segunda-feira, 31 de março de 2025

As empresas americanas que apoiam a guerra comercial de Trump



Potes de geleia Smucker e St Dalfour competem nas prateleiras de um supermercado com placas dizendo "Economize 80 centavos"
  • Author,Natalie Sherman
  • Role,BBC News

Vá a um supermercado nos Estados Unidos e as prateleiras estarão abastecidas com pastas de morango St Dalfour e conservas de framboesa Bonne Maman — alguns dos mais de US$ 200 milhões (R$ 1,1 bi) em geleias que a Europa envia para os EUA a cada ano.

Mas tente procurar geleias feitas em terras americanas nos supermercados da Europa — e você provavelmente ficará de mãos vazias.

Os EUA exportam menos de US$ 300 mil (R$ 1,7 milhão) em geleia a cada ano para o bloco.

Esse é um desequilíbrio que a empresa americana JM Smucker, uma das maiores vendedoras desses produtos nos EUA, atribui a um imposto de importação de mais de 24% que suas geleias enfrentam na União Europeia (UE).


"O valor minúsculo das exportações dos EUA para a UE é inteiramente atribuível às altas tarifas", escreveu a empresa em uma carta à Casa Branca este mês, ao pedir para o governo Trump abordar a questão enquanto se prepara para cobrar tarifas "recíprocas" sobre os maiores parceiros comerciais do país

"Tarifas recíprocas dos EUA sobre geleias e compotas da UE serviriam para nivelar o campo de jogo", defendeu a empresa, observando que a maior tarifa dos EUA para geleias é atualmente de apenas 4,5%.

Globalmente, a pressão de Trump para implementar tarifas contra parceiros comerciais próximos — muitos dos quais têm cargas tarifárias médias semelhantes às da América — gerou raiva e perplexidade, ao mesmo tempo em que atraiu alertas de economistas sobre preços mais altos e outras possíveis dores de cabeça econômicas.

Algumas empresas nos EUA ecoaram essas preocupações, mas os apelos de Trump por tarifas também canalizam frustrações de longa data que muitas empresas sentem sobre a concorrência estrangeira e as políticas que enfrentam no exterior.

A carta da Smucker foi uma entre centenas enviadas à Casa Branca, que buscam influenciar o próximo conjunto de tarifas, com previsão de divulgação no dia 2 de abril.

Homem travalha em siderúrgica

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,EUA também anunciou tarifas sobre o aço

Os produtores de maçãs levantaram a grande disparidade em impostos de importação que essas frutas enfrentam em países como Índia (50%), Tailândia (40%) e Brasil (10%), bem como regras sanitárias em países como a Austrália, que segundo eles bloqueiam injustamente as exportações

As empresas de streaming chamaram atenção para impostos digitais no Canadá e na Turquia, que disseram "discriminar injustamente" companhias dos EUA.

O lobby do petróleo e gás natural criticou as regulamentações no México que exigem uma parceria com a empresa estatal de petróleo, além de outras políticas.

A própria Casa Branca destacou tarifas desiguais de etanol no Brasil (18% ante 2,5% nos EUA), tarifas de automóveis na Europa (10% ante 2,5% nos EUA) e motocicletas na Índia (até alguns anos atrás, 100% versus 2,4% nos EUA).

Trump sugeriu que o plano de tarifas recíprocas ajudará a remediar essas queixas, cujo anúncio é chamado de "Dia da Libertação".

Mas mesmo as empresas que buscam remediar problemas próprios expressaram hesitação sobre a estratégia do presidente de tarifar primeiro e perguntar depois, o que aumenta o risco de retaliação e uma guerra comercial amplificada.

Conforme o dia 2 de abril se aproxima, ainda há uma incerteza generalizada sobre os objetivos e o escopo dos planos da Casa Branca, especialmente porque Trump lança uma série de outras pistas sobre o que será feito.

"Vamos ser legais", disse ele na semana passada.

Ao mesmo tempo, o presidente dos EUA anunciou tarifas potencialmente devastadoras sobre carros e peças de automóveis estrangeiros.

"Acho que as pessoas ficarão agradavelmente surpresas", complementou Trump.

A Índia já disse que reduziria as tarifas sobre motocicletas — uma aposta aparente de que as tarifas de Trump são uma estratégia projetada para ganhar vantagem em negociações comerciais.

No entanto, analistas alertam que esperar que Trump planeje usar tarifas recíprocas para negociar mudanças pode gerar desapontamento, já que o presidente também indicou que poderia ficar satisfeito com um simples revide.

"Alguns dias são sobre vingança e apenas equalizar as coisas. Outros dias são sobre reduzir tarifas. Há então outros dias, os terceiros dias, que são sobre trazer a manufatura para os Estados Unidos", avalia William Reinsch, consultor sênior do Center for Strategic and International Studies (Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos), um organização sediada de Washington.

"Ele usou todos esses 'dias' em momentos diferentes. Não há uma estratégia única aqui em que você possa confiar."

O presidente dos EUA, Donald Trump, com a boca fechada, segura uma ordem executiva assinada no Salão Oval da Casa Branca em 26 de março de 2025 em Washington, DC. O presidente Trump anunciou tarifas de 25% sobre todos os carros fabricados no exterior

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Trump exibe uma ordem sobre tarifas de carros na Casa Branca

A incompatibilidade entre a ferramenta contundente das tarifas e as questões mais específicas que as empresas querem que a Casa Branca defenda levou a uma dança delicada.

As empresas sugerem tarifas de acordo com o interesse delas, ao mesmo tempo em que esperam evitar repercussões das taxas abrangentes que Trump sugeriu.

Por exemplo, a fabricante NorthStar BlueScope Steel, que emprega 700 pessoas nos EUA e funde aço a partir de metal reciclado, pediu a Trump que expandisse as tarifas sobre aço e alumínio.

Ao mesmo tempo, no entanto, pediu uma isenção de tarifas para as matérias-primas de que precisa, como sucatas.

