O debate sobre a droga está presente, mas possui uma longa história. As sociedades utilizam comportamentos para expressar suas escolhas, esconder suas mágoas, eliminar seu inimigos e seguir adiante. Desde os tempos mais antigos, usando uma diversidade marcante que esconde e esclarece as sinuosidade da cultura, o movimento das palavras articula a vida. Já que a felicidade é sempre instável, as utopias vacilam, a arte constrói modelos, muitas vezes, ficamos perplexos, contemplando os conflitos e sem saber como definir uma travessia com sufocos menores.
A cultura inventa suas alternativas. As lembranças dos deuses gregos mostram fragilidade e desejo. A famosa incompletude nos assalta, não há onipotência que nos salve. O crescimento da população, a multiplicidade das concepções de mundo, as antipatias ditas gratuitas sacodem as convivência. Há magias e agressões. Objetos estranhos que amedrontam.Ninguém nega os deslumbramentos, mas os desamparos nos cercam, as contradições não se ausentam. Sente-se que a incerteza não foge das conversas, nem anula os afetos. Incomoda e deixa dúvidas.
A complexidade atual é assustadora. Acredito que a dificuldade de analisar os valores é constante. Muita tecnologia tumultua relações pessoais. A máquina é a ponte. O corpo virou uma abstração? Não faltam alegrias, porém as amarguras e decepções andam soltas, viroses com dizem alguns. Portanto, as polêmicas se ampliam, os disfarces ganham território, as manifestações seguem mostrando sinais pouco favoráveis. A questão da hegemonia não é fácil e se arrasta. As informações arquitetam argumentos. Quem convence? A verdade tem pertencimentos? Tudo navega e o porto parece está distante. Os lugares da objetividade fortalecem indiferenças.
A droga tem suas concepções mais comuns, dependendo da forma como observá-la. Será o tráfico que alimenta seu uso ou seu uso alimenta o tráfico? Por que ela atrai ou seduz e se espalha? Cada cultura faz seus julgamentos. Os governos não conseguem formular políticas que convençam a maioria. Há idas e vindas, jogos de cenas, dinheiro solto aliciando opiniões. Numa sociedade consumista, envolvida pelo descartável, não há como quebrar a heterogeneidade vadia. Se muitos admitem que só existem drogas no ilícito que persiste é preciso ir mais adiante. A lei é um limite. Qual o peso das transgressões para além do cotidiano mais próximo?
As pessoas querem se livrar das dores e celebrar paraísos que não existem. Procuram alternativas, outras formas de vigiar o sagrado.Nos debates, sobram argumentos e faltam histórias. Nem tudo é mudança, nem as saídas são as interdições e os tribunais. A sociedade atual desenha, suas alienações em divertimentos, compras, pragmatismos. Ela estimula disputas, explorações, desigualdades, comércios perigosos. Como é escorregadio encontrar as alternativas, como é fácil consolidar a culpa e encher as prisões! Penso, às vezes, que nos negamos a ver as tantas incoerências que habitam o mundo. Será que temos para onde ir? O jogo da memória é caminho que não abandona horizontes e inquieta incessantemente.
Professor Edgar Bom Jardim - PE
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