segunda-feira, 7 de maio de 2018

Brasil tem 6,9 milhões de famílias sem casa e 6 milhões de imóveis vazios, diz urbanista

Famílias que ocupavam o prédio no Flamengo, zona sul do Rio, deixam a Cinelândia e ocupam agora a Praça da Cruz Vermelha, no centro da cidade em abril de 2015Direito de imagemTOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL
Image captionEdésio Fernandes: 'É importante que a lei determine onde o pobre vai viver'
O desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, que pegou fogo e foi ao chão no centro de São Paulo, não apenas escancarou o problema do déficit habitacional no Brasil como jogou luz sobre a situação dos imóveis vazios que, mesmo sem condições adequadas, atraem milhares de pessoas em busca de teto.
O país tem, pelo menos, 6,9 milhões de famílias sem casa para morar. Tem também cerca de 6,05 milhões de imóveis desocupados há décadas.
Esse descompasso, que já havia sido indicado pelo Censo de 2010, tem motivado uma onda de ocupações e invasões em uma escala jamais vista no país, diz o urbanista Edésio Fernandes, professor de direito urbanístico e ambiental da UCL (University College London).
"A diferença das ocupações tradicionais está no volume. Não se sabe quantas pessoas vivem dessa forma, sem falar das práticas precárias de aluguel e o surgimento dos cortiços, sobretudo nas áreas centrais, agravado pelo crescimento da população de rua", diz Fernandes, pontuando que as novas ocupações são maiores que muitos municípios brasileiros em termos populacionais.
O professor cita como exemplo dessa nova onda a ocupação batizada de Izidora, em Belo Horizonte. Formada por três vilas interligadas (Esperança, Rosa Leão e Vitória), Izidora reúne 30 mil pessoas numa área de cerca de 900 hectares ocupada a partir de 2013. Fernandes cita também a ocupação Povo Sem Medo, de São Bernardo, que em uma semana já tinha reunido 6 mil pessoas no ano passado.
Edésio Fernandes, professor de direito urbanístico e ambiental, membro da Development Planning Unit - University College London -Direito de imagemCYNTHIA VANZELLA/DIVULGAÇÃO BRAZIL FORUM
Image captionO professor Edésio Fernandes afirma que famílias com renda de 0 a 3 salários mínimos representam 93% do déficit habitacional do Brasil
Fernandes diz que o problema é a falta de leis para definir onde os mais pobres vão morar. "Não há planejamento e pensamento sobre onde vão viver os pobres. (...) Os centros de cidades estão perdendo população, mas o lugar dos pobres é cada vez mais a periferia", afirma o professor, que é membro da Development Planning Unit da UCL.
Para resolver esse problema, diz Fernandes, a solução não passa apenas por facilitar a aquisição de propriedades para quem tem baixa renda. Ele defende uma mescla de políticas públicas, que incluem também propriedades coletivas, moradias subsidiadas e auxílio-aluguel como medidas necessárias para acabar com o déficit habitacional, que é maior entre famílias que têm renda entre zero e três salários mínimos - cerca de 93% dos 6,9 milhões de famílias sem teto têm renda de até R$ 2,8 mil.

Cotas sociais e raciais para moradia

Joice Berth, arquiteta e urbanista especializada em direito à cidade com recorte em gênero e raça, assessora parlamentar em Londres - maio de 2018Direito de imagemCYNTHIA VANZELLA/DIVULGAÇÃO BRAZIL FORUM
Image caption'Em nenhum momento estamos pensando em política urbana a partir da questão racial', diz a arquiteta e urbanista Joice Berth
É por isso que a arquiteta e urbanista Joice Berth defende reservar cotas habitacionais em espaços com mais infraestrutura para negros.
"A gente precisa desfazer o modelo de casa grande e senzala", afirma Berth, dizendo que bairros como Pinheiros e Itaim Bibi, em São Paulo, são bairros mais brancos e com maior renda "onde a negritude não pode estar".
A arquiteta pontua que "brancos e pretos pobres se parecem, mas não são iguais". Por isso, ela defende cotas não apenas em programas de aquisição de imóveis em conjuntos habitacionais, mas também uma política que garanta acesso direto à terra aos negros.
Edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do PaissanduDireito de imagemRICARDOSAPO©/CREATIVE COMMONS
Image captionPara o arquiteto francês Philippe Rizzotti, o edifício Wilton Paes de Almeida, que pegou fogo na capital paulista, era um 'dos marcos da arquitetura'
Ela também acredita que está na hora de radicalizar as pautas. "Até porque com o advento das cotas (na educação) temos pessoas com novo olhar", observa.
Em relação às ocupações, Berth diz que a solução pode passar por reformar esses imóveis e manter os moradores que lá estão.
O professor Edésio Fernandes, no entanto, observa que o "Brasil não tem tradição nem know how" para transformar imóveis comerciais em residenciais, e isso pode encarecer e dificultar essa conversão. "Faltam tradição e tecnologia", salienta.

