quarta-feira, 25 de agosto de 2021

O retrato do Brasil armado, da Colônia ao Governo Bolsonaro

História.

Incentivados na Colônia e no Império, cidadãos armados se tornaram preocupação nacional só nos anos 1990




Cena do filme "35 - O Assalto ao Poder", de Eduardo Escorel, em que o então presidente Getúlio Vargas empunha uma pistola. Agencia Senado.


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Em 1832, dez anos após a Independência, o senador José Inácio Borges (PE) subiu à tribuna do Senado, no Rio de Janeiro, para reclamar da violência generalizada no Império e defender o porte de armas de fogo.

— Como não há segurança no Brasil senão em nossas casas fechadas a sete chaves, todos tratam de se armar. Eu não me recolho para minha casa sem estar acompanhado por dois pretos armados — afirmou Borges, que pouco depois se tornaria ministro dos Negócios do Império (equivalente hoje a ministro da Justiça).

De acordo com ele, era legítimo que o cidadão reagisse à bala aos ataques de “salteadores”, “ladrões” e “negros que furtam”.

— No tempo do ex-imperador [D. Pedro I, que abdicara em 1831], até quem ia ao teatro levava o seu jogo de pistolas, de maneira que os ladrões desapareceram. Estou hoje na inteligência de que este [o porte de armas] há de ser o meu código — continuou.

Ao longo dos primeiros 500 anos da história nacional, as armas de fogo estiveram sempre à mão dos brasileiros. Foi apenas recentemente, na virada do século 20 para o 21, que o poder público agiu para restringir o acesso às armas.

Documentos antigos guardados no Arquivo do Senado, em Brasília, ajudam a mostrar o elevado grau de disseminação das armas de fogo pelo Brasil em diferentes momentos históricos.

Em 1823, quando os parlamentares se reuniram com a missão de elaborar a primeira Constituição do Brasil independente, eles incluíram no regimento da Assembleia Geral Constituinte um artigo que dava aos cidadãos o livre acesso às sessões, exigindo apenas que eles guardassem “o maior silêncio” e estivessem “desarmados”.

Numa sessão do Senado em 1828, um parlamentar chegou a sugerir que se afastassem da população as armas de fogo. O senador Carneiro de Campos (BA) reagiu dizendo que tal medida seria um despropósito:

— A proibição das armas só serve para pô-las na mão dos assassinos e dos ladrões, porque eles têm, como lá se diz, o olho vivo e o pé leve. Essa lei somente viria para desarmar os cidadãos pacíficos e armar o malfazejos. Deve-se conceder o uso das armas aos homens que são domiciliados e não são vadios.

O senador Bernardo Pereira de Vasconcellos (MG) também se queixou da insegurança. Em 1839, ele afirmou que o Império, incluindo a capital, não estava “em sossego”:

— O Rio de Janeiro está em circunstâncias tais que não se pode passear de noite. O encarregado [diplomata] da Dinamarca foi há pouco acometido, em uma das ruas mais públicas desta capital, por assassinos e salteadores. Como não achou proteção no país onde espera encontrá-la, pediu ao governo autorização para andar armado.

Para o senador Holanda Cavalcanti (PE), o interior do Brasil era ainda mais violento do que a capital do Império. Em 1851, num discurso, ele disse que nos “sertões” reinava o bacamarte (arma intermediária entre o revólver e a espingarda), em mãos tanto de ricos quanto de pobres:

— Fora do Rio de Janeiro, só vejo miséria, desgraças, calamidades, efeitos dos nossos erros políticos e judiciários. No interior, é a faca de ponta, é o bacamarte. Eis o estado da nossa justiça! Não é só o potentado que manda matar o fraco. Depois da invenção da pólvora, depois que [escondido] detrás de um pau se pode matar um homem com um bacamarte, não há fraco nem forte.

Com seu bando de cangaceiros, Lampião aterrorizou o sertão nas décadas de 1920 e 1930.
Com seu bando de cangaceiros, Lampião aterrorizou o sertão nas décadas de 1920 e 1930.BIBLIOTECA NACIONAL / BIBLIOTECA NACIONAL

Na zona rural, as disputas por terra eram constantes. Primeiro, porque muitas vezes não havia divisa clara entre as propriedades. Depois, porque grandes senhores não hesitavam em invadir terras alheias para ampliar seus domínios. Por fim, porque a estrutura judicial por vezes era precária ou corrupta.

— Nas terras, há muitas posses de muitos donos. Cada um deles fixa seus limites arbitrariamente. E, lá pelo sertão, quem decide esses limites que eles arbitrariamente fixam é o bacamarte — constatou em 1847 o senador Francisco de Paula Souza (SP). — Agora mesmo tenho notícia de que na Vila da Constituição [atual Piracicaba], em São Paulo, nos últimos meses houve 13 ou 14 assassinatos em consequência de questões de terras.

Os grandes senhores recorriam às armas também com fins políticos. Para garantir que os cargos eletivos fossem seus, eles colocavam capangas armados para ameaçar os eleitores na hora de depositar o voto na urna. As votações organizadas em 1840, logo após o anúncio da maioridade de D. Pedro II, por exemplo, foram tão violentas que entraram para a história com o nome de “eleições do cacete”.

— É derramando o sangue brasileiro que se estão fazendo eleições — denunciou em 1848 o senador Rodrigues Torres (RJ).

— Têm-me feito uma terrível impressão os cacetes, os punhais, os bacamartes, as baionetas e os trabucos de que estão cercados os cidadãos honestos — concordou o senador Bernardo Pereira de Vasconcellos.

Na Colônia, os bandeirantes armados se embrenharam pelo interior do território à caça de indígenas. Tanto nesse tempo, quanto no do Império, para manter os escravizados negros sob controle os grandes senhores e seus capitães do mato recorriam não apenas aos grilhões e chicotes, mas também às armas de fogo.

Derrubada a Monarquia, a República não se preocupou com retirar as armas das mãos de civis. Em 1925, o presidente Arthur Bernardes chegou a pedir publicamente ao Congresso Nacional que proibisse de uma vez por todas as armas de fogo no Brasil, reservando-as exclusivamente para militares e policiais. Ele, governou o tempo todo sob estado de sítio, temia as revoltas tenentistas e a agitação do operariado. Senadores e deputados, contudo, ignoraram o pedido presidencial.

Na Mensagem Presidencial de 1925, Arthur Bernardes pede ao Congresso ação drástica contra armas.
Na Mensagem Presidencial de 1925, Arthur Bernardes pede ao Congresso ação drástica contra armas.ARQUIVO SENADO / AGÊNCIA SENADO

De acordo com o historiador Adilson José de Almeida, que é pesquisador do Museu do Ipiranga, da Universidade de São Paulo (SP), e autor de uma tese de doutorado sobre o uso das armas no século 19, o poder público incentivou o armamento da população civil tanto nos tempos da Colônia quanto nos do Império. Foi uma política de Estado.

— O Estado não tinha recursos financeiros nem humanos para montar forças que dessem conta da segurança externa e interna do Brasil. Por isso, contava com a população civil, que estava obrigada a pegar em armas quando era convocada. No plano externo, por exemplo, D. Pedro II precisou recorrer aos voluntários da pátria e aos escravos para ajudar os militares na Guerra do Paraguai. No plano interno, as atribuições de polícia cabiam à Guarda Nacional, milícias compostas de civis que, sem ser funcionários públicos, ganhar salário ou receber treinamento adequado, obedeciam ao comando dos grandes senhores das diversas localidades. Os brasileiros aprendiam a atirar desde pequenos. Embora tentasse, o Estado nem sempre tinha controle sobre essa sociedade armada. Como estavam sempre à mão, as armas que deveriam servir ao Estado eram também usadas para resolver brigas particulares e disputas políticas locais. Por vezes, acabavam se voltando contra o próprio Estado.

Numa das tentativas de não perder o controle sobre a sociedade armada, o Senado e a Câmara aprovaram em 1831 uma lei que tornou crime o uso sem licença de “pistola, bacamarte, faca de ponta, punhal, sovela ou qualquer outro instrumento perfurante”. Pela lei, os infratores poderiam ser condenados a até seis meses de prisão com trabalho.

Almeida explica que o Exército cresceu e se fortaleceu após a Guerra do Paraguai, mas, diante do enraizamento das armas de fogo na sociedade brasileira, não conseguiu garantir para si o monopólio da repressão armada:

— Já na República, o povoado de Canudos teve armas suficientes para enfrentar o Exército brasileiro. Os militares precisaram organizar quatro expedições para derrotar os revoltosos. A Guerra do Contestado, em Santa Catarina e no Paraná, foi outro conflito armado protagonizado por civis. A situação só mudou com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, em 1930. A propósito, a própria Revolução de 1930 teve como estopim um assassinato provocado por arma de fogo. João Pessoa, governador da Paraíba e vice da chapa presidencial encabeçada por Vargas, foi morto a tiros por um advogado. Depois que Vargas tomou o poder, uma de suas primeiras medidas para fortalecer o Governo federal e modernizar o país foi destituir os governadores e desarmar os coronéis locais. Mas foi a política que se desarmou, não a sociedade. A cultura da violência armada permaneceu no Brasil. Ela permanece até hoje.

Armas entregues em campanha de desarmamento.
Armas entregues em campanha de desarmamento.GIUSEPPE BIZZARRI / FOLHAPRESS

Em 1954, as armas de fogo protagonizaram os dois episódios políticos mais decisivos do governo democrático de Getúlio. O disparo que matou o segurança do jornalista Carlos Lacerda, no atentado da Rua Tonelero, deflagrou uma crise sem precedentes, já que a ordem do crime partiu de Gregório Fortunato, o guarda-costas de Vargas. Em seguida, sem enxergar a saída dessa crise, o presidente recorreu a um revólver e, com um tiro no peito, pôs fim à própria vida.

Nessa mesma época, o cenário político da Baixada Fluminense era dominado pelo deputado federal Tenório Cavalcanti (UDN-RJ), inconfundível pelo costume de trajar uma capa preta e carregar sob ela uma metralhadora apelidada de Lurdinha. Os adversários o chamavam de “deputado pistoleiro”.

Durante a ditadura militar, entre 1964 e 1985, o grande temor do governo era que as armas de fogo caíssem nas mãos dos “subversivos”, como eram chamados aqueles que combatiam o regime.

