terça-feira, 13 de abril de 2021

Brasil é 4º país que mais se afastou da democracia em 2020, diz relatório




Jair Bolsonaro discursa

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Brasil ainda está longe de ser uma autocracia, mas gestos do presidente preocupam

O Brasil é o quarto país que mais se afastou da democracia em 2020 em um ranking de 202 países analisados. A conclusão é do relatório Variações da Democracia (V-Dem), do instituto de mesmo nome ligado à Universidade de Gotemburgo, na Suécia.

Publicado em março de 2021, o documento é um importante instrumento usado por investidores e pesquisadores do mundo todo e do Brasil para definir prioridades de ações globalmente.

De acordo com o índice, no qual 0 representa um regime ditatorial completo e 1, a democracia plena, o Brasil hoje registra pontuação de 0,51, uma queda de 0,28 em relação à medição de 2010, que ficou em 0,79.

A queda do país só não foi maior do que as de Polônia, Hungria e Turquia. Os dois últimos, um sob regime do direitista Viktor Orban e outro sob comando do conservador Recep Erdogan, se tornaram oficialmente autocracias, na classificação do V-Dem.

"Quase todos os indicadores que usamos mostram uma drástica queda do Brasil a partir de 2015. O único ponto em que o país não perdeu de lá pra cá foi em liberdade de associação", disse à BBC News Brasil o cientista político Staffan Lindberg, diretor do Instituto Variações da Democracia.

Pessoa colocando voto em urna

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Eleições no Brasil seguem justas e livres, destaca o cientista político Staffan Lindberg

O índice é formulado a partir da contribuição de 3,5 mil pesquisadores e analistas, 85% deles vinculados a universidades ao redor do mundo.

O resultado de cada país advém da agregação estatística dos dados para 450 indicadores diferentes, que medem aspectos como o grau de liberdade do Judiciário e do Legislativo em relação ao Executivo, a liberdade de expressão da população, a disseminação de informações falsas por fontes oficiais, a repressão a manifestações da sociedade civil, a liberdade e independência de imprensa e a liberdade de oposição política.

Onda autocrática global

De acordo com o relatório, o mundo vive o que os pesquisadores consideram uma onda de expansão das autocracias iniciada em 1994.

Essa seria a terceira onda desde 1900 (as duas primeiras aconteceram entre os anos 1920-1940 e entre o começo dos anos 1960 e o final dos anos 1970).

Se, em 2010, 48% da população mundial vivia sob regimes considerados não democráticos, em 2020 esse percentual subiu para 68% e retornou ao patamar observado no início dos anos 1990.

No grupo do G-20 - que agrega as maiores economias do mundo -, além de Brasil e Turquia, a Índia também apresentou uma queda nos parâmetros democráticos tão significativa que deixou de ser considerada a maior democracia do mundo e passou a ser classificada como autocracia com eleições pelo V-Dem.

Segundo os pesquisadores, os processos de Índia, Turquia e Brasil, apesar de estarem em estágios diferentes, seguem um mesmo roteiro. "Primeiro, um ataque à mídia e à sociedade civil, depois o incentivo à polarização da sociedade, desrespeitando os opositores e espalhando informações falsas, para então minar as instituições formais", diz o relatório.

"Estamos muito preocupados porque percebemos que Bolsonaro tem dado claros sinais que condizem com os padrões de comportamento de outros líderes autocráticos que vimos atuar antes, como Viktor Orban. São movimentos preocupantes para a sobrevivência da democracia brasileira", afirma Lindberg.

Viktor Orban discursa

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Comportamento de Bolsonaro se parece com o de outros líderes autocráticos, como Viktor Orban, na Hungria

Ainda longe da autocracia

O índice V-Dem de 2021 foi finalizado antes da recente crise do presidente brasileiro com as Forças Armadas.

Em março, foi anunciada a saída do então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, o que desencadeou também a troca dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica.

