sábado, 20 de fevereiro de 2021

Manter Daniel Silveira preso é freio a radicalismo bolsonarista, afirmam analistas


Daniel Silveira aparece falando no telão da Câmara
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Deputado federal Daniel Silveira aparece falando no telão da Câmara durante sessão em que colegas decidiram mantê-lo preso

A manutenção da prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ) pela Câmara dos Deputados nesta sexta-feira (19) terá o efeito de conter ataques à democracia, avaliam analistas políticos ouvidos pela BBC News Brasil.

O parlamentar foi preso por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) após divulgar um vídeo com exaltações à ditadura militar (1964-1985) e fortes críticas e ameaças a ministros da Corte.

Sua gravação repete discursos antidemocráticos que têm reverberado entre autoridades nos últimos anos, como a defesa do fechamento do STF e a exaltação do AI-5 (ato institucional de 1968 que aprofundou o autoritarismo da ditadura), sem que tenham gerado punições tão graves — o próprio presidente Jair Bolsonaro quando era deputado federal exaltou em 2016 um dos principais torturadores do regime militar, Carlos Ustra, durante votação do impeachment de Dilma Rousseff, mas o processo aberto contra ele por isso foi depois arquivado no Conselho de Ética da Câmara.

Já Silveira deve enfrentar um processo criminal no STF e uma representação no Conselho de Ética da Câmara, correndo o risco de perder seu mandato.

O parlamentar não recebeu nos últimos dias uma palavra sequer de apoio de Bolsonaro, que preferiu não se desgastar com os demais Poderes para defender o parlamentar de sua base.

Para o cientista político Antonio Lavareda, presidente do conselho científico do Instituto de Pesquisas Sociais Políticas e Econômicas (Ipespe), o abandono do deputado bolsonarista pelo presidente e a confirmação de sua prisão na Câmara refletem o novo momento do governo de aliança com o Centrão no Congresso, em que o Palácio do Planalto "busca governabilidade, não ruptura".

"Esse episódio (a prisão de Silveira) vai ter um importante efeito dissuasório sobre esses remanescentes do bolsonarismo radical antissistema. Esse bolsonarismo que se tornou obsoleto a partir da aliança com o Centrão", analisa.

"As pessoas (parlamentares com discurso radical) vão olhar a prisão de Silveira e vão pensar: 'primeiro, se eu exagerar, não vou ter o respaldo do Congresso, dos meus pares, e, segundo, não vou ter o apoio sequer do meu líder, o presidente'. É um efeito dissuasório poderoso", reforça Lavareda.

Três manifestantes em rua segurando cartaz em formato de coração dizendo 'Bolsonaro' e outro 'O STF precisa ser destituído'
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STF é alvo recorrente de manifestações bolsonaristas

Eleito presidente da Câmara no início de fevereiro com forte apoio do Palácio do Planalto, o líder do Centrão Arthur Lira (PP-AL) disse nesta sexta-feira que o episódio envolvendo Silveira é um "ponto de inflexão".

"Sou ferrenhamente defensor da inviolabilidade do exercício da atividade parlamentar. Mas, acima de todas as inviolabilidades, está a inviolabilidade da Democracia. Nenhuma inviolabilidade pode ser usada para violar a mais sagrada das inviolabilidades, a do regime democrático", discursou Lira na abertura da sessão que manteve a prisão.

"Esse episódio servirá também como um ponto de inflexão para o modo de comportamento e de convivência internos, que trarão de volta maior urbanidade, respeito e empoderamento do Conselho de Ética para que o ambiente da democracia nunca se contamine a ponto de se tornar tóxico", disse ainda o presidente da Câmara, em outro trecho de seu discurso.

Já Silveira, que teve direito a falar por transmissão online, adotou um tom bem mais comedido do que o habitual ao tentar convencer seus pares a derrubar a prisão. Ele se disse arrependido pela gravação e atribuiu sua fala a "um momento de emoção" e "muita raiva".

"Já disse desculpas ao povo brasileiro, pedi (desculpas) a todo Parlamento. Me equivoquei, me arrependi, portanto jamais gostaria de fazê-lo dessa maneira novamente. Serviu de amadurecimento", disse ainda.

'Manutenção da prisão é primeiro passo contra ameaças democráticas'

Bolsonaro discursa em ato em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília.
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Presidente Jair Bolsonaro discursou no ano passado em ato que pediu fechamento do Congresso e do STF

O cientista político e sócio da Tendências Rafael Cortez também vê na manutenção da prisão de Silveira um novo momento do governo Bolsonaro, menos conflituoso com os demais Poderes, a partir da aliança com o Centrão.

Ele ressalta que o momento é de queda da popularidade do presidente, em meio a problemas como falta de vacinas para conter a pandemia e a continuidade da crise econômica.

"Esse ambiente polarizado dificulta a construção de acordos. E se tem uma característica do chamado Centrão é a vocação para acordos. Até por conta da maleabilidade política dessas siglas, não são legendas que têm uma reputação consolidada junto ao eleitorado", nota Cortez.

"O próprio Arthur Lira quando publicamente se colocou como um nome do Centrão (para presidir a Câmara) fez a defesa dessa maleabilidade, dessa capacidade de adaptação desse grupo político para minimizar conflitos. E para quem opera com consensos, esse comportamento de atores associados à nova política (como Silveira), que é de ruptura institucional, ele se choca com o modus operandi desses atores políticos (do Centrão)", acrescenta.

Cortez considera a prisão de Silveira é "um primeiro passo importante" na contenção de discursos autoritários no país. Para ele, no entanto, não é algo suficiente para conter uma série de movimentos que estão fragilizando a democracia brasileira.