Da mesma forma, o grupo de lobby do qual JM Smucker e outros grandes fabricantes de alimentos fazem parte, a Consumer Brands Association, alertou contra "tarifas excessivamente amplas e abrangentes" que podem tornar mais caro a importação de ingredientes como cacau, que não são produzidos nos EUA.

"Não quero necessariamente que o governo atual diga, 'vamos impor uma tarifa'", disse Tom Madrecki, vice-presidente de resiliência da cadeia de suprimentos do grupo, em um fórum recente sobre tarifas, organizado pela organização Farmers for Free Trade ("Agricultores pelo Livre Comércio", em tradução livre).

"É esse equilíbrio cuidadoso entre adotar uma política comercial dos EUA em primeiro lugar e uma ação para combater políticas comerciais injustas no exterior. Mas talvez não exatamente dessa forma [como Trump está fazendo]", complementou Madrecki.

Wilbur Ross, que atuou como secretário de comércio de Trump durante o primeiro mandato, entende que as preocupações comerciais se dissiparão à medida que os planos do presidente dos EUA se tornem claros.

Ele entende que 2 de abril pode ser um "grande passo" nesse sentido.

Mas ele observa que o presidente vê pouca desvantagem em usar tarifas, encarando-as como uma fonte de novas receitas ou uma maneira de reduzir importações e incentivar mais a manufatura local.

"Ele está muito comprometido", avalia Ross.

"As pessoas deveriam saber que algo assim estava por vir, porque ele tem falado sobre isso há muitos e muitos anos."

Contêineres

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Mais de 80% das exportações mexicanas vão para o mercado dos EUA

Os republicanos, tradicionalmente o partido pró-comércio, continuam a apoiar a estratégia de Trump, mesmo quando os anúncios de tarifas foram responsabilizados pela recente liquidação do mercado de ações e a fraqueza da confiança empresarial e do consumidor revelada por pesquisas recentes.

Em uma audiência recente sobre comércio, Jodey Arrington, um republicano que representa o Texas, reconheceu que pode haver "alguma dor associada no início", mas manteve a promessa de Trump de que as tarifas vão criar oportunidades para os eleitores no final.

"Parece-me que não é americano não lutar para que nossos fabricantes, produtores e trabalhadores tenham simplesmente um campo de jogo equilibrado", defendeu ele.

"Estamos simplesmente tentando redefinir esses relacionamentos [comerciais] de forma que joguemos no mesmo conjunto de regras", acrescentou Arrington.

"Assim, todos ganham", concluiu eleAs empresas de streaming chamaram atenção para impostos digitais no Canadá e na Turquia, que disseram "discriminar injustamente" companhias dos EUA.

O lobby do petróleo e gás natural criticou as regulamentações no México que exigem uma parceria com a empresa estatal de petróleo, além de outras políticas.

A própria Casa Branca destacou tarifas desiguais de etanol no Brasil (18% ante 2,5% nos EUA), tarifas de automóveis na Europa (10% ante 2,5% nos EUA) e motocicletas na Índia (até alguns anos atrás, 100% versus 2,4% nos EUA).

Trump sugeriu que o plano de tarifas recíprocas ajudará a remediar essas queixas, cujo anúncio é chamado de "Dia da Libertação".

Mas mesmo as empresas que buscam remediar problemas próprios expressaram hesitação sobre a estratégia do presidente de tarifar primeiro e perguntar depois, o que aumenta o risco de retaliação e uma guerra comercial amplificada.

Conforme o dia 2 de abril se aproxima, ainda há uma incerteza generalizada sobre os objetivos e o escopo dos planos da Casa Branca, especialmente porque Trump lança uma série de outras pistas sobre o que será feito.

"Vamos ser legais", disse ele na semana passada.

Ao mesmo tempo, o presidente dos EUA anunciou tarifas potencialmente devastadoras sobre carros e peças de automóveis estrangeiros.

"Acho que as pessoas ficarão agradavelmente surpresas", complementou Trump.

A Índia já disse que reduziria as tarifas sobre motocicletas — uma aposta aparente de que as tarifas de Trump são uma estratégia projetada para ganhar vantagem em negociações comerciais.

No entanto, analistas alertam que esperar que Trump planeje usar tarifas recíprocas para negociar mudanças pode gerar desapontamento, já que o presidente também indicou que poderia ficar satisfeito com um simples revide.

"Alguns dias são sobre vingança e apenas equalizar as coisas. Outros dias são sobre reduzir tarifas. Há então outros dias, os terceiros dias, que são sobre trazer a manufatura para os Estados Unidos", avalia William Reinsch, consultor sênior do Center for Strategic and International Studies (Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos), um organização sediada de Washington.

"Ele usou todos esses 'dias' em momentos diferentes. Não há uma estratégia única aqui em que você possa confiar."

O presidente dos EUA, Donald Trump, com a boca fechada, segura uma ordem executiva assinada no Salão Oval da Casa Branca em 26 de março de 2025 em Washington, DC. O presidente Trump anunciou tarifas de 25% sobre todos os carros fabricados no exterior

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Trump exibe uma ordem sobre tarifas de carros na Casa Branca

A incompatibilidade entre a ferramenta contundente das tarifas e as questões mais específicas que as empresas querem que a Casa Branca defenda levou a uma dança delicada.

As empresas sugerem tarifas de acordo com o interesse delas, ao mesmo tempo em que esperam evitar repercussões das taxas abrangentes que Trump sugeriu.

Por exemplo, a fabricante NorthStar BlueScope Steel, que emprega 700 pessoas nos EUA e funde aço a partir de metal reciclado, pediu a Trump que expandisse as tarifas sobre aço e alumínio.

Ao mesmo tempo, no entanto, pediu uma isenção de tarifas para as matérias-primas de que precisa, como sucatas.

Da mesma forma, o grupo de lobby do qual JM Smucker e outros grandes fabricantes de alimentos fazem parte, a Consumer Brands Association, alertou contra "tarifas excessivamente amplas e abrangentes" que podem tornar mais caro a importação de ingredientes como cacau, que não são produzidos nos EUA.

