A Viradouro é a campeã do carnaval do Rio de Janeiro em 2020. A escola dos carnavalescos Tarcisio Zanon e Marcus Ferreira levou para a avenida o tema “Viradouro de Alma Lavada”, homenageando o Ganhadeiras de Itapuã, grupo nascido em 2004 e que tem como objetivo homenagear mulheres que nos séculos 19 e 20 lavavam roupa para garantir o sustento da família ou saíam com seus balaios a pé para vender peixe pela cidade. As ganhadeiras recontam essas histórias em forma de cantigas e samba.
Depois de 23 anos, a escola conquista o seu segundo título, em uma disputa acirrada com as escolas Grande Rio e Beija-Flor. Na apuração final, a Viradouro alcançou nota de 269,6, a mesma da segunda colocada, Grande Rio; em terceiro, a Mocidade Independente de Padre Miguel ficou com 269,4.
Estácio de Sá e União da Ilha foram rebaixadas e desfilam o carnaval 2021 em grupo de acesso.
Leia a letra do samba-enredo da Viradouro
Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa, pra depois quarar
Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa, pra depois quarar
Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!
Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!
Levanta, preta, que o Sol tá na janela
Leva a gamela pro xaréu do pescador
A alforria se conquista com o ganho
E o balaio é do tamanho do suor do seu amor
Mainha, esses velhos areais
Onde nossas ancestrais acordavam as manhãs
Pra luta sentem cheiro de angelim
E a doçura do quindim
Da bica de Itapuã
Camará ganhou a cidade
O erê herdou liberdade
Canto das Marias, baixa do dendê
Chama a freguesia pro batuquejê
Camará ganhou a cidade
O erê herdou liberdade
Canto das Marias, baixa do dendê
Chama a freguesia pro batuquejê
São elas, dos anjos e das marés
Crioulas do balangandã, ô iaiá
Ciranda de roda, na beira do mar
Ganhadeira que benze, vai pro terreiro sambar
Nas escadas da fé
É a voz da mulher!
Xangô ilumina a caminhada
A falange está formada
Um coral cheio de amor
Kaô, o axé vem da Bahia
Nessa negra cantoria
Que Maria ensinou
Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa, pra depois quarar
Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa, pra depois quarar
Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!
Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!
Levanta, preta, que o Sol tá na janela
Leva a gamela pro xaréu do pescador
A alforria se conquista com o ganho
E o balaio é do tamanho do suor do seu amor
Mainha, esses velhos areais
Onde nossas ancestrais acordavam as manhãs
Pra luta sentem cheiro de angelim
E a doçura do quindim
Da bica de Itapuã
Camará ganhou a cidade
O erê herdou liberdade
Canto das Marias, baixa do dendê
Chama a freguesia pro batuquejê
Camará ganhou a cidade
O erê herdou liberdade
Canto das Marias, baixa do dendê
Chama a freguesia pro batuquejê
São elas, dos anjos e das marés
Crioulas do balangandã, ô iaiá
Ciranda de roda, na beira do mar
Ganhadeira que benze, vai pro terreiro sambar
Nas escadas da fé
É a voz da mulher!
Xangô ilumina a caminhada
A falange está formada
Um coral cheio de amor
Kaô, o axé vem da Bahia
Nessa negra cantoria
Que Maria ensinou
Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa, pra depois quarar
Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa, pra depois quarar
Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!
Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!
O Ministério da Saúde anunciou nesta quarta-feira (26/02) ter confirmado o primeiro caso do novo coronavírus no Brasil.
Dois exames atestaram que um empresário de 61 anos que vive em São Paulo foi infectado após viajar sozinho à Itália. Ele retornou na sexta-feira e apresentou sintomas, como febre, tosse, dor de garganta e coriza, dois dias depois.
Na segunda-feira, procurou atendimento médico no Hospital Albert Einstein, onde foi feito o primeiro exame. Depois, uma amostra foi enviada ao Instituto Adolfo Lutz, que fez contraprova e confirmou a presença do vírus.
O empresário está bem, segundo o ministério, e permanecerá isolado em sua casa até o desaparecimento dos sintomas. Sua mulher também será monitorada por mais duas semanas após cessarem os sinais da doença em seu marido.
De acordo com o governo, o protocolo internacional recomenda que ele seja mantido em sua residência, porque não se encontra em estado grave. No hospital, haveria o risco de ele transmitir o vírus para outros pacientes mais debilitados.