Nesse sentido, ele destaca a redução da confiabilidade no sistema eleitoral, que pode abrir espaços para questionamentos infundados do resultado da eleição de 2022 — algo que tem sido alimentado por falas do próprio presidente Bolsonaro, que, sem apresentar provas, diz que a urna eletrônica pode ser fraudada.

Outros pontos que despertam preocupação, segundo Cortez, é o aumento do acesso a armas promovido pelo governo Bolsonaro, assim como manifestações vindas de integrantes das Forças Armadas pressionando o Supremo Tribunal Federal, como ocorreu no julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2018.

"A prisão de um deputado, nas condições que foram desenhadas, referendada de forma unânime na Corte Suprema e respeitada pelos pares (mantida na Câmara), é por si só um sinal de contraposição a um discurso que corrói o jogo democrático", afirma.

"O problema é que não pode ser só uma decisão isolada. Tem que de fato ter um sistema de redução do risco, inclusive para evitar questionamentos do resultado eleitoral em 2022", defende.

  • Mariana Schreiber - @marischreiber
  • Da BBC News Brasil em Brasília

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Maestro Forró & OPBH realizam ‘Live na Laje’, especial de pós Carnaval no domingo



Apresentação será da sede da orquestra, na Bomba do Hemetério.

O Maestro Forró e a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério (OPBH) promovem live de pós Carnaval neste domingo (21) às 17h. Intitulada ‘Live Na Laje’, a transmissão acontecerá diretamente da sede da orquestra e poderá ser acompanhada pelo YouTube.

Durante o evento, Forró recebe convidados especiais como o músico Cannibal, da Banda Devotos, além do maestro e bandolinista Marco César e a cantora Valéria Moraes, ambos  integrantes  do Coral Edgard Moraes.

O show contará com um repertório diversificado, que inclui canções dos álbuns de carreira da OPBH: ‘Jorrando Cultura’ e ‘#CabeçaNoMundo’. Este último trabalho, aliás, ganhou o Prêmio da Música Brasileira em 2013, na categoria regional.


“Nesse momento a gente não podia deixar de preparar uma live com muito amor para nossa comunidade, berço cultural, onde nascemos”, disse Forró. Ele também lembrou que os moradores do bairro sempre acompanharam as apresentações: “Quando nem sonhávamos com pandemia, nos ensaios na nossa laje já recebemos diversas estrelas nacionais e internacionais, e como a Bomba do Hemetério é uma comunidade rodeada de morros e altos, as pessoas ficavam nas suas casas de camarote cantando e dançando”, recordou.

E essa atmosfera que ele também pretende levar ao show online. “Essa é a ideia, uma live transmitida para o planeta, através do nosso YouTube, porém partindo dessa comunidade arretada”, destacou o Maestro Forró.

Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

A briga da Austrália com o Facebook que provocou 'apagão' de notícias na rede social

