sábado, 17 de agosto de 2019

Lei do abuso de autoridade: conheça quatro casos da Lava Jato nos quais investigadores e juízes poderiam ser punidos


Martelo que representa a Justiça com livros ao fundoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionNova lei, que depende de sanção presidencial, prevê punições para agentes públicos como juízes que fizerem mal uso do seu poder
Na noite da última quarta-feira (14), a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei vindo do Senado que define - e pune - casos do crime de abuso de autoridade. Pela nova lei, este tipo de crime acontece quando um servidor público (policiais, delegados, procuradores e juízes, por exemplo) faz mal uso de seu poder para prejudicar ou beneficiar alguém.
Como o projeto já passou pelo Senado, agora depende só da sanção do presidente Jair Bolsonaro (PSL) para virar lei.
Se esta lei já existisse no Brasil desde 2014, quando começaram as apurações da Lava Jato, ela daria margem para que policiais, procuradores e juízes envolvidos nas investigações fossem atacados e eventualmente punidos em pelo menos quatro ocasiões.
Moro poderia ter incorrido em crime ao divulgar a conversa entre os ex-presidentes Lula e Dilma, em 2016. O mesmo Moro e o atual diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, poderiam ter cometido crime na "guerra de liminares" envolvendo a soltura do ex-presidente Lula, em julho de 2018. Policiais federais talvez fossem punidos por algemar e acorrentar os pés de Sérgio Cabral, em 2018
A proposta é polêmica desde sua primeira versão, apresentada em 2016 pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL)
Mas este não é o texto aprovado esta semana na Câmara. A versão aprovada foi criada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) na gestão do ex-PGR Rodrigo Janot, e apresentada no Senado por Randolfe Rodrigues (Rede-AP), no começo de 2017.
Sergio Moro de perfil, dentro de um escritórioDireito de imagemREUTERS/ANDRE COELHO
Image captionMoro poderia ter incorrido em crime em ações suas enquanto juiz à frente da Lava-Jato
O texto depois sofreu alterações profundas nas mãos do senador Roberto Requião (MDB-PR), que relatou o projeto. "O substitutivo de Requião deformou minha proposta e, inclusive, eu votei contra ela no Senado", disse Randolfe ao jornal O Globo. Janot, por sua vez, disse que o projeto, tal como se encontra, coloca o país "em marcha à ré no combate à corrupção".
Na noite de quarta-feira (14), o projeto acabou aprovado na Câmara de forma simbólica - isto é, sem que os votos individuais de cada um dos deputados ficassem registrados. Agora, deputados do PSL dizem que Bolsonaro deverá vetar alguns dos artigos do projeto. Ele tem até o dia 5 de setembro para decidir.
A íntegra da versão final do projeto pode ser consultada aqui.
Juízes e procuradores - não só os envolvidos com a Lava Jato - se manifestaram contra o projeto de lei desde o começo da semana.
Para a Associação dos Juízes Federais (Ajufe), o projeto "prejudica fortemente as instituições de Estado destinadas à aplicação da lei e à persecução de práticas criminosas, vulnera a separação dos poderes e a independência do Poder Judiciário e do Ministério Público e fornece poderosa ferramenta de retaliação contra Juízes/as, Promotores/as, Policiais e Fiscais em benefício de pessoas acusadas".
A Frentas - que congrega entidades de juízes e de procuradores - disse que o texto "mantém as definições de diversos crimes de maneira vaga, aberta, subjetiva, punindo situações que hoje são normalmente dirimidas pelo sistema de justiça". O projeto, ainda segundo a entidade, "contém uma série de falhas e impropriedades que inibem a atuação do Ministério Público, do Poder Judiciário e das forças de segurança, prejudicando o desenvolvimento de investigações e processos em todo o país".
Rodrigo Janot ajeitando gravataDireito de imagemMARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
Image captionA versão aprovada foi criada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) na gestão do ex-PGR Rodrigo Janot
Por outro lado, o projeto recebeu apoio de deputados e senadores de vários partidos, e de várias orientações ideológicas. Dirigentes e ex-dirigentes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) também se manifestaram a favor do texto.
Ex-presidente da OAB, o advogado Marcus Vinicius Furtado Coêlho publicou artigo de opinião no jornal O Estado de S. Paulo dizendo que o projeto fortalece não só a atividade da advocacia - mas também o "direito dos cidadãos a uma ordem jurídica justa, ao devido processo legal, à ampla defesa e ao contraditório".
O relator na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), disse que o texto não visa perseguir nenhum profissional. "Quem, em geral, vai denunciar é o Ministério Público, e quem vai julgar é o juiz, por isso não cabe dizer que está havendo perseguição a esses agentes públicos", disse ele.
O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), disse que os bons profissionais não têm o que temer. "Esses argumentos do medo não são para proteger os bons profissionais, são para proteger milicianos, são para proteger bandidos que às vezes estão dentro do serviço público. Pessoas que se utilizam dos seus cargos para perseguir pessoas inocentes".
Para o advogado criminalista Fernando Castelo Branco, a nova lei precisa ser avaliada com cuidado.
Descrições genéricas, pouco detalhadas e subjetivas dos possíveis crimes podem abrir margem para que os profissionais sejam perseguidos ou atacados injustamente - o que não é desejável. No jargão do direito, este tipo de descrição genérica é chamado de "tipo penal aberto". "O risco é de termos uma lei pouco clara, que gera desassossego e aumenta a incerteza. Uma boa lei deve fazer exatamente o contrário", diz ele.
Mas ele faz uma ressalva: os episódios descritos abaixo são casos nos quais uma lei contra o abuso de autoridade seria necessária, diz. "Essas situações têm que ser mantidas como exemplos claros de abuso de autoridade".
A reportagem da BBC News Brasil conversou com advogados criminalistas e consultou uma análise do subprocurador-geral da República Nicolao Dinopara entender como o projeto de lei do abuso de autoridade poderia ter impactado a Lava Jato, se já estivesse em vigor. Conheça abaixo quatro situações nas quais isto poderia ter acontecido.

