A operação da Polícia Federal (PF) que realizou busca e apreensão em residências e escritórios de empresários, políticos e ativistas bolsonaristas nesta quarta-feira (27/05) dividiu juristas e acirrou as tensões entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e militantes pró-governo.
A ação foi determinada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes com base em um inquérito que apura a disseminação de ofensas, ataques e ameaças contra ministros da corte e seus familiares.
Foram cumpridos 29 mandados de busca e apreensão em endereços de pessoas suspeitas de participação nos atos, entre os quais os empresários Luciano Hang e Edgard Corona, a militante direitista Sara Winter, os blogueiros Winston Lima e Allan dos Santos, e o ex-deputado federal Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB.
As buscas e apreensões ocorreram um dia depois de uma outra operação da Polícia Federal mirar um dos principais adversários políticos de Bolsonaro, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC).
A residência oficial do governador e o escritório de sua esposa, Helena Witzel, tiveram objetos coletados em uma investigação sobre o possível desvio de recursos públicos em gastos para o combate ao coronavírus no Rio.
Novas ofensas
Alguns militantes bolsonaristas que elogiaram a ação da PF contra Witzel na terça-feira se disseram vítimas de censura por terem sido alvos da operação policial do dia seguinte.
"Moraes, seu covarde, você não vai me calar!!", tuitou Sara Winter nesta quarta-feira. Na terça, ao comentar a operação contra Witzel, ela criticou o governador: "Alguém saberia me informar como se carrega estrume em viatura?"
A operação contra militantes bolsonaristas desta quarta-feira se baseou em grande medida em depoimentos à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News.
À comissão, alguns depoentes - como os deputados federais Joice Hasselmann (PSL-SP) e Alexandre Frota (PSDB-SP) - acusaram dois filhos do presidente Jair Bolsonaro de participar do que chamam de um "gabinete do ódio" voltado a ataques virtuais.
Segundo Frota e Joice, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) estão entre os articuladores desse suposto grupo.
Nem Carlos nem Eduardo foram citados na operação desta quarta-feira, contudo.
Procedimento 'atípico'
O último ato do STF no inquérito sobre as fake news acirrou as divisões entre juristas, que debatem se a Corte não estaria extrapolando suas atribuições no processo.
Alguns especialistas questionam a legalidade da investigação desde sua abertura.
O inquérito foi instaurado em março de 2019 pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli, sem provocação de outro órgão, o que é atípico.
Toffoli escolheu Alexandre de Moraes para conduzir o inquérito sem que houvesse sorteio entre todos os ministros, procedimento de praxe na Corte.
Ao instaurar o inquérito, o presidente do STF argumentou que o regimento interno da Corte prevê esse tipo de iniciativa.
Em seu Artigo 42, o regimento estabelece que, "ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do tribunal, o presidente instaurará inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro ministro".
Toffoli afirmou que, embora os crimes ligados à disseminação de fake news não tenham sido praticados dentro do prédio do Supremo, os ministros, supostas vítimas das suspeitas investigadas, "são o tribunal".
Para Rubens Glezer, professor da FGV-Direito, o argumento é frágil.
Ele afirma que o artigo do regimento trata de uma situação "absolutamente excepcional", que envolva crimes que ocorram fisicamente dentro do STF, e não seria aplicável ao inquérito sobre as fake news, que trata de "possíveis crimes contra a honra dos ministros".
Ao permitir que o caso tramite fora das regras de um inquérito regular, diz Glezer, o tribunal "deu um cheque em branco para se investigar basicamente qualquer ato que seja ofensivo ao STF e seus ministros".
"Nesse caso, o STF é a vítima, o investigador e o juiz. Há um notável desequilíbrio do sistema", afirma.
Segundo o professor, nesse mesmo inquérito, Alexandre de Morais já tomou outras decisões questionáveis, como a censura a uma reportagem da revista Crusoé que apontava possíveis vínculos entre Dias Toffoli e a empreiteira Odebrecht, divulgada em abril de 2019.