Também estão sendo monitorados cerca de 30 parentes que estiveram em sua casa em uma reunião de família no domingo. O ministério ainda está entrando em contato com passageiros que viajaram perto do paciente no avião que o trouxe da Itália.
"Agora, com o primeiro caso confirmado no Brasil, vamos ver como o vírus vai se comportar em um país tropical em pleno verão", disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
"É um vírus novo, que pode ou não manter o mesmo padrão de comportamento de transmissão que tem no hemisfério norte, com o frio."
Medidas para evitar que o vírus se espalhe
O Brasil já se encontrava desde o dia 4 de fevereiro no terceiro e mais elevado nível de alerta do sistema de vigilância epidemiológica, após o Ministério da Saúde decretar uma situação de emergência de saúde pública de importância nacional.
Anteriormente, o governo havia informado que essa etapa só seria alcançada quando houvesse um caso confirmado no país, mas Mandetta decidiu antecipá-la para ser capaz de fazer contratações emergenciais para preparar o país para receber os brasileiros que foram trazidos da China e mantidos em quarentena em uma base militar em Anápolis, em Goiás.
A decisão foi tomada após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar uma situação de emergência em âmbito global, ao manifestar preocupação com casos de transmissão fora da China e o impacto do coronavírus sobre os sistemas de saúde de países mais pobres.
Agora, com a confirmação do primeiro caso, serão ampliadas as ações da vigilância epidemiológica e os preparativos para atendimentos de possíveis pacientes na cidade de São Paulo, além de serem tomadas medidas de contenção para evitar que o vírus se espalhe em território nacional.
"São Paulo é a cidade mais populosa do país e tem uma comunicação com a Itália e países europeus e comunidades destas nacionalidades muito extensas, e esse trânsito deve se intensificar, porque as pessoas com receio do vírus antecipam sua volta das férias ou de intercâmbio", disse Mandetta.
Caso haja disseminação do vírus dentro do país, será dado início à fase de mitigação do surto, com ações para evitar que ocorram muitos contágios e mortes. "A situação não muda muito em relação ao que era feito com os casos suspeitos", disse o secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Henrique Ferreira.
"A própria vigilância tem condições de atuar nesta nova epidemia que talvez venhamos a enfrentar por aqui. Mas ainda não podemos dizer que estamos nesta situação, porque temos apenas um caso aqui."
Desde a decretação de emergência, disse Mandetta, algumas medidas já foram tomadas antevendo diferentes cenários, como a compra de equipamentos de proteção e a licitação para aluguel de equipamentos usados em unidades de cuidados intensivos.
Foram adquiridos testes rápidos para ter um processo mais ágil de confirmação de casos. Também será ampliada a campanha de comunicação sobre a doença para orientar os cidadãos sobre como proceder.
Também foram consultados o Conselho Federal de Medicina e a Sociedade Brasileira de Infectologia para saber quais medicamentos serão necessários para atender possíveis pacientes.
Não há, até o momento, medicamentos retrovirais ou vacina específicos para o novo coronavírus. No tratamento, são usadas drogas para combater os sintomas da doença que ele causa — a covid-19. "Só vamos superar essa situação quando tivermos tecnologia para ter uma vacina. Por enquanto, é precaução e cautela", disse Mandetta.
O governo descartou suspender voos ou fazer um controle das fronteiras. "Fechar fronteiras ou fazer testagem em portos em aeroportos não tem eficácia nenhuma, porque os pacientes podem ter o vírus sem apresentar sintomas. Essa é mais uma doença que a humanidade vai ter que enfrentar", afirmou Mandetta.
OMS já deveria ter decretado uma pandemia, diz ministro
O governo alertou que o número de casos suspeitos no Brasil deve aumentar nos próximos dias, porque atualmente a classificação de risco para possíveis infecções do ministério leva em consideração 16 países — este critério tem como base países nos quais houve mais de cinco casos de transmissão local.
O planejamento de ações para este surto é similar ao que foi aplicado no país durante a pandemia de H1N1, em 2009, disse o ministro.
Uma pandemia é uma epidemia em escala global. Na segunda-feira (24/02), a OMS disse ainda ser cedo para decretar que este surto seja uma pandemia, porque não foi detectada uma disseminação descontrolada do novo coronavírus.