1) O áudio do 'Bessias' e as gravações da JBS

Gráficos representando ondas sonorasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionQuando juiz, Moro tornou pública gravação de conversa entre os ex-presidentes petistas Lula e Dilma
No dia 16 março de 2016, o então juiz federal Sérgio Moro, responsável por julgar os casos da Lava Jato na 1ª Instância da Justiça, tornou pública a gravação de uma conversa telefônica entre o ex-presidente Lula (PT) e a então presidente da República Dilma Rousseff, do mesmo partido.
No diálogo, Dilma diz a Lula que o advogado Jorge Messias, então assessor palaciano, levará a ele um documento para que Lula pudesse tomar posse como ministro-chefe da Casa Civil. Para os investigadores, tratava-se de uma manobra para dar a Lula foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF), retardando as investigações contra ele - o que Dilma e Lula sempre negaram.
Mais tarde, o próprio Moro reconheceu que errou ao continuar gravando a conversa dos dois - a conversa aconteceu fora do horário determinado pelo então juiz para a interceptação telefônica, feita pela PF. Mas ele defendeu a divulgação do áudio.
Se já existisse a Lei do abuso de autoridade, Moro poderia ser enquadrado no artigo 28.
Este artigo determina pena de um a quatro anos de prisão e multa para quem "divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investigado ou acusado".
O mesmo artigo poderia ser usado no caso da delação dos executivos Wesley e Joesley Batista, donos do frigorífico JBS.
No primeiro semestre de 2017, milhares de arquivos relativos à delação, que estava no Supremo Tribunal Federal, se tornaram públicos por decisão do relator do caso, o ministro Edson Fachin - inclusive conversas que nada tinham a ver com as investigações. Foi o caso, por exemplo, de uma conversa entre o jornalista Reinaldo Azevedo e Andrea Neves, irmã do hoje deputado Aécio Neves (PSDB-MG).
Quando o caso envolvendo o jornalista veio à tona, Fachin determinou que o áudio voltasse a ser sigiloso.

