terça-feira, 11 de junho de 2019

Forças Armadas devem lealdade aos brasileiros não a Bolsonaro, diz general

Brasília – O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general da reserva do Exército Sérgio Etchegoyen, afirmou que as Forças Armadas do país devem lealdade à população brasileira, e não ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), e fez questão de destacar que não há risco de politização doExército, da Marinha e da Aeronáutica no futuro governo.
“Agora está eleito um governo de um político. O presidente eleito foi um dia um militar, há 30 anos, ele é político, ele tem sim como vice-presidente um militar que até ontem foi um general que chegou ao maior posto”, disse, referindo-se a Bolsonaro, capitão da reserva do Exército, e seu vice, Hamilton Mourão.
“Se nós temos as Forças Armadas que nunca participaram, nunca foram sustento de governo de nenhum regime democrático, não teria que ser agora. Não vejo”, disse Etchegoyen, em entrevista exclusiva à Reuters na terça-feira, no gabinete dele no Palácio do Planalto.
Para ele, as Forças Armadas devem lealdade aos brasileiros e há um “equívoco” na percepção do papel da instituição, “principalmente pela imprensa”. Ele disse que desde 1979 — desde a revogação dos últimos atos institucionais de “exceção” — o Brasil está “absolutamente livre” para o exercício de todas as tendências do espectro político.
“As Forças Armadas nunca foram atores políticos nesses 39 anos, nunca foram fonte de instabilidade”, disse ele, ao destacar que nesse período foram até eleitos governos de esquerda com os quais as forças tiveram “muito boas relações”.
O ministro do GSI disse que a então candidatura de Bolsonaro já tinha sido lançada há “bastante tempo” e que as Forças Armadas não participaram dela. “Não houve proselitismo, houve generais da reserva, reformados, outros militares reformados que têm todo o direito de fazerem a sua escolha e escolha feita foi de 57 milhões de brasileiros, a escolha não foi de militares”, afirmou.
“O presidente eleito é um presidente eleito por vontade de 57 milhões de brasileiros. É a esses 57 milhões de brasileiros que as Forças Armadas -57 milhões não– é a todos os brasileiros que as Forças Armadas devem a lealdade do seu papel, não ao presidente eleito”, disse.
O general afirmou considerar uma “aposta complicada” ingressar na carreira militar com vistas a buscar um caminho político no futuro, após ser questionado sobre o aumento do número de escolhidos para o primeiro escalão de quadros egressos das Forças Armadas no governo Bolsonaro. Na terça-feira, por exemplo, tinha sido confirmado o também general da reserva Fernando Azevedo e Silva como ministro da Defesa, que Etchegoyen disse ter percorrido o “caminho militar e político em alguns momentos”.
“O que te promove na carreira militar são teu currículo militar, o teu passado. Se fosse isso, Bolsonaro teria esperado ser general para se candidatar. Ele escolheu um caminho político legítimo lá atrás. Além disso, só para complementar, ele está cumprindo mais uma promessa de campanha, disse que ia colocar um general e colocou um general 4 estrelas”, afirmou, em referência ao novo titular da Defesa.
Etchegoyen disse que defende a escolha de um ministro da Defesa “relevante”, seja civil ou militar. Ele admitiu que a indicação do novo ministro da Defesa pode “desbalancear” e ter um “mal-estar” na relação com as duas outras forças — antes da decisão, Bolsonaro chegou a ponderar que estaria pensando em alguém da Marinha para o cargo.
“Os militares são disciplinados”, ressalvou, para quem não deve causar um problema maior. “Não, o ministro vai precisar dos comandantes, os comandantes vão precisar do ministro como interlocutor do presidente”, disse.
Por Ricardo Brito e Anthony Boadle, Reuters.
exame.abril.com.br
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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