O ministro disse discordar desta posição. "Muito em breve, a OMS não vai trabalhar mais com nexo de país (para detecção de possíveis casos). Ela vai ter que fazer reunião com especialistas e considerar que se trata de uma pandemia. Aliás, já tem critérios para isso. Se ficar nesse nexo causal, vamos estar sempre correndo atrás", disse Mandetta.
Até a terça-feira, segundo a OMS, foram registrados 80,2 mil casos do novo coronavírus no mundo, dos quais 77,7 mil na China. Outros 33 países já foram afetados.
Mas o Ministério da Saúde aponta que o total de pacientes na China pode ser bem superior aos índices oficiais, porque muitas pessoas podem ter apresentado sintomas leves e não procurado atendimento médico.
De acordo com o governo federal, a tendência atual é de estabilização do número de casos na China e de elevação em outros países.
A Itália tornou-se nos últimos dias um dos países mais afetados na Europa, com mais de 300 casos confirmados e 12 mortes.
Além do Brasil, outros países, como Grécia, Algéria, Áustria, Croácia, Espanha e Suíça notificaram recentemente seus primeiros casos do novo coronavírus em pessoas que viajaram para a Itália.
No Brasil, além do primeiro caso confirmado, há 20 casos suspeitos sendo monitorados, em sete Estados — São Paulo (11), Santa Catarina (2), Rio de Janeiro (2), Minas Gerais (2), Espírito Santo (1), Paraíba (1) e Pernambuco (1). Outros 59 foram descartados.
O novo coronavírus já provocou 2,7 mil mortes — 2.666 na China. Isso aponta que o vírus tem uma taxa de letalidade no mundo de 3,4%. Mas este índice chega a 8% entre pacientes com 70 e 79 anos e a 15% entre aqueles com mais de 80 anos.
"Esta é uma síndrome gripal que se comporta de maneira mais agressiva nos pacientes de mais idade. Mas temos observado um número expressivo de pessoas se recuperando da doença", disse Mandetta.
Segundo dados da OMS, o período de incubação do vírus, ou seja, o tempo entre a infecção e o surgimento dos primeiros sintomas, é de até 14 dias, mas a média apontada até agora é de 5 dias.
O Ministério da Saúde informou que, até o momento, de acordo com os estudos feitos sobre o novo coronavírus, uma pessoa infectada é capaz de transmiti-lo para mais duas ou três pessoas, mas há casos em que chega a ser passado para até sete pessoas.
"Ainda não há um padrão bem descrito, mas podemos observar a maioria dos casos estudados estão nesta faixa de duas a três pessoas", afirmou o secretário de vigilância em saúde, Wanderson de Oliveira.
Estima-se que o paciente de São Paulo tenha entrado em contato com 50 a 60 pessoas após ser infectado. No entanto, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, esclareceu que isso não significa que todas serão contaminadas.
"Mesmo que o número de pessoas com quem ele teve contato seja alto, estudos apontam que outros pacientes contaminaram de duas a três pessoas apesar de ter entrado em contato com 20, 30 ou 40 pessoas. Isso significa que o contato precisa ser mais íntimo para que haja transmissão", disse Gabbardo.
A sétima edição da festa ocorre na terça de Carnaval (25), em no município de Bom Jardim
Na próxima terça-feira (25), a cidade de Bom Jardim, localizada no Agreste de Pernambuco, recebe a sétima edição do Encontro de Burrinhas, Caboclinhos, Catirinas e Maracatus de Pernambuco. A festa acontece a partir das 8h, no Pátio de Eventos João Salvino Barbosa, no Centro da cidade. A programação terá início com o desfile de agremiações. Em seguida, o cantor e compositor Roberto Cruz anima os foliões com show no palco.
No mesmo dia, Roberto segue para Recife, onde se apresentará no estreante Polo descentralizado do Poço da Panela. O artista preparou uma apresentação singular inspirada no carnaval, que promete levar ao público um repertório único, mesclando o que a de melhor na cultura pernambucana. Além de Roberto, o Polo vai contar com apresentações de nomes como Jorge Aragão e Genival Lacerda
O Poço da Panela fica localizado na Zona Norte do Recife
Encontro de Burrinhas, Caboclinhos, Catirinas e Maracatus de Pernambuco Pátio de Eventos João Salvino Barbosa A partir das 8h Gratuito
Há 40 mil anos, na Europa, o homo sapiens não era a única espécie humana existente — havia pelo menos outras três, entre elas os neandertais. Extraordinariamente parecidos conosco, eles viveram em regiões do continente por mais de 300 mil anos.