Moraes revogou a própria decisão três dias depois.
Para Glezer, o STF pode ter recorrido à abertura do inquérito "como uma arma excepcional, para mostrar que tem poder de resposta e coação num contexto em que há muitas agressões ao tribunal".
O inquérito foi instaurado num momento em que militantes e políticos bolsonaristas se insurgem contra a corte e seus membros.
Em reunião ministerial recente, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, chegou a sugerir a prisão de integrantes da corte.
"Eu, por mim, colocava esses vagabundos todos na cadeia, começando pelo STF", afirmou Weintraub. Posteriormente, afirmou que se referia a apenas "alguns" membros da Corte, e que havia se manifestado em uma reunião privada.
O vídeo veio à tona no bojo de outro inquérito no STF, que apura uma possível interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal.
Para Glezer, porém, mesmo que o tribunal esteja sob pressão, "é terrível que justamente a instituição que tem de zelar pelas regras do jogo constitucional e democrático se disponha a burlá-las, ainda que por um bom objetivo".
A condução do inquérito, segundo ele, "dá muita munição para que o tribunal seja tratado como mais político do que jurídico, o que acaba minando sua força e legitimidade".
'Circunstâncias excepcionais'
Já Estefânia Barboza, professora de Direito Constitucional da Universidade Federal do Paraná (UFPR), avalia que o regimento interno do STF dá margem para a instauração e o avanço do inquérito.
Segundo Barboza, há que se considerar as "circunstâncias excepcionais" em jogo. "Dentro de um contexto de normalidade, em que todas as instituições estivessem funcionando, com respeito às decisões de cada instituição, talvez não tivéssemos o STF instaurando o inquérito", afirma.
No entanto, diz ela, o Ministério Público Federal não tomou qualquer providência para investigar fake news contra ministros do STF - cenário que, segundo a professora, justifica a ação do tribunal.
Barboza diz que tem havido uma disseminação deliberada de mentiras para atacar a honra dos ministros e minar sua legitimidade, o que, segundo ela, põe a democracia brasileira em risco.
Ela afirma que os ataques integram uma ofensiva abrangente de caráter "fascista" contra instituições democráticas em vários países.
"O regime democrático precisa ter engrenagens de contenção que façam sua defesa. A Constituição não aceita ditadura, nem a desestruturação dos poderes", afirma.
O plenário da Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (26) a Lei de Emergência Cultural. O projeto prevê a destinação de R$ 3,6 bilhões da União para estados, Distrito Federal e municípios, na aplicação de ações emergenciais de apoio ao setor cultural durante o período de isolamento decorrente da pandemia do novo coronavírus. PROPOSTA ANALISADA:
PL 1075/2020 - Dispõe sobre ações emergenciais destinadas ao setor cultural, enquanto as medidas de isolamento ou quarentena estiverem vigentes, de acordo com a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020.
Autores: Benedita da Silva (PT-RJ) , Joenia Wapichana (REDE-RR) , Marília Arraes (PT-PE) , David Miranda (PSOL-RJ) , Edmilson Rodrigues (PSOL-PA) , Natália Bonavides (PT-RN) , Fernanda Melchionna (PSOL-RS) , Airton Faleiro (PT-PA) , Lídice da Mata (PSB-BA) , Paulo Teixeira (PT-SP) , Marcelo Freixo (PSOL-RJ) , Túlio Gadêlha (PDT-PE) , Margarida Salomão (PT-MG) , Sâmia Bomfim (PSOL-SP) , Luiza Erundina (PSOL-SP) , Alexandre Padilha (PT-SP) , Talíria Petrone (PSOL-RJ) , Carlos Veras (PT-PE) , Chico D'Angelo (PDT-RJ) , Gleisi Hoffmann (PT-PR) , Erika Kokay (PT-DF) , Alexandre Frota (PSDB-SP) , Maria do Rosário (PT-RS) , Professora Rosa Neide (PT-MT)
Relatora: Jandira Feghali https://www.youtube.com/watch?v=CvgjTHedUig&fbclid=IwAR0Rim1bLZkVr0uTXDLm3WOT637y_x6WNCj8_VqUZqHF_BV_MnH7j2AKhd0
Professor Edgar Bom Jardim - PE
GENERAL HELENO. FOTO: FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL
Parlamentares entendem que nota publicada pelo ministro tem ‘evidente tom de ameaça injustificável e inconstitucional’ Os deputados do PT protocolaram nesta segunda-feira 25, junto ao Supremo Tribunal Federal, um pedido de impeachment do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno.