"Não quero necessariamente que o governo atual diga, 'vamos impor uma tarifa'", disse Tom Madrecki, vice-presidente de resiliência da cadeia de suprimentos do grupo, em um fórum recente sobre tarifas, organizado pela organização Farmers for Free Trade ("Agricultores pelo Livre Comércio", em tradução livre).

"É esse equilíbrio cuidadoso entre adotar uma política comercial dos EUA em primeiro lugar e uma ação para combater políticas comerciais injustas no exterior. Mas talvez não exatamente dessa forma [como Trump está fazendo]", complementou Madrecki.

Wilbur Ross, que atuou como secretário de comércio de Trump durante o primeiro mandato, entende que as preocupações comerciais se dissiparão à medida que os planos do presidente dos EUA se tornem claros.

Ele entende que 2 de abril pode ser um "grande passo" nesse sentido.

Mas ele observa que o presidente vê pouca desvantagem em usar tarifas, encarando-as como uma fonte de novas receitas ou uma maneira de reduzir importações e incentivar mais a manufatura local.

"Ele está muito comprometido", avalia Ross.

"As pessoas deveriam saber que algo assim estava por vir, porque ele tem falado sobre isso há muitos e muitos anos."

Contêineres

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Mais de 80% das exportações mexicanas vão para o mercado dos EUA

Os republicanos, tradicionalmente o partido pró-comércio, continuam a apoiar a estratégia de Trump, mesmo quando os anúncios de tarifas foram responsabilizados pela recente liquidação do mercado de ações e a fraqueza da confiança empresarial e do consumidor revelada por pesquisas recentes.

Em uma audiência recente sobre comércio, Jodey Arrington, um republicano que representa o Texas, reconheceu que pode haver "alguma dor associada no início", mas manteve a promessa de Trump de que as tarifas vão criar oportunidades para os eleitores no final.

"Parece-me que não é americano não lutar para que nossos fabricantes, produtores e trabalhadores tenham simplesmente um campo de jogo equilibrado", defendeu ele.

"Estamos simplesmente tentando redefinir esses relacionamentos [comerciais] de forma que joguemos no mesmo conjunto de regras", acrescentou Arrington.

"Assim, todos ganham", concluiu eleAs empresas de streaming chamaram atenção para impostos digitais no Canadá e na Turquia, que disseram "discriminar injustamente" companhias dos EUA.

O lobby do petróleo e gás natural criticou as regulamentações no México que exigem uma parceria com a empresa estatal de petróleo, além de outras políticas.

A própria Casa Branca destacou tarifas desiguais de etanol no Brasil (18% ante 2,5% nos EUA), tarifas de automóveis na Europa (10% ante 2,5% nos EUA) e motocicletas na Índia (até alguns anos atrás, 100% versus 2,4% nos EUA).

Trump sugeriu que o plano de tarifas recíprocas ajudará a remediar essas queixas, cujo anúncio é chamado de "Dia da Libertação".

Mas mesmo as empresas que buscam remediar problemas próprios expressaram hesitação sobre a estratégia do presidente de tarifar primeiro e perguntar depois, o que aumenta o risco de retaliação e uma guerra comercial amplificada.

Conforme o dia 2 de abril se aproxima, ainda há uma incerteza generalizada sobre os objetivos e o escopo dos planos da Casa Branca, especialmente porque Trump lança uma série de outras pistas sobre o que será feito.

"Vamos ser legais", disse ele na semana passada.

Ao mesmo tempo, o presidente dos EUA anunciou tarifas potencialmente devastadoras sobre carros e peças de automóveis estrangeiros.

"Acho que as pessoas ficarão agradavelmente surpresas", complementou Trump.

A Índia já disse que reduziria as tarifas sobre motocicletas — uma aposta aparente de que as tarifas de Trump são uma estratégia projetada para ganhar vantagem em negociações comerciais.

No entanto, analistas alertam que esperar que Trump planeje usar tarifas recíprocas para negociar mudanças pode gerar desapontamento, já que o presidente também indicou que poderia ficar satisfeito com um simples revide.

"Alguns dias são sobre vingança e apenas equalizar as coisas. Outros dias são sobre reduzir tarifas. Há então outros dias, os terceiros dias, que são sobre trazer a manufatura para os Estados Unidos", avalia William Reinsch, consultor sênior do Center for Strategic and International Studies (Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos), um organização sediada de Washington.

"Ele usou todos esses 'dias' em momentos diferentes. Não há uma estratégia única aqui em que você possa confiar."

O presidente dos EUA, Donald Trump, com a boca fechada, segura uma ordem executiva assinada no Salão Oval da Casa Branca em 26 de março de 2025 em Washington, DC. O presidente Trump anunciou tarifas de 25% sobre todos os carros fabricados no exterior

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Trump exibe uma ordem sobre tarifas de carros na Casa Branca

A incompatibilidade entre a ferramenta contundente das tarifas e as questões mais específicas que as empresas querem que a Casa Branca defenda levou a uma dança delicada.

As empresas sugerem tarifas de acordo com o interesse delas, ao mesmo tempo em que esperam evitar repercussões das taxas abrangentes que Trump sugeriu.

Por exemplo, a fabricante NorthStar BlueScope Steel, que emprega 700 pessoas nos EUA e funde aço a partir de metal reciclado, pediu a Trump que expandisse as tarifas sobre aço e alumínio.

Ao mesmo tempo, no entanto, pediu uma isenção de tarifas para as matérias-primas de que precisa, como sucatas.

Da mesma forma, o grupo de lobby do qual JM Smucker e outros grandes fabricantes de alimentos fazem parte, a Consumer Brands Association, alertou contra "tarifas excessivamente amplas e abrangentes" que podem tornar mais caro a importação de ingredientes como cacau, que não são produzidos nos EUA.