— No Brasil, a energia e a serenidade do governo revolucionário não se descuidam de seus deveres para reprimir a subversão — discursou o senador governista Guido Mondim (Arena-RS) em 1970. — O terrorismo organizado elaborou um programa de ação que envolve assaltos, invasões, emboscadas, táticas de rua, greves, deserções, roubos de armas, munições e explosivos, resgate de presos, sequestros, guerrilha rural, guerra de nervos.

Nos anos 1980, os índices de criminalidade urbana explodiram no Brasil. Numa frente, a “década perdida” se caracterizou por crises econômicas, hiperinflação, desemprego nas alturas e empobrecimento generalizado da população. Em outra frente, o Brasil entrou na rota internacional do tráfico de drogas — inicialmente como corredor entre os produtores andinos e os mercados do hemisfério norte, depois também como consumidor. Nesse novo e lucrativo negócio, as quadrilhas de narcotraficantes se organizaram, se armaram e iniciaram uma guerra contra quadrilhas rivais e a polícia.

Nessa conturbada década, assaltos e sequestros se tornaram rotineiros. Com a ideia de se protegerem, os brasileiros iniciaram uma corrida às armas. Sem muita burocracia, pistolas e espingardas eram vendidas em lojas de departamentos. Revistas publicavam propaganda de armas. Na sessão de classificados dos jornais, cidadãos anunciavam revólveres de segunda mão.

Na mesma proporção com que as armas se espalharam, as mortes por tiro — assassinatos, suicídios e disparos acidentais — se multiplicaram.

Armas são destruídas pela Polícia Federal após Estatuto do Desarmamento, de 2003.
Armas são destruídas pela Polícia Federal após Estatuto do Desarmamento, de 2003.ISAAC AMORIM/AGÊNCIA MJ DE NOTÍCIAS

Segundo o sociólogo Antônio Rangel Bandeira, que foi instrutor de armas de fogo no Exército e depois consultor da ONG Viva Rio e do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime, foi apenas na década de 1990 que estudos apontaram que eram principalmente as armas dos cidadãos comuns que acabavam, sem querer, chegando às mãos dos bandidos.

— Antes disso, as pessoas não associavam o aumento da criminalidade ao excesso de armas legais em circulação. Acreditava-se que as armas dos bandidos eram estrangeiras e entravam no Brasil como contrabando. Foi só depois que se verificou que grande parte delas era nacional e tinha origem perfeitamente regular. Ou seja, tratava-se de revólveres e pistolas que as pessoas guardavam em casa para autodefesa, mas acabavam perdendo para a criminalidade em furtos e assaltos. Sempre víramos a arma de fogo pelo aspecto positivo e não nos ocorria que ela pode se voltar contra nós e nossa família — explica Rangel, autor do livro Armas Para Quê? (Editora LeYa).

Ao longo dos anos 1990, senadores e deputados analisaram alguns projetos de lei que buscavam restringir o acesso da população às armas, mas a maioria foi engavetada sem debates. As raras que conseguiram ser aprovadas, por sua vez, foram consideradas tímidas.

No fim dessa década, ONGs como o Viva Rio se mobilizaram pela criação de uma lei que, depois de 500 anos de liberação quase total no Brasil, finalmente reduzisse a quantidade de armas de fogo em posse de civis. Rangel foi um dos articulares dessa mobilização. Ele conta que, ao menos no princípio, a maioria dos parlamentares reagiu mal à ideia de criar o Estatuto do Desarmamento.

— Muitos me disseram que não poderiam abrir mão das armas que possuíam, porque tinham muitos inimigos em seus estados de origem. De fato, inúmeros políticos andavam armados. Era corriqueiro. Eu mesmo, quando fui chefe de gabinete do ministro da Previdência, em 1986, ganhei porte de arma de fogo sem nem mesmo ter solicitado. Além disso, as empresas de armas e munições eram grandes doadoras de dinheiro nas campanhas eleitorais. Os políticos, claro, não queriam perder os financiadores. Por isso, qualquer projeto de desarmamento da população acabava sendo abortado no Congresso.

As ONGs, então, perceberam que o Congresso Nacional só tomaria alguma atitude se fosse pressionado pelos eleitores. Assim, elas se voltaram para a conscientização da sociedade. Nessa estratégia, conseguiram o apoio dos meios de comunicação, que passaram a noticiar os malefícios das armas. A urgência do desarmamento se tornou tema de Mulheres Apaixonadas, a novela do horário nobre da Rede Globo em 2003. Na trama, uma das personagens morre após ser baleada na rua por bandidos que fogem da polícia, deixando órfã uma menina pequena.

— O tema das armas, pela primeira vez, passou a ser discutido pela família brasileira — lembra Rangel. — Organizaram-se passeatas em 19 capitais pelo desarmamento. Numa delas, os atores da novela conduziram uma marcha de 50 mil pessoas pela Avenida Atlântica, em Copacabana. As pesquisas de opinião mostravam que o apoio à causa era maciço. A mobilização da sociedade em torno do Estatuto do Desarmamento poderia ser comparada à mobilização pela Lei da Anistia [de 1979].

A estratégia das ONGs de criar um clima nacional favorável funcionou. Ainda em 2003, o Senado e a Câmara discutiram juntos a questão, e o Estatuto do Desarmamento foi aprovado em questão de meses, às vésperas do Natal.