Os neandertais eram resilientes. Existiram por cerca de 200 mil anos a mais do que a existência total dos seres humanos modernos até hoje. As últimas evidências deixadas por eles datam de 28 mil anos atrás, o que dá uma estimativa de quando a espécie foi extinta.
Fósseis mostram que, no fim, os poucos que restavam sobreviviam em lugares como Gibraltar. As descobertas feitas neste território britânico no sul da Península Ibérica estão nos ajudando a entender mais sobre os últimos neandertais — e revelando que eles eram muito mais parecidos com nós do que acreditávamos.
Por causa disso, Gibraltar recebeu em 2016 o status de patrimônio mundial da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Há um especial interesse em quatro grandes cavernas, das quais três mal foram exploradas até agora. Mas escavações realizadas em uma delas, a caverna de Gorham, mostram que os neandertais "não estavam apenas sobrevivendo", como conta o diretor de arqueologia do Museu de Gibraltar, Clive Finlayson.
"[A caverna de Gorham] era de certa maneira a cidade dos neandertais. Este era o lugar com a maior concentração de neandertais da Europa."
Não se sabe se isso significa que havia ali apenas dezenas de pessoas ou algumas famílias, porque evidências genéticas sugerem que os neandertais viviam em "populações muito pequenas".
Sua ocupação de Gibraltar foi identificada pela primeira vez em 1848, com a descoberta do primeiro crânio de um neandertal adulto. Desde então, foram encontrados ossos de mais sete indivíduos, bem como inúmeros artefatos que usavam em seu cotidiano, como ferramentas, restos mortais de animais e conchas.
É possível datar cada descoberta com base em onde foi encontrada. Dentro da caverna de Gorham, existem muitos metros de camadas de sedimentos. Cada camada representa um momento diferente no tempo geológico.
Restos fósseis descobertos nessas camadas sugerem que os neandertais de Gibraltar ocuparam a caverna por mais de 100 mil anos.
Os neandertais podem ter vivido na região até há cerca de 24 mil a 33 mil anos, de acordo com a datação de uma das camadas. Isso aponta essa área como um dos últimos lugares conhecidos habitados por neandertais.
Eles também podem ter ocupado áreas costeiras vizinhas, mas o nível do mar subiu consideravelmente nos últimos 30 mil anos. Isso significa que qualquer outra evidência fóssil está submersa.
"Temos sorte de que, em Gibraltar, por causa de seus penhascos íngremes, as evidências permaneceram intactas", diz Finlayson, que, junto com sua mulher, Geraldine, e seu filho, Stewart, escava essas cavernas há muitos anos. Todos os três são cientistas.
Enquanto a parte da frente da caverna de Gorham é relativamente aberta, banhada por luz solar e com vista direta para o oceano, a parte de trás é mais escura e se divide em várias câmaras.
Estas cavernas permanecem frescas no verão e levemente quentes nos meses mais frios, o que as torna perfeitas para descansar e ficar a salvo de predadores.
Hábitos de caça
Como o restante de sua espécie, os neandertais que moravam ali eram diferentes do que pensávamos — um grupo brutal e corpulento de humanos primitivos que só grunhiam para se comunicar e usavam violentamente seus porretes.
Como explica a pesquisadora Paola Villa, da Universidade do Colorado, em uma revisão de estudos sobre a espécie, os neandertais eram muito semelhantes a nós.
Essa visão ganha força com descobertas feitas a partir de análises genéticas. Não apenas compartilhamos 99,5% do mesmo DNA, como também carregamos em nós um pouco do DNA neandertal ainda hoje.
Isso porque houve vários cruzamentos entre eles e nossa espécie, quando chegamos à Europa, vindos da África. Todos os indivíduos fora da África ainda levam em si evidências dessa mistura pré-histórica. Entre milhares de indivíduos, pesquisadores identificaram um total combinado de 20% de DNA neandertal em humanos modernos hoje.
As descobertas na caverna de Gorham nos ajudam a compreender muitos outros aspectos sobre os neandertais, especialmente sobre seus últimos anos na Terra.
Restos encontrados no local indicam que eles consumiam frutos do mar e mamíferos marinhos. Isso não é surpreendente, dadas as evidências publicadas recentemente de que que eram capazes de nadar.
Acredita-se inclusive que caçavam golfinhos, diz Clive Finlayson. Ainda não está claro como o faziam, mas sabemos que caçavam — ou matavam — grandes animais selvagens, como mamutes, rinocerontes e veados.