"Não quero necessariamente que o governo atual diga, 'vamos impor uma tarifa'", disse Tom Madrecki, vice-presidente de resiliência da cadeia de suprimentos do grupo, em um fórum recente sobre tarifas, organizado pela organização Farmers for Free Trade ("Agricultores pelo Livre Comércio", em tradução livre).

"É esse equilíbrio cuidadoso entre adotar uma política comercial dos EUA em primeiro lugar e uma ação para combater políticas comerciais injustas no exterior. Mas talvez não exatamente dessa forma [como Trump está fazendo]", complementou Madrecki.

Wilbur Ross, que atuou como secretário de comércio de Trump durante o primeiro mandato, entende que as preocupações comerciais se dissiparão à medida que os planos do presidente dos EUA se tornem claros.

Ele entende que 2 de abril pode ser um "grande passo" nesse sentido.

Mas ele observa que o presidente vê pouca desvantagem em usar tarifas, encarando-as como uma fonte de novas receitas ou uma maneira de reduzir importações e incentivar mais a manufatura local.

"Ele está muito comprometido", avalia Ross.

"As pessoas deveriam saber que algo assim estava por vir, porque ele tem falado sobre isso há muitos e muitos anos."

Contêineres

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Mais de 80% das exportações mexicanas vão para o mercado dos EUA

Os republicanos, tradicionalmente o partido pró-comércio, continuam a apoiar a estratégia de Trump, mesmo quando os anúncios de tarifas foram responsabilizados pela recente liquidação do mercado de ações e a fraqueza da confiança empresarial e do consumidor revelada por pesquisas recentes.

Em uma audiência recente sobre comércio, Jodey Arrington, um republicano que representa o Texas, reconheceu que pode haver "alguma dor associada no início", mas manteve a promessa de Trump de que as tarifas vão criar oportunidades para os eleitores no final.

"Parece-me que não é americano não lutar para que nossos fabricantes, produtores e trabalhadores tenham simplesmente um campo de jogo equilibrado", defendeu ele.

"Estamos simplesmente tentando redefinir esses relacionamentos [comerciais] de forma que joguemos no mesmo conjunto de regras", acrescentou Arrington.

"Assim, todos ganham", concluiu eleAs empresas de streaming chamaram atenção para impostos digitais no Canadá e na Turquia, que disseram "discriminar injustamente" companhias dos EUA.

O lobby do petróleo e gás natural criticou as regulamentações no México que exigem uma parceria com a empresa estatal de petróleo, além de outras políticas.

A própria Casa Branca destacou tarifas desiguais de etanol no Brasil (18% ante 2,5% nos EUA), tarifas de automóveis na Europa (10% ante 2,5% nos EUA) e motocicletas na Índia (até alguns anos atrás, 100% versus 2,4% nos EUA).

Trump sugeriu que o plano de tarifas recíprocas ajudará a remediar essas queixas, cujo anúncio é chamado de "Dia da Libertação".

Mas mesmo as empresas que buscam remediar problemas próprios expressaram hesitação sobre a estratégia do presidente de tarifar primeiro e perguntar depois, o que aumenta o risco de retaliação e uma guerra comercial amplificada.

Conforme o dia 2 de abril se aproxima, ainda há uma incerteza generalizada sobre os objetivos e o escopo dos planos da Casa Branca, especialmente porque Trump lança uma série de outras pistas sobre o que será feito.

"Vamos ser legais", disse ele na semana passada.

Ao mesmo tempo, o presidente dos EUA anunciou tarifas potencialmente devastadoras sobre carros e peças de automóveis estrangeiros.

"Acho que as pessoas ficarão agradavelmente surpresas", complementou Trump.

A Índia já disse que reduziria as tarifas sobre motocicletas — uma aposta aparente de que as tarifas de Trump são uma estratégia projetada para ganhar vantagem em negociações comerciais.

No entanto, analistas alertam que esperar que Trump planeje usar tarifas recíprocas para negociar mudanças pode gerar desapontamento, já que o presidente também indicou que poderia ficar satisfeito com um simples revide.

"Alguns dias são sobre vingança e apenas equalizar as coisas. Outros dias são sobre reduzir tarifas. Há então outros dias, os terceiros dias, que são sobre trazer a manufatura para os Estados Unidos", avalia William Reinsch, consultor sênior do Center for Strategic and International Studies (Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos), um organização sediada de Washington.

"Ele usou todos esses 'dias' em momentos diferentes. Não há uma estratégia única aqui em que você possa confiar."

O presidente dos EUA, Donald Trump, com a boca fechada, segura uma ordem executiva assinada no Salão Oval da Casa Branca em 26 de março de 2025 em Washington, DC. O presidente Trump anunciou tarifas de 25% sobre todos os carros fabricados no exterior

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Trump exibe uma ordem sobre tarifas de carros na Casa Branca

A incompatibilidade entre a ferramenta contundente das tarifas e as questões mais específicas que as empresas querem que a Casa Branca defenda levou a uma dança delicada.

As empresas sugerem tarifas de acordo com o interesse delas, ao mesmo tempo em que esperam evitar repercussões das taxas abrangentes que Trump sugeriu.

Por exemplo, a fabricante NorthStar BlueScope Steel, que emprega 700 pessoas nos EUA e funde aço a partir de metal reciclado, pediu a Trump que expandisse as tarifas sobre aço e alumínio.

Ao mesmo tempo, no entanto, pediu uma isenção de tarifas para as matérias-primas de que precisa, como sucatas.

Da mesma forma, o grupo de lobby do qual JM Smucker e outros grandes fabricantes de alimentos fazem parte, a Consumer Brands Association, alertou contra "tarifas excessivamente amplas e abrangentes" que podem tornar mais caro a importação de ingredientes como cacau, que não são produzidos nos EUA.

"Não quero necessariamente que o governo atual diga, 'vamos impor uma tarifa'", disse Tom Madrecki, vice-presidente de resiliência da cadeia de suprimentos do grupo, em um fórum recente sobre tarifas, organizado pela organização Farmers for Free Trade ("Agricultores pelo Livre Comércio", em tradução livre).

