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domingo, 23 de fevereiro de 2020

Brasil é principal mercado de agrotóxicos 'altamente perigosos', diz ONG





Homens fumigando plantaçãoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMaior parte dos pesticidas considerados prejudiciais à saúde e ao meio ambiente é vendidos a países pobres ou emergentes

Aproximadamente um terço da receita das principais fabricantes de agrotóxicos do mundo vem de produtos classificados como "altamente perigosos" — que têm como destino, em sua maioria, países emergentes, como Brasil e Índia, e países pobres.
Essa foi a conclusão de um levantamento feito pela Unearthed, organização jornalística independente financiada pelo Greenpeace, em parceria com a ONG suíça Public Eye. Em 2018, as vendas desse tipo de pesticida renderam cerca de US$ 4,8 bilhões às cinco maiores companhias do setor.
"Quase metade (41%) dos principais produtos das gigantes agroquímicas Basf, Bayer, Corteva, FMC e Syngenta contêm pelo menos um pesticida altamente perigoso (HHP, sigla em inglês para highly hazardous pesticides)", afirma a publicação.
As vendas dessas mercadorias, por sua vez, representaram 35% da receita das cinco multinacionais, segundo a Unhearted. Mais de dois terços das vendas foram feitas a países de renda média e baixa, sendo o Brasil o principal mercado.
"O Brasil compra mais pesticida do que qualquer outro país", diz a publicação. "A aprovação de novos produtos pesticidas por reguladores brasileiros, incluindo os que contêm HHPs, cresceram nos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro."
As empresas citadas discordam dos números por questionarem a classificação de agrotóxicos "altamente perigosos" feita pela Pesticide Action Network (PAN) e utilizada como base pela publicação.
Em entrevistas em meados do ano passado, quando o Brasil liberou novos defensivos agrícolas no mercado, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que os produtos não eram "veneno no prato de ninguém" se fossem usados corretamente e que os produtos novos são "menos tóxicos".

Fumigação de uma plantação de soja no BrasilDireito de imagemAFP
Image captionGrandes culturas de soja e milho transformaram o Brasil no principal comprador de agrotóxicos do mundo

'Altamente perigosos'

O levantamento da Unearthed com a Public Eye apontou ainda que 27% dos agrotóxicos vendidos em países ricos são considerados altamente perigosos. No Reino Unido, a proporção é de apenas 11%.
Por outro lado, 45% dos agroquímicos vendidos pelas cinco empresas em países de renda média e baixa se encaixam na categoria. Na África do Sul, a cifra sobe para 65%, na Índia, para 59% e no Brasil, para 49%.
O Brasil é o país que mais compra pesticidas no mundo, diz o levantamento, movimentando um total estimado em US$ 3,3 bilhões (R$ 14,5 bilhões) apenas em 2018 - ano do recorte da pesquisa. Os produtos são usados principalmente para o cultivo de soja, milho e algodão.
A vizinha Argentina comprou aproximadamente US$ 229 milhões em agrotóxicos no período, sendo 47% deles de HHP. Já o México, US$ 115 milhões, sendo 42% HHP.

Como o levantamento foi feito

A Unearthed e a Public Eye analisaram dados dos 43 países que mais consomem pesticidas no mundo, cruzando-os com a lista de produtos altamente perigosos da Pesticide Action Network (PAN).
A tabela — questionada pelas empresas citadas — inclui produtos que contenham pelo menos um componente identificado como altamente prejudicial à saúde ou ao meio ambiente por autoridades como a Organização Mundial de Saúde, a Agência Europeia de Substâncias Químicas, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer e a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.
"Os critérios considerados pela PAN são com frequência critérios ambientais ainda sem consenso ou respaldo (da OMS ou da FAO, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura)", afirmou Christoph Neumann, diretor de regulação internacional da CropLife, grupo lobista do qual fazen parte as cinco multinacionais mais a japonesa Sumitomo.
Ele acrescentou que 19 entre os produtos classificados como altamente perigosos e mais comercializados, 12 têm a venda permitida na União Europeia e 18, nos Estados Unidos.
De acordo com o jornal britânico The Guardian, a Bayer qualificou a análise feita pela Unearthed como "enganosa", ainda que não tenha apresentado outros dados.

BayerDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionGrandes empresas do setor questionam classificação de muitos dos pesticidas considerados altamente perigosos

A CropLife já argumentou no passado que os HHP são uma ferramenta importante para lutar contra a perda de colheitas e um importante último recurso para produzir alimento suficiente para uma população em crescimento.
O grupo diz ainda que a maior parte dos produtos considerados altamente perigosos vendidos nos países emergentes e pobres não são fabricados por seus membros e que tem "liderado com o exemplo" capacitando milhões de pessoas com técnicas de redução de risco.
Baskut Tuncak, relator especial das Nações Unidas para substâncias tóxicas e direitos humanos, rechaçou, contudo, a ideia de que os riscos representados pelos HHP possam ser manejados de uma forma segura.
"Estamos em meio a uma explosão invisível do uso de agrotóxicos em países de renda média e baixa que estão mal equipados para lidar com esses perigos", afirmou Tuncak à Unearthed.

O que são os HHP

A OMS e a FAO definem os HHP como "pesticidas que reconhecidamente representam riscos agudos ou crônicos à saúde ou ao meio ambiente segundo os sistemas de classificação internacionalmente aceitos".
Os riscos ambientais incluem a contaminação de fontes de água ou a "interrupção de funções do ecossistema", como a polinização.
A ONU, entretanto, não tem uma lista própria dos HHP.
Tomando como a base a tabela compilada pela PAN, quase um quarto das vendas das cinco maiores empresas do setor em 2018 vieram de pesticidas que ofereceriam algum risco à saúde humano, incluindo alguns possivelmente carcinogênicos, enquanto 10% viria de produtos que tóxicos para as abelhas.

Os 'vilões'

Levando-se em consideração o volume de vendas, o destaque é do glifosato, que movimentou mais de US$ 1 bilhão em 2018, de acordo com a publicação.
Desenvolvido pela Monsanto antes de a empresa ser adquirida pela Bayer, o pesticida foi identificado como "possível cancerígeno" pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês), outra classificação questionada pelas companhias e por várias agências reguladoras.

GlifosatoDireito de imagemAFP
Image captionA proibição do glifosato é discutida em vários países europeus

Entre os agroquímicos que poderiam representar perigos crônicos à saúde há o glufosinato, herbicida produzido pela BASF, e o fungicida agrícola ciproconazol, da Corteva, que reguladores da União Europeia já classificaram como prejudiciais para o feto, à fertilidade e à função sexual.
A principal ameaça para as abelhas, por sua vez, são representadas pelos inseticidas neocotinoides produzidos pela Bayer e Sygenta, que já foram proibidos na União Europeia — mas que têm no Brasil um importante mercado.
A suíça Sygenta é também a principal vendedora de pesticidas classificados pela OMS como altamente tóxicos.
Entre eles se destaca o paraquat, herbicida tóxico proibido no país sede da companhia e na União Europeia.
BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 28 de dezembro de 2019

''Este, em menos de um ano, é um governo de retrocessos'', diz Marina Silva

(foto: NELSON ALMEIDA / AFP)
Leia entrevista com Marina Silva:

Como avalia o ano e a política ambiental de 2019?

Foi um ano em que o governo se revelou por inteiro. Às vezes, você tem um governo que assume e vai se revelando aos poucos. Às vezes, avançam em umas coisas e retrocedem em outras. Este, em menos de um ano, se revela inteiramente um governo de retrocessos. E todos eles muito bem delineados. Já durante a campanha e no governo de transição, ele (Jair Bolsonaro) dizia que acabaria com o Ministério do Meio Ambiente, que ia acabar com a indústria da multa e que, no governo dele, o Ibama e o ICMBio não teriam vez. Tudo isso foi se concretizando no desmonte do Ministério do Meio Ambiente; no enfraquecimento do Ibama e do ICMBio; na tentativa de desmoralização do órgão capaz de diagnosticar os problemas de desmatamento, que é o Inpe; nas iniciativas legais encaminhadas ao Congresso Nacional, como é o caso, agora, desta medida provisória que institucionaliza o crime da grilagem; na iniciativa que encaminhou querendo aprovar mineração nas terras indígenas; no fim da Secretaria Nacional de Mudanças Climáticas; na transferência do serviço florestal para o Ministério da Agricultura; e, por último, no vergonhoso papel que desempenhou da COP 25, criando todos os empecilhos para que as negociações não avancem, se revelando claramente um governo negacionista, com uma postura mercenária, ao dizer que só vai fazer o dever de casa em relação ao desmatamento e na redução da emissão de CO2 se os países ricos pagarem para que o Brasil faça suas obrigações. Todas essas situações reforçadas pelo corte dramático do orçamento do ministério. Mais do que retrocesso, é um governo que produz uma regressão, que é pior do que um retrocesso.