Perversidade

Fernandes observa ainda que programas como o Minha Casa Minha Vida (MCMV) deixaram a desejar. Na avaliação dele, além de não atender com prioridade a população com renda mais baixa, o MCMV oferece imóveis de baixa qualidade construtiva e ambiental.
O professor lembra, no entanto, que o Brasil não é o único país a enfrentar dificuldades para manter uma política habitacional de qualidade. Fernandes cita o incêndio consumiu Grenfell Tower, prédio de 127 apartamentos para pessoas de baixa renda em Londres, que usou material de baixa qualidade e inflamável em uma reforma antes da tragédia que matou 71 pessoas.
Grenfell Tower parcialmente queimada, junho de 2017Direito de imagemEPA/FACUNDO ARRIZABALAGA
Image captionEm Londres, incêndio consumiu Grenfell Tower, prédio de 127 apartamentos para pessoas de baixa renda, reformado com material de baixa qualidade e inflamável
Ele também compara o incêndio da torre britânica com o do prédio do centro de São Paulo. "Os dois incêndios revelam muito mais do que a falência de um modelo e de uma política, revelam a perversidade dessa forma de se fazer cidade e moradia", afirma.
A falência, acredita Fernandes, também se estende ao sistema de representação política e reflete a falta de mobilização da sociedade para demandar seus direitos.
"Sobretudo, é a falência da nossa história de não confrontar a estrutura fundiária, segregada e privatista", diz.
Fernandes e Berth conversaram com a BBC e defenderam mudanças na política habitacional brasileira no sábado, durante palestra no Brazil Forum UK, evento organizado por estudantes brasileiros no Reino Unido.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Marina Silva: 'Brasil não vai mudar com grande pai, grande mãe, ou salvador da pátria’


A ex-senadora Marina Silva durante palestra em Oxford (Inglaterra)Direito de imagemCYNTHIA VANZELLA / DIVULGAÇÃO BRAZIL FORUM UK
Image caption'Infantilização da política' está em curso no mundo todo, diz Marina
A ex-senadora Marina Silva, pré-candidata à Presidência da República pela Rede, afirmou neste domingo (6), na Universidade de Oxford, que há um movimento de "infantilização" da política em diversos países do mundo, pelo qual os eleitores buscam "salvadores da pátria" para solucionar crises políticas e econômicas. Para ela, a busca por este tipo de liderança não trará renovação e mudanças ao Brasil.
"O mundo em crise vai precisar do trabalho de sujeitos capazes de se responsabilizar pelas próprias vidas. O problema é tentar regredir para um processo infantil", criticou, durante palestra no Brazil Forum UK, evento anual organizado por brasileiros que estudam no Reino Unido.
"Em vários lugares do mundo estamos regredindo. As pessoas querendo o grande pai, a grande mãe, o grande salvador da pátria. O mundo não vai mudar com uma politica que infantiliza".
Em uma fala de 45 minutos, Marina Silva elencou as principais conquistas dos partidos tradicionais ao dizer que o que deu certo deve ser transformado em "direito", enquanto é preciso corrigir erros.
Ela lembrou que o MDB foi um partido importante na luta pela democracia, destacou que o PSDB estabilizou a economia com o Plano Real, e que o PT reduziu a desigualdade social e a pobreza com o Bolsa Família.
A ex-senadora Marina Silva durante palestra em Oxford (Inglaterra)Direito de imagemCYNTHIA VANZELLA / DIVULGAÇÃO BRAZIL FORUM UK
Image captionPT, PMDB e PSDB tiveram seus méritos em diferentes momentos, lembrou Marina
"Temos que pensar de uma forma não niilista. Com certeza queremos preservar a democracia, não queremos ter crise econômica, nem iniquidade social", afirmou ela, ao defender menos radicalidade e polarização nos posicionamentos políticos.
Ela disse ter saudade da eleição presidencial de 2010, quando os oponentes eram capazes de se cumprimentar com respeito.

Marqueteiro "do mal"

Durante a participação na conferência, Marina Silva foi perguntada sobre que lições ela tira de duas derrotas como candidata à Presidência (em 2010 e em 2014). Ela afirmou que um erro foi "subestimar as estruturas que dominam o poder".
A ex-senadora disse que a eleição de 2014 foi uma "fraude". Para ela, a campanha eleitoral da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) daquele ano manipulou informações para desconstruir sua candidatura.
"Em 2010, eu participei do processo e foi uma eleição razoavelmente civilizada. Mas em 2014 ultrapassamos o limite da ética. Se você ganha mentindo, vai governar mentindo; se ganha com violência vai governar com violência", afirmou.
A ex-senadora Marina Silva durante palestra em Oxford (Inglaterra)Direito de imagemCYNTHIA VANZELLA / DIVULGAÇÃO BRAZIL FORUM UK
Image captionEleição de 2014 foi ganha por um marqueteiro com R$ 30 milhões de caixa-dois, diz a pré-candidata da Rede, referindo-se a João Santana
Marina Silva lembrou que tinha em sua equipe de campanha a socióloga Neca Setubal, herdeira do banco Itaú, e que isso foi usado contra ela pela campanha de Dilma.
Na ocasião, Marina Silva foi acusada de defender os interesses de "banqueiros".
"Isso graças a um marqueteiro, o João Santana, muito competente para o mal, com R$ 30 milhões de caixa dois", criticou.
"Não pode uma pessoa ganhar com o discurso do marqueteiro e não fazer nada daquilo (que prometeu)."
Questionada sobre como iria governar sem alianças partidárias que garantam votos no Congresso Nacional, ela respondeu alfinetando Dilma Rousseff.
"Quando você pergunta como vou governar com três deputados e um senador, você tem que perguntar para quem tinha mais de 300 e não governou."
A ex-senadora Marina Silva durante palestra em Oxford (Inglaterra)Direito de imagemCYNTHIA VANZELLA / DIVULGAÇÃO BRAZIL FORUM UK
Image captionNas duas eleições presidenciais que disputou, Marina terminou em 3º lugar

Mudanças estruturais

Marina Silva também defendeu mudanças estruturais no sistema eleitoral como necessárias para uma renovação real da política. Uma das prioridades, segundo ela, deveria ser o barateamento das campanhas.
"Não tem como ser politicamente democrático quando a gente substitui projeto de país por projeto de poder, onde compromissos são pragmáticos e não programáticos, e o que vale é tempo de televisão e dinheiro."
Ela também defendeu a diversificação da economia e investimentos em logística e infraestrutura.
"Não tem como o Brasil ser economicamente próspero com uma indústria que representa 11% do PIB quando já foi 25%. Quando a gente perde 30% da produção agrícola por falta de logística e armazenamento."
A ex-senadora Marina Silva durante palestra em Oxford (Inglaterra)Direito de imagemCYNTHIA VANZELLA / DIVULGAÇÃO BRAZIL FORUM UK
Image captionMarina é evasiva quando perguntada sobre a eventual falta de apoio a um governo seu no Congresso

Chapa com Joaquim Barbosa

Depois do evento, a pré-candidata disse a jornalistas que vai usar os 10 segundos que terá na TV e no rádio para remeter aos programas e propostas que estarão disponíveis na internet.
Ela negou ter conversado com o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e recém filiado ao PSB, Joaquim Barbosa, sobre uma potencial chapa com os dois.
"Eu respeito a decisão dele de querer ser candidato, do PSB querer ter uma candidatura; é legítimo. Isso não impede que a gente tenha pontos de contato, de diálogo, partidariamente falando", afirmou, dizendo que com Barbosa falou apenas duas vezes na vida.
Marina disse que está se coligando com vários movimentos como o Agora, Acredito, Brasil 21, Frente Favela. "Eu antecipei a tendência quando disse, em 2010, que a aliança era com os núcleos vivos da sociedade. Sempre defendi a quebra do monopólio dos partidos, com candidaturas avulsas".
A ex-senadora Marina Silva durante palestra em Oxford (Inglaterra)Direito de imagemCYNTHIA VANZELLA / DIVULGAÇÃO BRAZIL FORUM UK
Image captionAlianças pragmáticas e sem compromisso ideológico levaram o país para o buraco, diz Marina

Quem vai vencer as eleições

Questionada sobre as conversas sobre uma possível entre o presidente Michel Temer e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ela diz que foi esse tipo de aliança que levou o Brasil ao fundo do poço.
"Agora as pessoas sabem a verdade e a lei deve ser para todos. A preocupação é o que as pessoas vão fazer com a verdade. Essa é uma questão que está posta: se que vai vencer é a postura do cidadão, ou as estruturas do dinheiro, do marqueteiro, do tempo de televisão".
Para Marina Silva, as alianças feitas pelos partidos tradicionais não são capazes de resolver os problemas do Brasil.
"Não acredito que a visão e as práticas que criaram o problema vão resolver o problema, pelo contrário. Principalmente os grandes partidos que estão aliançados para acabar com a Lava Jato. PT, PMDB, PSDB, DEM divergem em quem vai pegar o poder, mas não divergem (em relação) ao combate à Lava Jato", disse, em Oxford.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

A Luz: maior favela de SP terá banco e moedas próprios - mas como isso pode mudar a vida de moradores?


Favela de Paraisópolis e bairro nobre do Morumbi ao fundoDireito de imagemFELIPE SOUZA/BBC BRASIL
Image captionParaisópolis, segunda maior favela de São Paulo, é vizinha do bairro do Morumbi, na zona oeste de São Paulo
A favela de Paraisópolis, a maior de São Paulo (segundo o censo de 2010 do IBGE), vai ter um banco e uma moeda própria administrados por seus moradores. Será a primeira vez que uma comunidade da zona oeste paulistana terá uma iniciativa como essa.
A instituição financeira vai se chamar Banco de Paraisópolis e será gerida pela associação de moradores e comerciantes da área. Já a moeda, apelidada de Nova Paraisópolis, deverá ser impressa e vai circular apenas dentro do bairro.
Segundo a Rede Brasileira de Bancos Comunitários, há 103 dessas instituições operando no país e elas giraram R$ 40 milhões entre 2016 e o final do ano passado. Elas funcionam às margens dos grandes bancos, de forma independente, oferecendo serviços populares que ajudam a desenvolver as regiões onde estão inseridas.
Uma de suas funções, por exemplo, é possibilitar microcrédito com juros baixos para moradores e pequenos comerciantes - em grandes bancos, normalmente as taxas são maiores.
O Banco de Paraisópolis terá uma agência dentro da favela, além de oferecer contas correntes, cartão de débito e um aplicativo para celular. Mais de 6 mil pessoas já utilizam um cartão de crédito exclusivo para moradores da comunidade.
"Nossa ideia é que as pessoas tenham uma conta, possam fazer saques e pequenos empréstimos", diz Gilson Pereira, presidente da União de Moradores e Comerciantes de Paraisópolis.
Para financiar a iniciativa, a associação vai realizar nessa semana um jantar de doações com empresários e personalidades. O dinheiro arrecadado irá para um fundo, que financiará as ações do banco - jantares como esse já ajudaram a criar uma série de projetos sociais na região.
Quando um morador pedir um empréstimo, por exemplo, o valor sairá desse fundo - depois, quando ele pagar a dívida, o dinheiro retorna ao banco para ficar disponível para outras pessoas.
Já os juros e as taxas de funcionamento serão usados para financiar os 32 projetos sociais que a associação de moradores toca na área, como uma orquestra de jovens, um grupo de balé e um bistrô em uma laje da favela.
Vieda de ParaisópolisDireito de imagemLEANDRO MACHADO/BBC BRASIL
Image captionParaisópolis tem cerca de 8 mil estabelecimentos comerciais e 100 mil moradores
"Nosso objetivo não é ganhar dinheiro, não é gerar lucro, mas investir no desenvolvimento da comunidade, no comércio e no consumo local, gerando empregos", diz Gilson. Ele promete que cadastros de inadimplentes, como Cerasa e CPC, não serão consultados.
Estima-se que Paraisópolis tenha cerca de 100 mil habitantes e 8 mil estabelecimentos comerciais - a maioria pertence a moradores. Grandes empresas também estão de olho nesse potencial econômico e abriram lojas na área, como Banco do Brasil, Casas Bahia e Bradesco.
Cerca de 21% dos moradores trabalham dentro da própria favela, segundo a associação de moradores. Quem tiver conta no banco local terá descontos no comércio credenciado.
Por outro lado, apesar do comércio aquecido e da fama adquirida com uma novela da TV Globo que usava suas vielas como cenário, Paraisópolis ainda tem uma série de problemas comuns a toda favela do Brasil, como pobreza extrema e presença de traficantes de drogas armados.
Obras de urbanização estão paradas há anos, como canalização de um córrego e a construção de moradias sociais. Cerca de 5 mil famílias da comunidade vivem de bolsa-aluguel pagos pela prefeitura.
O novo banco deve priorizar empréstimos que financiem o comércio local, dando cursos para os clientes desenvolverem seus negócios. "Quando a gente incentiva e prepara os comerciantes, a tendência é que o negócio dê certo e ele nos devolva o dinheiro", diz Gilson, que tem 33 anos.

