Por Antônio Rezende.
É difícil negar que as crises movimentam a história. A questão maior é definir quem se beneficia com as crises. Não podemos sintetizar tudo na questão econômica. As perdas são amplas, a sociedade não se reconhece no espelho que ela mesmo construiu. A lembrança da incompletude está presente. O extraordinário é um sinal de vaidade que derruba qualquer ideia de necessidade. A cultura significa criatividade para alguns, para outros uma forma de firmar explorações. As crises persistem e, muitas vezes, sufocam a memória. A situação atual da Grécia lembra Platão, Sófocles, Clístenes? Os bancos querem recursos, pouco se interessam com as reflexões. O pragmatismo comanda o espetáculo, sofistica desesperos.
Avaliar o que aconteceu no passado é sempre relativo. Se os renascentistas mergulharam na cultura clássica, divulgando saberes, renovando, hoje há uma certo desprezo por aquilo que inquieta. A atração pelo descartável fascina. O voo é baixo, a massificação não democratiza, desmancha rebeldias e exalta a mesmice. A crise não é uma mal em si. Será que existe o mal sem máscara? Vivemos tensões interiores. As respostas para as dúvidas dos sentimentos não aparecem com facilidade. Há uma apego ao controle, a fixação de hierarquia, a pedagogia do sucesso. A vida é simulação de quê?Pensar no paraíso é buscar modelos. A falta de referência se infiltra no cotidiano. Não há que não a sinta.
As contrariedades podem gerar guerras. A palavra de ordem é acumular, festejar quantidades. A crise afetiva demole, mas se fala mais da ausências de recursos materiais, das manobras financeiras, dos ajustes fiscais. As datas consolidam os comportamentos, numa programação de apatias interiores e êxitos comerciais. A riqueza desenha a ambição dos olhos, embora anule sociabilidades. É preciso, então, observar o que se deseja com as crises. Elas têm muitas cores e se apresentam com formas ambíguas. Quando elas evitam construir o diálogo entre os tempos históricos é sinal que os abismos crescem. De repente, ressurgem mitos, prendem-se antigos ídolos, misturam-se as tradições, fragmentam-se certezas.
Estamos passeando ou andando em trilhas tenebrosas ? O que aproxima ou o que arrasta para entrada do labirinto? Há incompreensões. Os ensinamentos podem levar a arquiteturas surpreendentes. Não há a eliminação absoluta da crise. As utopias ajudam a exercitar inteligências e argumentar sobre as possibilidade de justificar o infinito. Nada como as fantasias para remover as pedras e desfazer as barreiras! As planícies são raras, porém sonhar é permitido. Talvez, seja mesmo proibido proibir. Os delírios, as loucuras, as incertezas, as adivinhações não merecem apenas julgamentos dualistas. O perigo é nos vestir com as práticas que nos transformam em mercadorias. Quem aposta na nudez?
Professor Edgar Bom Jardim - PE
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