BIOGRAFIA - Fundador do Movimento Armorial, Ariano Suassuna é um importante escritor paraibano que escreveu obras como Uma Mulher Vestida de Sol (1947), Auto da Compadecida (1949), O Santo e a Porca (1957) e O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971).
Na década de 70, assumiu o cargo de secretário de Educação e Cultura do Recife e, mais recentemente, na gestão de Eduardo Campos, secretário da Cultura e, depois, secretário da Assessoria Especial do Governo de Pernambuco.
Professor Edgar Bom Jardim - PE /JC/DP
Seria bom se Ariano Suassuna tivesse aquele jeitinho mirabolante de João Grilo para conseguir driblar a morte como o seu inesquecível personagem. Um dos maiores escritores e dramaturgos da língua portuguesa faleceu no fim da tarde desta quarta-feira (23), às 17h15 horas, no Real Hospital Português, aos 87 anos. O paraibano radicado em Pernambuco desde 1942 foi internado na noite da última segunda-feira (21) após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico. Passou por cirurgia para a colocação de dois drenos. Ficou em coma e passou a respirar com a ajuda de aparelhos , quando acabou morrendo com uma parada cardíaca provocada pela hipertenção intracraniana.
O velório será aberto ao público a partir das 23h desta quarta-feira (23), no Palácio do Campo das Princesas, na área Central do Recife. Já o enterro será no Cemitério Morada da Paz, às 16h, desta quinta-feira (24).
A divulgação da morte de Ariano foi informada através de uma nota oficial do Hospital Português:
O escritor Ariano Suassuna, em decorrência de grave Acidente Vascular Cerebral (AVC) Hemorrágico, faleceu nesta quarta-feira (23/07), às 17h15, no Real Hospital Português, onde estava internado desde a última segunda-feira (21/07). O paciente teve uma parada cardíaca provocada pela hipertensão intracraniana. A família ainda não informou os detalhes do funeral.
Ariano já tinha sofrido um AVC, mas do tipo isquêmico, que é considerado mais fraco. Já no dia 21 de agosto de 2013, teve um infarto, mas também conseguiu se recuperar.
Dono de uma das principais trajetórias da literatura e da dramaturgia nacional – um raro caso de nome e rosto conhecido até mesmo pelo grande público –, Ariano Suassuna nasceu em João Pessoa, em 1927. Com três anos, se mudou com a família para o interior da Paraíba, após o assassinato do pai João Suassuna por motivos políticos. Temendo que os filhos se vingassem, a mãe de Ariano, Cássia Vilar, levou todos para Taperoá.
A perda fatídica nunca foi superada por Ariano. “Desde esse dia eu me vi / como um Cego, sem meu Guia, / que se foi para o Sol, transfigurado”, escreveu no poema Fazenda Acauhan. O escritor declarou diversas vezes que começou a escrever e ler para continuar se relacionando com o pai através da sua biblioteca. Outra imagem da morte na sua obra é a da Onça Caetana, mulher convertida em mistura de onça, cobra e três aves-de-rapina.
Ariano veio para o Recife anos mais tarde, para terminar os estudos e cursar Direito. Sua estreia na literatura se deu nas páginas do Jornal do Commercio, em 1945, com o poema "Noturno". Pouco depois, ele escreveria sua primeira peça, a tragédia "Uma mulher vestida de sol". A essa altura, já havia fundado com o colega Hermilo Borba Filho o Teatro do Estudante de Pernambuco e, mais tarde, criaria com ele o Teatro Popular do Nordeste, antes de um rompimento.
Apesar da estreia teatral no universo trágico, seria na comédia, no entanto, que sua produção alcançaria o maior êxito, notadamente com "Auto da Compadecida", escrita em 1955 e encenada pela primeira vez dois anos depois, no Rio de Janeiro, pelo Teatro Adolescente do Recife. O texto, um dos mais adaptados e conhecidos da dramaturgia brasileira, virou filme em três ocasiões, sendo a última delas a mais famosa, criada pelas mãos do cineasta Guel Arraes e exibida também como minissérie em 1999. Entre as outras peças do autor, destacam-se "O santo e a porca" (1957), "Farsa da boa preguiça (1960)" e "As conchambranças de Quaderna" (1987).
Na prosa, a grande obra de Ariano seria publicada na década de 1970: "O romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta", mais tarde adaptada para o teatro e para a TV, virando minissérie da Globo em 2007. O autor trabalhava recentemente no livro "O jumento sedutor", misto de romance, poesia e teatro.
Mentor do movimento armorial, que buscava criar obras artísticas a partir das raízes populares do Nordeste, Ariano ainda foi um importante pensador da cultura nacional. Professor de Estética na UFPE, nunca evitou debates e posicionamentos sobre temas como a cultura estrangeira e o tropicalismo, por exemplo. "Iniciação à estética", de 1975, é uma de suas principais obras de teoria. Essas reflexões seriam levadas junto a seus causos para as suas tão famosas aulas-espetáculo, que correram Pernambuco e o Brasil.
Se os debates estéticos sempre o interessaram, Ariano também sempre fez questão de se posicionar politicamente. Ele era, nas suas próprias palavras, “de esquerda”, mas não marxista. Depois da ditadura, sua trajetória passou a estar intimamente ligada ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), a partir da amizade com Miguel Arraes. Inúmeras vezes subiu em palanques para cantar o frevo que ele transformou em hino político, "Madeira que cupim não rói". Ariano foi Secretário de Cultura na primeira gestão de Eduardo Campos e ocupava atualmente a Secretaria Especial da Assessoria do Governo de Pernambuco. Além da arte e da política, outra paixão do autor era o Sport. O atual modelo de uniforme do time pernambucano é uma homenagem a Ariano e traz uma frase dele impressa.
Uma das últimas agendas do escritor e dramaturgo seria no final de agosto, quando receberia uma celebração com uma mostra de filmes, exposição de fotografias e aula-espetáculo, intitulada "Ariano Suassuna – Arte como missão", na Caixa Cultural do Recife, mas o evento foi cancelado depois do internamento do autor.
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