Está nas mãos do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), a decisão de divulgar ou não trechos da reunião ministerial em que, segundo o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro teria indicado a intenção de interferir na Polícia Federal.
A Advogacia-Geral da União (AGU), que defende o governo Bolsonaro no caso, já divulgou a transcrição de alguns trechos do encontro. Nesses trechos, Bolsonaro se queixou de forças de segurança federais e disse que não esperaria "foder(em) minha família toda de sacanagem".
O presidente pediu ao STF que não divulgue o vídeo na íntegra para preservar "questões de Estado, economia e coisas pessoais" citadas pelos participantes.
Segundo relatos, entre outros acontecimentos, houve duras críticas à China e ofensas a ministros do STF na reunião.
O encontro ocorreu em 22 de abril no Palácio do Planalto. Dois dias depois, o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, deixou o cargo. Moro pediu demissão no mesmo dia.
A entrega do vídeo ao STF ocorreu no âmbito de um inquérito que apura a conduta de Bolsonaro em relação a denúncias feitas por Moro.
Após deixar o Ministério da Justiça e Segurança Pública, o ex-juiz afirmou que o presidente lhe cobrou mudanças na Polícia Federal sem apresentar justificativas plausíveis.
A BBC News Brasil lista a seguir os principais episódios que levantam suspeitas sobre a relação do presidente com a PF.
1- Demissão de Sergio Moro
Em depoimento à Polícia Federal após deixar o cargo de ministro, Moro disse que Bolsonaro queria trocar o superintendente da PF no Rio de Janeiro.
Segundo Moro, o presidente lhe enviou a seguinte mensagem no WhatsApp:
"Moro, você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro."
Moro não disse qual interesse Bolsonaro teria em interferir na divisão do Rio e afirmou que os motivos deveriam "ser indagados ao presidente".
O ex-ministro afirmou ainda que Bolsonaro vinha lhe pressionando para tirar Valeixo da direção da corporação sem apresentar justificativas convincentes.
Disse também que o presidente "relatou verbalmente no Palácio do Planalto que precisava de pessoas de sua confiança (na Polícia Federal), para que pudesse interagir, telefonar e obter relatórios de inteligência".
Valeixo também depôs à PF após deixar a corporação.
Ele afirmou que Bolsonaro lhe disse que gostaria de nomear como diretor-geral "alguém (com) que tivesse maior afinidade", mas que jamais lhe pediu relatórios de inteligência nem tratou com ele sobre troca de superintendentes.
2 - Nomeação de Alexandre Ramagem
Após a saída de Valeixo, Bolsonaro nomeou o delegado Alexandre Ramagem como diretor-geral da PF.
Até então diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), anteriormente Ramagem foi o responsável por chefiar da segurança da campanha de Bolsonaro após a facada sofrida pelo então candidato. Nesse período, aproximou-se da família do capitão reformado.
No Réveillon de 2019, Ramagem foi fotografado ao lado do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente.
A proximidade do delegado com a família presidencial fez com que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, anulasse a nomeação, atendendo a um pedido do partido PDT.
"Analisando os fatos narrados, verifico a probabilidade do direito alegado, pois, em tese, apresenta-se viável a ocorrência de desvio de finalidade do ato presidencial de nomeação do diretor da Polícia Federal, em inobservância aos princípios da impessoalidade, da moralidade e do interesse público", afirmou Moraes na decisão.
Bolsonaro não recorreu e nomeou então o delegado Alexandre Rolando de Souza, considerado o braço direito de Ramagem na Abin, para a direção da PF.
3 - Entrevista de Paulo Marinho
Em 16 de maio, o empresário Paulo Marinho - um dos principais apoiadores da candidatura de Bolsonaro à Presidência - disse em entrevista à Folha de S.Paulo que Flávio Bolsonaro, primogênito do presidente, soube com antecedência de uma operação policial que atingiu membros de seu gabinete.
Segundo Marinho, um delegado da Polícia Federal no Rio que simpatizava com a candidatura de Bolsonaro procurou Flávio entre o primeiro e o segundo turnos da eleição para avisá-lo da Operação Furna da Onça.
A operação trouxe à luz transações suspeitas de Fabrício Queiroz enquanto ele trabalhava como assessor de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Investigadores afirmaram que Queiroz gerenciava um esquema de "rachadinha" entre funcionários do gabinete, coletando uma parte dos salários que lhes eram pagos para entregá-la a Flávio ou destiná-la a outros fins.
Segundo Marinho, os policiais decidiram segurar a operação para que ela não prejudicasse a candidatura de Bolsonaro, postergando-a para depois do segundo turno.
O aviso do delegado sobre a operação, segundo Marinho, foi o motivo para a demissão de Queiroz e de sua filha, Nathalia, que trabalhava no gabinete de Jair Bolsonaro. Ambos foram exonerados em 15 de outubro.
No livro "Tormenta - O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos", a jornalista Thaís Oyama também afirma que a família Bolsonaro foi avisada com antecedência da operação da PF.
Segundo ela, um "delegado amigo" fez chegar ao clã a informação de que o gabinete de Flávio Bolsonaro - assim como o de outros 20 deputados estaduais - estava sendo investigado pela prática de "rachadinha".
BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE
0 >-->Escreva seu comentários >-->:
Postar um comentário
Amigos (as) poste seus comentarios no Blog