sábado, 27 de julho de 2019

Machismo:'Não foi a primeira, nem será a última', lamenta tio de Mayara, vítima de ataque com ácido sulfúrico'

Foto: Reprodução/Facebook. (Foto: Reprodução/Facebook.)
Foto: Reprodução/Facebook.
A atendente de lanchonete Mayara Estefanny Araújo, de 19 anos, morreu na noite desta quinta-feira (25), após mais de 20 dias de internação na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital da Restauração, no bairro do Derby, no Centro do Recife. A jovem foi vítima de tentativa de feminicídio pelo ex-companheiro, o agente de saúde William César dos Santos Júnior, de 27 anos, e um amigo dele, Paulo Henrique Vieira dos Santos, de 23 anos. Os dois jogaram ácido sulfúrico na mulher, no dia quatro de julho, quando Mayara voltava do trabalho, no bairro de Nova Descoberta, na Zona Norte do Recife. 

Na manhã desta sexta, corpo de Mayara passou por perícia no Instituto Médico Legal (IML), no bairro de Santo Amaro, e foi liberado por familiares. O velório e sepultamento serão no município de Limoeiro, na Zona da Mata do estado. "Eu estou perdendo uma filha. Ela me chamava de pai. Tem coisa que a gente que não entende, só Deus. Na quinta enterramos a avó dela e no mesmo dia tivemos a notícia da morte dela. Eu não sei como ainda estou de pé. A mãe a as duas irmãs estão se desmanchando em lágrimas. A dor está sendo muito grande", lamentou o tio da vítima, Elpídio Gomes Farias.

Mayara deixa um filho de dois anos, que teve com William. Ainda sem saber sobre a morte da mãe, a criança acordou aos prantos perguntando onde ela estava. "A gente esconde o que aconteceu, diz que ela está viajando e vai trazer presentes. Mas hoje ele acordou antes das cinco horas e disse 'cadê mãe?'. Não dissemos nada ainda porque não sei como vai ser. Hoje vai ser um dia duro", comentou o tio da vítima.

ENTENDA

Na lembrança, Elpídio, que também é padrinho de Mayara, conta que vai ficar a alegria da jovem. "Eu fiquei todos os dias ao lado dela na UTI, dizia que ia levar ela para casa. Ela era uma menina doce. Sempre rindo, levava as coisas na brincadeira. A separação foi há quatro meses, quando descobrimos que vinha sendo agredida. Antes ela não contava a gente", disse Elpídio.

Mayara já havia prestado queixa por ameça, injúria e agressão cometidas por William ao menos três vezes na Delegacia da Mulher. Cerca de 20 dias antes de sofrer o ataque, a jovem havia solicitado uma medida protetiva contra o ex-companheiro. Diante da tragédia, a família agora espera por justiça. "A gente espera que as autoridades vejam o nosso sofrimento. Mayara não foi a primeira, nem será a última. Ele agora está preso, mas onde está Mayara? Ele enterrou ela. Amanhã ele sai e faz tudo de novo. Mulher não é propriedade de homem. As mulheres tem o mesmo direito. Ele não matou só Mayara, matou uma família", disse, revoltado.
Sequelas
A vítima teve 38% do corpo queimado. O líquido corrosivo atingiu órgãos vitais de Mayara provocando uma queimaduras e deixando ferimentos de terceiro grau no troco, pescoço, cabeça e coxas. Apesar da gravidade, ela vinha se recuperando bem, até ter sofrer três paradas cardíacas e falecer, por volta das 22h, na tarde desta quinta.

No período de internamento na UTI, Mayara permaneceu sedada, recebendo analgésicos e respirando com ajuda de aparelhos. A morte dela surpreendeu a equipe médica, que percebia melhora no quadro. "Realmente ela vinha evoluindo de forma satisfatória. Não esperávamos. Cada vez mais a gente tentava tirar a sedação, percebendo que o grau de consciência dela era adequado. Mas ela não colaborava, tentava puxar o tubo e sair da cama. Então tínhamos que manter ela sedada", explicou a chefe da UTI de adultos do HR, Fátima Buarque.
Foto: Mariana Fabrício/DP Foto. (Foto: Mariana Fabrício/DP Foto.)
Foto: Mariana Fabrício/DP Foto.
Na última quarta-feira (25), Mayara passou por uma traqueostomia. "Notamos melhora nos tecidos, que estavam sendo revitalizados. Já eram 20 dias de tubo e não é possível um ser humano ficar em tanto tempo, considerando a indicação médica. Decidimos fazer a traqueostomia. Não teve intercorrência. A paciente mostrou cicatrização nos tecidos e seguiu bem. Por volta das 18h, sem motivo aparente, ela teve a primeira parada cardíaca. Foi reanimada, mas teve mais duas paradas e não voltou", disse a chefe da UTI.

A médica descartou que o procedimento pode ter piorado o quadro da paciente. "A causa da parada cardíaca não foi a traqueostomia. Eu tenho que fazer o procedimento médico na qual nós aprendemos. Eu estou muito triste em consequência disso, já que ela tinha uma evolução boa e vejo isso como uma fatalidade da minha profissão, que abala a mim e a toda equipe", afirmou Fátima Buarque.
Foto: Bruna Costa/Esp. DP (Foto: Bruna Costa/Esp. DP)
Foto: Bruna Costa/Esp. DP
Justiça
William César e Paulo Henrique foram denunciados por tentativa de homicídio qualificado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) nesta quinta. No entanto, com a morte da vítima, o caso pode passar de homicídio qualificado tentado para homicídio qualificado consumado. O MPPE informou que vai solicitar a documentação médica que determina a causa da morte.

"O objetivo do Ministério Público é avaliar se houve nexo causal entre a ação inicial (jogar ácido na vítima) e o resultado final (sua morte dias depois). Se ficar comprovado cientificamente que a ação dos denunciados levou à morte da vítima, o promotor de Justiça responsável pelo caso procederá ao aditamento da denúncia, de homicídio qualificado tentado para homicídio qualificado consumado", esclareceu o MPPE, através de nota.

O inquérito já foi concluído pela Polícia Civil no dia 12 de julho como tentativa de feminicídio. As investigações apontaram que William conhecia o potencial lesivo do ácido sulfúrico. Os acusados foram indiciados pela prática de feminicídio tentado, qualificado por meio cruel e por emboscada e cumprem prisão preventiva no Centro de Triagem de Abreu e Lima (Cotel). William já possui histórico criminal. Ele foi condenado no ano de 2016 por estelionato. O outro envolvido, Paulo Henrique, também já havia sido preso por tráfico de drogas e corrupção de menores.
Com informação de Diario de Pernambuco


Professor Edgar Bom Jardim - PE

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