Mulher à sombra olha para o logotipo do Facebook A queda de braço entre o Facebook e o governo da Austrália em relação ao projeto de lei que obriga plataformas digitais a pagar por conteúdo jornalístico ganhou os holofotes no mundo todo. No capítulo mais recente do impasse, o Facebook reagiu à proposta bloqueando o conteúdo do seu feed de notícias no país — e os australianos acordaram nesta quinta-feira (18/2) com os sites de notícias locais e globais indisponíveis na rede social. A decisão do Facebook foi vista como arrogante e decepcionante pelo primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, que disse que seu governo não se intimidará. A primeira lei do mundo desse tipo tem como objetivo resolver a questão da perda de receita de publicidade dos veículos de imprensa para empresas de tecnologia americanas, a princípio Google e Facebook. Se aprovada, a nova legislação pode ter consequências globais para as empresas de tecnologia e a forma como acessamos notícias online. Como chegamos até aqui? Não é de hoje que há preocupações sobre o domínio de mercado das empresas de tecnologia sobre as organizações jornalísticas. O Google é o mecanismo de busca dominante na Austrália e foi descrito pelo governo como um serviço quase essencial, com pouca concorrência de mercado. E as redes sociais são uma fonte importante de notícias. De acordo com o Relatório de Notícias Digitais 2020 do Instituto Reuters, 52% dos australianos questionados em uma pesquisa usaram as redes sociais como fonte de notícias. O Facebook aparece em primeiro lugar, seguido pelo YouTube e Facebook Messenger. Em 2018, um órgão regulador do governo australiano abriu uma investigação sobre o impacto do Google e do Facebook na concorrência com empresas jornalísticas e na publicidade. A investigação da Comissão Australiana de Concorrência e Consumidores (ACCC, na sigla em inglês) encontrou um desequilíbrio de poder entre as empresas de tecnologia e a imprensa. Diante disso, o órgão regulador recomendou a introdução de um código de conduta que, segundo ele, nivelaria a situação. Em julho do ano passado, o governo australiano apresentou um projeto de lei para fazer cumprir o código, o que gerou ameaças por parte do Facebook e do Google de retirar seus serviços do país. O que diz o projeto de lei? O projeto de lei pede às empresas de tecnologia que paguem pelo conteúdo, embora não defina quanto ele vale. A lei permitiria que as empresas de notícias negociassem em bloco com as companhias de tecnologia o conteúdo que aparece em seus feeds de notícias e resultados de pesquisa. Se as negociações fracassassem, a questão poderia ser arbitrada pela Autoridade Australiana de Comunicação e Mídia. Logos do Google e Facebook CRÉDITO,GETTY IMAGES Legenda da foto, Inicialmente Facebook e Google se opuseram fortemente à lei de pagamento por notícias proposta pelo governo australiano As penalidades podem chegar a 10 milhões de dólares australianos (cerca de R$ 42 milhões) por violação, ou 10% do faturamento local da empresa. O governo diz que o código se concentrará inicialmente no Google e no Facebook, mas pode ser expandido para outras empresas de tecnologia. Por que a Austrália está promovendo essa lei? O governo argumenta que as gigantes da tecnologia deveriam pagar às redações uma quantia "justa" por seu jornalismo. Além disso, afirma que o apoio financeiro é necessário para a indústria de notícias australiana, uma vez que o fortalecimento da imprensa é vital para a democracia. As empresas jornalísticas, incluindo a News Corp Australia, que faz parte do conglomerado de mídia do magnata Rupert Murdoch, têm feito um forte lobby para que o governo obrigue a colocar as empresas de tecnologia na mesa de negociações em meio a um declínio de longo prazo na receita de publicidade. Mas a rede social comandada por Mark Zuckerberg argumenta que "a troca de valor entre o Facebook e os editores é a favor dos editores", de acordo com William Easton, gerente da plataforma para a Austrália e Nova Zelândia, e que gera centenas de milhões de dólares de receita para a imprensa. "Os editores optam por postar notícias no Facebook, já que isso permite a eles vender mais assinaturas, aumentar sua audiência e aumentar a receita de publicidade", acrescenta. Mas o órgão de fiscalização da concorrência da Austrália — citado pela agência de notícias AFP — diz que para cada US$ 100 gastos em publicidade online, o Google capta US$ 53, o Facebook leva US$ 28 e o resto é dividido entre os demais, tirando receita dos meios de comunicação. Enquanto isso, as receitas do Google aumentaram acentuadamente no mesmo período, chegando a mais de US$ 160 bilhões globalmente em 2019. A reação do Facebook Em repúdio à proposta, o Facebook anunciou que impediria os usuários australianos de compartilhar ou ver notícias. De acordo com a gigante da rede social, o projeto de lei "fundamentalmente interpreta mal a relação entre nossa plataforma e os editores". Logo do Facebook CRÉDITO,REUTERS Legenda da foto, Facebook diz que tomou a decisão 'com pesar no coração' O Facebook afirma ainda que a legislação deixou a empresa "diante de uma escolha difícil: tentar cumprir uma lei que ignora a realidade dessa relação ou parar de permitir conteúdo noticioso em nossos serviços na Austrália". "Com pesar no coração, estamos escolhendo a última", acrescentou. A proibição foi imposta com efeito imediato, e os usuários da rede social na Austrália acordaram sem conseguir acessar notícias na plataforma. Pessoas fora do país também não conseguem ler ou acessar nenhuma publicação de notícias australianas. Várias páginas de saúde e emergência do governo também chegaram a ser bloqueadas. Posteriormente, o Facebook afirmou que foi um erro — e muitas dessas páginas estão no ar novamente. Repercussão do bloqueio Em comunicado publicado no Facebook, o premier australiano, Scott Morrison, disse que grandes empresas de tecnologia podem estar mudando o mundo, mas isso não significa que devam administrá-lo. "As ações do Facebook para "desfazer a amizade" (unfriend) com a Austrália hoje, cortando serviços de informação essenciais sobre saúde e serviços de emergência, foram tão arrogantes quanto decepcionantes", escreveu. "Estou em contato regular com líderes de outras nações sobre essas questões. Simplesmente não seremos intimidados." Morrison fez um apelo ao Facebook para trabalhar de forma construtiva com o governo, "como o Google demonstrou recentemente de boa fé". O secretário do Tesouro do país, Josh Frydenberg, disse que a proibição de informações noticiosas teve um "enorme impacto na comunidade". Cerca de 17 milhões de australianos visitam a rede social todos os meses. Outras autoridades foram menos diplomáticas. O primeiro-ministro da Austrália Ocidental, Mark McGowan, acusou a empresa de "se comportar como um ditador norte-coreano". Outros sugeriram que o vácuo de notícias poderia ser preenchido por desinformação e teorias da conspiração. Em um tuíte, a editora Lisa Davies do jornal Sydney Morning Herald descreveu a reação do Facebook como uma "birra". Já a diretora da organização Human Rights Watch na Austrália afirmou que o Facebook está censurando o fluxo de informações no país — o que classificou como uma "reviravolta perigosa nos acontecimentos". "Cortar o acesso a informações vitais para um país inteiro na calada da noite é inconcebível", declarou Elaine Pearson. Enquanto isso, muitos cidadãos australianos estão irritados com a perda repentina de acesso a fontes confiáveis ​​e autorizadas de notícias. "Parece obviamente muito restritivo em relação ao que o Facebook permitirá que as pessoas façam no futuro, não apenas na Austrália, mas em todo o mundo", disse Peter Firth, que está em Sydney, à BBC. Amelia Marshall afirmou, por sua vez, que não conseguia acreditar na decisão da empresa "no meio de uma pandemia". "Tomei a decisão de excluir permanentemente minha conta do Facebook", acrescentou. Como o Google reagiu ao projeto de lei? O Google ameaçou inicialmente retirar seu mecanismo de busca da Austrália se a lei proposta for aprovada. Mas agora disse que concordava em pagar à News Corp de Murdoch pelo conteúdo de sites de notícias do seu conglomerado de mídia. Página de pesquisa do Google exibida em smartphone CRÉDITO,REUTERS Legenda da foto, Google acabou fechando acordo para remunerar conteúdo jornalístico na Austrália A News Corp afirmou, por sua vez, que compartilhará suas notícias em troca de "pagamentos significativos". Como parte do acordo de três anos, a News Corp anunciou que o grupo e o Google iriam desenvolver uma plataforma de assinaturas, dividir a receita de publicidade e investir em videojornalismo no YouTube. O Google também anunciou acordos com várias outras empresas de mídia australianas, incluindo um pagamento anual de 30 milhões de dólares australianos à Nine Entertainment. Não está claro que atitude o Google pretende tomar se a proposta de lei for aprovada. A lei australiana pode abrir um precedente global? Alguns políticos australianos e especialistas em mídia acreditam que sim. "Isso vai se espalhar pelo mundo todo. Vocês vão sair de todos os mercados, vão?", disse o senador australiano Rex Patrick ao Google. Diferentemente do Google e do Facebook, a Microsoft deu logo seu apoio ao projeto de lei. "O código tenta razoavelmente resolver o desequilíbrio do poder de barganha entre as plataformas digitais e as empresas de notícias australianas", declarou a companhia de software em fevereiro. Há também uma disputa diferente — mas semelhante — acontecendo na Europa. Uma nova regra polêmica da União Europeia sobre direitos autorais diz que os mecanismos de busca e agregadores de notícias deveriam pagar aos sites de notícias pelos links. Na França, editores fecharam recentemente um acordo com o Google sobre como isso deve funcionar. Mas apenas alguns desses acordos foram assinados com jornais franceses importantes ​​— o que torna muito diferente dos mais rígidos e abrangentes planos australianos. E tem havido outros pontos de tensão entre alguns países e grandes empresas de tecnologia, em que governos ou blocos como a União Europeia têm analisado a regulamentação das empresas em questão. A União Europeia está tentando combater o conteúdo ilegal e prejudicial em plataformas digitais e controlar o uso de dados dos usuários; enquanto nos EUA, representantes das gigantes de tecnologia foram ouvidos em audiência no Congresso no ano passado sobre sua posição dominante no mercado. Próximos passos O projeto de lei tem amplo apoio político e foi aprovado na quarta-feira (17/2) pela Câmara dos Representantes. A proposta segue agora para o Senado, que deve votá-la na semana que vem. Se for aprovado, o código deve ser revisado depois de um ano. Fonte:BBC Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Daniel Silveira espalhou fake news sobre covid-19 e hostilizou policial que pediu máscara