2) As algemas e correntes de Sérgio Cabral

Cabral é visto dentro de viaturaDireito de imagemFELIPE FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL
Image captionCabral é visto dentro de viatura; ao ser transferido para Curitiba, ele estava algemado nas mãos e acorrentado nos pés
Em janeiro de 2018, o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (MDB), foi transferido de um presídio no Rio de Janeiro para uma ala do Complexo Médico Penal de Pinhais, no Paraná.
Ao desembarcar em Curitiba (PR), Cabral estava com algemas nas mãos, uma corrente nos pés e uma espécie de cinta no abdômen. Ele também estava acompanhado de uma equipe de pelo menos cinco policiais federais fortemente armados. A chegada dele foi acompanhada por equipes de TV e fotojornalistas.
O projeto de lei de abuso de autoridade traz um artigo - o de número 17 - que poderia se aplicar ao caso. Ele prevê detenção de seis meses a dois anos para quem submeter os presos "ao uso de algemas ou qualquer outro objeto que lhe restrinja o movimento (...) quando manifestamente não houver resistência à prisão, internação ou apreensão, ameaça de fuga ou risco à integridade física do próprio preso".
A pena é aplicada em dobro se a vítima tiver menos de 18 anos, estiver grávida, ou se a infração ocorrer dentro de uma penitenciária.
No caso de Cabral, a transferência foi determinada por Moro e pela juíza federal Caroline Vieira Figueiredo, do Rio, depois que surgiram suspeitas de que o ex-governador estaria recebendo regalias no sistema penitenciário fluminense.
O uso das algemas, no entanto, foi uma escolha da PF. À época, a corporação disse em nota que o local - a entrada do IML de Curitiba - era de acesso aberto ao público. Por isso, o aparato seria necessário para proteger Cabral ou pessoas próximas que eventualmente quisessem brigar com o político.
Neste caso, também poderia ser aplicado o artigo 14 do projeto - que prevê detenção (de seis meses a dois anos) e multa para quem "fotografar ou filmar, permitir que fotografem ou filmem, divulgar ou publicar fotografia ou filmagem de preso (...) sem seu consentimento".

3) A gravação dos advogados de Lula

A nova lei de abuso de autoridade também altera um dispositivo do Estatuto da Advocacia, e torna crime o ato de violar o escritório ou local de trabalho do advogado, "bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia".
A pena é de três meses a um ano, e multa.
Entre fevereiro e março de 2016, o ex-juiz Sérgio Moro autorizou que os investigadores da Lava Jato interceptassem os telefones do escritório do advogado Cristiano Zanin, que defende o ex-presidente Lula. E, segundo a defesa do petista, a força-tarefa teria produzido relatórios que detalharam ao menos 14 horas conversas gravadas dos defensores do ex-presidente.
Hoje, esta alegação está na base de um dos pedidos da defesa de Lula para tentar anular no Supremo Tribunal Federal a condenação de Lula no caso do Tríplex do Guarujá (SP).
Em outubro de 2017, a defesa do petista pediu ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) que destruísse as gravações de 462 chamadas telefônicas do escritório. Segundo a defesa, as ligações contêm diálogos de Cristiano Zanin com o ex-presidente, nas quais ele orienta seu cliente a respeito da defesa jurídica.
Se for sancionada da forma como está, o projeto de lei do abuso de autoridade também torna crime prender advogados de forma preventiva ou temporária fora de uma cela de Estado-Maior. E, se esta não estiver disponível, o advogado deve ficar em prisão domiciliar.
Lula olha para baixo, de perfilDireito de imagemMIGUEL SCHINCARIOL/AFP
Image captionAtos referentes aos processos do ex-presidente Lula poderiam ser punidos com legislação atual que espera sanção do presidente

