quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Alckmin tem tempo de TV, estrutura e experiência. Falta só um detalhe: as intenções de voto



Durante mais de 12 anos, Geraldo Alckmin morou no segundo andar do Palácio dos Bandeirantes, um edifício de inspiração neoclássica, cuja ala residencial com 2.000 metros quadrados e 25 cômodos abriga o governador de São Paulo e sua família. Ao cruzar a sala principal rumo ao extenso corredor que liga a casa ao gabinete de trabalho, passava todos os dias por um piano de cauda de 1952, da tradicional marca americana Mason & Hamlin. Vivia cercado por cozinheiros, copeiros, arrumadeiras, garçons e seguranças, e convivia com um acervo de cerca de 3.500 obras de arte distribuídas pelo prédio. Desde que se afastou do cargo para concorrer pela segunda vez à Presidência da República, Alckmin passou a despachar num escritório alugado no bairro do Itaim Bibi, na região sul da capital. Voltou a morar em seu apartamento no Morumbi, a alguns quilômetros dali. Modesto, o imóvel virou motivo de deboche entre aliados. “O apartamento do Geraldo precisa de um guarda de trânsito”, disse um apoiador, emendando um suspense antes de terminar a piada. “Senão a cozinha acaba invadindo a sala.”
Em apenas quatro meses longe do governo, Alckmin já teve incontáveis doses de realidade — e não só de ordem doméstica. Por enquanto, de acordo com as pesquisas, a fatia do eleitorado disposta a votar nele tem mais o tamanho de uma quitinete do que do palácio onde vivia. Na mais recente, divulgada no dia 22 pelo Datafolha, ele amarga a rabeira do primeiro pelotão, com 9% das intenções de voto, atrás de Jair Bolsonaro (PSL), com 22%, de Marina Silva (Rede), com 16%, e de Ciro Gomes (PDT), com 10%. Aquela polarização PT-PSDB, que há 12 anos o colocou como candidato competitivo quase automaticamente, se esvaiu. Num quadro pulverizado, Alckmin não tem garantida a visibilidade que candidatos tucanos se acostumaram a ter nos 20 anos anteriores.
Alckmin está nessa posição desde que os levantamentos começaram a ser levados mais a sério. Apesar de ter governado São Paulo por três mandatos e deixado o governo com 36% de aprovação, ele aparece empatado com Bolsonaro no estado. Bolsonaro canibaliza seus votos. Fragilidades como essa e a imobilidade nas pesquisas enervam aliados tucanos e não tucanos — e até o próprio candidato. No início de junho, após ouvir lamúrias de meia dúzia de correligionários que o acompanhavam em um jantar em São Paulo, Alckmin jogou o guardanapo na mesa, elevou a voz e disse que o partido poderia buscar outro nome se quisesse. O sempre controlado Alckmin assustou os colegas.
A segunda candidatura à Presidência da República é mais difícil do que a primeira, em 2006. Sem o barulho feito por Bolsonaro nas redes sociais e o recall bonzinho de Marina Silva, Alckmin aposta tudo na propaganda na televisão para se fazer ouvir, crescer e chegar ao segundo turno. Sua maior conquista política até agora foi nessa direção, o apoio do centrão — o conjunto de partidos fisiológicos formado por DEM, PP, PR, PRB e SD —, que lhe rendeu mais de três minutos e a posição de candidato com a maior fatia de tempo de televisão.
A turma, no entanto, não é de fidelidades. Tempo de televisão é uma coisa, campanha na rua é outra. No dia 17, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira — alvo de quatro inquéritos na Lava Jato —, subiu num palanque em Teresina com Fernando Haddad, o vice que será candidato a presidente pelo PT. “Vamos em frente, é Lula, Haddad, Wellington, Regina, Ciro (Nogueira) e Marcelo, para o bem do Piauí, vamos em frente!”, disse em seu discurso. Ciro é Alckmin na televisão para o Brasil, mas é Lula no peito na hora de pedir votos no Piauí, onde o ex-presidente preso em Curitiba tem disparado a maioria das intenções de voto.
Traições explícitas assim são coisas da política, e o mico que elas representam é o preço alto a pagar por um ativo. “Temos um quadro pluripartidário e artificial. Não vejo nenhum problema nisso”, afirmou Alckmin dias depois. Um aliado foi mais pragmático e menos elegante. “De prostituta você não pode exigir fidelidade”, resumiu. Principalmente no Nordeste, deslealdades semelhantes podem ocorrer também por parte de outras siglas que compõem a coligação, como PPS, PTB e PSD. Alckmin acha que vale a pena. Há meses, ele prega que crescerá nas pesquisas quando seu rosto for exposto mais que o dos outros na televisão, durante 35 dias. Aliados aguardam com ansiedade a realização da profecia — se é que, nesta campanha impulsionada por redes sociais e WhatsApp, tempo de TV venha a fazer tanta diferença quanto nas passadas.
Fonte:epoca.globo.com


Professor Edgar Bom Jardim - PE

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