"É esse equilíbrio cuidadoso entre adotar uma política comercial dos EUA em primeiro lugar e uma ação para combater políticas comerciais injustas no exterior. Mas talvez não exatamente dessa forma [como Trump está fazendo]", complementou Madrecki.

Wilbur Ross, que atuou como secretário de comércio de Trump durante o primeiro mandato, entende que as preocupações comerciais se dissiparão à medida que os planos do presidente dos EUA se tornem claros.

Ele entende que 2 de abril pode ser um "grande passo" nesse sentido.

Mas ele observa que o presidente vê pouca desvantagem em usar tarifas, encarando-as como uma fonte de novas receitas ou uma maneira de reduzir importações e incentivar mais a manufatura local.

"Ele está muito comprometido", avalia Ross.

"As pessoas deveriam saber que algo assim estava por vir, porque ele tem falado sobre isso há muitos e muitos anos."

Contêineres

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Mais de 80% das exportações mexicanas vão para o mercado dos EUA

Os republicanos, tradicionalmente o partido pró-comércio, continuam a apoiar a estratégia de Trump, mesmo quando os anúncios de tarifas foram responsabilizados pela recente liquidação do mercado de ações e a fraqueza da confiança empresarial e do consumidor revelada por pesquisas recentes.

Em uma audiência recente sobre comércio, Jodey Arrington, um republicano que representa o Texas, reconheceu que pode haver "alguma dor associada no início", mas manteve a promessa de Trump de que as tarifas vão criar oportunidades para os eleitores no final.

"Parece-me que não é americano não lutar para que nossos fabricantes, produtores e trabalhadores tenham simplesmente um campo de jogo equilibrado", defendeu ele.

"Estamos simplesmente tentando redefinir esses relacionamentos [comerciais] de forma que joguemos no mesmo conjunto de regras", acrescentou Arrington.

"Assim, todos ganham", concluiu ele



Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 27 de março de 2025

Bolsonaro vira réu por tentativa de golpe de Estado


Bolsonaro com feição apreensiva no STF

Crédito,STF

  • Author,Mariana Schreiber
  • Role,Da BBC News Brasil em Brasília


Jair Bolsonaro (PL) é o primeiro ex-presidente brasileiro a virar réu sob a acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado.

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu aceitar a denúncia contra ele e outros sete ex-integrantes do seu governo, sendo três generais do Exército — Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil).

Eles fariam parte do que a Procuradoria-Geral da República (PGR) chamou de "núcleo crucial" de uma trama golpista contra a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022. Todos negam as acusações.

Os ministros Alexandre de Moraes (relator do caso), Flávio Dino, Luiz Fux e Cármen Lúcia e o presidente da Primeira Turma, Cristiano Zanin, votaram pela aceitação da denúncia nesta quarta-feira (26/3)


Em seu voto, Moraes defendeu que a "peça acusatória da PGR apresentou em relação aos oito denunciados os indícios que possibilitam a instalação da ação penal"

Moraes apresentou um vídeo com imagens dos atos golpistas de 8 de janeiro, acrescentando um tom emocional para o julgamento.

A gravação tinha também imagens anteriores aos atos, dos acampamentos no Quartel General do Exército e a ameaça de bomba no aeroporto de Brasília no final de 2022


Segundo o ministro, as imagens demonstram que a invasão das sedes dos Três Poderes não foi uma manifestação pacífica, como alguns argumentam.

"Temos a tendência infelizmente de ir esquecendo. E as pessoas de boa-fé que têm esse viés de positividade acabam sendo enganadas pelas pessoas de má-fé que, com notícias fraudulentas e com milícias digitais, passam a querer uma própria narrativa de velhinhas com a Bíblia na mão, de pessoas que estavam passeando, de pessoas que estavam passeando e estavam com batom e foram só passar um batonzinho na estátua", disse o ministro



O vídeo trouxe ainda o depoimento de uma policial de que foi jogada no chão no dia 8 de janeiro e ferida com uma barra na cabeça, além de imagens de depredação dos prédios públicos e faixas pedindo um golpe militar.

"É bom lembrarmos que tivemos tentativa de golpe de Estado violentíssimo. Fogo destruição ao patrimônio público", reforçou Moraes, que classificou o 8 de janeiro como "uma verdadeira guerra campal".

O ministro Flávio Dino também defendeu que a denúncia fosse aceita pela Primeira Turma do STF. Segundo ele, a denúncia da PGR apresentou elementos que comprovariam a ocorrência de uma tentativa de golpe, inclusive, com o uso da força.

"Quanto à materialidade [ocorrência], não há dúvida quanto à sua viabilidade [da denúncia]. Exatamente porque houve o ataque ao Supremo, ao Congresso e ao Palácio do Planalto", disse.

Dino também rebateu a alegação de que a suposta tentativa de golpe não teria gerado nenhuma morte.

"Se diz também: 'Ah...mas não morreu ninguém'. No dia 1º de abril de 1964 também não morreu ninguém. Mas centenas e milhares morreram depois. Golpe de Estado mata. Não importa se isto é no dia, no mês seguinte ou alguns anos depois", disse o ministro.

Terceiro a votar, Fux começou lembrando a importância da democracia brasileira após o período de ditadura militar (1964-1985).

"Nós conquistamos a democracia entre lutas e barricadas", lembrou o ministro.

"Tudo que se volta contra ele [o Estado Democrático de Direiro] é repugnante e absolutamente inaceitável."

Fux fez críticas às penas aplicadas aos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023 e defendeu que elas devem ser revistas, mas afirmou que, do ponto de vista técnico, a denúncia merece ser recebida.

"Estamos numa fase para verificação de indícios de autoria. É fase ainda indicial. [Sobre] todas essas digressões [às quais se referiu], vou me reservar para analisar no curso da instrução [do processo]", disse o magistrado.

Em seu voto, a ministra Cármen Lúcia disse que não haveria dúvidas de que os atos de 8 de janeiro representaram uma tentativa de golpe de Estado e que seria necessário apurar as responsabilidades pelos atos que antecederam esse episódio.