A solicitação se baseia em uma nota publicada pelo general no dia 22 de maio, em tom de ameaça, diante o encaminhamento feito pelo STF à Procuradoria Geral da Repúblico de apreensão do celular do presidente Jair Bolsonaro para investigação. O general classificou a conduta do Supremo como “inconcebível” e “inacreditável” e falou em “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”.
No pedido, os parlamentares enquadram a atitude do general em crime de responsabilidade, conforme previsto na Lei 1079/50. A deputada federal Margarida Salomão, que assina o pedido em conjunto com os deputados Rogério Correia e Célio Alves de Moura, destaca que a atitude do ministro se deu antes de qualquer decisão efetiva sobre a possível apreensão do celular do presidente Bolsanaro, “em evidente tom de ameaça injustificável e inconstitucional”.
Ainda de acordo com os parlamentares, trata-se de “um conjunto de ameaças gravíssimas ao livre exercício do Poder Judiciário, tentando constranger os Excelentíssimos Ministros do STF a deixarem de proferir decisão no sentido contrário ao desejado pelo Denunciado”.
Eles ainda reforçam que, mesmo após a repercussão negativa em torno da nota, o general Heleno continuou a endossar o conteúdo, “sem sequer fazer ressalvas, por exemplo, do trecho em que os militares afirmam que as decisões desta Suprema Corte podem trazer a sociedade insegurança e instabilidade, “com grave risco de crise institucional com desfecho imprevisível, quiçá, na pior hipótese, guerra civil”.
No sábado 23, o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) também protocolou um pedido de processo de impeachment contra o ministro, junto à Câmara dos Deputados. O deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ), por sua vez, encaminhou à PGR pedido de investigação criminal contra o ministro. O PDT apresentou uma notícia-crime no STF acusando Heleno de violar a Lei de Segurança Nacional.
Bom Jardim perde um grande homem na manhã desta segunda-feira, dia 25 de maio de 2020. Faleceu no Hospital Regional de Caruaru, o senhor Antonio Alves Monteiro, conhecido por Seu "Galope". Agricultor, ecologista, pedreiro, eletricista, colecionador e amante da história popular, homem de muita prosa, boas amizades, Gente Boa na expressão da palavra. Galope era um homem de fé, visionário, alegre, cultural. Pai de uma família numerosa. Nos seus 83 anos de idade continuava sempre sintonizado com as questões do mundo atual. Acompanhava os fatos e acontecimentos de Bom Jardim, do Brasil e do mundo. Ao ser entrevistado no Programa "Bom Dia Bom Jardim" da Rádio Cult FM, recebeu a marca , o título de "Homem Museu", por ter boa memória e guarda grande coleção de discos, fotos, panfletos de antigas campanhas políticas de Bom Jardim.
Gostava de curtir um som de Luiz Gonzaga, Zé Paraíba, Trio Nordestino e muitos outros cantores que desfilavam na sua radiola.
