terça-feira, 25 de novembro de 2025

Precisamos tratar Bolsonaro como ele é: um criminoso




Por Cleber Lourenço.

Bolsonaro não é mártir, não é símbolo de resistência, não é vítima do sistema. Bolsonaro é um criminoso — e dos mais obcecados em testar até onde poderia ir sem ser contido. A dificuldade de parte da imprensa em admitir o óbvio só prolonga a farsa que acompanhamos há anos. É hora de romper o feitiço: não existe perseguição quando se aplica a lei a quem a violou repetidamente.

A prisão preventiva decretada por Alexandre de Moraes não foi um capricho. Foi a resposta institucional a uma trajetória marcada por afrontas sistemáticas ao Estado de Direito. O Código de Processo Penal, no artigo 312, não deixa margem de interpretação: a preventiva cabe diante do risco à ordem pública, do risco à aplicação da lei penal, da possibilidade de obstrução e do descumprimento de medida cautelar. Bolsonaro conseguiu reunir todos os requisitos — uma espécie de currículo exemplar da delinquência política.

A situação da tornozeleira é a síntese perfeita: Bolsonaro admitiu ter mexido no equipamento, como se manipular um instrumento de monitoramento judicial fosse um detalhe doméstico, uma anomalia técnica, uma “solda mal colocada”. No mundo real, isso é tentativa de driblar a Justiça. No universo paralelo de seus seguidores, é tratado como obra do acaso. Mas a Justiça não vive em fantasia — vive de fatos.

E os fatos não param aí. À tentativa de violar o monitoramento se somou a velha coreografia de intimidação política. Flávio Bolsonaro, sempre pronto a transformar crise em palco, convocou uma vigília em tom solene, religioso, quase místico. Mas a embalagem não engana: era o velho ritual de tensão que já vimos antes, carregado de insinuações golpistas, discursos inflamados, clima de confrontação e aquela retórica de injustiça divina feita sob medida para inflamar a base radicalizada.

Essa mobilização não foi ignorada pela Justiça. Já aprendemos — a duras penas — que, quando o clã Bolsonaro acende fósforos, o país inteiro corre risco de incêndio. O Judiciário não tinha motivo algum para repetir a ingenuidade que precedeu o 8 de janeiro.

E então chegamos ao ponto que escancara o abismo moral: enquanto milhões de brasileiros enfrentaram hospitais colapsados, filas intermináveis e a brutalidade da pandemia — agravada pela sabotagem deliberada ao Sistema Único de Saúde — Bolsonaro hoje desfruta de atendimento médico permanente na carceragem da Polícia Federal. Ironia não falta: quem minou políticas públicas, ridicularizou medidas sanitárias, atrasou vacinas e estimulou aglomerações agora tem médicos de prontidão, supervisão constante e cuidados que boa parte do país jamais conheceu.

Durante a pandemia, milhares morreram sem ar em Manaus, famílias imploraram por atendimento, profissionais de saúde trabalharam até o limite humano e milhões convivem até hoje com sequelas graves. Tudo isso enquanto Bolsonaro patrocinava desinformação, desacreditava especialistas, promovia cloroquina como elixir milagroso e tratava o colapso como “mi-mi-mi”. A comparação entre sua atual mordomia e o abandono nacional que ajudou a provocar não exige esforço analítico — ela se impõe, cruel e evidente.

Mas o contraste vai além da saúde. O verdadeiro escândalo está no espanto de alguns ao ver Bolsonaro sendo tratado como o que é. Seu legado institucional é uma coleção de crimes políticos: ataques coordenados às instituições, tentativa de golpe, uso da máquina pública para perseguir adversários, estímulo à desordem, corrosão premeditada da confiança no processo eleitoral, manipulação das forças de segurança e construção de um ecossistema de mentira como arma política.

E ainda há quem tente lucrar politicamente com esse teatro. Tarcísio de Freitas, por exemplo — sempre pronto para interpretar o papel necessário ao público da vez — correu para denunciar injustiça. O homem que se apresenta como defensor da segurança jurídica quando quer agradar o mercado transforma a aplicação da lei em abuso quando atinge seu líder político. Uma incoerência que não surpreende, mas revela muito.

Bolsonaro nunca foi vítima. Foi sempre agente — e agente ativo — da intimidação, da quebra institucional e do caos planejado. Agora, diante da primeira consequência efetiva de seus atos, tenta vestir a fantasia de mártir. Mas não há narrativa religiosa que transforme descumprimento de cautelar em milagre. Não há retórica épica que transforme criminoso em perseguido. Não há cela arrumada que apague o rastro de destruição institucional que ele deixou.

Bolsonaro está preso — e, dadas as circunstâncias, ainda vive com mais conforto do que mereceria. O mínimo, absolutamente o mínimo, é chamá-lo pelo nome adequado: criminoso



Fonte:

iclnoticias.com.br/

Foto:pt.org.br


Professor Edgar Bom Jardim - PE

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