por Eduardo Rosa
A maior fraude contra a Caixa já apurada pela Polícia Federal (PF) no Estado envolveu o gerente de uma agência, um correspondente bancário e cerca de 70 empresas de grupos que atuam em ramos como construção, transporte e comércio. O inquérito que apura o prejuízo de mais de R$ 22 milhões à instituição deu origem à Operação Rolagem, deflagrada na manhã desta quarta-feira. Os policiais federais cumpriram nove mandados de busca e apreensão e 13 de condução coercitiva (quando o suspeito é levado para prestar depoimento) em Porto Alegre, Canoas, Estância Velha e Novo Hamburgo.
— Quem nos trouxe a notícia da possível ocorrência de crime foi a Caixa. Ao analisar algumas operações de crédito, detectou suspeita de fraude em uma agência específica. A Caixa fez uma apuração interna e rapidamente procurou a Polícia Federal — afirma o superintendente da PF no Rio Grande do Sul, Sandro Caron.
A investigação teve início em fevereiro e apurou fatos ocorridos entre julho de 2012 e novembro do ano passado. A fraude ocorria da seguinte forma:
1. Uma organização criminosa utilizava o nome de aproximadamente 70 empresas para abrir contas em uma agência de Porto Alegre (não foi divulgado o bairro) com documentação forjada;
2. Na sequência, eram contraídas operações de crédito em nome dessas firmas;
3. Obtidos os empréstimos, eram efetuadas transferências para pessoas físicas e jurídicas inadimplentes, o que se denomina rolagem da dívida;
4. As movimentações nas contas abertas na agência por essas empresas se referiam apenas às transferências dos empréstimos;
O esquema era viabilizado graças ao correspondente bancário (não é funcionário da Caixa) e ao então gerente, que foi demitido após procedimento administrativo instaurado pela instituição.
— (O gerente) sistematicamente desconsiderou regras básicas para concessão de crédito. Tinha experiência e, ao que se sabe, formação em Contabilidade. Existe um sistema de avaliação de riscos onde ele colocava informações incompletas e o sistema acusava risco acentuado, mas ele não tomava providências, concedia o crédito — explica a delegada Viviane Becker, da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários, que conduz as investigações.
O correspondente, que levava clientes até o banco, receberia uma porcentagem dos empréstimos, quando só poderia receber comissão da própria instituição.
— Como o prejuízo foi de R$ 22 milhões, colhemos indícios de lavagem de dinheiro, pois os principais envolvidos nitidamente estavam ocultando patrimônio, colocando em nome de terceiros ou do grupo familiar. Por isso, a Justiça decretou o arresto e sequestro de alguns bens imóveis e veículos possivelmente adquiridos com a fraude — acrescenta a delegada.
Carro foi apreendido durante operação | Foto: Polícia Federal/Divulgação
Maioria dos empréstimos ficava em torno de R$ 300 mil
Os empréstimos, normalmente, ficavam entre R$ 200 mil e R$ 300 mil. Os criminosos, conforme a PF, tomavam cuidado para que a concessão dos valores ficasse apenas no âmbito da agência, e não da superintendência. No inquérito, consta que empresas do mesmo grupo trocavam duplicatas para antecipar os empréstimos — eram documentos simulados, não havia prestação de serviço entre as firmas.
A investigação ainda está em curso: os policiais federais buscam detectar qual a participação de cada pessoa na fraude, quais empresas são forjadas e que sócios não sabiam que tinham os nomes usados. Dependendo da atuação de cada, devem responder pelos crimes de formação de quadrilha, estelionato, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta.
— Muitas empresas estavam em nome de laranjas e havia uma pessoa por trás encaminhando. A maioria era de fachada, estamos apurando. Em tese, a empresa não conseguiria obter o crédito, então, forjavam documentação para conseguir — diz Viviane.
Na manhã desta quarta-feira, foram apreendidos três veículos, joias, R$ 12 mil em dinheiro, documentos, cartões de crédito e cheques. À medida que prestam depoimento, os suspeitos são liberados. A PF havia pedido a prisão temporária de quatro pessoas — entre elas, o ex-gerente —, mas a Justiça entendeu que, por se tratar de fato passado, mantê-los em liberdade não comprometeria a obtenção de provas.
— A Caixa e a Polícia Federal, especialmente no Rio Grande do Sul, têm uma parceria importante para detectar e atuar na repressão e na prevenção desse tipo de fraude. As quadrilhas que se dedicam a esse tipo de delito podem ter certeza que os mecanismos fruto dessa parceria estão se reforçando — garante o delegado Alexandre Isbarrola, chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários.
*Zero Hora
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