Galope era uma pessoa de boa comunicação, concedeu entrevista para estudantes, blogs, rádio, vídeos. Parte de seus discos foram doados para Pessoa do Nascimento, locutor da Rádio Surubim AM. Galope foi um dos homenageados do Município nos 144 Anos de Emancipação Política de Bom Jardim. Nosso velho "Homem Museu" vai fazer falta a memória de nossa cidade. Veja entrevista concedida a Paróquia de Sant'Ana:https://www.facebook.com/ProfessorEdgarBomJardim/?notif_id=1590428452999010¬if_t=page_fan
O corpo de Antônio Monteiro(Galope), está sendo velado no Memorial Plade, próximo da pracinha do Fórum de Justiça, centro de Bom Jardim. O sepultamento será às 16:30 h, no cemitério da cidade. A família enlutada agradece desde já a presença e solidariedade de todos.
Quando Jeffrey Sachs publicou em 2005 seu livro O Fim da Pobreza, alguns o consideraram muito otimista por crer ser possível erradicar a indigência da face da Terra.
Mas agora, no meio de uma das piores pandemias e crises econômicas globais em várias décadas, o otimismo desse renomado especialista em desenvolvimento sustentável da Universidade de Columbia (EUA) e da ONU é difícil de perceber.
"Esta pandemia é extraordinariamente grave", disse Sachs em uma entrevista exclusiva à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
"Ela vai empurrar centenas de milhões de pessoas para a pobreza."
Para ele, agora provavelmente "está perdido" o objetivo de eliminar a pobreza extrema global até 2030, estabelecida nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que ele próprio estimulou.
Sachs, que tem sido apontado por diferentes publicações como um dos líderes ou economistas mais influentes do mundo, critica a resposta do presidente dos EUA, Donald Trump, à crise da covid-19 e o que vê como uma tentativa de criar uma Guerra Fria com a China.
Mas também critica as políticas de presidentes latino-americanos, como o mexicano Andrés Manuel López Obrador ou o brasileiro Jair Bolsonaro, considera provável que a Argentina descumpra o pagamento de sua dívida e descreve "o pior cenário que veremos na região em muito tempo".
O que segue é uma síntese do diálogo por Zoom com Sachs, que apoiou a pré-candidatura presidencial — hoje abandonada — do senador Bernie Sanders nos EUA e se prepara para publicar um novo livro sobre "As eras de globalização".
BBC - Qual a sua maior preocupação neste momento em termos econômicos?
Jeffrey Sachs - Agora, economia é saúde pública. Se se controla esta pandemia, se restaura a vida cotidiana e econômica.
Se a pandemia não for controlada e seguimos propagando o vírus ao redor do mundo, isso afetará muito os países pobres e os países de rendas médias, os impactos econômicos durarão anos e serão muito graves.
Se esses impactos econômicos muito graves conduzem a uma crise financeira, o que é uma possibilidade real porque muitos países correm o risco de não poder pagar suas dívidas internacionais ou enfrentam uma desestabilização financeira muito importante em suas economias, isso multiplicará os efeitos.
Se temos uma crise financeira, uma crise de saúde pública e uma crise geopolítica, teremos outra era de Grande Depressão.
Muitas coisas podem ficar ruins neste momento.
Há uma maneira de fazer com que as coisas melhores, mas não estamos seguindo essa trajetória porque a qualidade da liderança em muitos países, começando pelos EUA, é tão ruim que estamos tendo resultados muito ruins quando poderíamos estar muito melhores.
E, lamentavelmente, a perspectiva é de resultados ainda piores no futuro. Temos uma liderança terrível nos EUA, uma liderança miserável no Brasil, uma liderança ruim para esta crise no México. Muitas economias emergentes estão começando a se ver muito afetadas, e tudo isso poderia levar a um desastre crescente.
No curto prazo, há muita dor econômica junto com as mortes e os confinamentos.
Mas estamos bem no momento em que ou fazemos uma boa saúde pública ou enfrentaremos transtornos econômicos que durarão anos. E temo que estejamos indo mais na direção do último.
BBC - A pandemia está aumentando a diferença entre ricos e pobres em um mundo que já era bastante desigual?