'Por que somos pobres?'

O ex-seminarista Joaquim de Melo NetoDireito de imagemDIVULGAÇÃO
Image captionO ex-seminarista Joaquim de Melo Neto foi um dos criadores do Banco Palmas, referência brasileira em instituições financeiras comunitárias
Os bancos comunitários existem há 20 anos no Brasil. O primeiro foi o Banco Palmas, criado em 1998 na favela de Palmeiras, em Fortaleza, e tido como referência na modalidade.
Joaquim de Melo Neto, coordenador da instituição, conta que o banco surgiu quando a associação de moradores local fez um levantamento sobre a pobreza extrema da área. "A pergunta que mudou nossa vida foi: 'por que nós somos pobres?'", diz Neto, que foi morar em Palmeiras como seminarista em 1984, a pedido da Igreja Católica.
"Percebemos que as pessoas gastavam todo seu dinheiro fora da comunidade, comprando produtos que não geravam dinheiro nem emprego para nós. Como éramos ambiciosos, montamos um banco para financiar os comerciantes de dentro da comunidade", conta.
O investimento inicial foi de R$ 2.000, emprestados de uma ONG. "Quebramos o banco no primeiro dia com tantos empréstimos", lembra Neto, rindo. O episódio ficou famoso, e empresários da região doaram dinheiro para financiar o projeto.
Depois, o Palmas lançou sua própria moeda, impressa em papel sulfite, e que circula até hoje apenas no perímetro do bairro - cada nota vale R$ 1. O sucesso gerou problemas: o Banco Central processou os moradores, acusando o projeto de falsificar dinheiro.
"Quando o Banco Central mandou uma carta questionando nosso banco, respondemos que a gente explicava se eles pagassem R$ 100 mil pela consultoria", lembra Neto.
O Banco Palmas ganhou o processo em 2005. O Banco Central reconheceu que instituições financeiras comunitárias podem existir - hoje elas estão sob o guarda-chuva da Secretaria de Economia Solidária, do Ministério do Trabalho.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) empresta dinheiro para a criação dos fundos, onde fica o dinheiro que financia os bancos comunitários.
O Palmas, por exemplo, tem R$ 3 milhões para realizar empréstimos e administrar o banco. Ele cobra 0,8% de juros por mês, índice que Neto considera alto - para ele, a taxa deveria ser zero.
A BBC Brasil procurou o Banco Central, mas a instituição não quis se pronunciar sobre as iniciativas.

