quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Pesquisadores acham plástico dentro de 98% dos peixes analisados em estudo na Amazônia


Partículas de plástico encontradas em peixes que vivem em nascentes e riachos amazônicosDireito de imagemLABECO/UFPA
Image captionPartículas de plástico encontradas em peixes que vivem em nascentes e riachos amazônicos

Um estudo realizado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) encontrou, em média, seis pedaços de plástico dentro do corpo de 98% dos peixes coletados por um grupo de pesquisadores em nascentes e riachos da Amazônia.

Ao todo, foram encontradas 383 partículas plásticas, sendo 201 no trato gastrointestinal e 182 em brânquias (órgão respiratório de animais aquáticos, também conhecido como guelras) de 67 dos 68 peixes analisados pelo grupo de pesquisa do Laboratório de Ecologia e Conservação (Labeco), da UFPA.

Pesquisadores afirmam que a ingestão de plástico pode provocar mortandade desses peixes ou afetar a reprodução deles e levar ao desequilíbrio da cadeia alimentar; ou mesmo que esse material sintético pode, em última análise, parar no corpo humano.

Esse tipo de poluição dá sinais de estar espalhado por toda a bacia amazônica. Em janeiro de 2019, um grupo de pesquisadores liderados pelo ictiólogo Marcelo Andrade, também ligado à UFPA, identificou pela primeira vez a presença de plástico em peixes amazônicos. Na ocasião, eles encontraram partículas no trato gastrointestinal de quase 25% dos peixes coletados no rio Xingu, incluindo a piranha-vermelha (Pygocentrus nattereri).

Um estudo publicado na revista Nature Communications em junho de 2017 estima que sejam despejadas no oceano 39 mil toneladas de plástico por ano via rio Amazonas — que passa por Peru, Equador, Colômbia e Brasil.

Desequilíbrio ecológico

Estudos anteriores já haviam investigado esse tipo de poluição em peixes que vivem em outros locais do curso da água, como rios e oceanos, e são consumidos pelo homem.

A diferença desse trabalho, feito por um grupo de pesquisadores de peixe de água doce e publicado em julho na revista científica Environmental Pollution, é apontar a extensão dos danos ao sistema respiratório dos animais e que esse problema ambiental atinge com mais intensidade nascentes de rios e riachos, onde os peixes têm, em média, 10 cm na fase adulta, não costumam ser consumidos pelo homem e enfrentam riscos maiores de desequilíbrio ecológico.

Foram analisadas 14 espécies de peixe coletadas em 12 locais na bacia do rio Guamá, no município paraense de Barcarena, e na bacia do Acará-Capim, nos municípios de Ipixuna do Pará, Concórdia do Pará e Tomé Açu.

Essas duas regiões ribeirinhas não têm tratamento de esgoto e utilizam essas nascentes e riachos tanto como espaço de lazer quanto para descartar dejetos.

Nesses lugares, esses peixes menores têm papel fundamental no equilíbrio ecológico da região. Eles podem ser predadores responsáveis, por exemplo, pelo controle de insetos ou servir de alimento para sapos.

“Sem a presença no futuro de uma dessas espécies que consomem larvas de insetos, por exemplo, poderia haver a explosão de uma população de mosquitos e o espalhamento desenfreado de doenças”, explica a pesquisadora Danielle Ribeiro-Brasil, uma das autoras do artigo e integrante do grupo de pesquisa da UFPA, em entrevista à BBC News Brasil.

Crenicichla regani, conhecido também como Jacundá ou Joaninha, continha mais plástico em seu corpo que outras espéciesDireito de imagemLABECO/UFPA
Image caption'Crenicichla regani', conhecido também como Jacundá ou Joaninha, continha mais plástico em seu corpo que outras espécies

Um dos animais estudados é o Crenicichla regani, conhecido também como jacundá ou joaninha. Os peixes dessa espécies são predadores que se alimentam de pequenos crustáceos e larvas de insetos e podem demonstrar um comportamento agressivo. Com boa visão noturna, muitas vezes se alimentam no escuro e às vezes nem são percebidos pelas pessoas no ambiente, já que não costumam passar de 8 cm de comprimento na fase adulta.

Essa espécie, analisada no estudo da UFPA, continha mais plástico em suas brânquias e em seu trato gastrointestinal que as outras.

Segundo ela, os próximos estudos vão analisar o impacto dessa poluição para a perda de espécies ou diminuição dessas comunidades. Deve-se analisar também a origem dessas partículas, mas a principal hipótese é que esses pedaços achados em riachos e nascentes amazônicas tenham saído de roupas sintéticas. Do total, 93% das partículas encontradas nos animais são fibras.

Em geral, essas partículas são originárias de fontes diversas, como roupas, pneus, tintas e escovas de dente. Calcula-se que entre 2% e 5% de todo o plástico produzido por ano acabe descartado nos mares, mas não se sabe direito qual é a dimensão real do problema.

Um estudo do Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido, divulgado nesta semana, estima que a quantidade de plástico boiando no oceano Atlântico seja capaz de encher mais de mil navios-cargueiros, somando 21 milhões de toneladas (uma quantidade dez vezes maior do que se pensava).

À medida que esses materiais vão se deteriorando, acabam sendo consumidos por animais marinhos, entrando na cadeia alimentar — um caminho que, em última instância, traz o plástico para o organismo humano.

Nesta semana, um outro estudo, de pesquisadores da Universidade do Arizona, nos EUA, apontou pela primeira vez micropartículas plásticas em tecidos de pulmão, fígado, rim e baço humanos.

Ainda não há informações conclusivas sobre o impacto desse tipo de poluição na saúde das pessoas, mas já se sabe o que a presença de plástico dentro do corpo pode causar aos peixes.

Essas partículas podem atacar dois pontos centrais dos peixes em riachos: as brânquias e o trato digestivo. No primeiro, o plástico interfere na aptidão física do animal, afetando sua energia para a captura de alimentos e para a reprodução. No segundo, essas partículas podem dar uma falsa sensação de saciedade ao peixe ou mesmo feri-lo até a morte.

Segundo o estudo, os peixes que vivem nesses riachos analisados consomem proporcionalmente mais plástico do que os encontrados em rios.

Pesquisadores analisaram peixes em 12 locais nas bacias do rio Guamá e do Acará-Capim, no ParáDireito de imagemLABECO/UFPA
Image captionPesquisadores analisaram peixes em 12 locais nas bacias do rio Guamá e do Acará-Capim, no Pará

“Não é todo peixe que ingere o plástico. Isso está relacionado também ao comportamento dele no ambiente. Se é carnívoro, por exemplo, faz uma busca ativa por alimentos e pode confundir o pedaço de plástico com algo que possa comer”, afirma Ribeiro-Brasil.

Outros estudos apontam que esses plásticos são ingeridos por algumas espécies não apenas porque se parecem com comida mas também porque cheiram a comida.

Segundo cientistas do Instituto Real Holandês de Pesquisas Marítimas, essas partículas de plástico no oceano são rapidamente colonizadas por uma fina camada de micróbios, normalmente chamada de "plastisfério", que libera substâncias químicas que fazem o plástico ter cheiro e gosto de alimento para alguns animais marinhos.

Para o grupo de pesquisadores da UFPA, as ações para evitar o aumento da contaminação por plástico da bacia Amazônica demandam o envolvimento da população local, iniciativas de educação ambiental de manejo dos resíduos sólidos e o engajamento de instituições públicas e privadas, entre outros pontos.

Eles defendem, por exemplo, medidas de incentivo para a redução do consumo de plásticos de uso único, como cotonetes e canudos, e de regulação para garantir a preservação desses ecossistemas atingidos pela poluição.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Sem aposentadoria: morte de idosos por covid-19 abala vida econômica de famílias mais pobres


Homem com equipamentos de proteção e uma pá enterrando uma bandeira do Brasil em uma praia do Rio de JaneiroDireito de imagemREUTERS
Image captionEstudos apontam que 74% das mortes por covid-19 no Brasil sejam de pessoas com mais de 60 anos

"Um dia antes de meu pai ser internado com essa doença maldita, ele me deu R$ 300 para pagar o aluguel da casa. Quando eu precisava, era ele quem fazia a feira, comprava a carne. Agora que ele morreu não temos nada. Estou vivendo de doações."

O depoimento acima é de Roseane Pinto da Silva, de 44 anos, vendedora ambulante de empadas em Olinda, na região metropolitana do Recife. Há um mês, o pai dela, o padeiro aposentado Isaias Pinto da Silva, morreu de covid-19, aos 85 anos. A aposentadoria dele — de pouco mais R$ 1 mil mensais — era a principal fonte de renda da família.

Com a queda do movimento durante a pandemia, as vendas de Roseane diminuíram e ela acabou cada vez mais dependente do dinheiro do pai para pagar o aluguel e sustentar seu filho de 17 anos. Mas até isso mudou rapidamente.

"Hoje ninguém quer comprar nada. Depois que meu pai morreu, meu único dinheiro é o auxílio de R$ 600 (valor emergencial pago pela governo federal durante a pandemia). Depois que o auxílio acabar, não sei como vai ser", diz ela, que vive na favela Peixinho, em Olinda. Para colocar comida na mesa, a família hoje depende de doações de um movimento social que ajuda pessoas pobres da comunidade.

A história dessa família pernambucana ilustra mais um cenário dramático da pandemia de coronavírus no Brasil: além do trauma de perder um parente de maneira precoce, a morte de milhares de idosos está impactando as finanças de quem ficou — e a economia do país.

Roseane e seu pai Isaias, que morreu de covid-19Direito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionRoseane Pinto da Silva e seu pai, Isaias, que morreu de covid-19 há pouco mais de um mês

E isso ocorre por um motivo simples: em um cenário de desemprego alto como o vivido pelo Brasil, a dependência do dinheiro dos idosos é grande. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego atingiu 13,3% da população em junho, maior índice desde 2017.

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que usou dados do IBGE, apontou que em 20,6% dos 71,3 milhões de domicílios do país, a renda do idoso representa mais de 50% do total dos vencimentos das famílias. Nesses locais, com renda per capita média de R$ 1.621 por mês, vivem 30 milhões de pessoas.

Já em 12,9 milhões de casas — 18% do total de domicílios —, os ganhos dos idosos são a única fonte de renda.

Essas famílias, que têm vencimento médio mensal de R$ 1.533 por pessoa, são totalmente dependente dos seus parentes acima de 65 anos e formam uma massa de 23 milhões de brasileiros (18,4 milhões de idosos e 5 milhões de adultos, crianças e adolescentes). Com algumas exceções — no caso do recebimento de pensão pelo cônjuge, por exemplo —, quando algum desses idosos morre, o restante da família pode ficar sem provento algum.

Na média, domicílios em que há idosos têm renda maior do que aqueles onde não há nenhum, constatou o Ipea.

carteira de trabalhoDireito de imagemAG. BRASIL
Image captionTaxa de desemprego no Brasil atingiu 13,3% da população, apontou o IBGE

"A importância da renda do idoso para as famílias é bastante alta no Brasil", explica Ana Amélia Camarano, pesquisadora do Ipea. "Isso ocorre por causa das dificuldades que jovens e adultos enfrentam para entrar no mercado de trabalho. Muitos deles, sem emprego e sem dinheiro, voltam para a casa dos pais e acabam sendo bancados por eles."

Ela classifica essa geração de jovens como "ioiô" (aqueles que saem mas depois voltam a casa dos pais), "cangurus" (quem nunca saiu de perto) e "nem-nem" (nem estuda nem trabalha).

Camarano estimou que, durante a pandemia, a morte de idosos por covid-19 representa uma queda mensal de R$ 167 milhões na renda das famílias brasileiras. Para a conta, a pesquisadora considerou 100 mil mortes já registradas pela doença — 74% desse óbitos eram pessoas com mais de 60 anos.

"O idoso costuma ter uma renda estável, com aposentadoria ou benefícios sociais, embora esse ganho nem sempre seja alto. Como o idoso viveu épocas com uma economia melhor, ele já tem casa própria e uma maior estabilidade", diz Camarano.

Já Marcelo Neri, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social), explica que domicílios com um número maior de pessoas (filhos, pais, avós) são um arranjo estratégico para as famílias mais pobres enfrentarem dificuldades financeiras.

"Quando a economia cresce e há mais oportunidades de emprego, a tendência é os filhos saírem de casa. Em momentos de crise, ocorre um retorno. Quando a família é mais rica, o idoso vive sozinho. Quando ela é mais pobre, como em comunidades e algumas regiões do Nordeste, ele costuma viver em domicílios com mais gente", diz.

Um estudo da FGV Social, também com base em dados do IBGE, apontou que 17% dos idosos estão entre os 5% mais ricos da população (quem recebe em média R$ 8.713 por mês); e apenas 4% dos mais velhos estão entre os 40% mais pobres (R$ 53 mensais, em média).

A pesquisa explica que a renda mais estável da parcela idosa da população, em comparação com a dos mais jovens, ocorre em grande parte por causa de uma maior proteção social, como a aposentadoria e o Benefício de Proteção Continuada (BPC).

Via de regra, os contribuintes de baixa renda que não conseguem o tempo mínimo de contribuição para se aposentar são elegíveis para receber o BPC, salário mínimo pago a pessoas com mais de 65 anos e renda familiar per capita inferior a um quarto do salário mínimo vigente. No total, 4,6 milhões de brasileiros recebem o benefício, entre idosos e pessoas com deficiência.

covas abertas em cemitério para vítimas da pandemia de covid-19Direito de imagemREUTERS
Image captionBrasil já registrou mais de 109 mil mortos por covid-19 desde o começo da pandemia

"Apesar dessa renda estável, os idosos também têm vulnerabilidades: eles têm escolaridade muito baixa em virtude de um sistema educacional que era excludente, e também uma menor inclusão digital", explica Marcelo Neri, autor do estudo.

A pesquisa da FGV aponta esse problema: 30% dos analfabetos do país são idosos, embora eles representem 10,5% da população. Já entre os mais escolarizados, com mais de 11 anos de estudo, apenas 5,8% têm mais de 65 anos, de acordo com dados de 2018.

Suar para pagar as contas

No caso da família de Roseane, a tragédia ocorreu em dobro. Além de perder o pai, o irmão da ambulante, o padeiro Reginaldo Pinto Silva, de 54 anos, também morreu de covid-19.

"A gente viveu duas tragédias seguidas. Meu pai e meu irmão foram internados no mesmo dia. Eles lutaram muito para sobreviver, ficaram um tempão no hospital, mas não resistiram", explica Roseane.

Quatro anos atrás, a família sofreu outra perda, daquela vez para a violência. "Meu outro filho, Bruno, estava indo para o trabalho de operador de telemarketing. Estava esperando o ônibus quando um homem o assaltou e atirou. Ele tinha 20 anos. O assassino está solto, não teve justiça nenhuma. A gente que é pobre nunca tem resposta, nunca tem nada", desabafa a vendedora ambulante.

Antonio Francelino de França, de 78 anos, morreu de covid-19 há 20 diasDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionAntonio Francelino de França, de 78 anos, morreu de covid-19 há 20 dias; Benefício social que ele recebia era a principal fonte de renda da família

Na mesma comunidade de Peixinho, em Olinda, a covid-19 também levou Antonio Francelino de França, de 78 anos, que morreu quando estava internado em um hospital público da cidade. "Ele estava com febre, secreção e tossia muito. Aconteceu muito rápido", explica a dona de casa Ana Lúcia de França, 53, filha de Antonio.

O idoso recebia R$ 1.045 por mês do BPC, principal fonte de renda da família, usado para comprar comida e adquirir medicamentos para ele e para esposa, também idosa. "A gente ainda recebeu a última parcela do BPC, o que ajudou muito. Mas agora, sem o benefício, vamos precisar suar mais para pagar as contas", diz Ana Lúcia, que está desempregada.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Senado aprova uso de recursos de precatórios para combate à covid-19


O Senado aprovou nesta terça-feira (18) um projeto de lei (PL) que destina parte da verba destinada ao pagamento de precatórios federais para o combate à pandemia de covid-19. Os precatórios são títulos da dívida pública reconhecidos após decisão definitiva da Justiça. O PL aprova que a União use o dinheiro que sobrou, fruto de eventual acordo por desconto no pagamento dessa dívida, no combate ao vírus.

O texto já havia passado pela Câmara dos Deputados e agora vai à sanção presidencial. O projeto vai além e regulamenta os acordos da União com os credores dos precatórios. Essa regulamentação vale para dívidas de grande valor – aquelas que superam 15% da verba anual destinada ao pagamento de precatórios. Os descontos autorizados pelo texto podem alcançar até 40% da dívida.

O projeto também regulamenta o pagamento de precatórios oriundos de demanda judicial que tenha tido como objeto a cobrança de repasses referentes à complementação da União aos estados e municípios por conta do antigo Fundef, atual Fundo de Desenvolvimento e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). De acordo com o relator, senador Rodrigo Cunha (PSDB-AL), a regulamentação é um passo importante para o pagamento de 60% do montante desses precatórios para os professores.

“Os professores enfrentam uma luta judicial há anos com decisões favoráveis e contratarias, gerando uma grande incerteza e insegurança para os gestores. Com a previsão do artigo 8°, fica claro que os profissionais da educação têm direito a subvinculação prevista tanto na extinta lei do Fundef, como na lei do Fundeb”, disse Cunha em seu relatório. 

Publicado em 18/08/2020 - 20:54 Por Marcelo Brandão – Repórter da Agência Brasil* - Brasília



Professor Edgar Bom Jardim - PE

Políticos denunciam Sara Winter por exposição de dados de criança estuprada



Parlamentares dizem que extremista violou artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

A militante bolsonarista de extrema-direita Sara Winter foi denunciada na segunda-feira 17 por deputados da Frente Parlamentar da Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) por expor dados de uma criança de 10 anos que ficou grávida após ser estuprada.

Os deputados distritais Fábio Felix (PSol), Arlete Sampaio (PT) e Leandro Grass (Rede), que assinam o documento, dizem que Sara violou artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Os parlamentares pedem a abertura de uma investigação pela Delegacia de Proteção da Criança e do Adolescente do Distrito Federal e pela Promotoria de Justiça de Defesa da Infância e da Juventude, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).

PSOL denuncia Sara ao MP

Também nesta segunda, o deputado federal Marcelo Freixo anunciou que o PSOL vai protocolar no Ministério Público uma representação contra a extremista que divulgou o nome e a localização da criança.

De acordo com Freixo, além do MP, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão será acionada pelo partido contra a mulher.

Sara perde suas contas

Nesta terça-feira 18, a extremista perdeu mais uma conta nas redes sociais. Desta vez, no Youtube, por onde Sara divulgou os dados da criança.

Segundo informou o Youtube, a plataforma tem “políticas rígidas que determinam os conteúdos que podem estar na plataforma e encerramos qualquer canal que viole repetidamente nossas regras”.

A decisão acontece após o Ministério Público do Espírito Santo acionar a Justiça e conseguir retirar a publicação das redes sociais.

Os promotores argumentaram que Sara Giromini desrespeitou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ao expôr a identidade de uma menor de idade, vítima de violência.

Mais uma

Esta não é a primeira vez que Sara tem problemas como YouTube. Em junho, logo após ser presa pela Polícia Federal, a plataforma acabou com a monetização do seu canal. Segundo ela, a estimativa é de que suas perdas foram de 1,8 mil dólares mensais.

Mais recentemente, Sara também teve contas no Facebook e no Twitter suspensas por decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, relator tanto do inquérito das fake news quanto do inquérito sobre os atos antidemocráticos.

O aborto

Pela gravidez ser fruto de um estupro, a menina tinha o direito garantido pela Constituição de passar por um processo de aborto.

O hospital em que a menina foi atendida em São Mateus (ES) se recusou a realizar o procedimento por ser uma gravidez em estágio mais avançado.

A criança foi então transferida para Recife, capital de Pernambuco, por determinação do juiz Antonio Moreira Fernandes, da Vara da Infância e da Juventude do município onde mora.

Suspeito do crime foi preso

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), escreveu em uma rede social na manhã desta terça-feira 18 que o tio suspeito de estuprar e engravidar a sobrinha de 10 anos foi preso na madrugada.

“Que sirva de lição para quem insiste em praticar um crime brutal, cruel e inaceitável dessa natureza. Detalhes da operação serão repassada pela equipe segurança ainda hoje”, publicou o governador.

De acordo com o jornal A Gazeta, o homem foi preso em Betim, Minas Gerais, e será encaminhado ao Complexo Penitenciária de Xuri, em Vila Velha, na Grande Vitória. Ele foi indiciado por estupro de vulnerável e ameaça.

Líder católico se manifesta

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, publicou uma mensagem nesta segunda-feira 17 em que se diz contra o procedimento de aborto que uma criança de 10 anos foi submetida após ser estuprada por seu tio em São Mateus, no Espírito Santo.

Segundo o líder católico, a interrupção da gravidez é um crime hediondo e que “não se justifica diante de todos os recursos existentes e colocados à disposição para garantir a vida das duas crianças”.

“Lamentável presenciar aqueles que representam a Lei e o Estado com a missão de defender a vida, decidirem pela morte de uma criança de apenas cinco meses”, completa Azevedo.

Carta Capital

Professor Edgar Bom Jardim - PE

A carta da magia divina


Para quem acredita que Deus não era um arquiteto dominado pelo concreto vai uma mensagem. Deus era poeta, seguidor das palavras mágicas. O verbo venho antes de tudo. Traçava geometrias que deslumbravam Deus. O mundo criou-se na fala infinita do divino.Cada coisa no seu lugar e tempo voando como pássaro colorido. Muito encanto que parecia inabalável. Mal sabia Deus que demônios provocariam destruições. O mundo se agitava com as forças do mal e as palavras adoeciam. O descompasso vendia a desigualdade e o lixo.

O paraíso sentiu que as serpentes exibiam poderes exóticos. Adão e Eva se mostravam ingênuos, não aproveitaram as perfeições e mergulharam na incompletude.Pecaram. Desmancharam a uniformidade da criação. A culpa se expandiu com a história de seus descendentes. O mundo se transformou numa multiplicidade assustadora de estratégias e desenganos. Arcanjos buscaram impedir as ações diabólicas. O mal. porém, ambicionava espaços e armava escorregões para esvaziar a magia. A dúvida intimidava a Lucidez.

Assim, a história se construiu e as revoltas não fecharam a maldade. Os arcanjos se cansaram, não derrotaram as ousadias de quem seca as palavras e apaga a memória da fundação. O paraíso se desfez, Caim matou Abel e pandemias se apresentaram para perturbar as possibilidade de não magoar Deus. O mundo feito olhava o futuro, queria utopias e encontrava guerras. As palavras se fragilizavam nas traquinagens de poderes avassaladores. Deus se sentia solitário, temia que sua criação desmoronasse. Talvez, vivesse um conto de fadas e o mundo nada tivesse de eternidade.

Muitas religiões andaram cantando orações, mas se misturavam com as políticas dos que se ligavam no império. Por que a salvação não se sustentava?A violência não cedia lugar para a paz. Existiam harmonias passageiras e localizadas. A história se repete em tropeços e simula novidades Há quem desenhe sonhos. Nem tudo é tédio. O mundo é instável, não se encontra com o sossego. Por isso, muitos assumem a perplexidade.Registram desfazeres, não desfrutam da magia. Dizem que um juízo final ajustará o mundo. E Deus é julgado por filosofias e ateus anunciam a permanência de uma sinfonia inacabada. Triste história, com ritmos confusos.

Por Antônio Rezende

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Não é hora de abrir escolas




Para Esther Solano, manter estrutura segura em escolas periféricas é um dos maiores desafios na pandemia


Mais de 100 mil mortos e 3 milhões de infectados. Os números deveriam servir de argumento suficiente. Os debates deveriam parar por aqui, todos teríamos de entrar em consenso diante desses dados, mas parece que, no Brasil, o número de mortos nunca basta. As matemáticas, as mesmas que são tão relevantes quando medem impostos ou dinheiro desviado em corrupção, carecem de importância quando contam cadáveres. Este é um ano de sobrevivência. A luta é por não morrer, por não se contagiar. Este ano, a luta é por não contagiar. Pronto. Parece que tem gente que não chegou a uma conclusão tão óbvia. O mundo parou para isso.

As escolas não estão preparadas para evitar os contágios. As crianças se contagiam, levam o vírus para casa e os adultos e idosos podem morrer. Aliás, crianças também poderão morrer. Se é complexo para um adulto levar máscara, seguir as necessárias normas de higiene, manter a distância social, imagine para as crianças. Se é complexo manter uma estrutura segura nas escolas privadas de classe média alta, imagine nas periféricas.  A própria Organização Mundial da Saúde alertou que em muitos dos países europeus em que as escolas haviam reaberto acumulam-se novas ondas de infecção. Isso na Europa, onde a mortalidade tem diminuído drasticamente. No Brasil, morrem mais de mil doentes por dia. Vamos esperar a primeira criança morrer contagiada em uma escola de periferia? Ou, melhor, vamos esperar a primeira criança de classe média morrer contagiada em uma escola de um centro urbano?

Não é só sobre crianças, é sobre outra figura invisível e abandonada: os professores. São profissionais que também lutam por manter a dignidade de seu trabalho em condições tão precárias. Que trabalham incansavelmente, diante de uma situação anômala, enfrentando o vírus e o desafio das telas, mas tentando que as crianças recebam um mínimo de retorno pedagógico. Eles podem morrer e morrerão se abrirmos as aulas. O professor precarizado, maltratado pelo Estado, que dá aulas em condições terrivelmente deficientes para educar as nossas crianças, agora também tem a “obrigação” de arriscar sua vida? Minha resposta contundente é não. 

Sei que as crianças sofrem e regridem na sua evolução pela ausência de sociabilidade. A estabilidade psicológica e o desenvolvimento saudável de muitas crianças estão em risco. Bem, pensemos sobre isso, tentemos alternativas, possibilidades dentro de casa, admitamos que existe sofrimento, que haverá renúncias, imensas às vezes, irrevogáveis, e trabalhemos para atenuá-las. Cobremos das autoridades planos de emergência. Cobremos assistência remota, originalidade, eficácia, seriedade, cuidados e reação. As crianças perderão muito em termos pedagógicos por ficar em casa. Mas ganharão a vida.

Sei da angústia, exaustão, dor, estresse nas famílias, mas, repito, neste ano se trata de sobreviver. Meu bebê nasceu em pleno auge de pandemia na Espanha, com um sistema de saúde colapsado. Sei sobre angústia e sei que sobreviver saudáveis é a nossa meta principal. Há muitas famílias que não conseguem cuidar de suas crianças em casa porque os pais estão obrigados a sair para trabalhar. Quarentena não paga boleto. Pobre não tem direito à quarentena. Isolamento social é privilégio num país como Brasil. A maldita dicotomia vida versus economia. Insistamos em desfazer essa aparente equação sem solução, essa mentira, essa falácia, que nos diz que é impossível cuidar da vida num país de maioria empobrecida como o Brasil. Insistamos na renda mínima emergencial que permita às famílias mais vulneráveis cuidar de sua saúde e ficar em casa com as crianças. Tentemos transformar essa renda mínima emergencial na renda básica de cidadania tão defendida por Eduardo Suplicy. Como ele diz, é uma questão de dignidade.

Cobremos planos emergenciais para as mulheres e crianças que sofrem violências domésticas. São muitos os que vivem a violência nos lugares que deveriam representar segurança. Cobremos do governo. Cobremos dos partidos que nos representam. Cobremos de nossos deputados, de nossos vereadores. Cobremos responsabilidade, civilidade. Cobremos melhores conexões de internet. Cobremos dos vizinhos e dos colegas que nunca colocam a máscara. Cobremos do maldito que está no poder.

E, sobretudo, cuidemos um dos outros. Quarentena não tem de significar solidão. Tentemos estar próximos virtualmente. Choremos juntos. O carinho online também é carinho. O cuidado online também pode ser uma forma de carinho. Mas, por favor, notemos que morrem mais de mil brasileiros por dia. Passamos de 100 mil mortos. Por favor, deixemos as crianças em casa.

Carta Capital

Professor Edgar Bom Jardim - PE