4) A 'guerra de liminares' pela soltura de Lula

Na manhã do dia 8 de julho de 2018, o desembargador federal Rogério Favreto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), aceitou um pedido de habeas corpus da defesa do ex-presidente Lula, e mandou soltá-lo. Lula está preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde o dia 7 de abril do ano passado.
Favreto é desembargador plantonista e já foi filiado ao PT - mas se desligou do partido ao assumir o cargo no tribunal.
Em seguida, Moro - que à época ainda era juiz federal - despachou no processo alegando que não tinha poderes para cumprir a decisão de soltar o petista. Ele estava de férias no momento. Argumentou que, como a decisão de prender Lula era de um órgão colegiado (a 8ª Turma do TRF-4, formada por três desembargadores), ele não tinha poderes para autorizar a soltura.
A "guerra de decisões liminares (provisórias)" prosseguiu durante todo o sábado, até que a questão foi resolvida pelos desembargadores Gebran Neto e Thompson Flores - que tinham julgado o caso de Lula e determinado sua prisão.
Se a lei do abuso de autoridade já estivesse em vigor na época, Moro e os policiais responsáveis pela custódia de Lula na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba poderiam ser enquadrados no inciso IV do artigo 12.
Segundo este trecho da lei, comete crime quem "prolonga a execução da pena (...), deixando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente após recebido". A decisão de Favreto determinava a soltura imediata de Lula na manhã de sábado. Como se sabe, não aconteceu.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Corte de R$ 926 milhões na Educação foi para pagar emendas, diz Weintraub


Foto: Valter Campanato/Agência Brasil (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse nesta sexta-feira (16) que a aprovação da reforma da Previdência, por si só, não garante o desbloqueio do orçamento da área, mas, para ele, há sinais que indicam uma possível retomada de gastos.
Weintraub tem insistido na possibilidade de revisão dos contingenciamentos, mas assumiu que o remanejamento recente de R$ 926 milhões do orçamento da Educação para outras áreas representa, sim, um corte.

Esse valor equivale a 16% do total bloqueado no MEC (Ministério da Educação) neste ano, que soma cerca de R$ 6 bilhões. Conforme o jornal Folha de S.Paulo revelou, o MEC perdeu quase um terço dos R$ 3 bilhões que a área econômica do governo Bolsonaro quer remanejar no orçamento federal para facilitar o pagamento de emendas parlamentares, negociadas para a aprovação da reforma da Previdência.

"Isso não foi feito aqui. É um corte, esse que você descreveu é sim um corte", disse o ministro, após questionamento da reportagem. O ministro disse que os valores se referem a emendas parlamentares e que não tem relação com gastos de custeio. "São emendas parlamentes, para projetos específicos, aí foi um corte. Não foi um corte da minha caneta".

Um projeto de lei foi encaminhado pelo Executivo na semana passada para garantir recursos para o pagamento de emendas (verbas para projetos e ações indicadas por parlamentares) negociadas na votação em primeiro turno da reforma da Previdência. 

Os R$ 926 milhões faziam parte dos recursos congelados do MEC mas sobre os quais havia, segundo o argumento recorrente do governo, a promessa de liberação futura, caso houvesse melhora na economia. Entretanto, esses valores passam a ter outra destinação definitiva - o projeto ainda precisa ser aprovado pelo Congresso.

Esse remanejamento atinge, na área da Educação, ações como o apoio à manutenção da educação infantil, concessão de bolsas na educação superior e básica e apoio ao funcionamento de instituições federais de ensino. Weintraub afirmou, entretanto, que o corte não terá impacto nas ações do MEC.

O bloqueio total de recursos do MEC atinge ações que vão da educação infantil à pesquisa. Nas universidades federais, o bloqueio foi de R$ 2,2 bilhões, o que levou preocupação a reitores com relação à capacidade de arcar com todas as contas do ano.

De acordo com Weintraub, há sinais econômicos positivos e que devem permitir o descongelamento de despesas. "Não estou falando em nome do governo que o descontingenciamento está vindo. Todos os sinais estão corroborando que o cenário é esse [de aumento de arrecadação e liberação de dinheiro] e a gente vai conseguir atravessar este ano", diz.

As declarações ocorreram durante entrevista coletiva, em Brasília, para tratar de novas universidades portuguesas que passaram a aceitar o Enem para seleção de alunos.

Em encontro com a Andifes (entidade que reúnes os reitores das universidades federais) nesta semana, o ministro indicou que as condições econômicas do governo permitirão um desbloqueio de recursos para as instituições em setembro. 

A conjuntura descrita pelo presidente Bolsonaro foi mais pessimista. Também nesta sexta, o presidente afirmou que o Brasil está sem dinheiro e que seu governo faz milagre para a sobrevivência do país. 

"O Brasil inteiro está sem dinheiro", disse. "Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Os ministros estão apavorados. Estamos aqui tentando sobreviver no corrente ano. Não tem dinheiro e eu já sabia disso. Estamos fazendo milagre, conversando com a equipe econômica. A gente está vendo o que a gente pode fazer para sobreviver", afirmou no Palácio do Planalto após cerimônia em comemoração ao Dia Internacional da Juventude. 

A declaração foi feita em resposta a uma pergunta sobre a possibilidade de o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) ficar sem recursos este ano. 

Na quinta (15), o CNPq anunciou a suspensão de aproximadamente 4,5 mil bolsas de iniciação científica, mestrado e doutorado que seriam distribuídas às universidades.

Como mostrou jornal Folha de S.Paulo, o governo passa por uma compressão sem precedentes no Orçamento federal, ameaçando a paralisia de programas de ministérios nos próximos meses por falta de dinheiro.
 
Texto de Paulo Saldaña
FolhaPress
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

A morte da vida:Desmatamento cresce 15% nos últimos 12 meses, diz ONG

Desmatamento da Amazônia
Desmatamento da AmazôniaFoto: Felipe Werneck/Ibama

O instituto de pesquisa Imazon publicou nesta sexta-feira (16) um relatório no qual revela que o desmatamento da Amazônia Legal cresceu 66% no mês de julho deste ano em relação ao mesmo mês em 2018. Os dados também mostram um aumento de 15% entre agosto de 2018 e julho de 2019 no desmatamento em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Segundo a publicação, foram desmatados 5.054 km² da Amazônia Legal no período de um ano. Só em julho de 2019, o desmatamento somou 1.287 km², 66% a mais em comparação com os 777 km² de julho de 2018. Os casos ocorreram no Pará (36%), Amazonas (20%), Rondônia (15%), Acre (15%), Mato Grosso (12%) e Roraima (2%).

Cerca de 55% dos desmatamentos ocorreram em áreas privadas ou sob estágio de posse, segundo o relatório. O desmate em assentamentos correspondeu a 20%, em Unidades de Conservação foi de 19% e em Terras Indígenas de 6%. Por outro lado, a área de floresta degradada diminuiu em julho deste ano em comparação com julho do ano passado. Este ano foram degradados 135 km² contra 356 km² em julho de 2018, uma redução de 62%. As degradações de 2019 foram detectadas no Pará (44%), Rondônia (18%), Amazonas (16%), Roraima (11%), Mato Grosso (8%) e Acre (3%).

Degradação é quando há "um distúrbio parcial na floresta causado pela extração de madeira e/ou por queimadas florestais", explica o Imazon em seu site. O Imazon é uma Oscip (Organização da Sociedade de Interesse Público), qualificada pelo Ministério da Justiça, fundada em 1990 e com sede em Belém, no Pará. 

A organização não é ligada ao Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais), cuja divulgação de dados sobre desmatamento gerou uma crise com o governo que culminou na exoneração do diretor do órgão, Ricardo Galvão. O instituto faz o monitoramento da Amazônia por meio de imagens de satélites que reporta mensalmente o ritmo de desmatamento e degradação da floresta. O SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento) detecta áreas de desmatamento a partir de 1 hectare.

O governo Jair Bolsonaro (PSL) vem questionando o estudo feito pelo Inpe e já alegou que os dados são "imprecisos" e que causam problemas à imagem do Brasil no exterior.
Com informação de Folha de Pernambuco.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Saúde: Por que há tantos casos? Quais são os sintomas? 18 dúvidas sobre o surto e a vacinação do sarampo



Vacina contra o sarampoDireito de imagemMARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
Image captionVacina continuará disponível em postos de saúde, mesmo com o fim da campanha nacional, diz Ministério da Saúde

O sarampo volta a preocupar no país: no Estado de São Paulo, principal foco do surto atual, já tem 1.319 casos confirmados da doença, segundo dados da secretaria estadual da Saúde. A maioria dos pacientes (997) se concentra na capital.
O Ministério da Saúde, que deve atualizar seu boletim nesta sexta-feira (16/08), tem até o momento contabilizados casos também no Rio (4), um na Bahia e um no Paraná.
O Brasil chegou a receber, em 2016, o certificado da Organização PanAmericana de Saúde de país livre do sarampo, mas o surto atual – bem como o ocorrido no ano passado, em Rondônia e Amazonas – trouxeram a doença de volta ao centro das discussões de saúde pública.
É também na sexta-feira que acaba a campanha nacional de vacinação contra a doença, mas, segundo o Ministério da Saúde, a vacina continuará disponível nos postos de saúde e na rede particular.
A seguir, veja respostas a 18 dúvidas comuns sobre a doença, o surto e como se proteger:

1. Por que São Paulo é o foco do surto atual?

Rosana Richtmann, médica infectologista do Instituto Emilio Ribas (SP), explica que o vírus em circulação atualmente é geneticamente semelhante ao que tem circulado na Europa e em Israel. "E São Paulo é a porta de entrada do país (pela quantidade de voos), além de a capital ser uma cidade com alta densidade populacional. É muito fácil que seja transmitido no metrô, por exemplo. Uma pessoa infectada transmite para outras 18, com rapidez", diz à BBC News Brasil.

2. Quem ainda deve tomar a vacina?

Todo mundo que nunca tomou a vacina e todos aqueles que não têm certeza se já tomaram ainda podem procurar os postos de saúde mesmo após o fim da campanha de vacinação, explica à BBC News Brasil o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Kleber de Oliveira.

Criança com sarampoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionCrianças pequenas são o maior foco de preocupação, por serem mais vulneráveis e mais suscetíveis a casos graves

O ideal, diz ele, é que todos entre 1 a 29 anos tenham tomado as duas doses da vacina, e que pessoas de 30 a 49 anos tenham a certeza de que tomaram ao menos uma dose.
"Na dúvida, é melhor tomar a vacina", afirma Oliveira.
Além disso, em áreas de surto ativo, como São Paulo, bebês entre seis e 11 meses continuarão a ser vacinados.
E fica mantido o calendário de vacinação tradicional: mesmo os bebês que tiverem sido vacinados contra o sarampo na campanha atual devem tomar a vacina tríplice viral aos 12 meses de idade (1ª dose) e a tetra viral aos 15 meses (2ª dose). Ao mesmo tempo, crianças pequenas que já tenham tomado a tríplice e a tetra não precisam ser vacinadas novamente contra o sarampo.
Por fim, também continuará o chamado "bloqueio vacinal", que é a vacinação de pessoas de qualquer idade que tenham tido contato com pessoas infectadas pelo sarampo. O ideal é que essas pessoas sejam vacinadas em até 72 horas depois desse contato.

3. Quem são os mais vulneráveis à doença?

Uma das maiores incidências no surto atual é entre crianças menores de quatro anos, explica Oliveira, o que causa preocupação no Ministério da Saúde.
"É o grupo mais vulnerável e também o em que a doença pode ter mais gravidade e até mesmo causar a morte", diz ele.

4. Quais os sintomas e riscos do sarampo?

Os principais sintomas são febre (acima de 38,5º) e manchas avermelhadas na pele – começam no rosto e atrás das orelhas, e depois, se espalham pelo corpo. Podem vir acompanhados de tosse persistente, irritação nos olhos, coriza e congestão nasal. Pequenas manchas brancas dentro das bochechas também são comuns dno estágio inicial da doença.

Vírus do sarampoDireito de imagemSPL
Image captionPessoas infectadas pelo vírus do sarampo transmitem a doença mesmo antes de manifestarem sintomas

Richtmann explica que um grande perigo do sarampo é o fato de ele baixar muito a imunidade do paciente, deixando-o suscetível a outras infecções. "Ele fica mais vulnerável a pneumonias e otite. Outros riscos são vírus do sarampo causar inflamação no pulmão ou encefalite (inflamação do cérebro)."
A maior vulnerabilidade é em crianças de até dois anos de idade, sobretudo nas desnutridas, adultos jovens e indivíduos com imunodepressão ou em condições de vulnerabilidade, e podem deixar sequelas, tais como diminuição da capacidade mental, cegueira, surdez e retardo do crescimento. O agravamento da doença ainda pode levar à morte.
Por isso, a preocupação principal é com crianças pequenas e com pessoas cujo sistema imunológico já estava debilitado.

5. A vacina é segura? Tem riscos?

A vacina, tanto na rede pública quanto na privada, é segura, diz Oliveira, agregando que uma dose protege em 93% dos casos e duas doses têm uma eficácia de 97%.
Não adianta tomar doses adicionais, porque a proteção não chegará a 100%.
A vacina é feita de vírus vivo atenuado (enfraquecido) e atua de forma a estimular o sistema imunológico a desenvolver anticorpos para combater os "invasores". Ela é administrada por injeção subcutânea. Algumas pessoas podem ter reações, mas, no geral, elas são leves, benignas, de curta duração e autolimitadas. As mais comuns são dor e vermelhidão no local da aplicação e febre.

6. Há gente que se vacinou e mesmo assim ficou doente. Por quê?

Segundo Oliveira, do Ministério da Saúde, isso se deve justamente a esse grupo de 7% a 3% que não fica totalmente protegido pela vacina.
"Mas, nos vacinados que apresentarem sintomas, a doença será mais branda e menos transmissível", afirma.

7. Depois da vacina, quanto tempo leva para eu criar anticorpos?

Segundo Richtmann, o tempo de incubação é de duas semanas. O que significa que podem passar duas semanas entre se vacinar e criar anticorpos. O mesmo tempo pode levar entre entre o contato com o sarampo e os primeiros sinais da doença.
Antes de viajar para locais com incidência da doença, deve-se procurar um posto de saúde, com pelo menos, 15 dias de antecedência, se ainda não tiver sido imunizado.

Professora recebendo vacina contra sarampoDireito de imagemAGÊNCIA BRASIL
Image captionProfissionais de 15 a 29 anos foram o foco da campanha contra sarampo deste ano

8. Posso estar transmitindo o vírus mesmo sem ter sintomas?

Sim, explica Oliveira. "O vírus, ao entrar no organismo, já se reproduz. Pode levar, em média, quatro a seis dias para que (uma pessoa infectada) tenha manchas na pele e febre, mas mesmo antes disso ela já está disseminando a doença. Por isso ela é altamente contagiosa."

9. O vírus em circulação atualmente é diferente do de outras épocas?

Richtmann explica que eventuais mutações genéticas do vírus ainda estão sendo estudadas, mas agrega que isso não põe em xeque, até o momento, a eficácia da vacina disponível.
Oliveira destaca que há diferentes subtipos da doença, mas "as características de todos são reconhecidas pelo nosso sistema imunológico". O que significa que a vacina protege contra todos os subtipos, e que quem já teve sarampo também está protegido contra todos.

10. Se eu acho que estou com sarampo, o que devo fazer?

"A primeira coisa a fazer é não ir ao trabalho, à escola ou ao shopping", adverte Rosana Richtmann. Ou seja, evitar qualquer tipo de aglomeração, para não espalhar ainda mais o vírus.
Pessoas que estejam se sentindo bem apesar dos sintomas podem ficar de repouso em casa até o ciclo da doença passar, lembrando de se hidratar, comer bem, descansar e tomar medicamentos para baixar a febre.
Crianças pequenas, pessoas com o sistema imunológico comprometido ou que estejam inseguras a respeito da doença devem procurar atendimento médico, e exames de sangue podem confirmar se se trata mesmo de sarampo.