"É preciso é desenrolar [os fatos] do dia 8 pra trás pra a gente chegar a esta máquina que tentou desmontar a democracia, o que é um fato. Isso não é negado por ninguém em sã consciência. Todo mundo assistiu pelas televisões, pelas redes sociais, de toda forma, o quebra-quebra, e a tentativa de matar o Supremo", disse a ministra.

Último a votar, Zanin afirmou que a denúncia está longe de ser amparada exclusivamente numa delação premiada.

"O que se tem aqui são diversos documentos, vídeos, dispositivos, diversos materiais que dão amparo aquilo que foi apresentado pela acusação",

"Neste momento também considero que há materialidade, indício de autoria, a ensejar o recebimento integral da denúncia como exposto pelo eminente relator", disse Cristiano Zanin.

Após a proclamação do resultado, Bolsonaro afirmou em nota que é alvo "da maior perseguição político-judicial da história do Brasil, motivada por inconfessáveis desejos, por vaidades e por claros interesses políticos de impedir que eu participe e ganhe a eleição presidencial de 2026".

"Me acusam de um crime que jamais cometi – uma suposta tentativa de golpe de Estado. Conversei com auxiliares alternativas políticas para a Nação, mas nunca desejei ou levantei a possibilidade da ruptura democrática. As mudanças nos comandos das Forças Armadas foram feitas sem problemas. Sempre agi nas quatros linhas da Constituição. Sempre!", acrescentou.

Bolsonaro acompanhou o segundo dia de julgamento no gabinete de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

No primeiro dia, compareceu ao STF para acompanhar pessoalmente ao lado de seu advogado Celso Vilardi, que criticou a falta de acesso da defesa a todo o conteúdo da investigação da Polícia Federal (PF) e questionou a legalidade da delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do Bolsonaro.

Ele contestou a versão da PGR de que seu cliente teria liderado uma tentativa de golpe de Estado que culminou nos ataques de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes.

Um dos argumentos do advogado é que o ex-presidente autorizou que o comando do Exército fosse passado a um general indicado por Lula antes mesmo da posse do petista, no final de dezembro de 2022.

"Entendo a gravidade de tudo que aconteceu no 8 de janeiro, mas não é possível que se queira imputar a responsabilidade ao Presidente da República [Bolsonaro] o colocando como líder de uma organização criminosa quando ele não participou dessa questão do 8 de janeiro. Pelo contrário, ela a repudiou", afirmou Vilardi.

Com a abertura do processo, Bolsonaro e os outros sete réus responderão a acusações por cinco crimes: golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

Caso Bolsonaro seja condenado por todos os crimes, as penas máximas somadas podem superar 40 anos de prisão, já que ele é acusado de liderar a suposta organização criminosa. No Brasil, penas acima de 8 anos começam a ser cumpridas em regime fechado.

Além dos ex-presidente e três generais, vão responder ao processo Almir Garnier Santos (ex-comandante da Marinha), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin) e Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que fechou um acordo de delação premiada).

Segundo PGR, eles formavam o núcleo de onde teriam partido as principais decisões e ações — o STF ainda vai avaliar a abertura de processos contra outros três núcleos, com mais 26 denunciados.

Para a acusação, o plano para manter Bolsonaro no poder teria começado com ataques infundados à segurança das urnas eletrônicas em 2021 e evoluído para minutas que abririam caminho para o golpe de Estado, um plano para matar Lula e pressões sobre as Forças Armadas para executar o golpe, culminando no 8 de janeiro de 2023.

A defesa do ex-presidente, ao negar os crimes, ressaltou que Bolsonaro estava fora do país, morando nos Estados Unidos, quando apoiadores radicais vandalizaram os principais edifícios da República.

É justamente no processo criminal que as duas partes tentarão convencer o STF sobre suas versões.

Ao longo dos próximos meses, o processo vai mobilizar militares de alta patente e autoridades, convocados como testemunha.

A PGR já apontou na denúncia que deseja ouvir, por exemplo, o general Marco Antonio Freire Gomes e o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, que eram, respectivamente, os comandantes do Exército e da Aeronáutica no governo Bolsonaro e teriam recusado a proposta de um golpe.

Os dois também já foram apontados como testemunha de defesa pelo ex-presidente, além do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi seu ministro da Infraestrutura, e outros ex-integrantes do governo.

Nos bastidores de Brasília, a expectativa é que o processo seja concluído ainda neste ano, o que gera controvérsia entre juristas. Bolsonaro, por sua vez, tem se queixado da celeridade do andamento do caso.

Para o professor de Direito Processual Penal da USP Gustavo Badaró, os prognósticos do ex-presidente no STF não são bons, considerando as centenas de condenações já proferidas pela Corte por tentativa de golpe de Estado e outros crimes nos processos do 8 de janeiro, com penas que chegam a 17 anos de prisão.

Por outro lado, ele considera que o vínculo de Bolsonaro com os ataques às sedes dos Três Poderes é o ponto mais sensível da denúncia, já que o ex-presidente estava fora do país.

"Acho que esse vai ser o grande ponto de questionamento da defesa do Bolsonaro. Já a acusação vai tentar mostrar que, apesar de Bolsonaro não ter participado do 8 de janeiro, indiretamente todos os atos dele acabaram induzindo e levando a esse resultado final", analisa.

O próprio ex-presidente tem se mostrado pessimista com seu futuro no STF. Ele articula no Congresso a aprovação de uma lei de anistia que perdoaria todos os condenados por atos relacionados ao 8 de janeiro de 2023, mas não há ainda confirmação de votação da proposta.

Em ato pela anistia realizado em 16 de março, no Rio de Janeiro, Bolsonaro reconheceu o risco de receber uma pena elevada.

"O que eles querem? É uma condenação. Se é 17 anos de prisão para as pessoas humildes, é para justificar 28 anos para mim", disse sobre um caminhão de som, na orla de Copacabana.

Entenda a seguir o que acontece agora no processo contra Bolsonaro.