Deputado Daniel Silveira
Legenda da foto,

Deputado Daniel Silveira foi preso nesta terça (16) após ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal

Os seguidores do deputado Daniel Silveira nas redes sociais receberam uma enxurrada de desinformação e notícias fora de contexto sobre a pandemia de covid-19 no último ano.

Preso em flagrante na noite desta terça (16/2) a mando do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes após ataques feitos a ministros da corte, o deputado federal do Rio já disse que "a covid-19 idiotiza as pessoas", chamou a pandemia de "fraudemia", contestou a eficácia e segurança da vacinação e defendeu o tratamento precoce com medicamento comprovadamente ineficaz para a doença.

O Twitter chegou a colocar a marcação de "publicação de informações enganosas e potencialmente prejudiciais relacionadas à COVID-19" em ao menos uma postagem antiga sua.

A assessoria de imprensa do deputado disse, por WhatsApp, que seus questionamentos são baseados em opiniões médicas e científicas, citando "o bombardeio de informações midiáticas que utilizam o medo como ferramenta de controle social" (leia mais abaixo).


Em janeiro, Silveira recusou-se a usar máscara em um voo, alegando que tinha dispensa médica para não usá-la, e foi retirado do avião. Agora, um vídeo que circula nesta quarta (17/2) mostra como ele também se recusou a usar máscara no Instituto Médico Legal no Rio, hostilizando uma servidora que pediu que ele a vestisse. "Se a senhora falar mais uma vez, eu não boto. Me respeita que você não está falando com um vagabundo, não. A senhora é policial, e daí? Eu também sou polícia e deputado federal", disse, antes de finalmente colocar a máscara, uma das formas de reduzir a transmissão de coronavírus.

Silveira tem 123, 9 mil seguidores no Twitter, 144 mil seguidores no Facebook e 138 mil no Instagram.

Há dois dias, o deputado publicou um vídeo no Instagram com o título "Covid-19: A Fraudemia", com um palestrante questionando a eficácia do confinamento, medida mais drástica de distanciamento físico adotada por países no mundo inteiro para diminuir casos de infecção por coronavírus. Dezenas de estudos científicos apontam que, dependendo da adesão popular em cada país, medidas de distanciamento são eficazes para reduzir de forma emergencial o número de infectados, ao lado da testagem em massa ou rastreamento de contatos.

Nesta terça (15), Silveira publicou no Facebook um vídeo que mostra uma paciente de covid-19 recebendo alta e uma profissional de saúde dizendo que a hidroxicloroquina é utilizada no hospital. A insinuação é de que a paciente se curou por causa do medicamento, fazendo com que, nos comentários do vídeo, seus seguidores defendessem o "tratamento precoce" com esse medicamento. Estudos robustos já demonstraram que a hidroxicloroquina não tem efeito para a covid-19 e pode ter efeitos colaterais. O medicamento tampouco mostrou efeito na prevenção da covid-19, levando uma médica consultada pela BBC News Brasil a apontar que "ciência mostrou que ele não funciona".

Atribuir a sobrevivência de um paciente ao uso desta medicação sem um estudo científico robusto se trata de uma evidência anedótica, sem valor científico, apontam especialistas.

Essas publicações de Daniel Silveira são apenas exemplos desta semana.

"Alguém tossia, eu respirava"

Antes disso, no ano passado, o deputado afirmou que a covid-19 "idiotiza as pessoas". Quando ele mesmo contraiu o coronavírus, explicou em um vídeo que se referia não aos pacientes de covid-19, mas sim à pandemia em geral: "Idiotizou as pessoas em massa".

