Por Paulo Rezende.
Nos tempos em que as crises se aprofundam as confusões não cessam de existir. Insiste-se na mesmice. Cai a reflexão, a coragem fica na corda bamba, a imprensa inventa suas manchetes para propagar a chegada do abismo. Ele não chega, cria-se um sensação de que nada vale e que a sociedade se arrasta preguiçosamente. É claro que se forma um batalhão de caça aos possíveis culpados e farsantes. Isto se repete. Quando penso que alguém assanhou outras conquistas, com malabarismos, me decepciono . Os espelhos estão velhos e anacrônicos. Atravessamos momentos em que as crises se encontram, trocam poucas palavras e invadem as especulações dos mais espertos. Não faltam geometrias, sobram desgovernos, a culpa desfila como a grande atração.
As tradições se acendem. Há tentativas de se voltar ao passado como se a história tivesse um ritmo linear. Muitos se vestem com as fantasias do progresso, desconhecendo a memória e jogando as últimas ilusões. Somos animais sociais, já afirmamos essa máxima inesquecível. Eu vou e volto.Temos coisas em comum, mas há diferenças importantes. Nem todos se apropriam do dinheiro com cinismo e há quem busque esclarecer o que significa democracia. Outros se ajoelham para pedir perdão dos pecados cometidos e tentam estabelecer diálogos com seres transcendentais. A história continua, faz a curva, sobe ladeiras e não quer saber de despedidas. Adão e Eva merecem consideração.
Ela é uma invenção social ou surgiu magicamente? Um ponto de debate que não possui uma resposta definitiva. Se é uma invenção social onde ficam nossas responsabilidades? Há luta, descanso, multiplicidade, desejo. Mil palavras não dão conta das tantas dúvidas que nos cercam e não podemos dispensá-las. O mundo não se fixa e convive com as incertezas. Quer o absoluto? Fantasie-se, compre uma máscara e fuja para a praça, lá as pessoas conversam com os cães e os jovem vendem doces e roupas. Dê um pique para ajeitar o corpo e imagine que tudo se parece. Será que existe uma grande mentira que nos seduz como uma energia anônima? Tantos nomes, leis, acusações, julgamentos, sentenças e as armadilhas continuam. Os espelhos confirmam imagens desfiguradas.
Tenho inúmeras lembranças que, nem sempre, me pertencem. Gosto de socializá-las. Não tenho receio de desenhar territórios que não conheço. Na minha cabeça pode caber o infinito? Nem sei o que é infinito. A cultura se expande na medida em que nos livramos das tensões. Muita crise nos enche de tédios, desistências, reclusões. Não deixemos que as diferenças desapareçam e os sonhos sejam iguais. Seja passageiro da história, não engane seus fantasmas e não despreze as ficções. Mia Couto, Calvino, Agualusa, Kafka não esquecem que o mundo não sobrevive sem o inesperado. Faz parte da crise. Não troque seu computador pelo que viu na vitrine. Há afeto entre os objetos. O sol pede respiração e não mande dinheiro para Suíça. Será que há portas no labirinto? Nem sei se amanhã será outro dia.
Professor Edgar Bom Jardim - PE
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