O ceramista José Joaquim da Silva, o Zezinho de Tracunhaém, fez da arte santeira a sua expressão maior, tornando-se um dos mais importantes artistas populares do Brasil, fonte de inspiração e mestre de dezenas de artesãos, tendo obra escultórica encontrada em acervos de igrejas, museus e coleções particulares, como o Museu de Arte Contemporânea (PE), Museu Casa do Pontal (RJ) e Palácio do Planalto.
Nasceu no dia 5 de julho de 1939, no município de Vitória de Santo Antão. De família humilde, foi criado no corte da cana-de-açúcar e até os 21 anos de idade esse foi seu meio de sobrevivência, trabalhando em engenhos da região. Conheceu sua mulher, Maria Marques, em Chã de Alegria e com ela com ela fugiu porque o sogro não queria ver a filha casada com um trabalhador da palha da cana. Casaram na igreja matriz da cidade e retornaram para Chã de Alegria. Acompanhou o sogro, quando este se mudou para a cidade de Nazaré da Mata e lá começou a trabalhar como ajudante de pedreiro. Em uma eventual viagem à vizinha Tracunhaém, o jovem pai de família se deparou com a produção cerâmica dos artesãos do município e ficou fascinado. Ganhou de Lídia Vieira - pioneira e uma das mais notáveis artistas da cidade - um punhado de barro. “Sentir o barro nas minhas mãos, foi uma sensação de eu nunca mais vou esquecer em minha vida. É como escutasse uma voz vinda de dentro dizendo: trabalhe”, recorda o mestre, patrimônio vivo de Pernambuco desde 2007.
Assegurando o sustento da família de dia e se dedicando ao barro à noite, Zezinho não demoraria a criar a sua primeira peça: um casal de namorados encostado na porteira de um engenho que, admite, retratava um dos primeiros encontros dele com Maria. Depois vieram trabalhos inspirados em personagens populares, trabalhadores urbanos e do campo. As pequenas esculturas eram vendidas na feira da cidade. O material chamou a atenção da jornalista Marlieta Pessoa, que destaca em texto publicado no jornal Gazeta de Nazaré (20.04.1966) o surgimento de um grande artista. Foi ela, com o apoio do pároco da cidade (padre Mário) que organizou a primeira exposição de Zezinho, realizada na Biblioteca Municipal, em outubro de 1966. Zezinho conseguiu vender todas as 60 peças e com o dinheiro apurado, comprou terreno e casa mudando-se em 1968 com a família para Tracunhaém.
Na terra do artesanato do barro, mestre Zezinho se inicia na arte santeira, expressando-se através do artesanato figurativo a sua fé religiosa. Sua escultura em que Nossa Senhora aparece grávida ao lado de São José, destaque na 1ª Bienal do Artesanato de Pernambuco (1986), projetou o nome do artista, que ao longo dos anos teve como admirador e incentivador Abelardo Rodrigues (1908-1971), especialista e um dos maiores colecionadores de arte sacra do Brasil. “Tenho muito orgulho de tudo.Deus é tão poderoso que fiz meu nome, criei minha família tendo o barro como sustento. Tracunhaém inteira pisou no meu rastro na arte santeira”, assegura.
Na temática sacra, mestre Zezinho ganhou fama pelas esculturas ricas em detalhes e volumes que podiam chegar a dois metros de altura. Sempre teve predileção por São Francisco de Assis, apesar de criar com grande desenvoltura imagens dos mais diversos santos católicos. Participou de dezenas de exposições, como a organizada pelo Museu Nacional de Belas Artes (RJ), em 1981.
Por questões de saúde, foi forçado a deixar de lado sua produção artística, hoje levada por quatro dos seus nove filhos e dois dos 13 netos. “Mas tenho fé que ainda vou trabalhar com o barro e com ele, farei a escultura de um Jesus Cristo ajoelhado pedindo permissão a Deus”, avisa.
O artesão integra a Alameda dos Mestres da Feira Nacional de Negócios do Artesanato desde 2010. Além de patrimônio vivo da cultura pernambucana, recebeu diversas honrarias em reconhecimento ao seu trabalho, como o título de Cidadão da Cidade de Tracunhaém (2002), o Troféu Construtores da Cultura Cidade do Recife (1992), entre outros.
Amigos lamentam sua morte:
Professor Edgar Bom Jardim - PEAmigos lamentam sua morte:
"Hoje Pernambuco perde um grande homem colaborador da construção da história do artesanato de Tracunhaém.Grande mestre Patrimônio do nosso estado. Deus conforte os seus familiares. Vai com Deus Zezinho", Disse Mestre Zuza.
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