domingo, 22 de agosto de 2021

Quem são os integralistas, o fascismo brasileiro que mantém seguidores até hoje



Retrato de Plínio Salgado

CRÉDITO,ACERVO AIB/PRP - DELFOS/PUCRS

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Plínio Salgado fundou o integralismo em 7 de outubro de 1932, dois anos depois de visitar a Itália e conhecer o então primeiro-ministro Benito Mussolini

"Deus dirige o destino dos povos".

A expressão, criada por Plínio Salgado (1895-1975), abriu o Manifesto de Outubro, em 7 de outubro de 1932.

O documento, redigido pelo próprio jornalista, definia as diretrizes ideológicas do integralismo, versão brasileira do fascismo italiano e de seus similares europeus, e é considerado a "certidão de nascimento" do movimento.

Quase 90 anos depois, no dia 8 de junho de 2021, a frase foi resgatada por Paulo Fernando para abrir seu discurso de filiação ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Em julho, mais duas importantes lideranças neointegralistas, Moisés José Lima e Lucas Carvalho, se filiaram ao partido presidido pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson para disputar as próximas eleições.

Não é a primeira vez que neointegralistas tentam aproximação com partidos políticos de direita, como o Partido de Reedificação da Ordem Nacional (PRONA), de Enéas Carneiro (1938-2007), e o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), de Levy Fidelix (1951-2021).


Quem explica é Odilon Caldeira Neto, doutor em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor do Departamento de História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

"Os neointegralistas buscam construir alianças para articulações mais amplas. O discurso contrário à democracia liberal é, muitas vezes, um grande obstáculo para as pautas integralistas. Mas essa relação existe. E, ultimamente, tem crescido", afirma Odilon, autor de Sob o Signo do Sigma: Integralismo, Neointegralismo e o Antissemitismo (2014) e coautor de O Fascismo em Camisas Verdes - Do Integralismo ao Neointegralismo (2020), em parceria com Leandro Pereira Gonçalves.

Militantes Integralistas posam para foto

CRÉDITO,ARQUIVO PÚBLICO HISTÓRICO DE RIO CLARO

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O uniforme era composto por camisas verdes de mangas compridas e colarinhos e punhos abotoados. Se algum membro fosse flagrado consumindo álcool, dançando ou jogando, seria punido. Se fosse preso, deveria, antes, retirar a camisa.

Os 'herdeiros' de Plínio Salgado

Os mais novos filiados do PTB são integrantes da Frente Integralista Brasileira (FIB), o maior, mais ativo e organizado dos três grupos neointegralistas surgidos na década de 2000.

Os outros dois são a Ação Integralista Revolucionária (AIR), de intensa atuação virtual, e o Movimento Integralista e Linearista Brasileiro (MIL-B), de forte conotação antissemita. Segundo estimativas, o número de militantes da FIB gira em torno de 200, em sua maioria homens.

"É natural que exista, entre os neointegralistas, um movimento de disputa em torno de uma certa legitimidade para suas atividades. Eles se apresentam como herdeiros legítimos de um movimento que, no século 20, agitou parcelas significativas da sociedade", observa Odilon.

"Eu não diria que eles são herdeiros de Plínio Salgado. Mas, herdeiros de toda a complexidade que permeia o integralismo, inclusive de lideranças como Miguel Reale (1910-2006) e Gustavo Barroso (1888-1959). É um movimento voltado para o futuro, mas com os olhos fixos no passado".

O insight para criar o integralismo surgiu em 1930 durante uma viagem de Plínio Salgado à Europa. Ele fazia parte da comitiva que, no dia 14 de junho, conheceu Benito Mussolini (1883-1945), o então primeiro-ministro italiano, em visita ao Palácio Venezia, em Roma. .

O encontro não durou mais do que 15 minutos, mas foi tempo suficiente para inspirar Plínio Salgado a adaptar o fascismo italiano à realidade brasileira e criar o maior movimento de extrema direita da história do país.

"Contando eu a Mussolini o que tenho feito, ele achou admirável o meu processo, dada a situação diferente de nosso país. Também como eu, ele pensa que, antes da organização de um partido, é necessário um movimento de ideias", relatou Plínio Salgado em carta de 1936.

