quarta-feira, 15 de junho de 2016

Galeano: a memória companheira da história


Quem pode se esquecer de Milton cantado Travessia? Muita beleza, encanto e a emoção como uma brisa enebriante. Há poemas que marcam instantes e viram eternidades. Com tanta confusão não custa soltar-se das novidades pesadas, deixar Cunha, Temer, Jucá e tantos outros, e respirar outras energias. Quando as tensões se avolumam, a sociedade fica embrigada com a insegurança, olha o abismo com instabilidades velozes. Convivemos com tempestades, o caminho é de pedras, o mundo se fecha como uma grande caverna. Temos que observar e viver. Conhecer as moradias mais sutis que existem dentro de nós,  abandonar o feitiço e ligar-se na magia.Diferenças provocantes, saberes inquietos.
Refino minha sensibilidade e coloco minha atenção no movimento das histórias dos outros. Valorizo o cotidiano, o que  posso experimentar. Gosto de escutar conversa. Quando, no ônibus, alguém está conversando e sacudindo fofocas sem cerimônia, não perco os detalhes. Muitas vezes, são queixas, desfeitas, palavrões renovadores, fúrias familiares. Mas há , também, declarações de amor, fossas, amizades rompidas, tristezas reafirmadas. Diverto-me ou me convenço da multiplicidade. Não me ausento, disfarço, vejo a paisagem. Um dia, escutei uma senhora com uma força destruidora incrível. Estava irritada com Deus e o mundo e nem sabia que Moro e Dilma são figuras de novelas. Apostava no seu celular e espalhava os nomes como se fossem ícones de barro. Tive medo.
Não tenho dúvidas. Existe uma procura de ídolos, uma carência que sobe paredes. A insatisfação é ampla. Restam indignações que se expandem e quebram contratos afetivos. Nem tudo é discussão. Há quem ande de bicicleta, contemplando os passarinhos ou prepare um churrasco para celebrar a nova forma do nada. É estranho, mas o nada tem um tamanho absurdo, se veste de solidão, ou é assunto de uma longa noitada de cervejas. Temer se esconde da rua, Dilma quer viajar. Não estou brincando. A geometria possui muitas linhas. Há quem se delicie com uma dose de vitamina C e outros que preferem dormir acalentado por uma comprimido de Lexotan. Não se exile, nem sinalize, o  mundo não sossega. Vá seguindo pela vida. Ela é travessia e refúgio.
Qual é o fim disto tudo? Não sei, nem pretendo saber. Detesto ser dono de segredos ou de gente que muda de humor com uma rapidez avassaladora. Aprecio comer meu chocolate com prazer e evito imagens de cinismo. Nem sou Sísifo, tenho um pouco de Prometeu, sou apaixonado por Vênus. Julgo que tudo não é determinado. Vida e morte dançam uma longa valsa. Nietzsche não se foi, continua agitado, assistindo ao crepúsculo dos deuses. Escrever assanha transcendências, porém há uma lua no céu e um pão com queijo na mesa. Não se acanhe, os sonhos estão esfomeados e desacertados. Não se iluda: as quadrilhas correm pelo mundo e preparam armadilhas. Desligue-se de cada minuto, sem dispensar a solidariedade e o desejo. É possível? Pergunte ao google. Por Paulo Rezende. Astúcia de Ulisses.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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