Deputado Daniel Silveira
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Deputado federal disse que "a covid-19 idiotiza as pessoas"

Além disso, afirmou ter tentado contrair o vírus propositalmente. "Alguém tossia perto de mim, eu respirava. Queria logo adquirir essa porcaria para demonstrar que era mais um vírus da família da gripe, uma gripe viral. Como diz o presidente Bolsonaro, é mais uma gripezinha aí", disse em um vídeo publicado no dia 8 de junho de 2020.

A covid-19 tirou a vida de 240,9 mil brasileiros até a última terça-feira (16/2), de acordo com as estatísticas oficiais.

Mas, segundo suas publicações, Silveira não acredita nisso. Para ele, "com o passar do tempo, a verdade a respeito desta pandemia surgirá". "Mortes que não foram por covid-19 aparecerão", afirmou ao jornal Folha de S.Paulo no ano passado.

Silveira é contrário à vacinação obrigatória, que chegou a ser defendida pelo governador de São Paulo, João Doria. Mas também já demonstrou ser contrário à vacina em si.

Em 22 de dezembro de 2020, escreveu no Twitter que não tomaria "vacina alguma" e que "em nenhuma hipótese" suas filhas a tomariam.

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Naquele mês, também escreveu que, caso a vacina contra a covid-19 tenha sido elaborada agora, "estão cometendo um crime por tentar impô-la sem devidos testes de segurança necessários". Se não foi elaborada agora, "mas vem sendo testada há mais de cinco anos, cometeram um crime de guerra biológica em escala mundial", escreveu, adotando um discurso considerado conspiratório e bastante usado por pessoas que tentam minar a credibilidade das vacinas.

No fim de janeiro, publicou um texto no Twitter destacando que 6,6% das pessoas que haviam tomado a vacina da Pfizer, em Israel, tinham sido contaminadas com o coronavírus. O próprio texto publicado por ele diz que "a maioria dos infectados havia contraído o vírus logo após receber a primeira dose da vacina". "A explicação apresentada é que a inoculação ainda não havia surtido efeito."

Na época, o médico israelense Nachman Ash, responsável pela resposta de Israel ao coronavírus, afirmou que doses únicas da vacina da Pfizer não davam tanta proteção contra a doença como se imaginava. Mas o Ministério da Saúde de Israel o corrigiu, dizendo que "o impacto de proteção total" da vacina ainda seria observado, e que seus comentários tinham sido feitos fora de contexto e que, portanto, eram errôneos. De acordo com a própria Pfizer, uma única dose de sua vacina é cerca de 52% eficaz.

A explicação é de que, depois da vacinação, o corpo precisa de tempo para reconhecer o material genético do vírus e criar uma resposta imune, produzindo anticorpos e células T contra o vírus. Cientistas dizem que esse processo leva no mínimo duas semanas, talvez mais. Ou seja, a resposta não é imediata. Portanto, ter recebido a primeira dose da vacina e ter se infectado com o vírus não significa que a vacina não seja eficaz.

O país, que aplicou o maior número de doses per capita no mundo, é o principal exemplo de como a vacinação em massa reduz as infecções sintomáticas de coronavírus, segundo dados divulgados no fim de semana pelo maior grupo de saúde de Israel, Clalit. A empresa analisou 600 mil pessoas vacinadas e 600 mil pessoas não vacinadas no país, coordenando idade e estado de saúde em cada grupo. O estudo, cujos dados finais ainda não foram publicados, encontrou 94% menos infecções por coronavírus entre o grupo vacinado. Além disso, as duas doses da vacina preveniram quase todos os casos de doenças graves.

A assessoria de imprensa de Silveira declarou que o deputado tem uma dispensa médica para não utilizar máscaras. Questionada, não informou qual é a justificativa médica. Afirmou que a declaração de Silveira sobre a covid-19 "idiotizar" pessoas "se refere ao bombardeio de informações midiáticas que utilizam o medo como ferramenta de controle social". Sobre o confinamento, afirmou: "Lockdown não funcionou em lugar nenhum e não é ciência. É defendido apenas por uma parte de médicos e cientistas que atendem o protocolo global, e o fato de somente essa corrente ter espaço midiático, vende-se a ideia de que eles são a maioria e de que existe consenso. Uma mentira!"

A assessoria do deputado também disse que o questionamento à eficácia de vacinas é baseado em opiniões médicas e científicas "que afirmam e provam que etapas nos testes foram comprimidas e até ignoradas". O chamado "tratamento precoce", disse a assessoria, "salva vidas" e "milhares" de médicos no Brasil o defendem "pautados em estudos relevantes e significativos".

  • Juliana Gragnani
  • Da BBC News Brasil em Londres
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Museu de Bom Jardim recebe doações




As primeiras doações recebidas para o acervo do Museu de Bom Jardim foram: escultura, livros, objetos de época(antiguidade) e artesanato.

O artista plástico e artesão Marcos Ferreira da Silva fez a doação da escultura pássaro preto; O jornalista Jacson Lucena Souto Maior doou 5 volumes do livros de sua autoria intitulado "O  Teatro na Terra da Música", uma réplica do jornal Diário de Pernambuco, edição 1 de 1825 , o Jornal o Literário, edição 2 de 1936,  cópias xerox de cartazes de jornais locais, fragmentos de matérias jornalísticas e  cópias de cartazes de anúncios de espetáculo de teatro; O teólogo José Célio doou uma concha de pau antiga e uma máquina furadeira manual de ferro importada. As artesãs Maria José, Ivanilda Oliveira e Maria Cabral doaram bonecas de tecido e buchas.

Aos poucos as doações serão incorporadas às exposições temáticas do espaço cultural. É também missão do museu salvaguardar, preservar, difundir nossa história , cultura e patrimônio. O Museu é um equipamento cultural particular que visa a prestar serviços a toda comunidade, valorizar a arte,  contribuir para o desenvolvimento da educação e a paz social.

