terça-feira, 27 de novembro de 2018

Livro revela a Relação de Dom Hélder Câmara e as Artes


O livro traz 11 artigos, assinados por 17 pesquisadores. Foto: Reprodução
O livro traz 11 artigos, assinados por 17 pesquisadores. Foto: Reprodução

Algumas frases sintetizam pessoas e fatos. Para o arcebispo católico que comandou a Arquidiocese de Olinda e Recife de 1964 a 1985, Gilbraz de Souza Aragão cunha que “Dom Helder foi um homem múltiplo”. A expressão consta no livro que o professor prefacia e cujo lançamento está marcado para hoje, às 19h, na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). A obra Andar às voltas com o belo é andar às voltas com Deus: a relação de Dom Helder Camara com as artes revela o sacerdote, conhecido mundialmente pela defesa dos direitos humanos, como alguém apaixonado e conhecedor do mundo artístico. E também um artista. No evento de hoje, serão exibidos trechos de filmes que o arcebispo assistiu e comentou, interpretadas quatro canções da MPB comentadas por ele e declamados quatro poemas de sua autoria, além da audição do VI Movimento de A sinfonia dos dois mundos.

Organizado por Newton Darwin de Andrade Cabral e Lucy Pina Neta, o livro traz 11 artigos, assinados por 17 pesquisadores. Entre eles, os próprios organizadores. Os textos, guiando-se pela análise de Gilbraz, abre perspectiva para se entender dom Helder por cores diferentes da repressão sofrida durante os governos militares. “A ética que dom Helder encarnou é pintada em muitos tons de cinza, sem atenção para o colorido estético que a revestiu e inspirou”, ressalta o prefaciador. Em meio às atividades eclesiais, às conferências e às denúncias de violência e tortura, o arcebispo bebia das fontes do teatro, do cinema, da poesia e da música.

A preocupação de dom Helder com o belo e o conhecimento se traduziu em encontros no Palácio dos Manguinhos, onde o arcebispo morou de 1964 a 1968. No prédio da Avenida Rui Barbosa, ele promoveu as “noitadas”. Essas, conforme o texto de Newton Cabral e Carlos André Silva de Moura, foram encontros que reuniram intelectuais de diversas áreas. Da filosofia à sociologia, à teologia, às letras. Na lista de quem participou ou foi cogitado a participar das noitadas figuram escritores, como João Cabral de Melo Neto e Mauro Mota; juristas, a exemplo de Lourival Vilanova; padres, como José Comblin; e artistas plásticos, entre esses, Francisco Brennand. A relação inclui pastores e gente ligada à música, ao teatro e ao ensino.

“Fica evidente a multiplicidade de áreas e temas pensados ou abordados”, afirmam Newton e Carlos sobre as noitadas. A multiplicidade refletia as preocupações de dom Helder, que propunha ou acatava sugestões. Além disso, o arcebispo ficava atento à agenda de visitas à arquidiocese. Quando podiam, os visitantes participavam das noitadas. Ora expondo. Ora participando somente das discussões. Haviam críticas à abertura do Palácio dos Manguinhos para os debates, mas a isso dom Helder responde em uma carta a amigos: “Neste Recife parado, traumatizado, com medo de pensar, um grupo excepcional de inteligências honestas e limpas ficou até meia-noite em pleno debate de ideias, sinônimo, a meu ver, de louvor a Deus”. As noitadas foram uma das maneiras encontrados pelo arcebispo de “encher, um pouco, Manguinhos”. E cujo último registro de realização data de março de 1969, quando mandavam a censura e a repressão impostas pelo Ato Institucional Nº 5, o AI-5.

A relação do arcebispo, um homem de gestos largos e por muitos classificados de teatrais, com o teatro é analisada por Cláudio Bezerra e Stella Maris Saldanha. No capítulo Um profeta escolhido teatro, eles apontam que dom Helder escolheu o teatro, mas na relação dele com a arte da representação se deu o contrário. Criança, Helder era carregado pelo tio, um diretor de teatro, para assistir ensaios de peças. O gosto por tal arte alçou o padre além da condição de público, mas a de autor. A ele, que se tornou personagem de dois espetáculos, é creditada a autoria de um auto inédito.

A condição de autor do arcebispo também se vê na música. Ouvinte assíduo, escreve Percy Marques Batista, em Variados tons de um Dom Helder e a MPB, o sacerdote ia a shows, promovia audições e discussões e escrevia sobre a música. É nítida a identificação dele com as composições de Chico Buarque. Das canções Pedro Pedreiro e A Banda, ambas lançadas em 1966, dom Helder se identifica com os sentimentos de esperança.

A esperança também está em A sinfonia dos dois mundos, obra que reúne os argumentos do arcebispo, preocupado em superar as fronteiras ideológicas, sociais e econômicas do mundo, e o talento do maestro suíço Pierre Kaelin. Quem analisa a sinfonia no livro é Cícero Williams da Silva. Executada em 39 cidades de 14 países, a sinfonia somente foi apresentada no Brasil em 1985, com o fim dos governos militares. Ela é considerada o ápice do lado artista de dom Helder artista, que bebeu das crônicas e da poesia para falar da fé, da pobreza, do carnaval e da arte. Por crer que “andar às voltas com o belo é andar às voltas com Deus”.

Serviço
Lançamento do livro Andar às voltas com o belo é andar às voltas com Deus: a relação de Dom Helder Camara e as artes
Quando: nesta terça-feira (27), às 19h
Onde: Auditório Dom Helder Camara, no Bloco A da Unicap (Rua Afonso Pena, 70, Santo Amaro) 
Preço: R$ 45 (nas livrarias) e R$ 39 (no lançamento)
Editora: Bagaço
296 páginas.
Com informações de Diario de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

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