Suas ideias, nacionalistas e conservadoras, ganharam vida em 6 de maio de 1932, quando sugeriu a criação de um novo grupo, a Ação Integralista Brasileira (AIB). Passados seis meses, a AIB foi oficialmente lançada no dia 7 de outubro de 1932.

"Uma organização pautada no cristianismo e com forte discurso anticomunista, antiliberal e, em alguns casos, antissemita", resume Leandro Pereira Gonçalves, doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e professor do Departamento de História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Na fase áurea do integralismo, Plínio Salgado gostava de repetir, cheio de si, que a AIB tinha "um milhão de integrantes". Entre eles, alguns adeptos famosos, como o militar João Cândido (1880-1969), o historiador Câmara Cascudo (1898-1986), o poeta Vinícius de Moraes (1913-1980), o lutador Hélio Gracie (1913-2009) e o ativista Abdias do Nascimento (1914-2011).

Em 1946, Plínio Salgado confidenciou ao genro, Loureiro Júnior, que o total de filiados era, para ser sincero, bem mais modesto.

"Não é vergonha nenhuma sermos 200 mil e, sabendo que não passamos disso, não incorreremos em erros perniciosos", admitiu em carta.

Plínio Salgado e Juscelino Kubitschek

CRÉDITO,ARQUIVO PÚBLICO HISTÓRICO DE RIO CLARO

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Plínio Salgado e Juscelino Kubitschek: Em 1955, depois de regressar do exílio em Portugal, Plínio Salgado disputou a Presidência da República e ficou em último lugar. O presidente eleito foi Juscelino Kubitschek (1902-1976)

'O soldado de Deus e da pátria'

Independentemente do número de integrantes, todo e qualquer filiado era obrigado a obedecer às regras e a seguir rituais.

"Juro por Deus e pela minha honra trabalhar pela Ação Integralista Brasileira, executando, sem discutir, as ordens do Chefe Nacional e dos meus superiores" era o juramento que o militante tinha que prestar - com o braço direito levantado e na frente de um retrato de Plínio Salgado e de, pelo menos, dez integralistas - no momento da filiação ao partido.

Uma das normas a serem seguidas dizia respeito ao uniforme, composto por camisas verdes de mangas compridas e colarinhos e punhos abotoados.

Todo filiado - apelidado de "camisa-verde" em alusão aos "camisas-negras" italianos - deveria usar matéria-prima nacional, ou seja, brim ou algodão. Calças brancas ou pretas, gravatas pretas e lisas, um gorro verde de duas pontas e uma fivela dourada completavam a indumentária. As mulheres, chamadas de blusas-verdes, usavam camisas verdes e saias pretas ou brancas.

Se algum integralista fosse flagrado consumindo álcool, dançando ou jogando, seria punido com uma falta disciplinar grave. Se fosse preso, deveria pedir licença à polícia para, no ato da prisão, retirar a camisa - a não ser que a prisão tivesse caráter político; neste caso, o integralista poderia exibir o figurino com orgulho patriótico.

Em hipótese alguma o uniforme deveria ser usado como fantasia de Carnaval. "Era proibição máxima", explicam os autores de O fascismo em camisas verdes.

E, por falar em blusas-verdes, sim, as mulheres eram aceitas na organização. Como a família era a "celula mater" da sociedade, o papel delas era estratégico: gerar futuros adeptos e educá-los na filosofia integralista. Enquanto os maridos participavam de reuniões, desfiles e marchas, suas esposas cuidavam dos afazeres de casa e zelavam pela formação dos "plinianos".

Nas horas de lazer, os homens eram estimulados a praticar esportes, escalar times de futebol e participar de torneios esportivos. Alguns núcleos, como o de Porto Alegre, chegaram a ter suas próprias equipes, o Bolão Futurista.

Já as mulheres eram orientadas a fazer cursos, como datilografia, puericultura - área da pediatria que cuida do desenvolvimento infantil - e boas maneiras.

Inspirados nas cerimônias católicas, os "camisas-verdes" criaram seus próprios rituais de batismo, casamento e funeral. Os membros do clero, o principal braço religioso do movimento, ganharam o apelido de "batinas-verdes".

O mais famoso foi o então sacerdote e futuro arcebispo emérito de Olinda e Recife Dom Hélder Câmara (1909-1999). No batizado integralista, a criança, depois de receber o sacramento, era envolta na bandeira da AIB. Em seguida, pais e padrinhos, todos uniformizados, gritavam: "Ao futuro pliniano, o seu primeiro Anauê!".