Por Edgar S. Santos - Museu de Bom Jardim.
Foto: Acervo Museu de Bom Jardim
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Ensino diferenciado: Estudantes do Travessia visitam 2ª Bienal Bom Jardim Arte




Dentre as celebridades que visitaram a  2ª BJ ARTE no Museu de Bom Jardim, realizada no período de 25 de janeiro a 11 de fevereiro 2021, destacamos os estudantes do Travessia da Escola Estadual Raimundo Honório e podemos afirmar que para esses alunos a visita ao Museu de Bom Jardim foi memorável.

A maioria dos estudantes da turma concluinte do curso nunca tiveram a oportunidade de conhecer um museu. Durante a visita, a professora Ieda de Fátima e o coordenador Edgar Santos fizeram mediação nas falas e explicações ao lado de Alexandre Agnaldo, estudante universitário que atuou na mostra como monitor do museu.

Após a visita, a professora Ieda de Fátima fez um debate sobre as aprendizagens vivenciadas na excursão. Os estudantes farão um relatório escrito. 

"Ao meu ver a turma ficou encantada, puderam resgatar um pouco da história da nossa cidade", declarou Ieda.

Leia Também: http://professoredgarbomjardim-pe.blogspot.com/2021/02/ainda-ha-tempo-para-visitar-bienal-de.html



Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Carnaval 2021: VIII Encontro de Burrinhas, Caboclinhos, Catirinas e Maracatus de Pernambuco mobilizou a cultura popular de Bom Jardim.




Seguindo as devidas recomendações das autoridades de saúde diante da pandemia de coronavírus, o Museu de Bom Jardim realizou nesta terça-feira, 17 de fevereiro de 2021, o  VIII Encontro de Burrinhas, Caboclinhos, Catirinas e Maracatus de Pernambuco, por meio de apresentações culturais simbólicas no espaço interno de sua sede localizada no centro da cidade de Bom Jardim.

As  breves apresentações culturais foram gravadas e editadas  para exibição nas plataformas digitais. A parceria foi firmada entre o Museu de Bom Jardim, O Grupo Cultural Burrinhas da Chã de Cícero, O Grupo Cultural Caboclinhos da Espera, Yonne lopes CIA de de Ballet e Everson Antônio do Grupo de Dança Evolução , ambos ex-integrantes do Balé Popular .

A ação cultural foi combinada no espírito da Lei Aldir Blanc, uma vez que havia um acordo entre as instituições e pessoas envolvidas no sentido de beneficiar o público e realizar esta primeira etapa do  VIII Encontro de Burrinhas, Caboclinhos, Catirinas e Maracatus de Pernambuco. O projeto segue para um segundo momento conforme vacinação e incentivos culturais das instituições públicas e patrocinadores.

Acesse mais sobre o evento no canal Museu de Bom Jardim no YouTube    ( https://www.youtube.com/results?search_query=museu+de+bom+jardim  )  no Facebook emhttps://www.facebook.com/museudebomjardimpe no Instagram: @museudebomjardimpe  

Professor Edgar Bom Jardim - PE


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

EVANGÉLICOS ESTÃO TOMANDO O LUGAR DOS CATÓLICOS NO MST DO RIO


Apesar da ligação histórica com o movimento, agora a Igreja Católica perde espaço no maior assentamento do Rio de Janeiro.


A APOSENTADA ZULMIRA CUNHA, 76 anos, se cansou da Igreja Católica. Assim como outras mulheres que vivem no assentamento Zumbi dos Palmares, em Campos dos Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro, ela não se identificava com os padres católicos, jovens e sem experiência conjugal. Acabou se convertendo à Assembleia de Deus. Na ocupação do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, o MST, onde vivem mais de 500 famílias desde o fim dos anos 1990, a expansão do neopentecostalismo é gigantesca. Nos cinco núcleos do assentamento, há 12 templos e comunidades religiosas, 11 deles evangélicos. A Assembleia de Deus tem sete, a Igreja Universal do Reino de Deus, dois. A Igreja Católica, que outrora era dominante entre os assentados, resiste em uma única capela.

Maior assentamento do estado do Rio de Janeiro e quarto maior do país, o Zumbi dos Palmares viu o número de evangélicos assentados crescer cerca de dez vezes na última década. Eram meros 7% em 1999 – dois anos após a ocupação da área. Na época, 86% dos assentados se diziam católicos e 3% adeptos de religiões de matriz africana. Hoje, são 72% evangélicos, e apenas 15% são católicos. O número de seguidores de religiões afro não se alterou, enquanto o de evangélicos explodiu.

Os dados são da pesquisa “Pentecostalização Assentada no Assentamento Zumbi dos Palmares”, realizada pelo teólogo Fábio Py e o geógrafo Marcos Pedlowski, ambos professores do programa de pós-graduação em Políticas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense, a Uenf. O estudo, que levou três anos, acaba de ser publicado na revista acadêmica Perspectiva Teológica, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte.

“É impressionante a quantidade de evangélicos nos assentamentos no Brasil e em movimentos como o MST e também o MTST [Movimento dos Trabalhadores Sem Teto]. Chama a atenção a quantidade de lideranças evangélicas que estão sendo construídas. E com uma atuação bastante relevante das mulheres”, constata Py, doutor em teologia. “Não são mais católicos, como eram no começo, são pentecostais. É uma outra linguagem que está se construindo nessas periferias rurais, nos assentamentos.”.