Alexandre de Moraes

Crédito,STF

Legenda da foto,Defesa acusa ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, de parcialiadade

1) As etapas do processo

O processo criminal terá três fases, explicou à reportagem a criminalista Marina Coelho Araújo, professora do Insper e vice-presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo.

A primeira é a instrução criminal, em que serão produzidas as provas do processo — que poderão confirmar a acusação ou comprovar a inocência dos réus.

Nessa fase, exemplifica, podem ser realizadas perícias, quebras de sigilo, inclusão de documentos, assim como o depoimento das testemunhas indicadas pela acusação e pela defesa.

Depois da instrução criminal, na segunda fase, será realizado o interrogatório dos réus. Esse é o momento de defesa pessoal dos acusados, ressalta a professora, em que eles têm direito a permanecerem calados, se preferirem.

"Depois que as provas foram produzidas, o réu vai dizer qual é a versão dele para tudo isso", resume.

E a terceira fase é a das alegações finais, em que a PGR e os advogados dos réus apresentam seus memoriais fundamentando seus pedidos por condenação ou absolvição.

A acusação se manifesta primeiro e, em seguida, a defesa tem a palavra final.

Concluídas as três fases, o relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes, vai produzir seu voto e liberar o caso para que seja marcado o julgamento na Primeira Turma.

Como o caso já tramita na mais alta instância do Judiciário, há poucas possibilidades de recursos dentro do próprio STF.

Após eventuais recursos, caso Bolsonaro seja condenado e receba uma pena superior a 8 anos de prisão, ele será preso em regime fechado.

Bolsonaro sentado, com a mão no rosto, ao lado dos seus advogados

Crédito,STF/ Reuters

Legenda da foto,Bolsonaro acompanhou o julgamento no STF, ao lado de seus advogados

2) Que testemunhas serão ouvidas?

A PGR já apontou, no momento da denúncia, seis testemunhas de acusação, incluindo o general Marco Antonio Freire Gomes e o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, que eram, respectivamente, os comandantes do Exército e da Aeronáutica no governo Bolsonaro.

Em depoimento à Polícia Federal, durante as investigações, eles disseram que Bolsonaro lhes apresentou minutas golpistas, mas que eles se recusaram a participar do plano.

Além disso, a PGR indicou o governador do Distrito Federal, Ibanês Rocha, que poderá falar sobre o esquema de segurança do 8 de janeiro, e dois servidores que serão ouvidos sobre o suposto uso da Polícia Rodoviária Federal para dificultar a circulação de ônibus no segundo turno da eleição em redutos eleitorais de Lula.

A sexta testemunha é Éder Balbino, que teria sido contratado pelo Instituto Voto Legal para ajudar na formulação de um relatório questionando a integridade das urnas, encomendado pelo PL, partido de Bolsonaro. Balbino, porém, não teria, ao final, apoiado as conclusões do documento.

Bolsonaro, por sua vez, já apontou 13 testemunhas, quando apresentou sua defesa, incluindo também Freire Gomes e Baptista Junior.

A lista tem ainda o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi seu ministro da Infraestrutura, além de outros ex-integrantes do governo, como o ex-vice-presidente e hoje senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), além dos ex-ministros e hoje senadores Rogério Marinho (PL-RN) e Ciro Nogueira (PP-PI).

Outro militar na lista é o coronel Wagner Oliveira da Silva, que representava a Aeronáutica na comissão do Ministério da Defesa que acompanhou a apuração dos votos das eleições de 2022 no TSE.

Cada réu pode indicar até oito testemunhas para cada um dos cinco crimes dos quais são acusados, somando 40 pessoas, mas é incomum que sejam arrolados tantos depoentes assim.

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Crédito,Reuters

Legenda da foto,Bolsonaro apontou o governador Tarcísio de Freitas como testemunha de defesa

3) Quanto tempo pode durar o processo?

Não há um prazo certo para a duração de um processo e juristas ouvidos pela reportagem divergem sobre quanto tempo pode levar até o julgamento do ex-presidente.

Bolsonaro, por sua vez, reclama que o STF estaria julgando o seu caso com pressa.

Após o presidente da Primeira Turma, Cristiano Zanin, marcar o julgamento da denúncia para 25 e 26 de março, o ex-presidente fez um post na rede social X.

"Um inquérito repleto de problemas e irregularidades contra mim e outras 33 pessoas está indo a julgamento em apenas 1 ano e 1 mês [de 8 de fevereiro de 2024 a 25 de março de 2025]. É impressionante!", reclamou, no post.

"Parece que o devido processo legal, por aqui, funciona na velocidade da luz", ironizou ainda, após citar estatísticas sobre a lentidão do Judiciário brasileiro.

Nos bastidores de Brasília, há uma expectativa de que o STF encerre o julgamento ainda em 2025, para evitar que o desfecho do processo ocorra próximo à eleição presidencial de outubro de 2026.

Independentemente do resultado, Bolsonaro já está impedido de disputar o pleito por duas condenações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma delas devido ao uso da Palácio da Alvorada para convocar diplomatas estrangeiros e atacar o sistema de votação eletrônico. E outra por uso político das comemorações da Independência, no feriado de 7 de setembro de 2022, em plena campanha eleitoral.

Para o doutor em Direito Processual Penal e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Aury Lopes, o processo contra Bolsonaro tem complexidade para se estender para 2026.

Ele ressalta que a PGR fatiou o caso em cinco denúncias com quatro núcleos, e que esses julgamentos também vão consumir tempo da Corte.

Além do núcleo 1, de Bolsonaro, o STF já marcou também a análise das denúncias contra o núcleo 2 (29 e 30 de abril) e núcleo 3 (em 8 e 9 de abril).

"Numa situação normal de temperatura e pressão, eu te diria que [o julgamento do núcleo de Bolsonaro] é um processo para demorar dois anos até uma sentença", disse em entrevista à BBC News Brasil em fevereiro, quando a denúncia foi apresentada.