11. Como prevenir o sarampo?

A vacina é a principal medida de prevenção. É bom também lavar sempre as mãos, proteger o espirro e evitar aglomerações.

12. Por que o sarampo voltou?


Pessoa recebendo vacina contraDireito de imagemERASMO SALOMÃO/MS
Image captionNeste ano, casos notificados de sarampo no mundo triplicaram nos primeiros sete meses em comparação com o mesmo período de 2018

A epidemia de sarampo é um fenômeno global. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização PanAmericana da Saúde (Opas) mostram que, em 2017, a doença foi responsável por 110 mil mortes, a maioria entre crianças menores de cinco anos.
Neste ano, ainda segundo as entidades, casos notificados no mundo triplicaram nos sete primeiros meses em comparação com o mesmo período de 2018.
Só nas Américas, entre 1º de janeiro e 18 de junho de 2019, a doença foi confirmada em 13 países: Argentina, Bahamas, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Estados Unidos, México, Peru, Uruguai e Venezuela.
O Brasil, diz o Ministério da Saúde, vinha de um histórico de não registrar casos autóctones (adquiridos dentro do país) desde o ano 2000 - entre 2013 e 2015, ocorreram dois surtos, um no Ceará e outro em Pernambuco, a partir de casos importados.
Em 2018, no entanto, a doença reapareceu na região Norte, nos Estados do Amazonas, Roraima e Pará, acompanhando venezuelanos que fugiam da crise no país. Já os vírus que atingiram São Paulo, neste ano, vieram com pessoas que foram infectadas na Noruega, em Malta e em Israel.
O problema é que a cobertura vacinal da patologia no país está abaixo do patamar ideal, que é acima de 95%. Pelas informações do Ministério da Saúde, em 2018, esse índice, relacionado à vacina tríplice viral em crianças de um ano de idade, foi de 90,80%. Em 2015, chegou a 96,7%.
E as razões para isso são várias, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem: medo de ter reação à imunização; desconhecimento de que existe um calendário de vacinação específico para adultos e idosos; falsa sensação de segurança por parte de pessoas que não vivenciaram surtos de doenças; dificuldade de acesso aos postos de saúde no horário comercial; notícias falsas relacionadas a vacinas; e grupos antivacina.

Crisan;a recebendo vacina contra sarampoDireito de imagemAGÊNCIA BRASIL
Image captionPrimeiros sintomas do sarampo são febre alta, acima de 38,5°, com duração de quatro a sete dias, e manchas avermelhadas na pele

13. O que é o sarampo?

O sarampo é uma doença infecciosa aguda, de natureza viral, altamente contagiosa e que pode ser contraída por pessoas de qualquer idade. Sua transmissão se dá de forma direta, de pessoa a pessoa, por meio das secreções expelidas pelo doente ao tossir, espirrar, respirar e falar.

14. Por que os jovens de 15 a 29 anos foram o foco da campanha recente?

Pessoas de todas as faixas etárias precisam ter as duas doses da vacina, mas os jovens dessa faixa etária nasceram em uma época em que a segunda dose não fazia parte do Calendário Nacional de Vacinação. Assim, muitos não a tomaram e, por isso, não estão totalmente protegidos.

15. Para quem a vacina contra o sarampo não é indicada?

Pessoas com alergia grave ao ovo, pacientes em tratamento com quimioterapia, gestantes, portadores de imunodeficiências congênitas ou adquiridas, quem faz uso de corticoide em doses altas, transplantados de medula óssea e bebês com menos de seis meses de idade.

16. Quem já teve a doença precisa se vacinar?

Não. Quem já foi infectado com o vírus desenvolveu anticorpos contra ele. Dessa forma, não precisa se vacinar, nem pegará a doença de novo.
*Com reportagem de Renata Turbiani e Paula Adamo Idoeta, em São Paulo.
BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE