domingo, 23 de abril de 2017

O jogo da memória: saberes e narrativas


Por Antonio Rezende.
O esquecimento ajuda a deixar dores antigas, mas não há esquecimentos absolutos. A memória joga com entrelaçamentos e surpresas. A linearidade não se firma. As lembranças aparecem e desaparecem. Não sabemos quando elas retornam. Algumas incomodam, outras nos enchem de prazeres. Nosso domínio sobre a vida e suas aventuras é frágil. Temos muitas perguntas, lamentamos a falta de sentido, desconfiamos de muitas coisas. Será que suportaremos os tremores da história e descobriremos quem a inventou?  Quem quer se agarrar em profecias?
Há dificuldade em se estabelecer o sentido da tanta complexidade. Os saberes estão diluídos. Envolvem-se com a competição e exigem seriedade. Onde ficam o prazer e a alegria? A mudez entra na sala de aula quem concentrar conhecimentos e se deixa levar pela vaidade. Elegem-se autores que conseguem desmanchar os mistérios e seus sacerdotes. As hierarquias não se vão. O discurso é democrático, exalta a multiplicidade mais a convivência é tensa. Criam-se as ambiguidades e os monopólios. Cada um na sua estratégia, revivendo experiências ou desfazendo ressacas.
As artes de conversar, de inquietar a memória, de dividir experiências tornaram-se raras. É a sociedade da comunicação que se perde no controle permanente. Muitas novidades e escassos momentos para ouvir o outro. A corda se estica e a palavra termina provocando a ação. A solidão se apresenta como uma fortaleza. Não se ousa desconstruir. Há receio de  ser punido com uma crítica. Os saberes mostram os limites. Os sacerdotes do profano estão refazendo dogmas e nem percebem a insegurança de mestres que vulgarizam discípulos. Descontam um memória amarga do passado, presos em ressentimentos.
Não  se busca os mitos . Já leram a Odisseia? O texto é belo e nos lembra a psicanálise. O que seria de Freud sem os mitos e Jung sem seus arquétipos. As fantasias nunca são inúteis. É preciso, para alguns, não perder a seriedade, não desprezar os títulos. O lugar do pode se expande. Nem todos estão autorizados a debater. Há regras e louvações diante das hierarquias. O tempo se costura de forma vacilante. A inibição arquiteta um silêncio. Os saberes instituem propriedades privadas de escritas. Talvez, sejamos todos grupelhos. Os senhores do saber esgotam-se nos olhares duros, prestigiam silêncios demolidores.
A política se choca com muitos desenganos. Ela está em toda parte. Cada relação seduz, oprime ou desencanta. A política mora em todas elas de forma astuciosa, não é monopólio de Jucá ou Renan. Quem se arrisca a desmantelar o poder em lugares com regras centralizadoras? Não faltam reclamações, nem sempre os totalitários se tocam e retomam a sensibilidade. A sociedade se veste de sociabilidades surpreendentes. Não poderia se diferente. O que causa espanto é a morte disfarçada do coletivo. Os espelhos estão reservados para poucas. A sagração do êxito é uma religião que segura as distinções e sufoca o ânimo. Quem se ocupa no mundo dos vazios epidêmicos?
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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