Já a professora do Insper Marina Coelho Araújo considera razoável que o caso seja julgado ainda em 2025. Ela nota que o andamento dos processos criminais tem se tornado mais célere no Brasil por dois fatores: amadurecimento de mudanças no rito processual que ocorreram em 2008 e os efeitos da pandemia da covid-19, com procedimentos virtuais mais ágeis.

"Hoje, os processos penais tendem a durar muito menos do que duravam cinco anos atrás. É uma realidade", afirma.

Para o professor de Direito Processual Penal da USP Gustavo Badaró, o processo pode ser concluído este ano, a depender do número de testemunhas a serem ouvidas.

Ele ressalta que o STF conta com juízes de instrução para auxiliar os ministros na condução dos processos. Além disso, o relator do caso, Alexandre de Moraes, pode também solicitar que juízes espalhados pelo Brasil ouçam testemunhas que não moram em Brasília.

"É claro que essa busca por uma maior celeridade não pode suprimir garantias [dos réus]. A Constituição diz que o processo tem que terminar num prazo razoável. Não estabelece um prazo fixo. Um ano, se forem respeitadas as garantias, é um bom prazo", afirmou Badaró.

O professor a USP, porém, considera negativo que a celeridade seja motivada por razões políticas e aponta o risco de isso afetar a credibilidade do Supremo.

Ele nota que a Corte já sofre questionamentos por outros pontos controversos dos processos relacionados ao 8 de janeiro, como a decisão de julgar pessoas sem foro privilegiado no STF.

A Corte, porém, recusou pedidos da defesa de Bolsonaro e dos demais acusados para mudar a instância de julgamento.

"Há um ditado da Justiça inglesa, e que a Corte Europeia de Direitos Humanos reproduz muito quando ela trata da imparcialidade judicial, que diz: 'Não basta ser imparcial, você também tem que parecer imparcial para que a sociedade acredite que a Justiça está sendo feita'", destaca



Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 18 de março de 2025

Filho de Bolsonaro decide se licenciar do mandato para ficar nos Estados Unidos após ato fracassado em defesa dos golpistas do 8 de janeiro

A grande imprensa anuncia que Eduardo Bolsonaro foge do Brasil com medo de ser preso. 




O ato convocado por Jair Bolsonaro (PL) neste domingo (16), em Copacabana, no Rio de Janeiro, ficou muito aquém das expectativas. Segundo um levantamento do Monitor do Debate Público do Meio Digital, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), apenas 18,3 mil pessoas participaram da manifestação, número muito abaixo do um milhão de apoiadores esperado pelos organizadores.

A baixa adesão não passou despercebida pelo próprio Bolsonaro, que chegou a comparar o ato com mobilizações anteriores. “A gente arrastava multidões pelo Brasil. Foi aqui, no 7 de Setembro, tinha mais gente do que agora”, reconheceu o ex-presidente.

A análise do número de manifestantes foi feita com o uso de imagens aéreas captadas por drones e analisadas por um software de inteligência artificial, que identifica automaticamente os indivíduos na multidão. Segundo o relatório da USP, o sistema tem precisão de 72,9% e um erro médio de 12% para mais ou para menos na contagem de grandes públicos.

Foram registradas 66 fotos da manifestação ao longo do dia, com destaque para seis imagens tiradas às 12h, horário de maior concentração. As imagens cobriram toda a extensão da manifestação sem sobreposição, garantindo uma análise precisa. O banco de imagens utilizado na contagem foi disponibilizado para consulta pública.

A baixa adesão ao evento acontece em um momento crítico para Bolsonaro, que pode se tornar réu no Supremo Tribunal Federal (STF) nos próximos dias. O ato tinha como objetivo pressionar o Congresso pela aprovação de um projeto de anistia aos condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro, mas o número reduzido de manifestantes demonstra que a mobilização bolsonarista já não tem a mesma força de anos anteriores.

O fracasso do ato expõe o enfraquecimento do ex-presidente no cenário político e questiona sua capacidade de mobilizar grandes massas, especialmente diante de sua inelegibilidade até 2030 e do avanço das investigações sobre seu papel na tentativa de golpe.

Com informações de Brasil de Fato

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Papa Francisco pede o fim dos conflitos em carta escrita do hospital, diz Vaticano





O pontífice redigiu o documento de seu quarto no hospital Gemelli, em Roma, onde está internado há mais de um mês para tratar uma pneumonia dupla. Na mensagem, o papa destaca a irracionalidade da guerra, especialmente em momentos de fragilidade humana. “A guerra parece ainda mais absurda (…) nos momentos de doença”, afirmou.

Ele ressaltou que a vulnerabilidade pode trazer clareza sobre o que realmente importa na vida: “A fragilidade humana tem o poder de nos tornar mais lúcidos diante do que dura e do que passa, do que faz viver e do que faz morrer”; e criticou o impacto destrutivo das armas, que “devastam comunidades e o meio ambiente sem oferecer solução para os conflitos”

Francisco também fez um apelo aos jornalistas, pedindo responsabilidade no uso das palavras. “Nunca são apenas palavras: são fatos que estruturam os ambientes humanos. Podem unir ou dividir, servir à verdade ou abusar dela”, alertou. Além disso, destacou o papel das religiões na promoção da paz, incentivando um compromisso com a fraternidade e a justiça.

O papa defendeu ainda a necessidade de “desarmar as palavras, para desarmar as mentes e desarmar a Terra”, ressaltando a importância da reflexão e do equilíbrio diante das complexidades do mundo.

Após um período crítico e episódios de crise respiratória, o estado de saúde do pontífice apresentou melhora nos últimos dias, permanecendo estável, segundo o Vaticano. No entanto, ele seguirá hospitalizado por tempo indeterminado.

No fim de semana, pela primeira vez, o Vaticano divulgou uma imagem do papa no hospital, onde ele aparece rezando em uma capela. Em um boletim posterior, informou que sua mão está inchada devido à mobilidade reduzida.

Fonte: ICL Notícias


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