sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Rocinha em pânico

Operação na Rocinha RJ (Foto:  Fábio Guimarães / Extra / Agencia O Globo)
A favela da Rocinha vive dias de pânico desde o domingo passado (17), quando mais de 50 bandidos armados com fuzis invadiram a comunidade para tomar o poder de traficantes rivais. Localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro, a Rocinha é uma das maiores favelas do Brasil, com 70 mil habitantes, e abriga alguns dos pontos mais rentáveis de venda de drogas. O tiroteio de cinco horas deixou muros, casas e carros crivados de bala. Em número inferior, os policiais da Unidade Polícia Pacificadora (UPP) se esconderam. A polícia só iniciou a caçada aos bandidos no dia seguinte. Prendeu R., de 19 anos, que estava com duas granadas e roupas camufladas em sua casa na parte alta da favela. Ele resolveu colaborar e, numa espécie de delação, deu os nomes de boa parte dos invasores. Com base no relato e nas informações da UPP, a Polícia Civil apontou que a ordem para o ataque partiu do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, conhecido como Nem, preso desde 2011, atualmente no presídio federal de segurança máxima em Rondônia, a 3.500 quilômetros de distância da Rocinha.
O relato de R. levou a Justiça a decretar a prisão de 11 acusados de integrar o bando. A medida também alcança Nem, já enclausurado, que passará a responder a mais um processo, além das condenações a 96 anos de prisão que já tem. A polícia segue atrás de outros envolvidos com a ajuda de R. “Seu relato trouxe um substancial norte à investigação”, diz documento da Justiça.

Como os invasores ainda não foram presos, os tiroteios continuam a aterrorizar a comunidade. Na manhã desta sexta-feira (22), uma intensa troca de tiros fechou as principais vias que ligam a Zona Sul à Zona Oeste da cidade. Moradores se jogaram no chão para se proteger de balas perdidas. Os bandidos lançaram uma granada contra os policiais, mas a bomba não explodiu. As ruas da região ficaram desertas. Escolas, postos de saúde e creches fecharam as portas. O governador Luiz Fernando Pezão pediu socorro às Forças Armadas, que enviou 950 militares para fazer um cerco à comunidade.
Pivô da guerra na Rocinha, Nem comandou o tráfico na favela de 2007 até novembro de 2011, quando a PM o capturou no porta-malas de um Corolla preto no qual tentava fugir. A comunidade estava prestes a ser retomada dos bandidos com ajuda dos tanques da Marinha. Foi a mais importante prisão no processo de pacificação das favelas cariocas. Agora, o violento traficante impõe uma derrota à pacificação ao levar terror à maior comunidade com UPP.
Documento da Justiça Federal de Rondônia mostra que, pelo menos desde maio de 2015, a Secretaria de Segurança Pública sabia que Nem transmitia ordens de dentro do presídio para bandidos ainda em liberdade na Rocinha. O serviço de inteligência tinha conhecimento que o traficante mandara seu ex-segurança Rogério Avelino da Silva, conhecido por Rogério 157, entregar o comando do tráfico para Ítalo de Jesus Campos, chamado de Perninha. Rogério 157 desobedeceu. Em agosto passado, a polícia encontrou o corpo de Perninha crivado de balas no porta-malas de um carro. Depois disso, Rogério 157 expulsou a mulher de Nem da comunidade. Os mais de 50 homens com fuzis enviados por Nem para retomar o poder saíram do complexo de favelas de São Carlos e percorreram 13 quilômetros sem que a polícia os parasse.
Criados a partir de 2006, os cinco presídios federais foram destinados a chefes de organizações criminosas que deveriam ficar isolados, mas isso não acontece na prática. Entre julho de 2015 e setembro de 2016, Nem recebeu 171 visitas no presídio de Porto Velho, em Rondônia. Pagou passagens aéreas, alimentação e hospedagem dos parentes que vieram do Rio. Não se sabe a origem do dinheiro que bancou as despesas. O juiz federal Walisson Gonçalves Cunha afirma que vários presos recebem visitas ao mesmo tempo no pátio do presídio, o que dificulta a fiscalização. Os criminosos podem transmitir recados dentro dos banheiros, onde não há qualquer monitoramento.
Professor Edgar Bom Jardim - PE
Com ÉPOCA.

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