Toda sede do movimento era decorada com uma foto do fundador Plínio Salgado, um relógio de parede com a frase "Nossa hora chegará!" e um cartaz com os dizeres: "O integralista é o soldado de Deus e da pátria, homem novo do Brasil que vai construir uma grande nação".

Ao longo dos anos, os camisas-verdes, com o objetivo de alfabetizar futuros eleitores, fundaram escolas integralistas. Para doutrinar corações e mentes, criaram bens de consumo, como balas, cigarro e creme dental, e lançaram jornais, como A Ofensiva, e revistas, como Anauê, Panorama e Brasil Feminino.

Para comemorar o Natal, a maior festa cristã, uma versão 100% brasileira do "Bom Velhinho": o Vovô Índio, "um senhorzinho amigo das árvores" e "vestido com penas de passarinhos". "O Papai Noel era negado pelos integralistas porque simbolizava o capitalismo", explica Leandro, autor de Plínio Salgado: Um Católico Integralista Entre Portugal e o Brasil (2018) e coautor de O Fascismo em Camisas Verdes - Do Integralismo ao Neointegralismo (2020), em parceria com Odilon Caldeira Neto.

casamento

CRÉDITO,ACERVO AIB/PRP - DELFOS/PUCRS

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Os integralistas tinham seus próprios rituais de batizado, casamento e funeral, celebrados por simpatizantes do clero conhecidos como "batinas-verdes"

'Nosso Brasil vai despertar!'

Muito além do uniforme, Plínio Salgado, o chefe supremo do movimento, pensou em tudo: de lema a símbolo, de saudação a hino. O lema "Deus, pátria e família", por exemplo, fazia alusão, respectivamente, a "quem dirige o destino dos povos", "nosso lar" e "o início e o fim de tudo".

Já a saudação "Anauê!" - pronunciada com o braço direito levantado, num gesto que remete ao cumprimento nazista - pode ser traduzida, em tupi, como "Você é meu parente!". Para os indígenas, era um grito de guerra. Para os integralistas, uma manifestação de alegria. "Era pronunciada com voz natural, quando individual, e com voz clara e decidida, quando coletiva", explica Leandro.

Uma curiosidade: os integralistas, quando se cumprimentavam, tinham direito a um Anauê; os dirigentes, a dois; Plínio Salgado, a três e Deus, a quatro. Em público, só o dirigente supremo, ou seja, o próprio Plínio Salgado, tinha autorização para saudar Deus.

O símbolo do partido era a letra grega Sigma: Σ. Na matemática, ela usada como notação para o somatório. No integralismo, representa o projeto de um Estado único e integral. Onipresente, o símbolo era usado para decorar tudo: da braçadeira do uniforme integralista até utensílios de cozinha, como pratos, xícaras e talheres.

O refrão do hino, composto pelo próprio Plínio Salgado, anunciava: "Avante! Avante! / Pelo Brasil, toca a marchar / Avante! Avante! / Nosso Brasil vai despertar". Os integralistas não cantavam a segunda parte do Hino Nacional Brasileiro por discordarem do trecho da letra de Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927) que diz: "Deitado eternamente em berço esplêndido!".

Integrantes do grupo em torno de pratos com o símbolo do Sigma

CRÉDITO,ARQUIVO PÚBLICO HISTÓRICO DE RIO CLARO

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Os 'camisas-verdes' fundaram escolas, criaram produtos (como cigarro e creme dental) e lançaram jornais e revistas. No 'lar, doce lar' de uma família integralista, até os pratos, louças e talheres levavam o símbolo do Sigma.

Último lugar nas urnas

A Ação Integralista Brasileira (AIB) teve vida curta: fundada em 1932, foi extinta apenas cinco anos depois pelo Estado Novo. O nome de Plínio Salgado chegou a ser indicado pela maioria dos filiados como candidato à Presidência da República, em 1938. Mas, em troca da promessa de ocupar o Ministério da Educação, ele desistiu de disputar a eleição para apoiar a candidatura de Getúlio Vargas (1882-1954).

Não deu certo. Quando assumiu, em 1937, Vargas extinguiu todos os partidos políticos. A AIB, inclusive.