Microeconomia

"Banqueiros" comunitários dizem que as unidades ajudam a desenvolver o comércio e o consumo em áreas com pequena atividade financeira e estatal. O último Censo, de 2010, apontava que 11,4 milhões de brasileiros vivem em favelas.
Para Leonardo Leal, coordenador da Incubadora Tecnológica de Economia Solidária da Universidade Federal de Alagoas, as iniciativas também incluem pessoas que estão fora do sistema financeiro tradicional. "Hoje, grande parte dos moradores de áreas rurais, ou de pequenas cidades, não têm acesso a serviços como pagamento de boletos e microcrédito", explica.
Leal participou da criação do Olhos D'água, banco tocado por moradores de Igaci, cidade de 25 mil habitantes em Alagoas.
Nota de 10 Terras, moeda comunitária de Iguaci, AlagoasDireito de imagemDIVULGAÇÃO
Image captionNota de 10 Terras, moeda comunitária usada em Igaci, município de 25 mil moradoras
A cidade tem uma moeda local, a Terra, que dá descontos no comércio e só pode ser usada dentro do município. "Como o banco é administrado pelos próprios moradores, existe um sistema de autogestão e controle social que ajuda a diminuir as taxas de inadimplência", explica.
Criado em 2016 com uma linha de crédito do Ministério do Trabalho de R$ 45 mil, o Olhos D'água já financiou 150 projetos de comércio local e de agricultura familiar - os empréstimos chegam a R$ 1.500, no máximo.
Em Maricá, no Estado do Rio Janeiro, o banco Mumbuca também tem ajudado a movimentar a economia local. Sua origem é um pouco diferente dos demais bancos comunitários.
Em 2013, a prefeitura da cidade criou uma bolsa social para moradores de baixa renda, mais ou menos nos moldes do Bolsa Família. O valor de R$ 110 passou a ser pago na moeda Mumbuca, que dá descontos nos 309 estabelecimentos comerciais credenciados.
Hoje, cerca de 16 mil pessoas são clientes, que também é aberto para famílias com renda maior. O Mumbuca financia iniciativas locais com juros zero - ou seja, ele não tem lucros com a atividade.
"O comerciante paga uma taxa para usar nossos serviços, mas ela volta para a comunidade em forma de cursos e oficinas de empreendedorismo", diz Natalia Sciammarella, subcoordenadora de gestão do Mumbuca. "As pessoas sabem que, usando nosso banco, elas movimentam a economia da cidade, gerando emprego".
Em 2006, esse modelo de microcrédito rendeu o Prêmio Nobel de Economia ao banqueiro Muhammad Yunus. O economista, nascido em Bangladesh, criou um banco que emprestava pequenas quantias para milhões de pessoas pobres de seu pais.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 6 de maio de 2018

GOL (CLÁUDIO WINCK) - SPORT X BAHIA - 06/05 - BRASILEIRÃO 2018




Um gol sofrido em cada tempo, o ataque passando em branco mais uma vez e a defesa falhando. Definitivamente , as atuações do Bahia fora de casa não chegam nem perto das que o time faz em Salvador. A consequência disso foi mais uma derrota, dessa vez para o Sport, na Ilha do Retiro, por 2x0. Diferentemente da estreia, quando foi um visitante  cordial na derrota para o Internacional por 2x0, o Bahia até  mostrou uma postura mais agressiva nos primeiros minutos, na Ilha do Retiro. 
Controlando bem o jogo, criou duas boas oportunidades, a primeira na cabeçada de Elton, após bom cruzamento de Léo, que Ernando afastou. Em seguida, Élber fez boa jogada individual e serviu Edigar Junio, que chutou cruzado, nas mãos de Mailson. O Sport respondeu em chutes de fora da área com Marlone e Felipe Bastos, que Douglas defendeu sem susto. 
No final da primeira etapa, Élber fez grande jogada individual e tocou para Zé Rafael dominar e finalizar mal, por cima do gol rubro-negro. Quando o placar do primeiro tempo parecia definido, veio o castigo, para azar dos tricolor. Aos 44 minutos, Marlone cruzou, o zagueiro Everson cortou mal, a bola explodiu na trave e voltou em cima de Douglas, que ao tentar cortar com a mão direita, colocou para o fundo do gol.
Apesar da queda de rendimento da equipe, Guto optou por não fazer nenhuma modificação na volta do intervalo e acabou punido logo aos três minutos. Após cobrança de escanteio, Claudio Winck pegou a sobra de primeira e acertou o ângulo de Douglas. A bola ainda bateu na trave antes de entrar.
O segundo gol sofrido fez o técnico tricolor promover duas substituições de vez. Vinícius deu lugar a Régis e Zé Rafael saiu para a entrada de Ítalo, que fez sua estreia com a camisa do Bahia. As  mudanças surtiram certo efeito, com a equipe passando a ter maior volume de jogo. 
Aos 18 minutos, Elber cruzou da direita e Régis pegou de primeira, mas acertou a trave de Mailson. O problema é que quando parecia conseguir equilibrar o jogo, o tricolor ficou com um jogador a menos. A estreia de Ítalo durou apenas 11 minutos. Aos 25 ele recebeu amarelo após deixar o braço em disputa pelo alto e três minutos depois, deu um carrinho imprudente e acabou expulso. 
Em Bragantino x Vitória este ano, pela Copa do Brasil, ele também recebeu cartão vermelho, mas ficou  aindamenos tempo em campo. Só cinco minutos. O Sport teve grande chance de ampliar em chute de fora da área de Everton Felipe que Douglas espalmou. Felipe Bastos pegou a sobra e finalizou para outra defesa do goleiro tricolor, que salvou o que seria o terceiro gol do Sport. 
Com informações de Correio24horas.com
Professor Edgar Bom Jardim - PE