Em sua carta de demissão, Azevedo e Silva afirmou que "neste período (à frente da pasta), preservei as Forças Armadas como instituições de Estado", o que provocou questionamentos sobre uma possível tentativa de politização do Exército Brasileiro por Bolsonaro, que tem usado corriqueiramente a expressão "meu Exército" para se referir às Forças Armadas do país.

Antes disso, porém, o atual presidente brasileiro já atacou reiteradas vezes a imprensa, se mostrou elogioso à ditadura militar instaurada nos anos 1960 e endossou uma manifestação de apoiadores seus que pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal.

Pouco antes de ser empossado, Bolsonaro chegou a afirmar que mandaria seus opositores para a "ponta da praia", uma aparente referência à base da Marinha na Restinga da Marambaia, no Rio, onde presos foram torturados e mortos durante o regime ditatorial brasileiro.

"Petralhada, vai tudo vocês pra ponta da praia. Vocês não terão mais vez em nossa pátria porque eu vou cortar todas as mordomias de vocês. Vocês não terão mais ONGs para saciar a fome de mortadela. Será uma limpeza nunca vista na história do Brasil", disse o então presidente eleito em 2018.

Recep Erdogan faz discurso

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O governo de Recep Erdogan é classificado como uma autocracia pelo V-Dem

Esses aspectos contribuem para os atuais resultados do país. Outros índices também apontam para um retrocesso da democracia brasileira nos últimos anos, embora a queda seja mais branda.

A ONG Freedom House avaliou que a democracia brasileira atingia 79 pontos, em uma escala de 0 a 100, em 2017. Atualmente, o índice recuou para 74.

Para Lindberg, embora os dados sobre Brasil sejam preocupantes, o país ainda está longe de ser enquadrado como uma autocracia, como aconteceu com Turquia e Índia, e isso se deve à qualidade do sistema eleitoral brasileiro.

"Embora ainda haja algumas irregularidades de votação, um pouco de intimidação eleitoral ou de compra de voto, as eleições no Brasil seguem sendo livres e justas, e é possível trocar o comando do país por meio delas", diz Lindberg.

Segundo ele, o sistema de voto eletrônico, como o usado no Brasil, tem se mostrado seguro e confiável. Bolsonaro, no entanto, tem feito uma campanha pelo voto impresso no Brasil e dito que o país pode repetir a história das últimas eleições americanas, quando Trump alegou fraude sem provas, se não mudar o sistema eleitoral.

E se a guinada autocrática atinge grandes populações ao redor do mundo, de outro lado, os processos de democratização, embora aconteçam, se concentram em países menores, como o Sri Lanka, Tunísia e Armênia.

Para os pesquisadores, isso se deve ao fato de que esses países estão relativamente mais distantes da influência de potências autocráticas, como Rússia e China, e parecem ter conseguido encaminhar suas dinâmicas políticas internas para um sistema mais livre.

  • Mariana Sanches - 
  • Da BBC News Brasil em Washington
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 11 de abril de 2021

Príncipe Philip: Líderes mundiais e membros da realeza enviam condolências



Prince Philip rides in a carriage with Spain's Queen Letizia, in 2017

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Spain's Queen Letizia, pictured in a carriage with Prince Philip in 2017, telegrammed the Queen to mourn the duke's passing

Monarcas, chefes de Estado e primeiros-ministros em todo o mundo, ocupando cargos ou não, enviaram sinceras homenagens após a morte do príncipe Philip, duque de Edimburgo, aos 99 anos. O presidente brasileiro Jair Bolsonaro também mandou mensagem de solidariedade e condolências.

O rei e a rainha da Espanha mandaram telegrama para a "Querida tia Lilibet" para lamentar o falecimento de "Querido tio Philip".

Junto com tributos das famílias reais da Europa, muitas nações da Commonwealth (a Comunidade Britânica, que reúne 54 nações) elogiaram seu serviço público excepcional.

Eles prestaram homenagens a uma vida de compromisso, propósito e devoção à Rainha.

"Ele era um cara incrível... com 99 anos, nunca diminuiu o ritmo", disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

'Celebrar memórias'

O duque, cuja morte foi anunciada pelo Palácio de Buckingham na sexta-feira (09/04), acompanhou a rainha em centenas de visitas ao exterior.

Ele tinha laços de sangue com várias famílias reais europeias, do presente e do passado, e muitos de seus membros enviaram condolências.

Barack Obama, a Rainha Elizabeth, o Príncipe Philip e Michelle Obama em Londres em 2009

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O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que o duque era um "homem notável... que ajudou a trazer uma liderança estável e sabedoria"

O telegrama do rei Felipe e da rainha Letizia da Espanha foi particularmente comovente, ressaltando "todo o nosso amor e afeto" à tia Lilibet (apenlido que o duque usava para a esposa) e ao querido tio Philip.

"Jamais esqueceremos os momentos que compartilhamos com ele", disseram à Rainha.

A Rainha e o Príncipe Philip

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A rainha recebeu homenagens sinceras de todo o mundo após a morte de seu marido

O rei da Suécia Carl Gustaf disse que o duque foi "um grande amigo de nossa família por muitos anos, uma relação que valorizamos profundamente".

A porta-voz da família real sueca, Margareta Thorgren, disse à BBC que o rei e o duque viajaram juntos pela Inglaterra. "Esse foi o início de uma grande amizade entre eles."

A família real holandesa disse que se lembrava do príncipe Philip com grande respeito, acrescentando: "Sua personalidade viva deixou uma marca indelével."

O rei Filipe da Bélgica disse que ele e a rainha Mathilde "sempre guardariam com carinho as memórias de nossos encontros calorosos"

'Um pilar para a Rainha'

Bandeiras australianas vistas a meio mastro na Ponte da Baía de Sydney, após a morte do Príncipe Philip, Duque de Edimburgo, em Sydney, Austrália, em 10 de abril de 2021

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Bandeiras australianas foram hasteadas a meio mastro na Ponte da Baía de Sydney em homenagem ao duque

Tributos também vieram da Commonwealth - a Comunidade Britânica, um conjunto de 54 nações, a maioria com raízes no Império Britânico, onde vivem 2,4 bilhões de pessoas.

"Ele representou uma geração que nunca mais veremos", disse o primeiro-ministro australiano Scott Morrison. "Era um homem inabalável, em quem se podia confiar, sempre ao lado de sua Rainha."

Bandeiras foram hasteadas a meio mastro na sede do Parlamento da Austrália em Canberra, onde uma saudação de 41 tiros aconteceu no sábado, e também na Ponte da Baía de Sydney onde, em 1954, o Príncipe Philip chegou ao lado da recém-coroada Rainha Elizabeth durante a primeira visita de um monarca reinante ao país.

Uma saudação de 41 tiros é disparada para comemorar a morte do Príncipe Philip no Parlamento em Canberra, Austrália

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Uma saudação de 41 tiros é disparada para comemorar a morte do Príncipe Philip no Parlamento em Canberra, Austrália

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, observou que milhares de jovens "completaram desafios que mudaram suas vidas" por meio do Prêmio Hillary, criado pelo duque em 1963.

Uma cerimônia foi planejada na capital do país, Wellington. Ela deve durar cerca de 40 minutos e contará com uma salva de 41 tiros.

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse que o duque "contribuiu muito para o tecido social de nosso país - e do mundo".

Ele acrescentou: "Vamos lembrá-lo com carinho como um pilar na vida de nossa Rainha."

Philip and a Rainha na Nova Zelândia em 1977
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O casal visitou a Nova Zelândia em 1977. Muitos dos tributos mais calorosos vieram da Comunidade Britânica

O primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, disse que Philip foi um "líder sábio" e que seu "papel na promoção das relações Paquistão-Reino Unido sempre será lembrado".

E o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, elogiou uma vida inteira de dedicação a "muitas iniciativas de serviço comunitário".

O presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, disse que o duque foi um "símbolo elevado dos valores familiares e da unidade do povo britânico, bem como de toda a comunidade global".

Outras condolências calorosas da África incluem o Zimbábue - país que tem uma relação difícil com o Reino Unido e não está mais na Comunidade Britânica - e o presidente da Tanzânia, que bem recentemente perdeu seu líder John Pombe Magufuli em meio a rumores sobre Covid-19.

'Vida longa e notável'

Outras homenagens vieram de nações profundamente ligadas ao duque e sua família.

O primeiro-ministro de Malta, Robert Abela, escreveu: "Verdadeiramente entristecido pela perda do príncipe Philip, que fez de Malta sua casa e voltou para cá tantas vezes. Nosso povo guardará sua memória para sempre".

Philip e Elizabeth passaram dois anos felizes em Malta, onde ele serviu na Marinha, antes da morte do rei George VI em 1952.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que o duque foi "um servidor público exemplar" e que faria muita falta.

A mãe do duque, a princesa Alice de Battenberg, que morreu em 1969, está sepultada na Igreja de Maria Madalena em Jerusalém.

O duque de Edimburgo com sua mãe, a princesa Alice de Battenberg

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O duque de Edimburgo com sua mãe, a princesa Alice de Battenberg

Todos os ex-presidentes dos Estados Unidos vivos também enviaram homenagens.

Barack Obama, um dos 18 presidentes eleitos nos Estados Unidos durante a vida do duque, disse que, junto a esposa Michele, ficou imediatamente à vontade com o duque, descrevendo-o como "gentil e caloroso, com uma sagacidade afiada e um bom humor infalível".

Donald Trump disse que o príncipe Philip "definiu a dignidade e a graça britânicas. Ele personificou a discrição tranquila, a firmeza severa e a integridade inflexível do Reino Unido..."

Em um telegrama para a rainha, o presidente russo Vladimir Putin disse que o duque "gozava de respeito" tanto em casa quanto internacionalmente.

E a chanceler Angela Merkel disse que a "amizade do duque com a Alemanha, sua natureza direta e seu senso de dever" seriam lembrados.

O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, classificou o duque como um homem de "grande estilo".

"A França se junta à tristeza de seus amigos do outro lado do Canal da Mancha e saúda a vida, ao mesmo tempo europeia e britânica, de um homem que foi um testemunha de um século de provações e esperanças para o nosso continente. "

O presidente italiano, Sergio Mattarella, disse que "celebraria" memórias da "profunda admiração do príncipe Philip pelo patrimônio artístico e cultural da Itália".

Também que o duque acompanhou "a evolução do seu país com um espírito aberto e inovador".

O presidente irlandês Michael D. Higgins elogiou a capacidade do Príncipe Philip de trazer "um ar de informalidade a ocasiões formais".

"Sua presença distinta e senso de humor único deixavam os participantes à vontade e sempre engajavam aqueles que o encontraram", disse ele.

A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, expressou os seus pêsames à família real e "ao povo do Reino Unido neste dia tão triste".

Bolsonaro

O presidente brasileiro também mandou mensagem de solidariedade e condolências após a morte do príncipe Philip.

"O governo e o povo brasileiros solidarizam-se com a Rainha Elizabeth II, sua família e o povo do Reino Unido neste momento de luto dos britânicos pela perda do Duque de Edimburgo", disse o Itamaraty, em nota.

"O Presidente Jair Bolsonaro enviou mensagem de condolências a Sua Majestade", afirmou o ministério das Relações Exteriores.

BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Jovens na UTI já são maioria e necessidade de ventilação mecânica bate recorde






Pela primeira vez desde o início da pandemia da Covid-19, as internações em UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) de pessoas com menos de 40 anos são maioria absoluta.

Houve ainda um salto expressivo no número de pacientes graves com necessidade de ventilação mecânica e que não apresentam nenhuma comorbidade (como obesidade ou diabetes).

Os dados sugerem não apenas uma mudança do perfil dos doentes que necessitam de UTI, mas um agravamento do quadro geral dos pacientes em relação aos meses anteriores.

Em março, 52,2% das internações nas UTIs do Brasil se deram para pessoas até 40 anos; e o total de pacientes que necessitaram de ventilação mecânica atingiu 58,1%.

Ambas as taxas são recordes, segundo dados da plataforma UTIs Brasileiras, da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira).

No caso da necessidade de aparelhos de ventilação, houve salto de quase 40% em relação ao patamar do final do ano passado.

Entre setembro de 2020 e fevereiro deste ano, o total de internados em UTIs que necessitavam desse tipo de equipamento variou entre 42% e 48%.

Já os pacientes graves sem comorbidades que agora acabam na UTI são praticamente 1/3 do total –até fevereiro os doentes graves sem condições adversas prévias eram 1/4 dos casos.

O novo marco da epidemia no Brasil sugere pelo menos três conclusões, segundo Ederlon Rezende, coordenador da plataforma UTIs Brasileiras e ex-presidente da Amib:

1) as novas variantes do vírus devem ser mais agressivas; 2) a falta de cuidado de parcelas da população pode estar afetando sobretudo os mais jovens; e 3) a imunização dos mais velhos tem ajudado a conter os casos graves entre os idosos.

Segundo a pesquisa, antes de os jovens serem a maioria dos internados nas UTIs em março, entre dezembro de 2020 e fevereiro último os até 40 anos representavam 44,5% do total -percentual quase idêntico ao de setembro a novembro.

De lá para cá, o aumento das internações nessa faixa mais jovem foi de 16,5%.

Como a imensa maioria dos brasileiros tem menos de 40 anos, o incremento, embora possa parecer modesto, engloba milhões de pessoas. A tendência sugere ainda que há espaço para um agravamento da situação.

No mesmo período de comparação (e na contramão), as internações de pessoas acima de 80 anos despencaram 42%. Elas representam agora apenas 7,8% do total, pouco mais da metade do que vinha sendo registrado anteriormente.

Na faixa de idades intermediárias, as internações em UTI permaneceram mais ou menos no mesmo patamar, somando cerca de 40% do total.

O levantamento da Amib é feito a partir de uma amostra expressiva, englobando 20.865 leitos de UTI no país, o que representa cerca de 25% de todas as unidades, sendo 2/3 privadas e 1/3 públicas.

"Embora os dados mostrem que a vacina pode estar tendo o efeito esperado entre os mais velhos já imunizados, eles também revelam que, ao se acharem imbatíveis, os jovens, muitos sem qualquer comorbidade, são agora as maiores vítimas da epidemia", afirma Rezende.

Além de estarem se expondo mais em baladas e reuniões, há levantamentos e relatos de médicos na linha de frente dando conta de que os mais jovens, quando na UTI, ocupam por mais tempo os leitos -diminuindo o giro de vagas e contribuindo para saturar o sistema, como tem-se visto.

Com as novas variantes do vírus (como a P1), no entanto, não só as festas, frequentemente apontadas como as principais vilãs, podem estar por trás do aumento da infecção entre os mais jovens.

Com o fim do auxílio emergencial pago em 2020 (e que voltou só em abril e em proporção muito menor), muitas pessoas foram obrigadas a circular novamente atrás de alguma renda, sobretudo os informais -cerca de 34 milhões de pessoas, ou quase 40% da força de trabalho.

Em 2020, o auxílio emergencial foi pago entre abril e dezembro (R$ 600 ao mês a 66 milhões de pessoas) e foram empregados R$ 293 bilhões. A nova rodada (R$ 250 a 45,6 milhões) está prevista para durar apenas quatro meses e somar R$ 44 bilhões -15% do valor do ano passado.

No final de 2020, o contingente de informais na economia ainda era de 4,7 milhões de pessoas a menos do que um ano antes. Isso pode ser explicado porque, em função do auxílio emergencial robusto, muitos não estavam precisando sair de casa atrás de alguma renda.

Neste começo de 2021, isso mudou dramaticamente, levando milhares de informais a circularem novamente no pior momento da epidemia no Brasil.

Fernanda Canzian / Folha Expressa