No assentamento, resistem cerca de 20 pessoas, em média, nas celebrações da Igreja Católica. Um dos espaços de oração dos católicos acabou fechado nos últimos anos por falta de público e de padre. Zulmira, fiel católica no início da ocupação, lembra, “com todo o respeito”, que era atendida por um padre “menino de 20, 30 anos, que tinha acabado de sair do seminário, não entendendo nada do que a vida tem”. Segundo ela, o padre “não sabe o que é criar filhos, netos, muito menos o que é se deitar todos os dias com a mesma pessoa trabalhando na roça”, disse ela ao pesquisador, em entrevista mencionada no estudo.

A falta de sintonia dos padres com a comunidade era evidente, segundo relatos. Em dezembro de 2017, numa celebração de fim de ano, um padre de 27 anos, que não visitava o assentamento havia dois anos, chegou ao local trajando uma vestimenta usada por jesuítas, com gola clerical e outros adornos. Estava ainda cercado por 20 seminaristas, todos jovens, que faziam uma barreira entre ele e o povo. Questionado por um outro religioso sobre a roupa, que não seria adequada para o local, o padre disse não haver “nada mais santo do que a roupa jesuítica”.

As mulheres do assentamento preferem conversar com os pastores, em vez dos padres, por achar que eles – que podem se casar –, entendem melhor os seus problemas. “Ao contrário do padre, que não pode se casar, namorar, pelo menos o pastor sabe da vida de casado”, disse Zulmira. “A vida na roça e de casa é muito dura para chegar uma vez no mês e escutar o padre falar sobre um monte de gente, histórias, estudos, e não falar nada para mim, nada da vida aqui. Ainda por cima, passa um monte de reza nas confissões”, desabafou.

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Assembleia de Deus é a igreja mais presente no assentamento: são sete templos. 

Foto: Arquivo Pessoal/Fábio Py

A CPT perde espaço

O assentamento Zumbi dos Palmares tem uma área de 8.500 hectares – o equivalente a 8,5 mil Maracanãs – que pertencia a uma antiga e falida usina de cana-de-açúcar, a São João, abandonada desde a década de 1980. Campos de Goytacazes viveu o apogeu da lavoura canavieira no país no início do século 20. Décadas depois, o setor enfrentou uma grave crise. As usinas faliram por conta dos cortes dos subsídios do governo federal para a produção de cana e álcool, e os trabalhadores rurais da região ficaram desempregados.

Formado por nove fazendas, o latifúndio da usina São João foi ocupado por 559 famílias, inicialmente, em abril de 1997. Entre os assentados, havia trabalhadores da usina e moradores de favelas de Campos e cidades vizinhas, como Macaé e São Francisco de Itabapoana, recrutados por líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e Comissão Pastoral da Terra, a CPT, órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e vinculado à Comissão Episcopal para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz.

Seis meses depois da ocupação, a área foi desapropriada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. No mesmo ano, houve a emissão de posse pelo Incra. No momento, estão lá 506 famílias. Onde só se plantava cana-de-açúcar, há agora o cultivo de frutas, legumes e hortaliças, além da produção de ovos, que geram renda para os assentados.

Pastores ‘fizeram um trabalho mais intenso no dia a dia junto às pessoas’.

Embora sem o apoio oficial da diocese de Campos dos Goytacazes – tradicionalmente ligada à ala conservadora católica –, membros da CPT sempre tiveram fortes vínculos com o assentamento Zumbi dos Palmares. Participaram ativamente de sua organização, incentivaram encontros em missas mensais, ajudaram na formação política dos cortadores de cana e de outros trabalhadores rurais sem terra e implantaram no local projetos como o Movimento Fé e Cidadania, Movimento pela Educação no Campo, escolinhas de agroecologia e de estudos bíblicos (ligados à leitura popular da Bíblia), além de ações de erradicação de trabalho escravo e o acompanhamento de comunidades quilombolas.

O órgão católico também ajudou a manter um ambulatório médico no acampamento. Entre outras atividades, seus agentes ensinaram os moradores a manejar uma horta com plantas medicinais. “Os padres atuaram e ajudaram muito mais o movimento na luta pela terra do que os pastores. Estiveram mais presentes. Não lembro de pastores contribuindo nas ações. Apenas um no assentamento tem proximidade com o movimento”, diz Alcimaro Martins, agente da CPT, trabalhador rural e assentado no Zumbi dos Palmares.

Ex-seminarista, ele observa, no entanto, que os pastores “fizeram um trabalho mais intenso no dia a dia junto às pessoas, formando uma nova comunidade no assentamento”. Embora seja presidida por um bispo católico, a CPT tem caráter ecumênico, ou seja, é composta por pessoas de diferentes religiões. Mantém em seus quadros membros de outras igrejas protestantes, por exemplo.

A proximidade, no entanto, não foi suficiente para frear a expansão neopentecostal.

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Igreja Católica ajudou a estruturar o espaço onde hoje são cultivados legumes, frutas e hortaliças. Hoje, sua presença minguou. Fotos: Arquivo Pessoal/Fábio Py

Uma nova comunidade

O MST disse não haver comprovação de que evangélicos são maioria em seus assentamentos pelo Brasil, porque não há um levantamento nacional sobre o tema. Nelson Freitas, membro da direção nacional do movimento e ex-integrante da Pastoral Operária Católica, reconheceu, no entanto, que os pentecostais são maioria hoje nos assentamentos no Rio de Janeiro. Disse acreditar que eles representam “uns 80%” dos assentados. Ressalta, porém, que é importante separar quem é da direção, as lideranças e a base do movimento. “A pessoa pode ser de uma religião evangélica, mas o seu comportamento político ser bem diferente daquele da igreja. O MST, nos assentamentos, mantém em prática a sua linha de ação e as suas diretrizes”, observa.

A mudança no perfil religioso dentro do assentamento do MST adianta a tendência do restante do país. De acordo com o último Censo do IBGE, em 2010, católicos somam 64,6% da população brasileira contra 22,2% dos evangélicos. Pesquisador da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, José Eustáquio Alves prevê que, em dois anos, os católicos estarão abaixo dos 50% pela primeira vez no país. Até 2040, a expectativa é que os evangélicos assumam a dianteira.

O teólogo Fábio Py, protestante de origem luterana e batista e que também presta assessoria à CPT, contou ter ouvido de um líder do MST em 2015 que 40% dos integrantes do movimento eram evangélicos. Em visitas depois a assentamentos, no entanto, constatou que o número era muito maior. Um exemplo: entre as 12 integrantes do coletivo de mulheres do Zumbi de Palmares, atualmente, 80% são evangélicas.

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Evangélicos são mais dinâmicos: alugam, abrem a igreja e, se não der muito certo, fecham e partem para outra.

 

Foto: Arquivo Pessoal/Fábio Py

Práticas de gabinete

O dirigente dos sem terra Nelson Freitas explica que o público do MST mudou muito nos últimos anos. Com o avanço do agronegócio, diminuiu, segundo ele, o número do trabalhador rural nato, aquele que vivia só no campo. “No Rio, onde a gente busca o público para as ocupações? Estão nas chamadas periferias, nos arredores das cidades grandes e médias. E uma das poucas organizações da qual esse público participa é a igreja. E hoje, qual é a igreja? É a evangélica”, responde.

Para ele, o fato de a Igreja Católica ter diminuído a força das comunidades eclesiais de base, as CEBs, e contido o avanço da Teologia da Libertação no Brasil acabou afastando grande parte dos militantes católicos das ações sociais na periferia. Esse vácuo foi ocupado pelos evangélicos, avalia. “Outra questão é que começamos a nos preocupar com a construção de um partido político nosso. Na medida que elegíamos alguém para o Legislativo, era uma vitória, mas arrastávamos para os gabinetes de vereador e deputado aquela pessoa que estava na rua no dia a dia fazendo um trabalho. Hoje, muitas dessas pessoas têm uma política bem intencionada, mas não têm vínculo com o povo. Têm práticas de gabinete”, detecta.

Para o padre e teólogo Manoel Godoy, professor da Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte e do Centro Bíblico Teológico Pastoral do Conselho Episcopal Latino-Americano, a Igreja Católica precisa se adequar à celeridade da vida urbana. Ex-assessor da CNBB, Godoy vê lentidão do catolicismo para responder às necessidades da população. “A demora para construção de um templo católico é tão cultural que, quando algo tarda muito, é costume dizer: ‘parece obra da igreja’. Alugar um salão para o funcionamento de uma comunidade católica não está nos planos da instituição. Ela sempre vai atrás de compra de terreno e construção. Os evangélicos não têm essa dificuldade. Alugam, abrem a igreja e, se não der muito certo, fecham e partem para outra. Isso não é da cultura da instituição católica”, observa.

Outro obstáculo, segundo Godoy, é a demora na formação de um líder na Igreja Católica, além da centralização exacerbada da evangelização nas mãos do clero. “Os inúmeros leigos e leigas que participam das comunidades católicas são muito passivos e dependentes do clero. Não agem com autonomia, nada decidem. Tudo se concentra nas mãos do clero. Desta forma, fica muito difícil a multiplicação de centros comunitários”.

Evangélicos ganharam mais força com os militares: era uma maneira de resistir à militância católica de esquerda.

Ele sugere medidas urgentes a serem tomadas pelas lideranças católicas, como a “celeridade na formação de lideranças, a flexibilização na lei do celibato, um melhor aproveitamento dos leigos e leigas que já participam da vida da igreja e a valorização maior sobretudo das mulheres”. Propõe ainda um resgate dos padres casados, “que são bem formados e capacitados para o exercício do ministério”. E acrescenta: “Ficar fixado num modelo único de padre é perder o bonde da história. Faz-se necessário criar novos modelos do exercício do ministério: casados, padres de equipes pastorais e ordenação de mulheres”.

O padre Godoy lembra que, desde a década de 1960, com o surgimento dos primeiros pastores televisivos, como Rex Humbard e Billy Graham, a pregação neopentecostal com base na teologia da prosperidade ganhou terreno no país, principalmente no rádio e televisão. “Com os militares, os evangélicos ganharam mais força, pois eles perceberam que seria uma maneira prática e barata de enfrentar a militância católica que se alinhava mais com as teses da esquerda, por meio das CEBs e da Teologia da Libertação”, afirma.

Godoy concorda que o avanço das igrejas pentecostais e neopentecostais “é um fenômeno nacional”, com crescimento vertiginoso nas periferias e favelas. “Um nordestino que chegava ao Rio de Janeiro subia o morro como Severino e descia como pastor, com a Bíblia debaixo do braço. Já se disse que era uma forma de sobreviver numa situação adversa e hostil. O terno e a Bíblia lhe conferiam uma certa autoridade”, afirma.

O ex-assessor da CNBB diz que, em regiões como a periferia de Belo Horizonte, onde atua, o crescimento evangélico é de tal magnitude que “o católico passou a ser identificado com características bem demarcadas: classe média e alta, escolarização superior, idade mais avançada e residentes de bairros mais nobres da capital”. Em Campos dos Goytacazes, a população católica hoje também está nas áreas nobres e centrais da cidade, enquanto os pentecostais predominam em assentamentos e nos bairros periféricos.

O papa Francisco terá muito trabalho para tentar reverter esse quadro.

Gilberto Nascimento
theintercept.com/
Professor Edgar Bom Jardim - PE