/2) pela Câmara dos Representantes. A proposta segue agora para o Senado, que deve votá-la na semana que vem. Se for aprovado, o código deve ser revisado depois de um ano. Fonte:BBC Professor Edgar Bom Jardim - PE