Indignados, os integralistas organizaram dois levantes: o primeiro em 11 de março e o segundo em 11 de maio de 1938. Ambos fracassaram. Alguns revoltosos foram sumariamente fuzilados.

Acusado de conspiração, Plínio Salgado foi preso - ele e outros 1,5 mil membros do partido - e, em 22 de junho de 1939, exilado em Portugal, onde permaneceu até 1946.

"O integralismo não chegou ao fim com a extinção da AIB", pondera Leandro. "Suas ações políticas continuaram no período da ilegalidade".

Durante seu autoexílio, Plínio Salgado procurou se "reinventar". Aboliu o discurso autoritário e adotou um tom religioso. Na volta ao Brasil, fundou uma nova sigla, o Partido da Representação Popular (PRP).

"Um fascismo democrático", define Leandro.

Em 1955, disputou a Presidência do Brasil, mas só obteve 714,3 mil votos. Com 8% do total, terminou em último lugar, atrás de Juscelino Kubitschek (35%), Juarez Távora (30%) e Adhemar de Barros (25%).

Com o fim do PRP, Plínio Salgado migrou para a Aliança Renovadora Nacional (Arena), onde exerceu seus dois últimos mandados como deputado federal.

Durante a ditadura, criou a disciplina escolar conhecida como Educação Moral e Cívica. O fundador e dirigente supremo do integralismo morreu em 8 de dezembro de 1975, aos 80 anos, vítima de infarto. Segundo a doutrina que ele próprio ajudou a criar, não morreu. Foi transferido para a milícia do além, onde passou a receber ordens diretamente de Deus.

Marcha Integralista: pessoas uniformizadas marchando na rua

CRÉDITO,ACERVO AIB/PRP - DELFOS/PUCRS

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A Ação Integralista Brasileira (AIB) teve vida curta: cinco anos. Foi fundada em 1932 e extinta em 1937, quando Getúlio Vargas Getúlio Vargas (1882-1954) chegou ao poder e instituiu o Estado Novo

A face radical do integralismo

O integralismo não terminou com a extinção da AIB. Muito menos com a morte de seu fundador, Plínio Salgado.

"O universo da extrema direita brasileira foi objeto de nossas monografias, dissertações, teses e artigos. Mas, nos últimos anos, nossos objetos de pesquisa se tornaram mais ativos, visíveis e radicalizados", alerta Leandro.

Um dos exemplos recentes da face radical do neointegralismo é a invasão, no dia 30 de novembro de 2018, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) por militantes do grupo Comando de Insurgência Popular Nacionalista (CIPN).

Dias depois, em um vídeo postado no YouTube, onze homens encapuzados e vestidos de preto, com uma bandeira do Brasil no lado esquerdo do peito, chamaram o ato de "ação revolucionária" e queimaram os cartazes e as bandeiras antifascistas roubados na instituição. Não foi um ato isolado.

Na noite de 24 de dezembro de 2019, véspera de Natal, outro grupo arremessou coquetéis molotov na fachada da sede da produtora Porta dos Fundos em Botafogo, Zona Sul do Rio.

Algumas horas depois, outro vídeo - com três homens encapuzados e vestindo camisas verdes com o Sigma - foi divulgado nas redes sociais. Nele, o grupo assumia a autoria do ataque, que teria sido motivado pelo especial natalino A Primeira Tentação de Cristo, lançado na Netflix, que retratava Jesus como homossexual.

"Para nós, esse ataque parecia ser algo de fácil entendimento. Mas, percebemos que existia uma demanda de conhecimento crítico e aprofundado sobre o tema na sociedade, que desejava conhecer a história do fascismo na História do Brasil", explica Odilon.

Membro da Frente Integralista Brasileira (FIB) e filiado ao Partido Social Liberal (PSL), Eduardo Fauzi foi apontado como um dos responsáveis pelo ataque à sede da produtora Porta dos Fundos.

Flagrado por câmeras de segurança, fugiu para a Rússia no dia 29 de dezembro de 2019, mas foi capturado por agentes da Interpol no dia 4 de setembro de 2020.

Em um dos endereços de Fauzi, a polícia apreendeu, entre outros livros, um exemplar de O pensamento revolucionário de Plínio Salgado (1988), de Augusta Garcia Rocha Dorea, e outro de O imbecil coletivo (1996), de Olavo de Carvalho.

Sobre o integralismo, o ideólogo do governo Bolsonaro já declarou: "uma dessas esquisitices ideológicas que reaparecem em tempos de crise e desorientação moral como uma espécie de sarampo", postou em seu perfil no Facebook, em 20 de novembro de 2017.

Dez dias depois, foi mais sucinto: "Pela milésima vez: integralismo é babaquice", tuitou.

O mais longe que um integralista assumido chegou no atual governo foi em 30 de dezembro de 2019 quando Paulo Fernando Melo da Costa, integrante da Frente Integralista Brasileira (FIB), foi nomeado assessor especial do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, de Damares Alves.

Conhecido por defender a abstinência sexual e desencorajar mulheres a praticar aborto, entre outras propostas conservadoras, foi exonerado do cargo um ano de cinco meses depois de nomeado.

Em 21 de novembro de 2019, o partido Aliança pelo Brasil, criado para abrigar o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, pegou o lema integralista emprestado. "Nossa força é o Brasil! Aliança pelo Brasil. Deus, pátria, família", postou Bolsonaro nas redes sociais. A estratégia não surtiu o efeito desejado. Até o momento, a legenda só conseguiu coletar 119,3 mil (24%) das 491,9 mil assinaturas necessárias para a criação de um partido. Os números são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

"O lema 'Deus, pátria e família' é mais um esforço bolsonarista na leitura sobre valores, inspirações e imaginários do nacionalismo de direita brasileiro. É a tentativa de sintetizar a diversidade da história da extrema direita em torno de um eixo estruturante. Acontece que o bolsonarismo, seja pelo uso de estratégias diversificadas, seja por causa de objetivos distintos, não pode ser considerado um bloco monolítico", afirma Odilon.

Em O fascismo em Camisas Verdes, seus autores admitem que há alguns traços em comum entre o governo Bolsonaro e o fascismo histórico: "o conservadorismo", "o anticomunismo", "o uso das teorias de conspirações" e "a visão de mundo baseada na diferenciação entre amigos e inimigos".

"Jair Bolsonaro tem várias características partilhadas com o caldo cultural e político da extrema direita brasileira, cujo integralismo é uma das principais caracterizações, sobretudo na matriz fascista", observa Leandro.

"Não diríamos que é um integralista ou neointegralista, mas que partilha de diversos componentes desse caldo e dessas experiências, que transcendem ao campo institucional das organizações integralistas, gerando um diálogo aberto e mútuo".
BBC21/08/21
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 21 de agosto de 2021

Grécia constrói muro de 40 km para barrar entrada de refugiados afegãos


Trecho da cerca construída na região de Evros, na fronteira da Grécia com a Turquia (10 de agosto de 2021)

CRÉDITO,REUTERS

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Trecho da cerca construída na região de Evros, na fronteira da Grécia com a Turquia

A Grécia instalou um muro de 40 km e um sistema de vigilância em sua fronteira com a Turquia, em meio à preocupação com o aumento de migrantes do Afeganistão.

"Não podemos esperar, passivamente, pelo possível impacto", disse o ministro da proteção ao cidadão da Grécia, Michalis Chrisochoidis, em visita à região de Evros na sexta-feira (20/8).

"Nossas fronteiras permanecerão invioláveis", afirmou.

Os comentários do ministro grego foram feitos no momento em que a Turquia chamava os países europeus a assumir a responsabilidade pelos migrantes afegãos, diante da crise enfrentada após a tomada do país pelo Talebã.

Em uma conversa telefônica com o primeiro-ministro grego Kyriakos Mitsotakis, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan disse que um aumento acentuado no número de pessoas que deixam o Afeganistão pode representar "um sério desafio para todos".


"Uma nova onda de migração é inevitável se as medidas necessárias não forem tomadas no Afeganistão e no Irã", disse Erdogan.

A rápida tomada do Afeganistão pelo Talebã deixou alguns cidadãos temerosos por suas vidas e os levou a tentar fugir do país, muitas vezes a qualquer custo.

Afegãos esperando para deixar o aeroporto de Cabul em 16 de agosto de 2021

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Afegãos foram correndo para o aeroporto de Cabul na segunda-feira (16/8) na esperança de deixar o país

A Grécia, que estava na linha de frente da crise migratória em 2015, quando mais de um milhão de pessoas fugindo da guerra e da pobreza no Oriente Médio cruzaram a fronteira da Turquia para a União Europeia, disse que pode mandar de volta quaisquer afegãos que chegarem ilegalmente ao país.

Dos que chegaram à Grécia durante a crise migratória, muitos viajaram mais para o norte pela Europa, mas cerca de 60 mil permaneceram no país.

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No ano passado, Atenas bloqueou temporariamente novos pedidos de asilo depois que Erdogan disse que a Turquia "abriu as portas" para migrantes viajarem para a União Europeia.

Mitsotakis disse, na época, que a Grécia havia aumentado "o nível de dissuasão em nossas fronteiras ao máximo", com pessoal de segurança destacado para a fronteira terrestre de Evros.

BBC21/08/21


Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Secult-PE celebra o folclore nordestino com live em homenagem a Mário Souto Maior

A live acontece na próxima terça-feira (24), às 19h, no canal www.youtube.com/secultpe




No domingo, 22 de agosto, comemora-se o Dia do Folclore e, para lembrar a data, a Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE) realiza a live “Folclore nordestino, uma paixão: Mário Souto Maior”. O bate-papo, que irá ao ar na terça-feira (24), às 19h, pelo canal da Secult-PE no YouTube (www.youtube.com/SecultPE), abordará a vida e o legado de um dos maiores estudiosos da cultura popular do Nordeste: o advogado, pesquisador, educador, escritor e folclorista pernambucano, Mário Souto Maior, falecido em 2001.

Os convidados são Jan Souto Maior, filho de Mário, guardião do acervo do pai e responsável por um site onde se tem acesso a boa parte de sua obra, e Rúbia Lóssio, socióloga, ex-estagiária do pesquisador e coautora, junto com “Dr. Souto”, como ela o chama, de ‘Dicionário de folclore para estudantes’. O secretário de Cultura de Pernambuco, Gilberto Freyre Neto, será o mediador da conversa.

“Mário Souto Maior foi um dos maiores folcloristas de seu tempo. Sua obra conta a história do povo pernambucano através do folclore. Foi amigo pessoal de meu avô, Gilberto Freyre, que escreveu o prefácio de seu livro mais polêmico, ‘Dicionário do palavrão e termos afins’. Os originais chegaram a ser proibidos por cinco anos pela censura e liberados em 1979, um símbolo de resistência cultural à época. Falar de Mário Souto Maior é falar sobre cultura popular nordestina, amor à literatura e à educação”, diz o secretário.

Em suas mais de 70 obras, Mário Souto Maior aborda um universo bem nordestino, repleto de lendas, costumes, comidas e bebidas típicas, vestuário, adivinhações, provérbios e filosofia popular. Nascido em Bom Jardim, no Agreste de Pernambuco, em 1920, era fascinado pela própria infância de pé na terra e fruta no pé. Tirava dinheiro do próprio bolso para editar suas obras e distribuí-las em escolas e bibliotecas. Tinha grande preocupação com a educação.

Segundo o próprio Mário, conforme conta em ‘Como nasce um cabra da peste’, começou a se interessar pelo folclore quando já trabalhava no Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais e o diretor Mauro Mota lhe pediu que escrevesse um artigo sobre folclore, no final dos anos 1960. “Descobri então o mundo maravilhoso do folclore, meu mundo de menino. E, como numa tentativa de voltar ao passado e também para matar a saudade, comecei a trabalhar no ‘Cachaça’, no ‘Presença do alfenim no Nordeste brasileiro’, no ‘Como nasce um cabra da peste’ e nos que ainda estão sem título. Aí está a minha vida”.

Jan, que é o quinto filho de Mário (são sete no total), lembra que o pai “era um homem simples, sem grandes ambições, honesto, generoso, que vivia para sua família, para seu trabalho, para seus livros. Fazia tudo com a maior dedicação possível e da melhor maneira que podia fazer, sem ser perfeccionista. Todas as histórias que contava, que usava para nos educar e ensinar lições, eram baseadas naquilo que ele viu e viveu em suas andanças. Meu pai era um colecionador de informações e histórias”. Segundo Jan, Mário tinha tanto zelo por cada obra que escrevia que, quando a editora entregava um livro novo, ele guardava embaixo do seu travesseiro.

Outra pessoa que conviveu bem de perto com o folclorista foi Rúbia Lóssio, sua estagiária de 1998 a 2001 e que, quando ele morreu, assumiu seu lugar como coordenadora do núcleo de estudos folclóricos da Fundação Joaquim Nabuco. “Ele gostava muito de escrever para a sociedade, para as pessoas. Não gostava muito de textos acadêmicos, então ele escrevia de modo muito simples para que todos tivessem acesso. Ele era apaixonado pelo folclore por ter um olhar sensível para os detalhes do ser humano, para os detalhes da vida viva. Ele via detalhes que as pessoas não viam”.

Uma vez, perguntou para o mestre qual seria o segredo da longevidade. Dr. Souto lhe respondeu que era conviver com as gerações: crianças, adolescentes, adultos e idosos e estar apaixonado pelo que faz, além de amar as plantas, os animais e a natureza. Rúbia lembra, com afeto, que ele gostava de gravar fitas cassete com músicas de cantoras como Dalva de Oliveira e Elizeth Cardoso, mas também de artistas que faziam sucesso com os mais jovens, como Sade e A-ha. “Ele tinha uma ponte entre o passado, o presente e o futuro. Essa dimensão dele pra mim era uma coisa impressionante”.

Webprograma “Cultura em Rede”
Realizado pelo Núcleo Digital da Secretaria de Cultura de Pernambuco, o webprograma “Cultura em Rede” traz, sempre às terças-feiras, debates sobre temas relevantes da cultura pernambucana e nacional. A live vai ao ar tanto no canal da Secult-PE no YouTube, quanto no Facebook.

Serviço
Live “Folclore nordestino, uma paixão: Mário Souto Maior”
Quando: 24 de agosto de 2021 (terça-feira), às 19h
Transmissão pelo canal da Secult-PE no YouTube: www.youtube.com/SecultPE

http://www.cultura.pe.gov.br/


Professor Edgar Bom Jardim - PE

O que está por trás da dramática foto de afegãos amontoados em avião




Foto fornecida pelo Comando de Mobilidade Aérea dos EUA mostra centenas de afegãos fugindo de Cabul a bordo de um avião de carga americano C-17, 15 de agosto de 2021

CRÉDITO,US AIR MOBILITY COMMAND

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Mais de 600 civis subiram a rampa de carregamento semiaberta do avião em pânico; eles desembarcaram com segurança no Catar

Centenas de afegãos amontoados em um avião militar de carga dos Estados Unidos para fugir de Cabul: uma imagem que ficará para a história. A foto, uma das mais impressionantes da tomada do Afeganistão pelo Talebã, registrou uma cena que aconteceu no domingo (15/8), e circulou em sites de notícias e redes sociais no dia seguinte.

Os rostos olham para a câmera - suas expressões uma mistura de ansiedade e cansaço. São homens, em sua maioria, mas há também algumas mulheres e crianças - até um bebê com uma mamadeira. Eles estão dentro de um avião que normalmente transporta tropas e cargas pelo mundo.

A imagem foi obtida inicialmente pelo site de análise de defesa dos EUA, Defense One, mas foi divulgada pelo escritório de relações públicas do Comando de Mobilidade Aérea dos EUA na terça-feira (17/8).

No domingo (15/8), civis subiram a rampa de carregamento semiaberta do avião em pânico, informou o Defense One citando um oficial dos EUA. A tripulação decidiu que era melhor decolar do que forçar os afegãos a sair do avião. Segundo este oficial, havia aproximadamente 640 civis afegãos no avião. O voo foi de Cabul, capital do Afeganistão, para uma base americana no Catar, onde eles desembarcaram com segurança.

O número de passageiros está entre os mais altos já registrados nesse tipo de avião, um C-17 Globemaster.

É próximo do recorde de pessoas transportadas por qualquer avião - um Boeing 747 israelense que transportou mais de 1.000 migrantes judeus da Etiópia em 1991.

Esse foi um dos vários voos que conseguiram retirar centenas de afegãos de Cabul - embora a maior parte dos que tentavam sair não tenha tido o mesmo êxito.

Afegãos esperando para deixar o aeroporto de Cabul em 16 de agosto de 2021

CRÉDITO,AFP

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Afegãos foram correndo para o aeroporto de Cabul na segunda-feira (16/8) na esperança de deixar o país

Nos últimos dias, milhares de afegãos desesperados correram para o aeroporto em uma tentativa frenética de fugir. O espaço aéreo comercial permaneceu fechado durante um período, e tropas estrangeiras têm lutado para manter o aeroporto de Cabul funcionando em meio ao caos.

Evacuações de estrangeiros e alguns afegãos com ligações com governos e organizações estrangeiras estão acontecendo, mas passageiros disseram que rumores se espalharam de que mesmo aqueles sem visto estavam sendo autorizados a viajar.

Um vídeo obtido pela mídia afegã mostrou centenas de afegãos correndo ao lado do mesmo tipo de avião em movimento, alguns agarrados à lateral, em outra imagem histórica que denota o completo desespero dos afegãos nesse momento. Outro vídeo parece mostrar homens caindo de um avião que havia decolado.

De fato, três pessoas teriam morrido após cair da parte de baixo de um avião ao qual estavam se agarrando logo após a decolagem. Além disso, o Exército dos EUA disse que os soldados atiraram em dois homens armados.

À medida que grandes multidões chegavam, forças dos EUA teriam atirado para o ar para dispersar as pessoas que tentavam forçar o caminho para os aviões.

Mais tarde, naquela segunda-feira (16/8), um porta-voz do Pentágono disse que todos os voos foram interrompidos "por precaução". O aeroporto foi reaberto por volta de meia-noite do mesmo dia.

Embora os transportes aéreos tenham conseguido transportar alguns, os números podem ser uma gota no oceano para aqueles que se sentem compelidos a partir com medo do Talebã.

Refugiados

A agência de refugiados da ONU, a Acnur, estima que 550 mil afegãos tenham sido deslocados internamente pelo conflito desde o início do ano.

Acredita-se que entre 20 mil e 30 mil fujam pelas fronteiras todas as semanas, disse a representante do Acnur no Afeganistão, Caroline Van Buren, à CNN. E os números do governo sugerem que 120 mil se mudaram para Cabul quando as forças do Talebã se aproximaram.

Muitos dos que temem por suas vidas trabalharam com forças lideradas pelos Estados Unidos, principalmente como tradutores ou terceirizados. O tratamento dado pelo Talebã às mulheres durante seu governo anterior, na década de 1990, e seu uso de punições bárbaras é outro grande incentivo para sair.

Povo afegão sobe em um avião e se senta à porta enquanto espera no aeroporto de Cabul

CRÉDITO,AFP

Legenda da foto,

Alguns afegãos conseguiram embarcar em aviões

Os EUA e outros países estão correndo para remover funcionários e aliados do país.

No início de agosto, a Casa Branca anunciou um plano para permitir que milhares de afegãos com ligações com os EUA se instalassem lá. Na segunda-feira, o presidente Joe Biden anunciou US$ 500 milhões (R$ 2,6 bilhões) em ajuda aos refugiados afegãos.

Os EUA realocaram cerca de 2 mil afegãos sob um esquema de Visto Especial de Imigrante, dizem as autoridades, e planeja transportar outros milhares.

Outros países também estão ajudando. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse que o país pode precisar evacuar cerca de 10 mil pessoas, incluindo 2.500 funcionários de apoio.

O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, disse à BBC que 150 cidadãos britânicos foram levados num avião no domingo e confirmou que mais 350 cidadãos britânicos e afegãos que trabalharam com as tropas britânicas seriam evacuados "nos dias que virão".

Na semana passada, o Reino Unido já havia extraído 289 afegãos.

O Reino Unido deve enviar mais 200 soldados a Cabul. Um total de cerca de 900 soldados do Reino Unido patrulharão o aeroporto após as cenas caóticas como parte dos esforços para garantir voos de evacuação.

Segundo Raab, o Reino Unido está considerando quantos refugiados afegãos receberá. Mais de 3 mil intérpretes afegãos, funcionários e suas famílias já foram aceitos para emigrar para o país.

A turbulência no Afeganistão aumentou o temor na Europa de um novo influxo de migrantes. Um exemplo claro é a decisão da Turquia de aumentar a segurança em sua longa fronteira com o Irã, onde a Turquia está construindo um muro de concreto.

BBC


Professor Edgar Bom Jardim - PE