quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Perfil do governador Paulo Câmara

Por causa da seriedade e do foco no trabalho, na juventude Paulo ganhou dos amigos o apelido de

Por causa da seriedade e do foco no trabalho, na juventude Paulo ganhou dos amigos o apelido de "Todo Chato"

Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem

A sala de três ambientes do apartamento do governador eleito Paulo Câmara revela mais que seu gosto pela arte. Ali, cuidadosamente dispostas, assinaturas de peso de artistas pernambucanos vestem as paredes com um sentimento de família que, desde sempre, esteve arraigado à vida do novo governador.
– Se o prédio pegasse fogo, qual desses o senhor salvaria?
Decisão difícil. Afinal, se avizinham Reynaldo Fonseca, João Câmara, Samicos.
Paulo olha, olha de novo e explica sua escolha.
– Levaria esse. Era o quadro de que dona Pompéia gostava muito.
O eleito, o único que seria salvo das hipotéticas chamas, é uma pintura da artista pernambucana Fédora do Rego Monteiro, cujo irmão mais novo, Vicente do Rego Monteiro, terminou se transformando no nome mais famoso da família.
Dona Pompéia Campos é a avó de Ana Luíza Câmara, a esposa com quem Paulo começou a namorar na juventude e aos 22 anos já era noivo. Casou aos 26. Veio de Ana Luíza o interesse de Paulo pela arte. E foi herança/presente de dona Pompéia a maior parte das valorosas obras que habitam o apartamento, onde o governador mora no décimo primeiro andar no bairro da Madalena, o que lhe permite uma inspirada vista para o Rio Capibaribe.
– Com a gente, só dá para comprar os mais baratinhos, diz, olhando para um belo Romero de Andrade Lima que ocupa lugar privilegiado na parede central da sala.
“Dali, se pudesse, Paulo saía quase nunca. Os fins de semana em casa, vendo filme com Ana Luíza, a filha mais velha, Clara, 10 anos, e a mais nova, Helena, 5, costumavam ser sagrados
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Dali, se pudesse, Paulo saía quase nunca. Os fins de semana em casa, vendo filme com Ana Luíza, a filha mais velha, Clara, 10 anos, e a mais nova, Helena, 5, costumavam ser sagrados. Apreciador das séries americanas House of Cards, Homeland e The Good Wife (essa ele gosta de ver com Ana Luíza, entrega a filha Clara), Paulo é o que se costuma chamar de um homem caseiro. Não tem pelada de futebol, cerveja com os amigos que o tire de casa nas horas de descanso. Isso até ter a vida revirada quando decidiu dizer sim, primeiro às especulações, depois ao convite formal, para trocar o cargo de secretário da Fazenda pela possibilidade de assumir o mais alto posto de comando no Estado. Um caminho improvável, praticamente impossível, para quem fez da discrição uma segunda pele.
Paulo foi sempre o técnico, o homem dos números, dos gráficos e das planilhas. Era totalmente desconhecido da população. Desconhecido até dentro da cozinha do próprio PSB e seu exército de prefeitos e vereadores. Não raro passava desapercebido nos eventos do governo. Personagem de bastidor, era a engrenagem. O que fazia a máquina moer sem precisar, necessariamente, personificar a manchete do jornal. A pasta da Fazenda é poderosa, é verdade, mas o perfil reservado do titular o mantinha longe dos holofotes. Por um tanto de timidez e muito de estilo, nunca chamava atenção para si. Em suas próprias palavras, “nunca foi arroz de festa”.
Já era assim desde os tempos em que se juntou a outros rapazes para formar uma república na cidade de Surubim, no interior de Pernambuco, quando, aos 22 anos, passou no concurso para auditor do Tribunal de Contas do Estado. Na casa, era o mais jovem de todos. Mas o frescor ficava só na idade. De todos, sempre foi o mais sério, o mais responsável, mais comprometido, mais focado. Numa casa habitada por “Cabeção”, “Gordinho” e “Falcon” – como se tratavam os demais habitantes da república –, cabia a Paulo o papel de pôr ordem na bagunça.
Mais por gréia que por ranzisse, logo ganhou o sugestivo apelido de “Todo Chato”. “Eu era o mais velho e o mais brincalhão. Ele, o contrário. O mais novinho, mas sempre sério, sisudo. Ia fiscalizar as obras e, quando voltava, cobrava se eu tinha estudado. Como, na época, eu tinha passado para um cargo de nível médio, ele me aconselhava a fazer um novo concurso”, conta Luiz Carlos Queiroz, o “Cabeção”, que decidiu seguir os conselhos do amigo e hoje é auditor da Receita Federal.
Foi “Cabeção” quem cunhou o apelido de “Todo Chato” em Paulo. “Mas era só de gozação. Ele sempre foi um cara do bem, e fazia o maior sucesso com as meninas”, conta. Tido como o “boa pinta” do grupo, a fama de nada adiantava. Paulo já era noivo de Ana Luíza. “Ele era extremamente apaixonado e comprometido. Podia passar quem quisesse na frente que não tinha a menor chance”, diz o inspetor de Obras Públicas do Tribunal de Contas do Estado Fábio Lyra, o Falcon, que dividia o quarto com Paulo na república de Surubim.
A seriedade com que encarava a carreira o tirou logo cedo da função de fiscalizar obras na rua para, já aos 26 anos, assumir o primeiro cargo de chefia. Não parou mais. Sempre em postos de gestão, foi de uma função para outra dentro do TCE, passou pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco, retornou ao TCE, quando foi chamado pelo governador Eduardo Campos, em 2007, para participar do governo. 
É Clara, a filha mais velha, que revela outro traço marcante da personalidade do pai: o de ser extremamente exigente. Aluna do 5º ano, ela chegou para Paulo há poucos dias e contou que tinha ficado em recuperação em português. Antes que o pai ficasse bravo demais, já foi desfazendo a brincadeira. “Ela brinca porque sabe que eu cobro bastante”, entrega o pai.
Cobrar é um verbo que Paulo, o governador eleito, já disse que vai conjugar todo o tempo no seu governo. Sem tanto jogo de cintura e com uma objetividade pouco comum às manhas e melindres da política, ele reconhece que precisa fazer um esforço para, às vezes, não ser direto demais com as palavras e gerar os famosos ruídos. “É um novo exercício que eu estou fazendo. A minha vida sempre foi em cima da objetividade, no sentido de dar celeridade às coisas. Estou me autotutelando porque sei que o ambiente hoje é muito mais amplo. Eu vou continuar objetivo, mas com o cuidado de contextualizar mais para não correr o risco de não ser entendido.”
Ao novo Paulo, o político, o que comandará um emaranhado de 21 partidos e que já enfrenta dentro de casa os estilhaços do fogo amigo, será exigida uma gama de habilidades que, ao velho Paulo, o apenas servidor público, sequer precisava existir. Mesmo para os colaboradores mais próximos, o desempenho do novo governador ainda é uma incógnita. Na noite do dia 12 de agosto, Paulo Henrique Saraiva Câmara foi dormir coadjuvante da própria candidatura. Na manhã seguinte, com a morte do ex-governador Eduardo Campos, ele assumiu por força da tragédia um protagonismo que só agora começa a ser de fato testado.
Fonte:Jornal do Commercio.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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