— Eu não ando armado. Não o fazia nem quando era diretor da Polícia Federal — discursou o senador Romeu Tuma (PFL-SP). — A arma só tem importância para aquele que vai ter a iniciativa da ação. Se o marginal desconfiar que o cidadão de bem está armado, tentará eliminá-lo antes da sua reação. O cidadão de bem precisa saber que não adianta andar armado, porque a arma será um instrumento de morte contra si mesmo.

— Eu já fui atingido por arma de fogo — lembrou o senador Ney Suassuna (PMDB-PB). — Num assalto no Rio de Janeiro, tive o desprazer de ver a minha mulher ser atingida na cabeça e morrer. Eu recebi um tiro no braço e fiquei sem o seu comando, por ter sido o osso atingido. Senhoras e senhores senadores, imaginem a minha alegria por votarmos uma lei que finalmente inibirá com seriedade o trânsito de armas de fogo neste país.

Por determinação do Estatuto do Desarmamento, as exigências impostas ao cidadão que quisesse comprar armas se tornaram rigorosas. Elas passaram a ser registradas e controladas. Poucas categorias profissionais ficaram com o direito de andar em público armadas. A posse e o porte sem licença deixaram de ser simples contravenções (nesses casos, o indivíduo é levado à delegacia e liberado após pagar fiança) e se tornaram crimes (agora com pena de prisão).

A publicidade foi proibida (a não ser nas revistas especializadas). Quem tinha arma clandestina em casa pôde regularizá-la ou entregá-la ao poder público, para ser destruída, em troca de indenização.

Estudo do Ipea mostra explosão de mortes e armas nos anos 1980 e efeitos positivos do desarmamento a partir de 2003.
Estudo do Ipea mostra explosão de mortes e armas nos anos 1980 e efeitos positivos do desarmamento a partir de 2003.R12062161 / REPRODUÇÃO/IPEA

As mortes por arma de fogo caíram consideravelmente. Nos 14 anos anteriores ao Estatuto do Desarmamento, segundo estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os assassinatos por tiro no Brasil subiam 5,5% anualmente. Nos 14 anos seguintes, passaram a subir apenas 0,85% a cada ano. A lei conseguiu achatar a curva do gráfico. A redução das mortes só não foi mais expressiva porque a violência é provocada não apenas pela disponibilidade de armas, mas por uma série de outros fatores, como pobreza, desemprego, escolas de má qualidade, sistema penitenciário deficiente e corrupção policial.

Recentemente, contudo, a política de armar os brasileiros foi retomada. Desde 2019, o presidente Jair Bolsonaro, cumprindo uma promessa de campanha, tem baixado medidas que abrandam as exigências para a posse e o porte, aumentam a quantidade de armas e munições que o cidadão pode possuir, liberam o comércio de armamento antes restrito às forças de segurança pública e dificultam a fiscalização e o rastreio de balas. Em reação, senadores redigiram uma série de projetos que buscam derrubar parte das medidas de Bolsonaro. O Poder Judiciário também tem se posicionado pela recuperação dos termos originais do Estatuto do Desarmamento.

A reportagem, publicada originalmente aqui, faz parte da seção Arquivo S, resultado de uma parceria entre o Jornal do Senado, a Agência Senado e o Arquivo do Senado brasileiro. Reportagem e edição: Ricardo Westin | Pesquisa histórica: Arquivo do Senado | Edição de fotografia: Ana Volpe | Edição de multimídia: Bernardo Ururahy

El País
Por Ricardo Westin
18/04/21
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Nem um centímetro a mais para os indígenas e para a biodiversidade no Brasil de Bolsonaro

História: Governo Bolsonaro X Povos indígenas.

Presidente paralisa a criação de novas unidades de conservação e de terras indígenas, o que incentiva invasões e prejudica o combate ao aquecimento global



Um grupo de indígenas araweté na margem de um rio após um dia de caça.
EDUARDO VIVEIROS DE CASTRO / INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL

Jair Bolsonaro é o primeiro presidente brasileiro nos últimos 35 anos a não instituir nem uma só terra indígena ou reserva ecológica. Não demarcou um só centímetro desde sua posse. Não chega a ser uma surpresa, pois foi o que prometeu em campanha e porque é a sua postura há décadas. No entanto, é uma decisão que prejudica diretamente os povos originários, incentiva a invasão de terras por parte de não índios e inclusive atrapalha o combate ao desmatamento e ao aquecimento global. “Não podemos ter ambientalismo (sic) xiita no Brasil. Vamos acabar com a indústria da demarcação de terras indígenas”, declarou Bolsonaro no final da campanha, quando estava claro que tinha boas chances de se tornar presidente. Dito e feito.

Há três anos, todos os processos por meio dos quais os indígenas reivindicam o direito de usufruir das terras que habitam (ou que seus antepassados habitaram) estão paralisados. Para esta minoria, que representa 5% da população brasileira e ocupa 12% do território, é a mais nociva das decisões do presidente. Esse retrocesso coincide com o 60º aniversário da primeira terra indígena demarcada no Brasil, o Parque Indígena do Xingu, reconhecida em 1961. A maioria dessas áreas protegidas fica na Amazônia, maior floresta tropical do planeta, mas existem em quase todos os cantos do Brasil.

Paralisar as demarcações é parte do progressivo desmantelamento da política ambiental e indigenista brasileira. As consequências da falta de ação do Executivo neste âmbito são muitas e diversas, afirma o indigenista André Villas-Boas, do Instituto Socioambiental. A primeira é que os conflitos de terras permanecem abertos ou, inclusive, se agravam. Isso porque, segundo explica, “a demarcação põe fim às disputas fundiárias, estabelece que a terra é o índio, e que os não índios têm que sair delas”. Sem esse reconhecimento oficial, “a situação é caótica”.

As terras que se encontram nesse limbo são um alvo mais fácil para criminosos ou para pessoas que buscam a vida em meio à falta de alternativas. Multiplicam-se as invasões para explorar ilegalmente as riquezas ali contidas —seja madeira, ouro ou terreno para transformar em pasto. Outra manobra é se instalar por lá, empreender uma atividade econômica —como a pecuária— e torcer para que, com, o passar dos anos chegue uma anistia pelas mãos de algum presidente que aceite legalizar o que começou como uma ocupação ilegal. A expectativa de que Bolsonaro agirá dessa forma fez as invasões dispararem na Amazônia.

Além de dificultar o trabalho dos fiscais ambientais, que são poucos e cada vez menos numerosos, de reduzir o valor das multas e de promover uma custosa mobilização militar na Amazônia, o Governo anunciou a iniciativa Adote um Parque. Buscou patrocínio de empresas e particulares que se dispusessem a bancar a preservação de 63 milhões de hectares (15% da Amazônia). Poucas companhias aderiram.

Diante da paralisação governamental, a natureza fica também menos protegida. A Fundação Nacional do Índio (Funai) diz em seu site que as demarcações “favorecem a proteção ambiental e a biodiversidade, assim como o controle climático global, já que as terras indígenas representam as áreas mais protegidas ambientalmente”. Os dados do último ano confirmam isso. O desmatamento foi o mais elevado em 12 anos, e a superfície destruída nas áreas sem proteção foi cinco vezes maior que nas protegidas (a área queimada por incêndios foi o triplo), segundo a base de dados Alerta+.

Homens da tribo Araweté junto à placa de demarcação da Terra Indígena Araweté, no Pará
Homens da tribo Araweté junto à placa de demarcação da Terra Indígena Araweté, no ParáLEONARDO CARNEIRO DA CUNHA / ISA / ISA

A demarcação de terras costuma ser um processo de anos que combina muita burocracia, frequentes batalhas judiciais e expedições de sertanistas que se enfiam na mata cerrada, nas profundezas mais remotas da selva, para traçar os limites territoriais. Uma vez delimitada a terra indígena, seus habitantes e a natureza que os cerca passam a gozar de proteção legal.

Um trabalho de anos

Villas-Boas, também coordenador da rede Xingu+, integrada pelos indígenas da bacia hidrográfica homônima e por organizações defensoras, participou na década de 1990 de uma dessas expedições para estabelecer os limites do território do povo Araweté. Foi um trabalho de dois anos, que incluiu abrir trabalhosas picadas na mata para instalar marcos a cada um ou dois quilômetros, em um perímetro de 10.000 quilômetros quadrados. Contaram com topógrafos, helicópteros e satélites. “Era uma zona bastante remota, aquilo parecia uma obra faraônica”, ri, ao telefone. A população dobrou.

O indigenista retoma o tom sério para apontar que o fim das demarcações também significa que “o Estado deixou de exercer seu papel fundamental de proteger os direitos das minorias, como estabelece a Constituição”. E acrescenta que as unidades de conservação ambiental sofrem inclusive mais invasões que as terras habitadas por indígenas. Isso ocorre porque muitas das áreas preservadas para a conservação da biodiversidade são totalmente desabitadas e só poderiam ser visitadas por cientistas.

Villas-Boas por acaso tem o mesmo sobrenome —mas sem parentesco— dos três irmãos expedicionários que há seis décadas foram decisivos para a criação do Parque Nacional Indígena do Xingu, um território de 27.000 quilômetros quadrados, um pouco menor que a Bélgica, localizado no norte de Mato Grosso. Lá vivem um pouco mais de 6.000 indígenas de 16 etnias, dos Aweti aos Yudjá.

Só depois da ditadura (1964-1985) se aceleraram os processos de reconhecimento do direito exclusivo dos indígenas de usufruir das terras que habitam —sua propriedade é do Estado. Os povos originais podem explorá-las de maneira sustentável, mas sem vendê-las ou arrendarem a terceiros. Depois do impulso inicial, o ritmo se reduziu. Passaram-se quatro anos desde que a última terra indígena foi criada. Bolsonaro, como parte dos brasileiros —incluídos muitos no poderoso setor agropecuário—, acha que é muita terra para pouco índio.


El País 20/08/2021
Naiara Galarraga
Professor Edgar Bom Jardim - PE

A batalha eleitoral num pedaço do Nordeste, onde comer é mais importante do que em quem votar

História: Governo Bolsonaro.

Bolsonaro emula os passos de Lula para tentar conquistar filão petista beneficiado pelo Auxílio Emergencial. Mas esbarra na falta de confiança de eleitores, que sentem na pele a alta inflação




Com uma carta em punho, Maria de Fátima Pinheiro Evangelista, de 57 anos, está decidida a atravessar o abismo entre a sua vida e as principais bandeiras ideológicas de Jair Bolsonaro para tentar sobreviver à crise brasileira. Da casa alugada e sem reboco em que vive sozinha na periferia de Juazeiro do Norte (Ceará), ela ―que não sabe ler ou o que é comunismo― insistiu para que a única filha escrevesse uma carta ao presidente. Quer alcançar o direito à aposentadoria rural, negada porque não conseguiu comprovar o tempo de serviço na roça, onde trabalha desde os oito anos.

Maria de Fátima até chegou a receber o auxílio emergencial no ano passado e viu a vida melhorar por um tempo. Mas foi cortada do programa depois de ter feito o pedido de aposentadoria e agora vive com pouco mais de 250 reais por mês, que consegue lavando roupas para vizinhos. A energia já não é paga há meses e com o gás tão caro ela precisa cozinhar também à lenha para economizar. A comida vem do que planta e de doações. Por isso, a carta é uma esperança. E ela esgueira o corpo para entregá-la a Bolsonaro, que passava acenando de cima de um carro ao lado de sua casa.

A ida do mandatário brasileiro a Juazeiro do Norte na semana passada tinha como justificativa oficial a inauguração de um conjunto habitacional. Mas também é parte de uma estratégia que busca abocanhar votos em um reduto majoritariamente lulista para as eleições do ano que vem. Em 2018, Bolsonaro conseguiu apenas 24% dos votos no segundo turno na cidade, contra 76% de Fernando Haddad, substituto de Lula, impossibilitado de concorrer àquela eleição. No ano que vem, entretanto, ele deverá disputar contra o próprio ex-presidente, criador do Bolsa Família, programa que tirou milhares da pobreza e ao qual Bolsonaro já chamou de “voto de cabresto”. Uma pesquisa recente do Datafolha aponta que o presidente só tem 16% da preferência do eleitorado na região Nordeste enquanto Lula conta com 64%. O Nordeste também lidera a rejeição a seu Governo, como mostrou pesquisa da Poder Data esta semana, feita entre os dias 16 e 18 de agosto: 72% classificam a gestão Bolsonaro ruim ou péssima, enquanto no Sudeste a rejeição é de 59%, e 58% no Sul e Centro-Oeste. No Norte, o presidente ainda tem preferência, e a rejeição fica em 46% contra 52% de aprovação.

Com sua popularidade derretendo no mercado financeiro e entre filões de eleitores de uma classe média descontente com sua postura antidemocrática e sua gestão da pandemia, Bolsonaro tenta avançar sobre regiões mais carentes, onde os investimentos federais tendem a aparecer mais. Ele sabe que precisa abocanhar parte do eleitorado de Lula —que inclui pessoas beneficiadas pelo auxílio pago durante a pandemia— para tentar estancar a sangria provocada por sua impopularidade crescente, quando o voto antipetista que o ajudou em 2018 também está em fuga. Onde falta o básico como comida e trabalho, não sobra muita margem para a polarização política. E muitos estão dispostos a votar em quem, de fato, indique que pode melhorar suas vidas.

“Se fosse Lula o presidente, eu fazia igual. Bolsonaro se quiser tomar água na minha casa, toma. Acho que presidente é de todo mundo e tem que olhar para quem é pobre”, diz Maria de Fátima, que já foi eleitora do PT e não faz ideia a quem dará seu voto no ano que vem. “Nem sei quem são os candidatos ainda. Espero que Bolsonaro leia minha carta e faça a vida da gente andar. Não sei de quem é a culpa, só sei que está tudo muito difícil”, emenda. Ela não conseguiu entrar no local onde o presidente discursou.

Maria de Fátima vive com 250 reais por mês em Juazeiro do Norte.
Maria de Fátima vive com 250 reais por mês em Juazeiro do Norte.FERNANDA SIEBRA

Desde junho do ano passado, Bolsonaro intensificou suas viagens ao Nordeste. Em 2020, foi três vezes mais a cidades da região do que no seu primeiro ano de mandato. Neste ano, já passou por cinco dos nove estados nordestinos. No seu discurso em Juazeiro do Norte, afirmou que o valor investido no auxílio em 2020 equivaleria a 13 anos de Bolsa Família. Admitiu a inflação, que criou alimentos proibitivos como a carne e levou famílias a voltarem a cozinhar à lenha, mas colocou a conta da crise no colo dos governadores. E ainda que tenha defendido suas pautas conservadoras —como o combate ao comunismo e a defesa da família e da propriedade—, se vendeu como um grande finalizador de construções inacabadas pelos Governos anteriores. Tem dito que já inaugurou mais de 4.700 obras desde 2019 na região, entre elas a Transposição do São Francisco, iniciada nos Governos petistas. Para coroar, prometeu prorrogar o auxílio até novembro e explorou o que poderá ser seu grande trunfo eleitoral no ano que vem: um novo e turbinado Bolsa Família, que agora se chamará Auxílio Brasil, apagando o nome que é marca lulista.

“Vou votar em Bolsonaro. Já votei a primeira vez e não acho que ele seja ruim pro comércio. Se não fosse o auxílio, tinha muito mais gente passando fome. Eu mesma parei de trabalhar por meses na pandemia e passei até precisão”, conta a comerciante Maria Lúcia da Silva, de 65 anos, que trabalha há mais de 40 anos em uma lanchonete no mercado público do centro de Juazeiro do Norte.

A comerciante Maria Lúcia da Silva, de 65 anos, trabalha há mais de 40 anos em uma lanchonete no mercado público de Juazeiro do Norte.
A comerciante Maria Lúcia da Silva, de 65 anos, trabalha há mais de 40 anos em uma lanchonete no mercado público de Juazeiro do Norte.FERNANDA SIEBRA

Ainda que a implantação do auxílio tenha lhe rendido alguma simpatia de parte dos beneficiários, a tarefa de Bolsonaro em conquistar este eleitorado não é fácil diante de tanta gente que se agarra a uma memória de estabilidade econômica e de maior facilidade de consumo durante o Governo Lula, enquanto associa a alta inflação e a redução do poder de compra ao atual presidente.

“Bolsonaro vai prometer um monte de coisa para não sair da Presidência, mas aqui nosso voto é de Lula. Foi ele que deu mesmo oportunidade ao pobre, até pra estudar”, diz Idenilson Lima Monte, de 27 anos. Ele trabalha em um terreno arrendado na zona rural de Juazeiro, onde planta para comer e cuida do gado do patrão. Ao lado dele, a esposa Luana Neves de Oliveira, de 30 anos, afirma, com a filha pequena nos braços, que também pretende votar no petista. “O auxílio do Bolsonaro está só caindo e o preço de tudo subindo. Recebo 250 reais e hoje só dá mesmo para a fralda e o leite da minha filha. Um perfume que a gente precisa não podemos mais comprar”, emenda.

Carne todo dia

Quando Maria Jocimar da Silva recebeu as primeiras parcelas de 1.200 reais do auxílio no ano passado, a família conseguiu comer carne todos os dias e colocar gasolina no carro que usa para levar os vizinhos que precisam ao hospital. Mas o valor do benefício diminuiu para 250 reais em abril deste ano, e o preço de tudo aumentou. O resultado é que um botijão de gás, que custa 130 reais, dura mais de um mês porque há pouca comida para cozinhar, conta o marido dela, o agricultor Francimar de Lima, de 41 anos, morador da Vila Horácio, zona rural de Juazeiro do Norte. “Não tem mais aquela história de comer a hora que quer aqui”, ele diz. “Agradeço a Bolsonaro porque foi uma comida a mais na mesa naquele tempo, mas o que ele deu já tirou com tudo caro. Ele dá com uma mão pra tirar com a outra”, reclama.

O agricultor Francimar de Lima e a esposa Maria Jocimar da Silva, com o carro que agora só roda em emergência pela alta da gasolina.
O agricultor Francimar de Lima e a esposa Maria Jocimar da Silva, com o carro que agora só roda em emergência pela alta da gasolina.FERNANDA SIEBRA

A família de Francimar vive com a ajuda dos programas do Governo, do que planta e da venda do excedente. Ele conta que a energia está atrasada, a plantação neste ano não foi farta e o dilema agora é vender ou não o carro conquistado a duras penas há 10 anos e que agora só roda em situações de máxima emergência. “O que a gente tem neste Governo é dívida. Bolsonaro só quer mudar o nome das coisas que Lula fez, como o Bolsa Família, mas não faz as dele e nem olha pro pobre. Foi Lula que abriu crédito pra eu comprar o carro, e agora não tenho nem o [dinheiro] da gasolina”, queixa-se. “Eu tenho até medo. Bolsonaro diz que vai aumentar o Bolsa Família, mas e se acabar? O que ele diz não se escreve né?”, emenda Maria Jocimar.

Eles esperam que o próximo presidente priorize projetos para o campo e o pequeno agricultor, como linhas de crédito para comprar materiais para a plantação e estímulo à pecuária, o que os permitiria melhorar a renda mensal com seu trabalho. Ambos votaram no petista Fernando Haddad nas últimas eleições e dizem que votarão em Lula ou em quem ele indicar em 2022. “Não queria votar no Lula porque acho que ele não tem mais idade pra cuidar de um Brasil desse jeito que tá não, mas confio nele pelo histórico de tirar gente da pobreza. Bolsonaro acha que agradando os ricos vai ter os pobres com ele”, argumenta Francimar.

Às investidas de Bolsonaro com inaugurações de obras e promessas de aumentar em pelo menos 50% o valor do atual Bolsa Família, Lula reage com a primeira caravana pelo seu berço eleitoral desde que voltou a ser elegível. Sua estratégia neste momento foca na costura de alianças políticas com vistas a 2022 e em encontros com movimentos sociais. O petista está no final da excursão de 11 dias por seis Estados nordestinos e já mudou até seu avatar nas redes sociais para uma imagem em que usa um chapéu de cangaceiro, como quem indica sentir-se em casa. Mas também terá de trabalhar para manter sua ampla vantagem de preferência nas eleições.

“Tem mais gente na disputa”

“A única certeza que eu tenho é que neste presidente que tá aí [Bolsonaro] eu não voto. Lula hoje está em primeiro lugar, mas ainda não tenho 100% de certeza se vou nele”, diz o agricultor Juarez Timóteo, de 52 anos. Da televisão de sua casa no assentamento 10 de Abril, uma comunidade rural a cerca de 25 quilômetros da cidade de Crato, ele acompanha tudo o que acontece no país pela televisão. Acredita que Bolsonaro virou as costas para os pobres e errou em não comprar vacinas logo para combater a pandemia. Também está aborrecido com o “mau exemplo” provocando aglomeração até na vizinha Juazeiro do Norte e diz morrer de vergonha ao assistir a CPI da Pandemia. “Lula ainda vou observar porque foi bom, mas tem mais gente que vai disputar. Ciro Gomes e Cid também ajudaram muito a gente aqui”, diz.

Foi no Governo Lula que a família de Juarez conseguiu uma cisterna para armazenar água da chuva, a casa e uma moto para tanger o gado. “Com este de agora onde a gente anda é só lamentação. Ele disse que ia ajudar o Nordeste. Em quê? Não vi nada ainda. No lugar de ter gastado estes rios de dinheiro em obra e asfalto, devia comprar vacina para diminuir a crise dessa pandemia. A gente aqui no Brasil tem pressa para outras coisas”, reclama ele, que perdeu dois primos com covid-19.

A família de Juarez está dividida entre Ciro, Lula e Bolsonaro.
A família de Juarez está dividida entre Ciro, Lula e Bolsonaro.FERNANDA SIEBRA

Na caótica crise brasileira, Juarez não está certo nem se irá mesmo escolher um candidato nas próximas eleições. “Para um presidente ganhar meu voto, eu vou ter que observar muito”, diz, ao lado da filha Vitória, de 18 anos, que vai votar pela primeira vez no ano que vem e diz simpatizar com Bolsonaro. “O Auxílio Emergencial dele foi bom. Não acho Bolsonaro ruim, talvez eu vote nele”, justifica. Com os 1.200 reais do programa no ano passado, a mãe dela, Cirene Ventura dos Santos, realizou o sonho de cimentar todo o piso da casa onde eles moram.

Mas quatro meses depois o valor do benefício caiu para 600 reais e agora está em 250 reais, complicando o orçamento doméstico. Cirene não viu faltar comida à mesa como tantas famílias brasileiras durante a crise, mas precisou voltar a cozinhar à lenha porque já não consegue comprar gás suficiente para usar só o fogão. Ela quer uma estabilidade financeira para realizar um novo sonho, o de construir um alpendre em casa. Acha que o discurso de Bolsonaro está muito distante da realidade deles, com críticas ao comunismo, ataques ao voto eletrônico e defesa às armas. É a única da família que já sabe o número que vai digitar na urna no ano que vem. “Voto 13, em Lula, que no tempo dele a vida era mais fácil. Com fé em Deus o próximo presidente vai ser ele.”

Fotos: Fernanda Siebra

Agosto2021

El País. 

Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Recife investirá, até 2024, R$ 150 mi para fortalecer educação infantil e criar vagas em creches




No dia da Infância e na véspera do dia da Educação Infantil, a Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Educação, lançou o programa Infância na Creche. Com o objetivo de fortalecer a Educação Infantil e ampliar as vagas em creches, a previsão é de que R$ 150 milhões sejam investidos no programa até o ano de 2024, que é considerado o maior de expansão de vagas em creches da história. O programa ainda deverá gerar novas 7 mil vagas até 2024. 

O decreto que autoriza o programa foi assinado durante cerimônia no Teatro do Parque, nesta terça-feira (24), pelo prefeito João Campos, pela vice-prefeita Isabella de Roldão e pelo secretário municipal de Educação, Fred Amâncio. 

O Infância na Creche vai atuar em quatro eixos: construção de creches com foco na expansão da infraestrutura própria; ampliação e requalificação de unidades já existentes, permitindo o aumento de vagas e melhoria da estrutura; parcerias com instituições sem fins lucrativos, atuando em conjunto com unidades comunitárias vinculadas a ONGs, Fundações e Cooperativas Educacionais; e estudos para parceria público privada (PPP), que viabilizará a construção de creches através de parcerias. 

Evento de lançamento do programa ocorreu nesta terça-feira (24)Lançamento do programa ocorreu nesta terça (24), no Teatro do Parque | Foto: Rafael Furtado/Folha de Pernambuco 

De acordo com o prefeito João Campos, os R$ 150 milhões são oriundos de recursos próprios, para beneficiar a educação da cidade. “É dentro dos recursos próprios do município do Recife, educação é nossa prioridade. A gente anuncia mas já tem compromisso sendo executado, seis creches em obras, e outros 10 projetos sendo licitados. São ao menos 26 unidades em fase de execução ou início de execução. Temos construção de creches próprias, expansão do que existe, vamos adequar o modelando parceria ao Fundeb, parcerias público-privadas, para aumentar velocidade de construção”, afirmou. 

De acordo com a Prefeitura do Recife, o programa cria uma estratégia permanente para os próximos dez anos para as famílias e para o desenvolvimento das crianças, além de estar alinhada com o Plano Municipal para Primeira Infância do Recife. Até 2024, a meta é dobrar o número de vagas em creches na Rede Municipal do Recife, ofertando pelo menos sete mil novas vagas.

Segundo Fred Amâncio, também haverá uma ampliação das vagas, atendendo a uma demanda deixada pela pandemia da Covid-19. 

“Esse projeto tem como objetivo ampliar a oferta de vagas de creche. São eixos implantados, como a construção em várias localidades, e outro na ampliação e requalificação de unidades já existentes. A meta é de dobrar a quantidade de vagas, passando de 3,5 mil, para ter 7 mil vagas. Vamos fazer um estudo para saber quais localidades devem receber novas unidades. Atualmente temos seis creches já em construção na cidade”, disse. 

Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE