domingo, 27 de novembro de 2016

Fidel: a morte não apaga, aproxima

Toda sociedade enfrenta  confrontos e estimula diferenças. Pensar sempre a mesma coisa é melancólico. Não haveria história se as músicas repetissem e consagrassem um único ritmo. Pareço-me com os outros, mas tenho minha travessia. Não há história homogênea. As histórias se soltam e  abraçam as culturas. Sempre incompletos,  não pudemos dispensar ajudas. Fingimos segurança para disfarçar fragilidade. Os debates, os desamores, as invejas estão juntos de nós. Os arrogantes imaginam ser exemplos, porém são caricaturas. Lembram os professores que se sentem poderosos quando anulam o trabalho dos alunos. Ressentimentos voam, ferem, intimidam. A solidão leva o corpo de quem morre, chora uma dor invisível.
Fidel morreu aos 90 anos. Agiu e falou muito. Era do combate, do desafio, da coragem. Exagerou dentro dos seus espaços, está sendo julgado no tribunal universal. Não como há negar as inquietações que ele trouxe. Há quem o considere um ditador desalmado, há o elogio de quem o vê como um deus do Olimpo. Não cabe uniformidade. É preciso conhecer  o tamanho dos desejos revolucionários. Quem esquece os inimigos, as intrigas, os imperialismos? Fidel conviveu com adversários armados até os dentes. Não passou sem vacilações, sem discursar em nome dos explorados. Conservou com García Márquez, enfeitiçado pelas aventuras de Macondo.
O humano é complexo. Freud sofreu pressões do seu tempo. Adorno sentiu-se incompreendido pelos estudantes, Nietzsche surge como filósofo maior das pós-modernidade. O mundo se multiplica e o historiador se esconde quando admite as ambiguidades. Fidel,  para alguns, ocupa o altar do possível, enquanto outros detestam recordar seus feitos e o culpam por violências e assassinatos. Seria estranho que houvesse um julgamento equilibrado, sem devaneios, para quem viveu buscando, para quem lançou dúvidas e se envolveu em emboscadas, com suas veias abertas.Os demônios e os anjos também dialogam, ninguém despreza o perfume do perdão.
O fogo queima e transforma. A sensibilidade é importante quando se casa com a imaginação. Os mitos não fugiram, estão acordados, por isso sempre arrumam lugares especiais para certos mortos. Há pausas, cânticos, saudades,  vazios. As histórias não emudecem. Os silêncios não significam omissão. Quando o impossível nos perturba, quando os acasos nos surpreendem, há entrelaçamentos que sabemos compreender. Fidel fechou as portas das suas intimidades e continua desfazendo verdades e certezas. Querer celebrar unanimidades é mesquinho. A vida vale porque tem muitas cores e muitos rostos. A memória não se exila, brinca com a lembrança e o esquecimento. Por Paulo Rezende.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

0 >-->Escreva seu comentários >-->:

Postar um comentário

Amigos (as) poste seus comentarios no Blog