Carta mandada pela brasileira Ana Paula Maciel - veja versão ampliada mais abaixo (Foto: Greenpeace/Divulgação)
A brasileira Ana Paula Maciel, de 31 anos, presa há mais de um mês na Rússia por causa de um protesto numa plataforma de petróleo no Ártico, mandou uma carta aberta para ser divulgada no Brasil pelo Greenpeace, organização ambientalista da qual faz parte.
Na carta, escrita em 23 de outubro e divulgada nesta sexta (1º), Ana Paula pede que as pessoas reflitam sobre o consumo de petróleo .
"Nosso planeta, o que chamamos de casa, o único que conhecemos com vida, está em crise e precisamos fazer algo individualmente, todos os dias. Creio que não estariam indo procurar petróleo no Ártico se não houvesse quem o utilizasse. Se fôssemos mais preocupados em ser do que ter, usaríamos menos petróleo, a natureza estaria sob menores riscos, os protestos pacíficos não seriam necessários, eu não estaria presa injustamente...", escreve Ana Paula.
Ela também, agradeceu o apoio recebido do governo e do povo brasileiro. "Nem tenho palavras para agradecer a todas as pessoas que se importam e que clamam por nossa liberdade. Gostaria de agradecer especialmente o apoio do governo e do povo brasileiro que têm se mostrado incansáveis em seu suporte pela minha liberdade", diz sua carta (leia íntegra abaixo).
O Greenpeace divulgou nesta sexta-feiraque os 28 ativistas (incluindo Ana Paula) e dois jornalistas detidos na Rússia há mais de um mês e mantidos em Murmansk “estão sendo transferidos” para São Petersburgo, uma das maiores cidades do país.
O escritório da organização no Brasil afirmou que os 30 ainda permanecem em Murmansk e que a ONG não sabe a data certa de quando deve ocorrer a viagem para São Petersburgo.
As informações obtidas pela ONG são provenientes de fontes diplomáticas. O Greenpeace divulgou também que os advogados do grupo não foram informados sobre o que causou a transferência.
Desde 18 de setembro o grupo permanece preso na cidade litorânea de Murmansk, após a embarcação Arctic Sunrise ser detida por autoridades russas durante um protesto em uma plataforma de petróleo, instalada no Mar do Norte.
Os ativistas procedem de 19 países: Brasil, Rússia, EUA, Argentina, Reino Unido, Canadá, Itália, Ucrânia, Nova Zelândia, Holanda, Dinamarca, Austrália, República Tcheca, Polônia, Turquia, Dinamarca, Finlândia, Suécia e França.
A brasileira Ana Paula Maciel atrás de grades no
tribunal de Murmansk
(Foto: Dimitri Sharomov/Greenpeace/AFP)
Acusação de pirataria foi mantida, aponta Greenpeace
Ainda segundo a organização ambiental, a Justiça russa terminou de formalizar as novas acusações de vandalismo ao grupo e não retirou ainda o indiciamento por pirataria, mesmo após as autoridades do país anunciarem que o grupo não responderia por esta acusação.
De acordo com o Greenpeace, por enquanto, os 30 permanecem sob as duas acusações, que podem lhes render até 15 anos de prisão – no caso de pirataria – ou até sete anos no caso da condenação por vandalismo.
“O que a Rússia está propondo é manter na cadeia 30 homens e mulheres por cerca de 20 anos, simplesmente porque dois ativistas pacíficos tentaram pendurar uma faixa amarela na lateral de uma gigante plataforma de petróleo. Essa história está virando uma farsa”, criticou Kumi Naidoo.
Nesta quinta-feira (31), Ana Paula Maciel recebeu um comunicado oficial do governo russo com a acusação de vandalismo por sua participação nos protestos contra plataforma petrolífera no Ártico.
Veja a íntegra da carta de Ana Paula:
Queridos leitores,
Me chamo Ana Paula e sou um dos 30 ativistas presos aqui na Rússia. Hoje faz um mês que nos retiraram de nosso amado navio Arctic Sunrise e, depois de dois dias em uma cadeia, três em outra, agora estou sentada em minha cela na penitenciária para onde nos trouxeram dia 29 de setembro. Tudo isso depois de um protesto pacífico onde queríamos chamar a atenção do mundo sobre os perigos de danos ambientais ao perfurar em busca de petróleo no Ártico.
Um mês que nossas vidas pararam, aqui sozinhos, tive tempo pra parar e pensar e lhes pergunto, caros leitores: quantos produtos derivados de petróleo você usou nesses último mês? Derivados de petróleo são usados para fabricar muitas coisas e, sendo “coisas” consumíveis, sofrem sob o efeito “procura e demanda” que as pessoas ávidas pelo consumo compram, utilizam e descartam com uma rapidez sem precedentes nos dias de hoje.
Nosso planeta, o que chamamos de casa, o único que conhecemos com vida, está em crise e precisamos fazer algo individualmente, todos os dias. Creio que não estariam indo procurar petróleo no Ártico se não houvesse quem o utilizasse. Se fôssemos mais preocupados em ser do que ter, usaríamos menos petróleo, a natureza estaria sob menores riscos, os protestos pacíficos não seriam necessários, eu não estaria presa injustamente...
Nem tenho palavras para agradecer a todas as pessoas que se importam e que clamam por nossa liberdade. Gostaria de agradecer especialmente o apoio do governo e do povo brasileiro que têm se mostrado incansáveis em seu suporte pela minha liberdade. Clara Solon, da embaixada do Brasil na Rússia é quase uma segunda mãe para mim. Tem sido impecável em suas visitas, presença na corte, apoio psicológico e tudo o que está a seu alcance.
Gostaria de fazer um apelo ao mundo e aos que se importam: Salvem o Ártico! Consumam menos para serem mais, usem sacolas reutilizáveis, apaguem as luzes ao não usá-las, procurem produtos com menos embalagem, usem mais as pernas e menos os carros. Você não é o seu telefone celular, ele não diz nada sobre suas virtudes, você não precisa do último modelo. Separe o lixo, recicle, conserte o que quebrar em vez de comprar outro, informe-se.
Existem tantas mil pequenas ações que podem ser feitas todos os dias para salvar o Ártico, a Amazônia, os recifes de corais e todo o resto. Basta escolhermos bem o que comprar. Nós todos e cada um de nós somos responsáveis pela mudança!
Promete que vai tentar. E eu vou saber que esse mês presa não foi em vão.
Com amor, Ana.
Carta mandada pela brasileira Ana Paula Maciel da prisão em Murmansk (Foto: Greenpeace/Divulgação)
Imagens da prisão divulgadas
O Greenpeace divulgou fotos das celas onde os 28 ativistas e dois jornalistas estão, em Murmansk. As imagens mostram quartos com camas individuais ou beliches, com varal improvisado e um tanque.
Quarto com camas onde ativistas permanecem em Murmansk (Foto: Divulgação/Greenpeace)
Em outra fotografia é possível visualizar um tanque no quarto (Foto: Divulgação/Greenpeace)
Mesa improvisada montada em um dos quartos usados por ativistas (Foto: Divulgação/Greenpeace)