Sachs - Temos de estar muito preparados para o grande aumento da fome nos países pobres.
O sistema internacional não é muito generoso nem voltado a grandes resgates, embora tenham sido dados alguns passos notáveis recentemente, como a moratória no serviço de dívida dos países pobres com credores oficiais no Clube de Paris. Isso foi muito bom.
Para os países pobres, crise significa indigência. Para países de rendas médias ou ricos, significa dor. Inclusive nos EUA, pela debilidade da nossa rede de segurança social, será desesperador para muita gente.
Nossa taxa de desemprego é de 20%, mais ou menos. Só metade da população adulta tem um emprego neste momento, é absolutamente impactante. Então, há dor inclusive nos países ricos. Mas, nos países pobres, a margem pode ser tornar rapidamente desesperadora.
Ainda não vimos exatamente isso, mas estamos na etapa inicial desta epidemia. Também temos muitos países em desenvolvimento onde a doença está surgindo. O Brasil é um, o Equador, outro, México, provavelmente outro.
Os dados são terríveis. Os dados oficiais deixam entrever apenas uma pequena parte da realidade neste momento. Os informes recentes sobre o excesso de mortes mostram que, em alguns países, as mortes oficiais registradas por covid-19 são talvez uma décima parte ou um quarto do que aparece como excesso de mortalidade.
Então, estamos não só numa fase inicial e dramática, mas também estamos vendo com precisão o panorama do que ocorre nesta etapa.
BBC - A América Latina avançou na redução da pobreza nos primeiros anos deste século, mas a tendência se reverteu com o fim do boom das matérias primas, e agora a região enfrenta esta crise. Há um risco de que desapareça a nova classe média que surgiu na América Latina?
Sachs - A única notícia positiva para grande parte da América Latina é que ela tem regiões produtoras de alimentos. Portanto, deveria haver comida em muitos países e na região.
Mas pense em quantos países estão muito afetados neste momento.
O Brasil está tão desastrosamente governado que já estava em crise, mas com Bolsonaro está se transformando numa crise ainda mais profunda porque o governo federal é, como nos EUA, incoerente e dá pouca ajuda para deter a epidemia além do que fazem os governadores estaduais.
Sabemos que o Equador e o Peru enfrentam um forte impacto da epidemia.
É provável que no México aconteça o mesmo porque AMLO (como é conhecido o presidente Andrés Manuel López Obrador) tem estado basicamente em negação, como Trump e Bolsonaro.
O México já se encontra numa crise terrível porque o presidente depositou de maneira inexplicável e incompetente todas as fichas na Pemex (Petróleos Mexicanos, uma empresa estatal), justo quando o mercado petroleiro desaba.
E o México não tinha por que decidir dobrar os investimentos da Pemex. Foi um desperdício completo de recursos nacionais.
A Argentina tem estado em crise, claro. É provável que se produza um descumprimento dos pagamentos (de dívida) porque, se bem que na minha opinião ela fez uma oferta muito profissional e acertada aos credores sobre como evitar o default, os credores não são muito inteligentes para evitar sua própria quebra. Portanto, é provável que vejamos um descumprimento de pagamentos.
E embora isso talvez seja o melhor que a Argentina possa fazer por ela mesma, não é um bom panorama.
A Venezuela tem estado sob agressão total dos EUA, ao ponto de terem sido enviados mercenários para matar ou sequestrar o presidente.
O Chile, o lugar mais estável e mais bem governado da região, se incendiou no ano passado com os protestos por causa da crescente desigualdade. Isso foi antes da covid-19.
É o pior cenário que vimos na região em muito tempo.
E, dada a completa falta de cooperação internacional e a incapacidade absoluta do governo Trump de fazer algo construtivo em qualquer frente, quer seja a doméstica ou a internacional, não se pode ser demasiado otimista sobre o cenário latino-americano neste momento.