Como ex-ministra do Meio Ambiente, qual conselho a senhora daria para o atual chefe da pasta, Ricardo Salles? 

Não imagino que o Ricardo Salles seja uma pessoa que ouça conselho de quem tem compromisso ambiental. Ele só ouve conselho dos ruralistas e dos negacionistas. Ele é uma pessoa com uma formação acadêmica de qualidade, uma capacidade e uma inteligência, com certeza, à altura de compreender tudo o que está em jogo, mas ele, deliberadamente, fez uma escolha de ser um ministro antiambientalista. Tanto que compra briga com todos os cientistas que estudam a questão ambiental. Quem atua na defesa do meio ambiente, ele considera inimigo, e se relaciona, quase que exclusivamente, com aqueles que têm por objetivo separar a economia da ecologia. Então, não acho que é o caso de ficar dando conselhos. O ministro demonstrou muito claramente a quem escuta.

A senhora afirma que, em menos de um ano, o ministro conseguiu desmontar o que foi feito ao longo de mais de três décadas. Como recuperar isso?

Tem uma parte que é irrecuperável. Os quase 10 mil km² de florestas que foram destruídos é irrecuperável, a quantidade de CO2 que foi emitida são irrecuperáveis também. O desmonte que vem sendo feito, eu diria que tem uma forma de barrar sua continuidade e seu aprofundamento. O Congresso Nacional pode fazer isso. O Congresso pode não permitir e não aprovar todas essas medidas de mineração em terras indígenas; pode não permitir que se tenha uma atitude contrária à demarcação de terras indígenas e à criação de unidades de conservação; pode ampliar o orçamento para fortalecer o Ibama, o ICMBio e o Inpe. A sociedade civil tem feito a sua parte, e a comunidade científica tem apresentado os diagnósticos e uma série de sugestões. Isso é uma contribuição relevante. Agora, o prejuízo de ter ficado com o Fundo Amazônia todo esse tempo parado, enquanto a floresta era derrubada e queimada, isso já é impossível de reverter. Eu espero que a pressão da sociedade continue barrando o prejuízo e crie alguma forma de se recuperar as políticas que foram abandonadas. Por exemplo, o sistema de monitoramento por satélite em tempo real já provou que é possível controlar esse desmatamento agindo antes de o leite ser totalmente derramado. Boas propostas não faltam, e elas vinham sendo implementadas e dando certo. O ministro tem esse acervo, o presidente tem esse acervo todo. A ação dos governadores também pode fazer a diferença. Os governadores podem fazer planos estaduais de controle do desmatamento.

Diante deste primeiro ano de governo Bolsonaro, para onde vai a política ambiental do Brasil em 2020?

A medir pela forma irresponsável como o governo vem se comportando diante dessas tragédias, não vejo que tenha acontecido nenhum aprendizado. Ele continua dizendo que a política ambiental brasileira está maravilhosa. Se não reconhece a realidade e a gravidade que a compõe, não vejo que tenha aprendizado algum. É uma atitude arrogante dizer que não teve problemas.

Como avalia os resultados da COP 25? Como está a imagem da política ambiental do Brasil no mundo?

Tudo que era para ter sido decidido na COP 25 foi empurrado para a próxima conferência. Praticamente não teve resultado, foi uma protelação e um adiamento das decisões. A postura das pessoas diante da imagem do Brasil é de perplexidade. Elas não compreendem como o Brasil, em tão pouco tempo, esteve em posições que vinham sendo conquistadas com muito respeito, desde a Rio-92 esteja, agora, nessa situação. As pessoas veem o Brasil, hoje, como um problema na área ambiental.
correiobraziliense.com.br/
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 15 de dezembro de 2019