Os restos de mais de 150 espécies diferentes de pássaros também foram descobertos na caverna de Gorham, muitos com marcas de dentes e cortes, o que sugere que os neandertais os comeram. Há até mesmo evidências de que eles caçavam aves de rapina, incluindo águias e abutres.
Não sabemos se usavam iscas e esperavam a oportunidade certa ou se caçavam ativamente pássaros, uma tarefa mais difícil. O que sabemos é que não comiam necessariamente todos os pássaros que caçavam, principalmente aves de rapina como abutres — que são cheios de ácido.
"A maioria das marcas de corte está nos ossos das asas, onde há pouca carne. Parece que eles as pegavam para usar suas penas", diz Finlayson.
Eles aparentemente tinham preferência por pássaros com penas pretas, o que indica que estes eram usados para fins decorativos. Neste caso, os neandertais tinham uma compreensão e apreciação sofisticadas de símbolos culturais e eram dotados de habilidades cognitivas que poderiam estar em pé de igualdade com as nossas.
E, independentemente de quão inteligentes fossem, a criação desses artefatos culturais é uma das características que definem a humanidade.
Arte e linguagem
Eles podiam até mesmo produzir arte. Em uma surpreendente descoberta, os Finlaysons encontraram uma marcação na parede da caverna de Gorham, que apelidaram de "hashtag neandertal". Essa foi a primeira evidência de arte neandertal, diz Geraldine.
Apesar da simplicidade da marcação, Geraldine garante que houve preparação para fazê-la. "Não foi algo que aconteceu por um erro. Algum processo de pensamento estava em andamento", afirma ela.
Quando arqueólogos tentaram refazer a marcação, descobriram que o sulco mais profundo exigia 60 movimentos com uma ferramenta de pedra afiada. "Ficou claro que foi algo intencional", diz Geraldine.
A descoberta de conchas decorativas e do uso de pigmentos vermelhos também apontam para a possibilidade de terem utilizado objetos para fazer arte.
Novamente, se foi esse o caso, isso mostra que os neandertais tinham habilidades de criar símbolos antes consideradas exclusivamente humanas. Na Espanha, pinturas rupestres de animais e formas geométricas de 64 mil anos atrás também foram atribuídas aos neandertais.
Se foram capazes de produzir arte e joalheria, talvez não surpreenda que estudos recentes indiquem que também possuíam sofisticadas habilidades de linguagem.
Um estudo que analisou um osso considerado crucial para a fala, o hioide, localizado na região do pescoço, abaixo da mandíbula, descobriu que o equivalente dos neandertais funcionava exatamente como o nosso.
De acordo com a equipe de cientistas liderada por Stephen Wroe, da Universidade da Nova Inglaterra, na Austrália, um modelo de computador criado com base nisso concluiu que os neandertais podiam falar como nós.
"Muitos argumentariam que nossa capacidade de fala e linguagem está entre as características mais fundamentais que nos tornam humanos. Se os neandertais também tinham linguagem, também eram verdadeiramente humanos", diz Wroe.
Se podiam falar, também eram capazes de transmitir informações entre si com eficiência, como, por exemplo, ensinar uns aos outros a fazer ferramentas. Podem até mesmo ter ensinado uma coisa ou duas aos humanos modernos.
Novas evidências sugerem que foi exatamente isso que aconteceu quando os neandertais e os humanos modernos entraram em contato.
Um tipo de ferramenta óssea, descoberta em um conhecido local dos neandertais, também foi achada mais tarde onde viviam apenas humanos modernos.
A equipe de Marie Soressi, da Universidade de Leiden, na Holanda, analisa locais que foram habitados por neandertais há cerca de 40 mil a 60 mil anos.
As ferramentas que encontraram foram feitas com fragmentos de ossos de costelas de veados e, provavelmente, usadas para ajudar a tornar a pele do animal mais macia, possivelmente para confeccionar roupas.
"Esse tipo de ferramenta óssea é muito comum em qualquer local usado por humanos modernos após o desaparecimento dos neandertais", diz Soressi.
Isso sinaliza que os humanos modernos que se encontraram com os neandertais copiaram o uso deste tipo de ferramenta. "Para mim, é possivelmente a primeira evidência de que algo foi transmitido dos neandertais para os humanos modernos."
Quando o homo sapiens vivia mais perto da linha do Equador, não precisava de roupas quentes. Os neandertais, por outro lado, viviam nos climas mais frios da Europa por muitos anos antes da chegada dos humanos modernos. Aprender como eles a lidar com o frio teria sido um grande benefício para nós.
Muitos pesquisadores, incluindo Soressi, agora argumentam que conhecer outros humanos primitivos pode, portanto, ter sido crucial para nos tornarmos a espécie bem-sucedida que somos hoje.
O fato de os neandertais usarem muitas ferramentas diferentes revela novamente como eles eram semelhantes aos humanos modernos. Como nós, eles foram capazes de se adaptar e explorar com êxito seu ambiente.
"Os neandertais foram muito mais evoluídos do que pensávamos", diz Soressi. "Estamos agora em um ponto de virada em que devemos passar a considerar que os neandertais e os humanos modernos são iguais em muitos aspectos."
Isso se torna ainda mais evidente diante de evidências de que eles também enterravam seus mortos, outro ritual cultural que indica um "comportamento simbólico complexo".
Os últimos neandertais
Mas também havia diferenças claras entre os neandertais e os humanos modernos. Uma é o fato de que estamos aqui hoje, e eles não.
Nos últimos milênios de sua existência, eles enfrentaram novos desafios com os quais não estavam tão bem preparados para lidar quanto os humanos modernos.
John Stewart, da Universidade de Bournemouth, no Reino Unido, analisou as diferentes estratégias de caça de humanos e neandertais.
Ele explica que os neandertais não exploraram a caça de animais menores, como coelhos, tanto quanto os humanos modernos. Embora haja evidências na caverna de Gorham de que os neandertais caçavam coelhos, Stewart diz que eles faziam isso menos do que nós.
Suas táticas de caçar em contato próximo com a presa pode tê-los servido melhor no caso de animais maiores e tornado muito mais difícil pegar coelhos suficientes para sobreviver quando outros alimentos estavam escassos, por exemplo.
"Acho que os humanos modernos tinham mais tecnologias para capturar presas menores, como redes ou armadilhas. Quando os tempos ficavam difíceis, os humanos modernos sempre tinham mais alimento a seu dispor", diz Stewart.
As evidências climáticas indicam ainda que os neandertais viviam em um ambiente cada vez mais hostil. Períodos extremos de frio em outras partes da Europa os empurraram para o sul até chegarem a áreas como Gibraltar.
"A cada poucos milhares de anos, na Europa e na Ásia, o clima mudava drasticamente, de relativamente quente para muito frio", diz Chris Stringer, líder de pesquisa sobre origens humanas no Museu de História Natural de Londres, no Reino Unido.
"Como isso acontecia repetidamente, eles nunca foram capazes de ampliar a diversidade da sua espécie."
Isso significa que, quando os últimos neandertais chegaram ao seu lugar final na Terra, eles eram muito endogâmicos (com vários acasalamentos consanguíneos), uma má notícia para uma população que já estava diminuindo.
Ao mesmo tempo, uma descoberta feita em 2019 também sugere que sua fertilidade estava em declínio, talvez devido à falta de alimentos — a infertilidade pode ser resultado da diminuição da gordura corporal.
A pesquisa liderada por Anna Degioanni, da Universidade de Aix-Marselha, na França, sugere que, mesmo "uma ligeira mudança na taxa de fertilidade de mulheres mais jovens poderia ter tido um impacto dramático na taxa de crescimento da população neandertal e, portanto, na sua sobrevivência a longo prazo".
Sua população pode ter se tornado tão pequena que, eventualmente, alcançaram "um ponto sem retorno", diz Finlayson.
Infelizmente, isso significa que, embora os últimos neandertais vivessem da mesma maneira que seus ancestrais, mudanças climáticas tornaram isso insuficiente para garantir sua sobrevivência, o que, por sua vez, teria impactado diretamente sua capacidade de inovar e disseminar sua cultura.
Se a vida se torna apenas uma batalha pela sobrevivência, outras coisas, como a cultura, podem cair no esquecimento. Nos últimos anos dos neandertais na Terra, não seria preciso muita competição de outros seres humanos, animais ou doenças para acabar com eles.
Mas apesar de se tratar de uma espécie extinta, ela não desapareceu completamente. Algumas partes de seu genoma ainda vivem em nós. Os últimos neandertais podem ter morrido, mas deixaram sua marca na humanidade.