É em quase todas as partes um panorama bastante sombrio de uma região muito afetada, onde a crise se aprofundará. Quisera eu poder ser mais otimista, mas neste momento é difícil ver pontos positivos.
BBC - E o que diz do fato de que haja talvez milhões de pessoas passando fome no país mais rico do mundo, ou que os latinos e afroamericanos sejam os mais afetados pela covid-19?
Sachs - A primeira regra é não ter um psicopata como presidente. Temos o pior presidente da história dos EUA.
Isso já era óbvio para os que observam de perto nos últimos três anos. Mas este homem é absolutamente venal, narcisista, ignorante e infelizmente se colocou no caminho da mínima sanidade na resposta a esta crise.
Por isso, os EUA têm mais de 80 mil mortos, um colapso completo dos nossos sistemas de saúde pública e uma incapacidade absoluta neste país rico e poderoso, cheio de talento, para fazer o mínimo: obter máscaras faciais, rastrear contatos (de pessoas infectadas). Não fazemos o básico nos EUA.
E, depois, (houve) a ideia brilhante deste homem foi deixar de financiar a OMS no meio de uma pandemia global: absolutamente destrutivo.
Está mentalmente transtornado. Passa cada dia na sua conta no Twitter atacando pessoas aqui e ali, acusando o ex-presidente (Barack Obama) de grandes crimes, acusando a China de crimes terríveis.
Os EUA perderam por completo o rumo ao ter esse homem como presidente.
Acho que durante um tempo as elites poderosas o viram como uma espécie de idiota útil: reduziu seus impostos, aumentou a oferta de dinheiro, o mercado de ações estava em alta...
Mas não se pode ter esta combinação de narcisismo maligno e ignorância no meio da pior crise da história moderna. E é isso o que temos, infelizmente.
BBC - Ao que parece, os EUA estão se retirando de seu papel de líder mundial e cada país tem sua própria estratégia contra esta pandemia. É possível alcançar uma agenda global construtiva neste contexto?
Sachs - Os EUA se eximiram da agenda internacional por muitos anos. E, claro, isso ficou mais extremo com Trump.
A atitude de Trump é tratar de romper o sistema internacional em sua medula, romper a Organização Mundial do Comércio, retirar-se de qualquer tratado, encerrar os acordos de armas, gastar bilhões ou mais numa nova geração de armas nucleares.
Agora tudo isso está no contexto da mais profunda crise econômica desde a Grande Depressão e uma crise de saúde global que não tem precedentes, pelo menos desde a epidemia de gripe de 1918. E o que ele quer é usar isso, e está tendo algum efeito na opinião pública, como uma ocasião para instigar uma nova Guerra Fria com a China.
Os EUA têm muito poder através do dólar e dos sistemas de armas. Diria que essas são as duas fontes reais de poder dos EUA, mas são muito poderosas. Viajo por todo o mundo. Ninguém respeita Trump, quase todo mundo sabe que é um louco. Mas o poder do dólar, a ameaça de sanções e a contenção do sistema de armas fazem com que outros sigam a corrente.
Claro que cada vez que há grandes rivalidades de poder, os países escolhem bandos pensando que também obterão algum benefício. Digo isso tudo porque o propósito dos EUA neste momento é usar inclusive esta crise para criar uma nova Guerra Fria intencionalmente, não por acidente, por destino ou por resignação à realidade, mas por intenção.
Porque a China estava se tornando muito poderosa aos olhos desses nacionalistas e neoconservadores. Então estamos provando de novo o livro de jogos de 1947: como contivemos a União Soviética, vamos conter a China.
Acho perigoso e ridículo, mas especialmente perigoso.
BBC - Perigoso em que termos? O quão ruim pode ser a escalada?
Sachs - Há um princípio geral nas crises econômicas globais: sem cooperação, uma crise como essa pode criar uma sombra de depressão muito grande.
E uma ideia que considero crível é que a profundidade da Grande Depressão em si mesma foi um reflexo da falta de liderança global na década de 1930.
A Grã Bretanha era muito frágil para liderar, os EUA não estavam interessados em liderar, (a chamada republica de) Weimar estava em recuo, Hitler chegou ao poder em janeiro de 1933 e a Grande Depressão se aprofundou porque não houve cooperação.
Aqui temos um choque de igual magnitude, embora em uma etapa muito inicial: é possível se recuperar rápido.
A recuperação principal teria de começar pela saúde pública. E depois pela limpeza financeira, porque haverá muitos países em descumprimento efetivo de pagamentos, ou em uma crise financeira. Desse jeito, poderíamos nos recuperar desta crise muito rápido, ter algum rebote em 12 ou 18 meses.
Acho que isso é muito improvável agora. E atribuiria isso à política, mais que à natureza intrínseca de qualquer crise.
Porque crises como estas se resolvem ou se alimentam de si mesmas. São processos dinâmicos, e dessa maneira vão de mal a bem ou de mal a pior. E esta está na direção de ir de mal a pior.
BBC - Há algo no mundo que lhe provoque esperança neste momento?
Sachs - Sim. Às vezes me consideram muito otimista porque creio estar bem treinado para ver as possibilidades do que se pode conquistar.
Quando falei sobre o fim da pobreza, não foi uma previsão que inevitavelmente aconteceria. Foi uma declaração do que poderia acontecer e aqui estão as coisas necessárias para acontecer. E de fato houve progresso.
Muitas coisas que enfatizo, em especial como a tecnologia e a convergência podem ajudar os países a se desenvolver, estão acontecendo durante esta crise. Temos exemplos diante de nós de como resolver esse problema. E o lado mais promissor do mundo são os 15 países da Associação Econômica Integral Regional (RCEP na sigla em inglês) - Japão, China, Coreia, os dez países da ASEAN, Austrália e Nova Zelândia. Esse grupo de países soma ao redor de 2 bilhões de pessoas. E se observamos os 15 países, creio que todos eles com exceção da Indonésia têm a epidemia ao menos sob controle provisório neste momento.
É uma região que não só poderia mostrar ao resto do mundo como fazê-lo, mas também proporcionar uma grande quantidade de equipamento e orientação.
Espero e defendo cada dia que a região mire a si mesma e diga: "Estamos fazendo". E se una.
Mas essa visão talvez seja o maior pesadelo dos encarregados de formular políticas nos EUA. A ideia de que o Japão e a China cooperem é um terror para os nacionalistas americanos. Então os EUA estão ali todos os dias tratando de separar, em lugar de dizer: "Trabalhem juntos, para que possamos resolver tudo isso."
Você me perguntou por algo otimista e não terminarei com uma nota pessimista. Só direi que há 2 bilhões de pessoas dos 7,7 bilhões que estão no caminho certo.
Se aprendermos com eles, os emularmos, nos associarmos, cooperarmos com eles, faremos o trabalho sem uma Grande Depressão. Esse é o otimismo.
Rede vai à Justiça após Bolsonaro defender armar cidadão contra isolamento Randolfe diz que fala "revela, além do desvio de finalidade, uma intenção criminosa da parte do presidente" Imagem: Lula Marques/Ag. PT Eduardo Militão e Luís Adorno Do UOL, em Brasília e São Paulo 23/05/2020 10h47 O partido Rede Sustentabilidade vai à Justiça contra uma portaria do governo federal que aumentou a quantidade de munições que uma pessoa pode adquirir por ano. A regra foi baixada um dia depois da reunião ministerial em que Jair Bolsonaro (sem partido) disse que ela seria um "recado" contra governadores e prefeitos O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que vai abrir um projeto de decreto legislativo no Congresso para tentar suspender a portaria. As medidas serão tomadas na segunda-feira (25). Com informações de https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/05/23/rede-justica-jair-bolsonaro-armar-populacao-isolamento-social.htm?
Professor Edgar Bom Jardim - PE