Cop-25: Brasil tenta bloquear acordo, mas discussões terminam em compromisso por metas mais rigorosas


signDireito de imagemKIARA WORTH/IISD
As mais longas negociações climáticas da história das Nações Unidas finalmente chegaram ao fim em Madri e deixam como primeiro resultado um acordo de compromissos - ao mesmo tempo em que postergam decisões importantes para o encontro do ano que vem.
Quase 200 países participaram da Cop-25 (conferência do clima da ONU). Exaustas após madrugadas seguidas de negociações, as delegações presentes no encontro conseguiram chegar a um acordo sobre a questão crucial de aumentar a mobilização global por cortes nas emissões de carbono e endurecer metas.
Segundo o pacto, todos os países precisarão apresentar novas promessas climáticas na próxima grande conferência prevista para o ano que vem em Glasgow.
Mas soluções para outras questões controversas, incluindo os chamados mercados de carbono (a possibilidade de países que emitem menos carbono 'venderem' créditos de CO2 às nações mais poluentes) foram adiadas até a próxima reunião.
Chegando até a bloquear o acordo temporariamente, o Brasil foi um dos principais obstáculos à assinatura do documento - cuja assinatura foi atrasada em 2 dias.

O que ficou combinado?

Após dois dias e duas noites extras de negociações, delegados presentes na conferência definiram um acordo que prevê a apresentação de metas novas e mais ambiciosas de cortes nas emissões de carbono para o encontro que acontecerá em Glasgow.
Todos os países presentes deverão dar respostas efetivas ao vácuo entre o que os cientistas dizem ser necessário para evitar mudanças climáticas perigosas e as medidas tomadas atualmente - que no ritmo em que estão levariam o mundo a ultrapassar o limite para mudanças irreversíveis já nos anos 2030.
COPDireito de imagemKIARA WORTH/IISD
Apoiado pela União Europeia, o estímulo a metas mais ambiciosas teve a oposição de países como Brasil, Estados Unidos, Índia e China.
No entanto, o acordo conseguiu ser assinado prevendo que as nações mais ricas tenham que provar que cumpriram suas promessas sobre mudanças climáticas nos anos anteriores a 2020.

Brasil

Na avaliação dos opositores, os países europeus pressionam os mais pobres, enquanto não fazem o trabalho "dentro de casa".
O Brasil tentou retirar dois parágrafos do documento final da conferência que prevêm estímulo a estudos sobre a relação entre os oceanos e o solo com as mudanças climáticas.
Pressionado por países como Chile, Rússia, Argentina, Austrália, Tuvalu e Belize, além da União Europeia, o Brasil acabou recuando e permitiu que os temas estivessem na redação final. A relação entre oceanos e solos com a urgência climática é respaldada por diversos artigos científicos publicados recentemente.
"O resultado desta Cop25 traz sentimentos mistos e está bem longe do que a ciência nos diz ser necessário", disse Laurence Tubiana, da Fundação Europeia do Clima e um dos responsáveis por arquitetar o Acordo de Paris.
"Países importantes que precisavam ser ativos em Madrid não atingiram as expectativas, mas graças a uma aliança progressista de pequenos países insulares, europeus, africanos e latino-americanos, nós conseguimos o melhor resultado possível, contra a vontade dos grandes poluidores", afirmou.
O acordo foi aplaudido por alguns ativistas. "As regras frágeis pautadas pelo mercado que foram defendidas por Brasil e Austrália e poderiam sabotar os esforços pela redução de emissões foram para a gaveta e a luta vai continuar na Cop-26 em Glasgow", disse Mohamed Adow, do grupo Power Shift Africa.
Muitos dos presentes ficaram insatisfeitos com o pacote final.
Para eles, o resultado não reflete a urgência sobre o tema. Ao mesmo tempo, os negociadores mostram satisfação por, ao menos, terem conseguido manter o processo de luta contra as mudanças climáticas vivo após as longas e complexas discussões de Madrid.

Quais são as evidências do aquecimento global?

Registros de temperaturas desde o século 19 mostram que a temperatura média da superfície da Terra cresceu 0,8ºC nos últimos cem anos. Quase 0,6ºC desse total ocorreu nas últimas três décadas.
Os 20 anos mais quentes já registrados ocorreram nos últimos 22 anos, liderados pelo período entre 2015 e 2018.
Ao redor do planeta, o nível médio do mar cresceu 3,6 mm por ano entre 2005 e 2015. A maior parte dessa mudança ocorre em razão da expansão térmica da água do mar. Com o aumento da temperatura dela, as moléculas se tornam menos densas, levando ao aumento do volume do oceano.
Ciclones que atingiram a África nos últimos dois meses deixaram centenas de mortosDireito de imagemREUTERS
Image captionCiclones que atingiram a África nos últimos dois meses deixaram centenas de mortos
Mas a redução da massa de gelo nos polos tem sido considerada o principal fator nessa tendência. A maioria das geleiras em regiões temperadas do mundo e ao longo da península da Antártida está diminuindo.
Desde 1979, imagens de satélite mostram um declínio dramático na extensão de gelo no Ártico, a uma velocidade de 4% por década. Em 2012, essa faixa atingiu seu patamar mais baixo, que é 50% menor que a média entre 1979 e 2000.
A camada de gelo na Groenlândia tem passado por um derretimento recorde nos últimos anos. Se todo esse gelo derreter, elevaria os níveis do mar em 6 metros.
Dados de satélite mostram que a camada de gelo oeste da Antártida também está perdendo massa, e um estudo recente indicou que o lado leste da região, que não tem apresentado qualquer tendência de aquecimento ou resfriamento, pode ter começado a perder massa nos últimos anos.
Mas cientistas não esperam mudanças drásticas. Em alguns lugares, a massa pode inclusive crescer, já que o aumento da temperatura pode levar à produção de mais neve.
Os efeitos das mudanças climáticas também podem ser vistos na vegetação e nos pastos. Eles incluem mudanças nos ciclos de vida das plantas, como uma floração antecipada, e alterações nos territórios ocupados por animais.

Como a mudança do clima vai nos afetar?

Que países são os maiores emissores de gases do efeito estufa?
Image captionQue países são os maiores emissores de gases do efeito estufa?
Há vários graus de incerteza sobre o tamanho do impacto do aquecimento global. Mas as mudanças decorrentes dele podem levar à escassez de água doce, a uma transformação radical da capacidade global de produzir alimentos, além do aumento de mortes por inundações, tempestades, ondas de calor e seca.
Isso ocorreria porque estima-se que as mudanças climáticas devem aumentar a frequência de eventos climáticos extremos, ainda que seja muito difícil associar qualquer evento isolado ao aquecimento do planeta como um todo.
Cientistas preveem mais chuvas em geral, mas apontam um risco maior de seca em regiões afastadas do litoral. Tempestades e aumento do nível do mar devem levar também a mais inundações. Haveria, no entanto, alta variação desses fenômenos ao longo das regiões.
Países mais pobres, que são menos preparados e equipados para lidar com mudanças bruscas, podem sofrer mais com as transformações.
Há previsões também de extinção de animais e plantas incapazes de se adaptar à mudança rápida do habitat, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que a saúde de milhões de pessoas pode ser ameaçada pelo avanço da malária, de doenças transmitidas pela água e da desnutrição.
Com o aumento do CO₂ emitido na atmosfera, há um avanço da captura desse gás pelos oceanos, o que torna a água mais ácida. Esse processo contínuo pode representar grandes problemas para os recifes de coral do mundo, pois as mudanças na química impedem que os corais formem um esqueleto calcificado, essencial para sua sobrevivência.
grafico
Modelos gerados por computador são usados nos estudos das dinâmicas do clima terrestre e levam a projeções sobre mudanças de temperatura.
Esses cenários variam em torno da "sensibilidade climática", a exemplo do peso de cada elemento (como o CO₂) no aquecimento ou no resfriamento. E mostram diferenças no modo com que esses "feedbacks climáticos" podem ocorrer.
O aquecimento global causará algumas mudanças que provavelmente levarão a mais aquecimento, como a liberação de grandes quantidades de metano dos gases de efeito estufa à medida que derrete o permafrost (solo permanentemente congelado encontrado principalmente no Ártico). Isso é conhecido como feedback positivo sobre o clima.
Mas feedbacks negativos podem compensar o aquecimento. Vários "reservatórios" na Terra absorvem CO₂ como parte do ciclo do carbono - o processo pelo qual o carbono é trocado entre, por exemplo, os oceanos e a terra.
A questão é: como eles vão se equilibrar?
Com reportagem de Matt McGrath, correspondente de Meio Ambiente da BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

NOS BASTIDORES, PF DESCARTA ENVOLVIMENTO DE ONG EM INCÊNDIOS NA AMAZÔNIA




A INVESTIGAÇÃO EM QUE a Polícia Federal trabalha desde o final de agosto para descobrir os responsáveis pelo “Dia do Fogo” na Amazônia não tem nenhuma organização não-governamental entre os suspeitos. Nem a Brigada de Incêndio de Alter do Chão nem a ONG Saúde e Alegria são investigadas ou consideradas suspeitas pela PF.
Nos bastidores, fontes ouvidas pelo Intercept descartam a participação desse tipo de entidade e seguem investigando fazendeiros locais como principais responsáveis pelos incêndios que impressionaram o mundo.
Há dois inquéritos abertos pela PF, tocados nas delegacias de Altamira e Santarém. Esse segundo deu origem à operação Pacto de Fogo, realizada em Novo Progresso em outubro.
Os alvos dos mandados de busca foram empresários, produtores rurais e fazendeiros, que tiveram notebooks, HDs e celulares apreendidos. A PF aguarda o resultado da perícia nesse material, mas não há suspeitas que recaiam sobre ONGs.
Quer dizer – a investigação federal vai no caminho oposto ao da espalhafatosa e esquisita operação da polícia civil do Pará, que prendeu voluntários e colocou a Brigada e a ONG Saúde e Alegria como suspeitas de provocarem incêndios na região de Altamira.
O que levou a polícia paraense a prender ambientalistas, a bem da verdade, é um mistério para fontes com quem conversamos – porque, apesar de insistentes pedidos, inclusive formais, as autoridades do Pará se recusaram a compartilhar sua investigação com os policiais federais.
A PF também foi atacada na região. Um carro descaracterizado no qual policiais federais viajavam pela rodovia transamazônica foi alvejado por um tiro disparado de uma viatura da polícia militar local. O caso foi relatado à cúpula da corporação, segundo apuramos.
Ontem, o Ministério Público Federal pediu acesso ao inquérito da polícia civil do Pará. Procuradores estranharam as prisões de ongueiros dessa semana e disseram que, desde 2015, investigações federais “apontam para o assédio de grileiros, ocupação desordenada e para a especulação imobiliária como causas da degradação ambiental em Alter do Chão”.

Suspeitos, os de sempre: ruralistas

A Polícia Federal participou da operação de Garantia da Lei e da Ordem que atuou nas queimadas na Amazônia, no final de agosto. Desde então, abriu dois inquéritos, em suas delegacias em Altamira – para tentar encontrar os responsáveis por incêndios na Floresta Nacional de Altamira – e Santarém – para averiguar as causas das queimadas na Floresta Nacional do Jamanxim e ao longo da BR-163. Em nenhum deles, há indícios de que ONGs tenham cometido crimes.
O foco principal da investigação da PF é Novo Progresso, perto da fronteira com o Mato Grosso, onde começou o “Dia do Fogo” – dois dias de incêndios criminosos na região, em 10 e 11 de agosto. Santarém, município onde está a localidade de Alter do Chão, fica 712 quilômetros ao norte de Novo Progresso. São quase 13 horas de viagem de carro por uma estrada em boa parte coalhada de buracos.
Os suspeitos da PF são óbvios – madeireiros e, principalmente, fazendeiros locais. A investigação parte de conversas trocadas num grupo de WhatsApp em que eles combinaram as queimadas. Dele, fazia parte o delegado Vicente Gomes, superintendência da polícia civil do Pará na região do Tapajós, em que fica Novo Progresso. É a provável razão para a falta de empenho das autoridades locais em compartilhar informações com as federais.
É, ainda, um motivo possível para o empenho da polícia do Pará em atrair as atenções noutra direção, longe de Novo Progresso, verdadeiro foco dos crimes. Se as investigações concluírem que as queimadas de fato foram executadas a partir de um grupo incluindo o delegado Gomes, ele terá cometido pelo menos crime de prevaricação – quando um servidor público deixa de cumprir seu dever em troca de vantagem pessoal.
Moradores de Novo Progresso ouvidos pela PF apontaram Gomes como homem ligado a madeireiros da região. Já integrantes do grupo de WhatsApp, os principais suspeitos dos incêndios criminosos, ouvidos na investigação, apontaram o dedo para – quem diria – organizações ambientalistas, seguindo as acusações do presidente Jair Bolsonaro, que jamais apresentou provas.
Culpar ONGs por crimes ambientais é um álibi que pareceu surpreendente até a investigadores experientes na área.
Gomes, flagrado no grupo de zap onde as queimadas foram combinadas, não goza de prestígio junto ao secretário de Segurança Pública do Pará, Ualame Machado, um delegado federal licenciado. Mas, nós apuramos, Machado não recebeu autonomia do governador Helder Barbalho, filho do velho cacique local Jáder Barbalho, atualmente senador, para montar sua equipe (ambos são do MDB). Há, na polícia civil paraense, um conflito entre policiais mais jovens – alinhados ao secretário – e a “velha guarda”, de que Gomes faz parte.
Culpar ONGs por crimes ambientais é um álibi que pareceu surpreendente até a investigadores experientes na área. Usualmente, ruralistas e madeireiros tinham nos assentados sem-terra seu bode expiatório preferido. Quando acusados de crimes, costumavam culpar os assentados. Mas as falas do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro parecem ter criado uma nova tendência. Na dúvida, a culpa agora é das ONGs.
“Numa coisa o presidente está certo: a mata é úmida, não queima. Quando está de pé. Derrubada, é outra história. O Dia do Fogo é tradicional na região. Este ano o incêndio foi maior porque tinha muito mais árvore no chão”, ouvi de uma fonte familiarizada com a investigação da PF.
A culpa, aí, parece recair em Bolsonaro – que, naturalmente, fez uso político das suspeitas contra ambientalistas. Em recente visita à Arábia Saudita, Bolsonaro disse inclusive que “potencializou” o movimento de destruição da mata. Ele não esconde. As palavras de incentivo do político alimentaram a sanha dos desmatadores da região de Novo Progresso, localizado na nova fronteira agrícola da Amazônia.
Um episódio espantou os policiais federais: em certo momento, logo no início do ano, faltou combustível na cidade, tal o ritmo de trabalho das motosserras movidas a gasolina.

Atualização: 28 de novembro de 2019, 16h20
Uma versão anterior deste texto não explicava claramente que Alter do Chão se localiza no município de Santarém, nem era clara sobre o foco dos inquéritos da Polícia Federal. O texto foi atualizado para tornar a compreensão mais clara.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

O descuido sem limites



Não se trata de apenas escolher práticas e defender ideias. Os governos deveriam ficar atentos aos direitos fundamentais, não se descuidar do meio ambientes, lutar contra violências e responder sem cinismo às demandas da sociedade. As ações de Jair parecem cômicas e fora de qualquer previsão. Não passam confiança e criam uma atmosfera trágica com contradições e gestos perversos. Os acontecimentos mostram que não há cuidado. Quem estaria interessado em tantas turbulências? Por que se atacam maiorias e se derrubam as invenções culturais? As hipocrisias são propositais?
Os mares estão poluídos de forma brutal. Há protestos, mobilizações, desempregos, sofrimentos e o governo sacode fora as providências para reverter os danos. Os ministros culpam a Venezuela, não se ligam nos pareceres técnicos. O desastre é imenso. Dói e afeta uma região inteira com prejuízos amplos e permanentes. O governo procura disfarces. Busca negar os impactos. Despreza sentimentos, destrói futuros, mostra a sobrevivência de ressentimentos eleitorais. Desenham mistérios, intriga-se com defensores da ecologias e usa as máscaras de sempre.
Temos uma tragédia de dimensões assustadoras. Jair come miojo e afirma que a China é uma pais capitalista. Sorri como uma hiena para uma plateia selecionada. Seguem as denúncias de negligências, de total antipatias pelo Nordeste. Os abismos são profundos. Não há prazos para contornar os desmantelos. Os grupos políticos tergiversam, pouco observam a questão social. A vida está exposta numa morte anunciada. As portas estão abertas para o imprevisível diante de tantas imagens de desespero e incógnitas multiplicadas.
As resistências não se foram. O governo abandona seus deveres, mas a sociedade se inquieta e luta para desfazer a repercussão do desastre no equilíbrio do meio ambiente. Muitos afirmam que o fascismo se reinventa, com opressões dantescas e armadilhas variadas. O mundo se preocupa com a expansão do consumo e o aumento das especulações financeiras. Há perplexidades que circulam e empurram os afetos par o territória da depressão. Não só no Brasil os desfazeres se ampliam. A história traça travessias desafiantes. Há que visualize o caos e convoquem os deuses para compor a sinfonia do juízo final. Não se pode negar as tensões. Ela trazem medos e pesadelos. Paulo Rezende. A astúcia de Ulisses
Professor Edgar Bom Jardim - PE