sábado, 17 de abril de 2021

Saraus em Pasárgada celebra 135º aniversário de Manuel Bandeira nesta segunda (19)



Abril é o mês em que Saraus em Pasárgada vai acontecer na data de aniversário de Manuel 
 Bandeira, o grande anfitrião do evento durante todo o ano. Com o tema “Aniversário do Poeta”, a noite do dia 19 de abril, segunda, será de festa, regada a muita poesia. A participação é aberta a todos, no Instagram, com exibição a partir das 18h, no @culturape.

O formato desta edição será o mesmo usado desde que o encontro, antes presencial, passou a ser virtual por causa da pandemia de Covid-19. A participação de poetas, amantes da poesia e admiradores de Manuel Bandeira é fácil: basta compartilhar, no próprio perfil, poemas, músicas, pensamentos de autoria própria, de Manuel Bandeira ou criações dedicadas a ele por outros artistas. Depois, é só marcar os perfis @culturape e @manuelbandeira.pasargada.

“Neste ano, vamos dedicar o sarau de abril ao poeta e convidar pessoas de todos os cantos para celebrar o seu nascimento numa tertúlia virtual. O repertório de Bandeira é repleto de textos que certamente marcam as pessoas que participarem desta homenagem”, afirmou Marília Mendes, gestora do Espaço Pasárgada, espaço cultural gerenciado pela Secult-PE/Fundarpe, onde os encontros aconteciam presencialmente, no número 263 da Rua da União, antes da pandemia iniciada ano passado.

Serviço
Saraus em Pasárgada: Aniversário do Poeta
19 de abril (segunda-feira), às 18h
Envie seu poema e marque os perfis: @culturape e @manuelbandeira.pasargada

http://www.cultura.pe.gov.br/

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Velório de príncipe Philip reúne família real em Windsor


A rainha no funeral do príncipe Philip

CRÉDITO,PA MEDIA

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Rainha Elizabeth 2ª usou máscara e ficou sentada sozinha por causa das restrições para conter a disseminação da covid-19

O príncipe Philip, duque de Edimburgo, foi sepultado em um velório íntimo que reuniu a família real no Castelo de Windsor, na Inglaterra.

A congregação limitou-se a 30 pessoas usando máscaras e socialmente distanciadas dentro da Capela de São Jorge, de acordo com as regras para conter a disseminação da covid-19. A rainha Elizabeth 2ª ficou sentada sozinha.

O príncipe Philip morreu no Castelo de Windsor na sexta-feira (9/4), aos 99 anos.

Antes da cerimônia, o caixão foi carregado por um curto trajeto até a Capela de São Jorge em um Land Rover modificado, que o próprio duque ajudou a projetar.

Os filhos do duque, a princesa Anne, o príncipe Charles, o príncipe Edward e o príncipe Andrew, caminharam atrás de seu caixão em uma procissão fúnebre.

Na terceira fila, o príncipe William e o príncipe Harry caminharam cada um de um lado de seu primo Peter Phillips. Os irmãos foram vistos conversando depois de deixarem a cerimônia.

Príncipe Charles, a princesa Anne e membros da Família Real caminham atrás do carro fúnebre do duque no Castelo de Windsor

CRÉDITO,REUTERS

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Membros da Família Real caminharam atrás do caixão do duque de Edimburgo

O vice-almirante Sir Timothy Laurence e o conde de Snowdon também caminharam atrás do caixão, seguidos por membros da equipe doméstica do duque.

A rainha, de 94 anos, participou da procissão dentro do Bentley State Limousine, seu veículo oficial, ao lado de uma dama de companhia.

Houve um minuto nacional de silêncio. Nenhum avião pousou ou decolou em Heathrow por seis minutos para coincidir com o silêncio e todos os principais eventos esportivos foram remarcados para evitar coincidir com o funeral.

Do lado de fora e antes da cerimônia na capela, mais de 730 membros das Forças Armadas participaram do evento.

O cortejo fúnebre do castelo à capela foi chefiado pela banda dos Guardas Granadeiros e chefes do serviço militar.

O carro funerário projetado pelo duque segue em direção à Capela de São Jorge durante uma procissão no Castelo de Windsor

CRÉDITO,PA MEDIA

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Houve um minuto nacional de silêncio pela morte do duque de Edimburgo

O funeral foi conduzido pelo deão de Windsor, e o Arcebispo de Canterbury deu a bênção.

Os corneteiros da Marinha soaram as Action Stations - um anúncio que significa que todas as mãos em um navio de guerra devem ir para os postos de batalha - enquanto o caixão era baixado para o Royal Vault, o jazigo da família real, no final do serviço.

O deão de Windsor, chefe espiritual dos cônegos da Capela de São Jorge, prestou homenagem à "bondade, humor e humanidade" do príncipe Philip e às "muitas maneiras pelas quais sua longa vida foi uma bênção".

"Fomos inspirados por sua lealdade inabalável à nossa Rainha, por seu serviço à nação e à comunidade, por sua coragem, fortaleza e fé", disse ele durante sua leitura.

A associação do duque com a Marinha Real e seu amor pelo mar também foram o foco do serviço, mas nenhum sermão foi proferido, de acordo com seus desejos.

A música tocada incluiu o hino Eternal Father, Strong to Save, de 1860, de William Whiting, associado aos marinheiros e às forças armadas marítimas.

Houve um coro reduzido de quatro cantores. A congregação não cantou, de acordo com as restrições do coronavírus.

A insígnia do duque é exibida no altar da Capela de São Jorge

CRÉDITO,PA MEDIA

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A insígnia do duque é exibida no altar da Capela de São Jorge

O Palácio de Buckingham disse que os planos do funeral foram modificados para levar em consideração as diretrizes de saúde pública.

O funeral ocorreu inteiramente no recinto do castelo. Pediu-se que o público não se reunisse ali ou em outras residências reais.

Mas os aspectos cerimoniais do dia e do serviço militar permaneceram de acordo com os desejos do príncipe Philip, refletindo suas afiliações militares e elementos pessoais de sua vida.

Os 30 convidados do funeral usavam casacos com medalhas ou trajes diurnos, mas não uniformes militares.

Os quatro filhos da rainha e do duque - o príncipe de Gales, a princesa real, o duque de York e o conde de Wessex -, assim como seus oito netos, compareceram, mas nenhum de seus bisnetos jovens.

Os cônjuges dos filhos e netos também estavam entre a congregação, incluindo dois que se casaram com membros da família nos últimos anos - Jack Brooksbank e Edoardo Mapelli Mozzi, maridos das princesas Eugenie e Beatrice.

Mas a esposa do duque de Sussex, Meghan, está grávida e foi aconselhada por seus médicos a não voar dos Estados Unidos. Ela teria assistido ao culto de casa.

Outro presentes no velório foram os filhos da irmã da rainha, a princesa Margaret, e três parentes alemães do príncipe Philip - Bernhard, o príncipe hereditário de Baden; Donatus, de Hesse; e o Príncipe Philipp de Hohenlohe-Langenburg.

Fotografia pessoal do príncipe Philip e da rainha Elizabeth 2ª na Escócia, em 2003, tirada pela Condessa de Wessex

CRÉDITO,THE COUNTESS OF WESSEX

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A rainha divulgou uma de suas fotos favoritas antes do funeral

Antes do funeral, a Rainha compartilhou a fotografia favorita de si mesma com o duque de Edimburgo, mostrando o casal em Aberdeenshire, na Escócia.

Tirada pela condessa de Wessex em 2003, a foto mostra o casal relaxando em um tapete de piquenique na grama perto da propriedade privada da rainha em Balmoral.

BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Bolsonaro é 'grande responsável' por 'desastre' de covid, diz vice-presidente de delegação do Parlamento Europeu para o Brasil



Anna Cavazzini

CRÉDITO,MICHEL CHRISTEN

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Alemã Anna Cavazzini, eurodeputada pelo Partido Verde, participa nesta quinta-feira de reunião tendo como pano de fundo a abertura da CPI para investigar a crise do coronavírus no país e os recordes de mortes por covid-19

Na visão da alemã Anna Cavazzini, eurodeputada pelo Partido Verde e vice-presidente da delegação do Parlamento Europeu para assuntos relacionados ao Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem "grande parcela de responsabilidade" pela crise sanitária desencadeada pela pandemia de covid-19 no país, que ela descreve como "um verdadeiro desastre".

Cavazzini participou de uma reunião de duas horas sobre o Brasil na quinta-feira (15/4) marcada no Parlamento Europeu, tendo como pano de fundo a abertura da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a crise do coronavírus no país e os recordes de mortes por covid-19.

O chefe da Missão do Brasil junto à União Europeia, embaixador Marcos Galvão, foi chamado para participar.

Aludindo a uma expressão em sua língua materna, Cavazzini diz que a situação atual do Brasil é como se o país "caminhasse rumo ao precipício de olhos bem abertos".

"Devo dizer que nenhum país é perfeito. Muitos governos estão lutando pelas melhores práticas. Por exemplo, em meu país, a Alemanha, também temos uma discussão muito crítica sobre se o governo está fazendo a coisa certa. Mas acho que a situação no Brasil realmente se destaca", diz ela, em entrevista à BBC News Brasil por telefone.

"É um nível completamente diferente de desastre, má gestão governamental, negação política, basicamente é como se o Brasil estivesse "caminhando rumo ao precipício de olhos bem abertos", acrescenta.

Segundo Cavazzini, Bolsonaro "tem grande parcela de responsabilidade pelo número de doentes e mortos porque não levou a doença a sério, incentivou as pessoas a se reunirem em grandes aglomerações, manteve-se cético no início em relação à vacinação e obstruiu os serviços de imunização em cidades e Estados do Brasil".

Reuniões como essa não têm implicação prática e são marcadas com antecedência para discutir temas de interesse bilaterais.

Mas Cavazzini diz que, embora o Parlamento Europeu não possa ditar a política externa, "pode participar nas conversas e influenciar a agenda" dos Estados membros do bloco.

"Queremos mostrar a solidariedade europeia para com as pessoas que estão lá (Brasil) e gravemente afetadas (pela covid). Claro que também queremos lançar luz também sobre a difícil situação dos direitos humanos no Brasil e principalmente das pessoas que defendem as florestas, que defendem suas terras, que estão ameaçadas e algumas delas infelizmente mortas", diz.

Cavazzini, que também é membro do comitê parlamentar responsável por assuntos relacionados ao meio ambiente, é uma das principais vozes críticas à política ambiental do governo Bolsonaro, especialmente no tocante ao desmatamento da Amazônia. Ela também se opõe ao acordo entre a União Europeia e o Mercosul (ainda em fase de revisão jurídica).

"Em geral, é claro que sempre é difícil influenciar realmente a política de saúde de outro país porque é realmente uma questão nacional. Mas acho que uma mistura de pressão diplomática, conversar com o governo, dialogar, tentar identificar os agentes que pensam e agem de forma diferente, apoiá-los é sempre muito importante", diz.

"Há a questão do financiamento de cooperação… no momento eu não daria nenhum dinheiro ao governo de Bolsonaro, talvez identifique corporações que possam ajudar algumas pessoas no Brasil. Essas são opções de política externa. O Parlamento Europeu basicamente não tem voz na política externa, mas pode participar nas conversas e pode influenciar a agenda", completa.

Em aviso sobre a audiência, Cavazzini citou a ordem emitida na quinta (8) pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), para que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), intalasse uma CPI da pandemia da covid-19. Pacheco tomou a decisão nesta terça-feira.

A CPI investigará a atuação do governo de Jair Bolsonaro no enfrentamento da pandemia de coronavírus, assim como o uso de recursos federais por Estados e municípios na contenção da crise sanitária.

Cavazzini também menciona que "mais de 340 mil brasileiros já morreram com o vírus" e que "nos últimos dias, a média diária de mortes ultrapassou 4 mil".

Além de abordar a "situação econômica e sanitária no Brasil", a audiência vai incluir "troca de opiniões sobre a cooperação científica e tecnológica entre a UE e o Brasil" e "troca de pontos de vista sobre a situação dos defensores dos direitos humanos no Brasil, incluindo o caso Fernando dos Santos Araújo".

Sobrevivente da chacina de Pau D'Arco, em 2017, que resultou na morte de dez trabalhadores rurais e atribuída a policiais, Araújo chegou a entrar no programa de proteção a testemunhas, mas voltou à fazenda neste ano e também foi assassinado.

Jair Bolsonaro, presidente do Brasil

CRÉDITO,REUTERS

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Segundo Cavazzini, Bolsonaro não levou coronavírus "a sério"

Recentemente, Cavazzini fez parte do grupo de 68 deputados do Parlamento Europeu que enviou uma carta ao vice-presidente Hamilton Mourão e ao Conselho Nacional da Amazônia Legal, que ele coordena, reclamando de planos para restringir as atividades de ONGs na região.

A eurodeputada foi a primeira signatária do texto, que considera "muito preocupantes" notícias sobre o estabelecimento de limites e regras mais duras para a atuação de entidades da sociedade civil.

"O processo de autorização para funcionamento das ONGs já está bem regulamentado pela lei brasileira. Por muitas décadas, várias ONGs no Brasil têm implementado programas e ações para combater crimes ambientais, proteger a floresta amazônica e a sobrevivência de suas populações, enquanto promovem o desenvolvimento sustentável na região", afirma a carta, de novembro do ano passado.

  • Luis Barrucho -
  • Da BBC News Brasil em Londres
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Militares ficarão abraçados a Bolsonaro até o fim do governo



Mesmo que surjam novos atritos, generais estão de cabeça na missão. Conheça 4 cenários para o futuro – nenhum é bom para a democracia.

A DEMISSÃO DO MINISTRO DA DEFESA, general Fernando Azevedo e Silva, e dos dos três comandantes das Forças Armadas brasileiras a dois dias do aniversário do golpe militar de 1964 acendeu a luz vermelha na relação dos militares com o governo federal. Com diversos motivos sendo colocados pela imprensa, incluindo uma suposta tentativa de implementação de um Estado de Defesa, a declaração do presidente de que os bastidores não serão divulgados à sociedade é algo de extrema gravidade. A demissão dos mais altos oficiais, no entanto, não inocenta ou sela um compromisso irrevogável das Forças Armadas com a democracia, como bem já explorou o próprio Intercept Brasil. Mas o que esperar agora?

Se Jair Bolsonaro de fato fez algum grave pedido inconstitucional aos militares, não há outra forma de interpretar o fato: o presidente da República tentou um golpe de estado em seu sentido mais clássico, colocando os militares na rua para alterar dinâmicas políticas domésticas. Bolsonaro jamais escondeu seu apreço pelo período da ditadura militar – que ele, inclusive, considerava que tinha sido branda demais.

Também jamais escondeu seus desejos de implantar um regime autoritário dinástico, com a participação ativa dos filhos nas mais importantes decisões políticas do país. Sob sua presidência, o país colocou os militares de volta na política, em número que supera até mesmo a própria ditadura – o que fez Vladimir Safatle considerar que vivemos um regime militar sem golpe. Mas isso pode estar prestes a mudar.

Trabalhemos com quatro possíveis cenários.


No primeiro, Bolsonaro faz como fez até agora no Ministério da Saúde, substituindo o ministro e os comandantes militares até que fiquem meros fantoches, dispostos a aceitar o comando de colocar as Forças Armadas nas ruas em um regime excepcional. Nesse cenário, concretiza-se o anseio do presidente de se firmar como liderança autoritária, com o comando absoluto dos militares e usando-os instrumentalmente para governar de acordo com sua única vontade. Seria o fim do regime democrático pelo golpe de estado de Bolsonaro, e a subjugação total da caserna ao ex-capitão.

Um outro desdobramento possível é uma cisão dentro das Forças Armadas, entre uma ala bolsonarista e uma ala não bolsonarista. Se o alto comando se insubordinar ao comandante-em-chefe (como demonstrou o gesto de Azevedo e Silva e dos três comandantes das Forças), recusando-se a aceitar as ordens do presidente, e talvez promovendo uma retirada em massa dos militares dos cargos políticos que hoje ocupam, teremos, igualmente, um golpe militar. Nesse caso, a retirada do apoio dos militares, um dos sustentáculos fundamentais do governo, promoveria um aprofundamento da crise política, e talvez precipitasse um processo de impeachment de Jair Bolsonaro. Quem assumiria a presidência então seria o general Hamilton Mourão, que, muito provavelmente, traria de volta a elite insubordinada ao centro do jogo político. Seria um cenário perfeito para a manutenção dos militares na política – desta vez, como salvadores da democracia (algo semelhante com 1964?), retirando uma liderança inapta e autoritária.

Um terceiro desdobramento seria, pela demora na liderança do Congresso, os próprios militares desencadearem um golpe de estado, afastando eles mesmos o presidente do Planalto. Os resultados seriam semelhantes ao do cenário anterior, onde Bolsonaro é afastado por impeachment, com um retorno “salvador” dos militares ao comando do país. Nesse cenário, teriam o argumento que era preciso afastar imediatamente o presidente da República, que estaria tentando um autogolpe e forçando as Forças Armadas a segui-lo incontestavelmente. Atropelariam o devido processo legal – e democrático – de afastamento de um presidente via impeachment, mas em “defesa da ordem democrática” (sic). Esse cenário seria baseado na visão distorcida de democracia que ainda permeia a caserna brasileira, na qual teriam um “poder moderador” (sic) e o direito a tutelar a condução política do país.

A nomeação do general Walter Souza Braga Netto para o Ministério da Defesa indicou que o caminho desejado pelo presidente era o do primeiro cenário, ao colocar um nome que aderiu ao bolsonarismo em seus primeiros momentos, e que ajudou a trazer o movimento para dentro dos quartéis.

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Braga Netto tomou posse como novo ministro da Defesa dizendo que seguirá as orientações de Bolsonaro dentro do que prevê a Constituição.

 

Foto: Andressa Anholete/Getty Images

No entanto, as nomeações dos comandantes militares indicaram que este primeiro cenário se torna mais improvável, uma vez que ao menos uma queda de braço foi ganha pela caserna. A lógica profissional e institucional de senioridade para a nomeação dos comandantes foi respeitada pelo governo nas três nomeações. Tanto o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira para o Exército, o almirante Almir Garnier para a Marinha e o brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior para a Força Aérea estão entre a turma de mais antigos altos-oficiais em seus respectivos comandos. Ganhou o aspecto de profissionalização militar, na qual promoções e nomeações não são definidas pelo governo da ocasião, mas seguem um padrão institucional definido pelas próprias Forças Armadas, algo que sociólogos Samuel Huntington e Morris Janowitz desenvolveram nos trabalhos seminais do campo das relações civis-militares.

O presidente perdeu a “queda de braço”, os militares não aceitaram uma ordem inconstitucional e a democracia foi preservada graças às insubordinações salvadoras do alto comando militar, certo? Não. Pelo contrário, a foto ensaiada do general Nogueira de Oliveira com seus antecessores, típica da guerra híbrida e da comunicação social que o Exército vem gerindo há anos, pela hipótese de Piero Leirner, é um exemplo que tudo mudou para nada mudar – algo típico das “revoluções” brasileiras.

A maior crise militar do último meio século tem nos dois prévios comandantes do Exército grande responsabilidade. Villas Bôas foi o comandante do Exército que, pelo Twitter, em texto gerido por todo o alto-comando da Força, deu voz à ameaça ao STF às vésperas do julgamento de Lula em 2018 – algo já bastante explorado pela mídia, e que escancarou as portas dos quartéis para a política. Foi, segundo o próprio Bolsonaro, em mais uma declaração que esconde o conteúdo da conversa, o grande responsável por ele estar onde está.

A foto ensaiada do general Nogueira de Oliveira com seus antecessores é típica da guerra híbrida e da comunicação social que o Exército vem gerindo há anos. Tudo muda para nada mudar.

A foto ensaiada do general Nogueira de Oliveira com seus antecessores é típica da guerra híbrida e da comunicação social que o Exército vem gerindo há anos. Tudo muda para nada mudar.

 

Foto: Reprodução/Exército Brasileiro

Seu sucessor no cargo, já no governo do ex-capitão, Edson Leal Pujol foi o comandante do Exército que, dentre outras coisas, foi um dos responsáveis por permitir que generais da ativa ocupassem cargos no primeiro escalão do governo, isto sem falar nos cerca de 1,6 mil militares na ativa do Exército em cargos de indicação política na administração pública federal. Foi sob sua gestão que um militar da ativa, general Eduardo Pazuello, aceitou como “missão” a obediência cega ao comandante-em-chefe à frente do Ministério da Saúde. Após 10 meses no cargo, saiu com um déficit oficial de mortes por covid-19 de cerca de 265 mil óbitos.

Luiz Eduardo Ramos, ex da Secretaria de Governo e atual ministro-chefe da Casa Civil (sim, um militar é o chefe da Casa Civil), é outro que iniciou seu período de governo ainda na ativa, sob o comando de Pujol. Por mais que o então comandante do Exército declarasse que os militares não queriam fazer parte da política, foi sob sua gestão que isso aconteceu de forma acelerada, consolidando os militares como o grupo político que, mesmo sem afiliação partidária, ocupam uma fatia maior do que a de qualquer partido político na gestão Bolsonaro.

De igual maneira, Marinha e Aeronáutica seguem com militares em postos de primeiro escalão, como o almirante Flávio Augusto Viana Rocha, na ativa pela Marinha, nomeado sob o comando do demitido almirante Ilques Barbosa Junior para a Secretaria de Assuntos Estratégicos ainda em 2020, e que, desde o mês passado, passou também a acumular a função de Secretário Especial de Comunicação Social do Ministério das Comunicações. Marcos Pontes, ainda que na reserva da Força Aérea, ocupa desde o início da gestão Bolsonaro o cargo de ministro da Ciência e Tecnologia. Segundo o levantamento do Tribunal de Contas da União de quase um ano atrás, eram ali mais de 6 mil militares em postos da administração pública federal.

‘Estamos fadados a conviver com a militarização da política ao menos até o fim do atual mandato’.

Com salários que chegam à casa das centenas de milhares de reais, como o que o general Joaquim Silva e Luna (primeiro militar a ocupar o Ministério da Defesa, sob indicação de Michel Temer, mostrando que a politização da caserna é prévia ao governo Bolsonaro), que receberá R$ 226 mil por mês no comando da Petrobras, até os “módicos” 30% de bônus que os cargos de indicação política dão aos fardados, o desembarque dos militares do governo parece igualmente um cenário pouco provável. Sem falar nos ganhos institucionais, como a manutenção do orçamento do Ministério da Defesa em meio a cortes gerais em toda a Esplanada, e nos ganhos coletivos, como os privilégios mantidos pela classe durante a reforma da previdência, que veio aliada a uma reestruturação do plano de carreiras para lá de benéfica ao alto-oficialato.

A demissão dos quatro mais alto-oficiais militares nos dá uma direção que tampouco parece provável o terceiro cenário, da própria caserna derrubar Bolsonaro. A elite da tropa parece ter chegado a um limite ético que, até mesmo para os militares brasileiros, não pode ser ultrapassado. Limite que, diga-se, não inclui distanciamento da política, a conivência com uma gestão criminosa da pandemia que ceifa diariamente a vida de milhares de brasileiros ou até mesmo, segundo relato do ex-deputado Eduardo Cunha, o monitoramento detalhado das atividades e do dia-a-dia da presidenta Dilma Rousseff sem o seu devido conhecimento.

Isso nos leva a um quarto e mais possível cenário, no qual os militares tampouco abandonam o governo, mas também não embarcam nos mais severos arroubos autoritários de Jair Bolsonaro – o que não os torna necessariamente democratas ou amantes da Constituição de 1988. As leituras que os militares são os responsáveis por colocar freios no presidente da República não devem se esquecer jamais que seguem corresponsáveis por um governo calamitoso e irresponsável, e que nada disso provavelmente teria acontecido se não tivessem sido um dos primeiros a apoiar a candidatura do ex-capitão.

Vozes demitidas que hoje tentam soar como moderadas dentro das Forças, e até críticas a Bolsonaro, como o ex-ministro general Carlos Alberto dos Santos Cruz e o ex-porta voz da Presidência da República, general Otávio Rêgo Barros, se esquecem que são igualmente responsáveis pela existência do atual governo e pelo próprio engajamento militar na tutela política no país.

A não ser que os demitidos esclareçam o que de fato aconteceu, jamais saberemos o limite que a elite militar do país estabeleceu para seu grau de engajamento político doméstico. O polêmico projeto de Lei da Mobilização Nacional que o major Vitor Hugo, líder do governo na Câmara, apresentou no mesmo dia da demissão da elite militar do país nos dá uma indicativa do que seria. Não conseguindo o apoio das Forças Armadas, tudo indica que o presidente tentou elaborar uma medida que lhe garantiria o controle das Polícias Militares, de responsabilidade dos governos estaduais. A pergunta que esse cenário nos deixa é: afinal, para quê Bolsonaro quer tanto uma força armada sob seu irrestrito comando?

‘E, mais uma vez, apresentam-se à nação para salvá-la de um problema que eles mesmos ajudaram a criar’.

O quarto cenário talvez seja o mais desastroso para o país, uma vez que, não conseguindo o endosso cego dos militares ou o controle das polícias, empurra o presidente a conclamar os “cidadãos de bem”, devidamente armados pelos decretos de flexibilização do acesso a armas e munições emitidos pelo governo, e parte das milícias que controlam setores importantes das grandes cidades do país para o apoio à sua tentativa de autogolpe e a instalação de um governo de caráter autoritário no Brasil. E o recente vídeo do presidente nacional do Partido Trabalhista Brasileiro, Roberto Jefferson, apoiador e entusiasta do atual governo, parece caminhar neste sentido. Nele, Jefferson incita a população a reagir contra as autoridades públicas (ou, em suas palavras, o “satã” ou os “comunistas”) que tentarem fechar templos e igrejas para controle da pandemia do coronavírus.

O vídeo de Jefferson é um guia de incitação à ordem pública, inclusive com a indicação de um adereço militar, a balaclava, usada nos combates militar e policial para preservar a identidade e anonimizar os soldados. Estamos em um cenário em que, incitados por um governo de militares, que conta com amplo apoio de policiais, cidadãos armados podem causar uma convulsão social e precipitar um conflito civil doméstico para garantir as medidas excepcionais desejadas pelo presidente. E tudo isso com o apoio e a conivência dos cidadãos-em-armas que deveriam representar o monopólio legítimo da força dentro do país.

Todos esses cenários são igualmente desastrosos para a democracia brasileira. Nenhum deles teria acontecido se a política não tivesse entrado pela porta da frente dentro dos quartéis. Uma vez que entrou, não há saída que não seja danosa. No primeiro e no último cenários, Bolsonaro radicaliza seu governo. No segundo e no terceiro cenários, ele é substituído, e o general Hamilton Mourão assume a presidência até 2022. Ou seja: estamos fadados a conviver com a militarização da política ao menos até o fim do atual mandato. A visão que os militares salvariam o país da crise causada por Bolsonaro é absurda e falsa, uma vez que são eles também parte do problema. E, mais uma vez, apresentam-se à nação para salvá-la de um problema que eles mesmos ajudaram a criar.

Difícil é prever os custos em danos, em vidas, econômicos, institucionais e políticos que nos meteram os militares, a Lava Jato e o centrão político, que dá sobrevida à gestão de Bolsonaro mesmo com dezenas de crimes de responsabilidade praticados em plena luz do dia.

Lucas de Rezende
https://theintercept.com/
Professor Edgar Bom Jardim - PE